Capítulo 3
Capítulo Três
— Sua alteza, a duquesa de Claremont — o mordomo anunciou em tom majestoso, da porta do salão onde Sirius Potter, duque de Grimmauld, estava sentado.
Em seguida, o mordomo deu um passo para o lado e uma mulher idosa e imponente entrou, seguida pelo advogado de expressão atormentada. Sirius fitou-a com seus olhos azuis-escuros faiscando de ódio.
— Não precisa se levantar, Grimmauld — a duquesa falou com sarcasmo, quando ele permaneceu sentado, em atitude deliberadamente insolente.
Completamente imóvel, ele continuou a observá-la em silêncio gelado. Com cinqüenta e cinco anos, Sirius Potter ainda era um homem atraente, com cabelos fartos e grisalhos, embora a doença tivesse deixado suas marcas. O corpo apresentava-se magro demais para a sua estatura e porte e seu rosto estava vincado pelas linhas de tensão e de fadiga.
Incapaz de provocar a reação dele, a duquesa lançou sua ira sobre o mordomo.
— Esta sala está quente demais! — queixou-se, batendo com a bengala de cabo cravejado de pedras preciosas no chão. — Abra as cortinas para que tenhamos um pouco de ar fresco — ordenou.
— Deixe as cortinas como estão! — Sirius a contradisse, sem esconder o desprezo que a mera visão daquela mulher lhe provocava.
A duquesa lançou-lhe um olhar fulminante.
— Não vim até aqui para sufocar — declarou em tom ameaçador.
— Então, saia.
O corpo esguio e frágil empertigou-se pela indignação.
— Não vim até aqui para sufocar — ela repetiu entre os dentes. — Vim para informá-lo sobre a minha decisão com respeito às filhas de Katherine.
— Diga o que tem a dizer e, então saia! — Sirius retrucou, implacável.
A duquesa estreitou os olhos, furiosa, mas em vez de sair, ela se sentou. Apesar da idade avançada, sua postura era ereta como a de uma rainha. Um turbante púrpura sobre os cabelos brancos ocupava o lugar da coroa e a bengala em sua mão substituía o cedro.
Sirius observou-a, surpreso e desconfiado, uma vez que estivera certo de que ela havia insistido naquele encontro apenas para ter a satisfação de dizer, fitando-o nos olhos, que o futuro das filhas de Katherine não lhe dizia respeito. Nem sequer lhe ocorrera que ela fosse se sentar, como quem tivesse algo mais a dizer.
— Você viu o retrato das meninas — a duquesa afirmou.
Ele baixou os olhos para o retrato que tinha nas mãos e seus dedos se apertaram de maneira convulsiva e protetora. A dor cruel obscureceu-lhe o olhar, fixado em Hermione. Ela era a imagem da mãe, a imagem de sua linda e amada Katherine.
— Hermione é a imagem da mãe — a duquesa declarou de súbito.
Sirius ergueu os olhos para ela, a expressão endurecendo imediatamente.
— Tenho plena consciência disso.
— Ótimo. Assim, vai compreender meus motivos para não aceitar essa menina em minha casa. Ficarei com a outra. — Levantando-se como se houvesse encerrado o assunto, a duquesa virou-se para seu advogado: — Providencie a quantia necessária para cobrir as despesas do doutor Dumbledore e o custo da passagem de navio para a menina mais nova.
— Sim, alteza — o advogado assentiu com uma reverência. — Mais alguma coisa?
— Ah, sim, serão muitas coisas! A duquesa replicou em tom quase rude. — Terei de apresentar a menina à sociedade, providenciar um dote para ela, encontrar um marido adequado...
— E quanto a Hermione? — Sirius a interrompeu. — O que planeja fazer com a menina mais velha?
A duquesa lançou-lhe um olhar irado.
— Já disse que ela me lembra a mãe e que não vou aceitá-la em minha casa. Se quiser, fique com ela. Se bem me lembro, você queria a mãe mais do que qualquer outra coisa. E era óbvio que Katherine o queria também. Afinal, até mesmo na hora da morte, ela pronunciou o seu nome. Pode assumir a responsabilidade pela imagem de Katherine, agora. Você bem merece ter de olhar para a menina todos os dias.
A mente de Sirius ainda girava em disparada, imersa em surpresa e alegria, quando a velha duquesa acrescentou com arrogância:
— Case-a com quem bem entender, exceto com aquele seu sobrinho. Há vinte anos, não permiti uma aliança entre a sua família e a minha. Continuo a proibir que isso aconteça. Eu...— como se uma idéia súbita lhe ocorresse, ela fez uma pausa, ao mesmo tempo em que seus olhos exibiram um brilho de triunfo maligno. — Arranjarei o casamento de Ginny com o filho de Zabini! — anunciou em tom malévolo. — Queria que Katherine se casasse com o pai e ela se recusou a satisfazer a minha vontade por sua causa. Casando Ginny com o filho, finalmente terei a aliança que sempre desejei para a minha família! — Um sorriso demoníaco tornou ainda mais profundas as rugas em seu rosto e ela soltou uma risada de desprezo diante da expressão atormentada de Sirius. — Mesmo depois de todos esses anos, serei a responsável pelo casamento mais esplêndido da década!
Com isso, ela deixou o salão, seguida por seu advogado.
Sirius ficou olhando a porta, as emoções oscilando entre amargura, ódio e alegria. Aquela velha maldita havia, inadvertidamente, lhe dado a única coisa que ele desejava mais que a própria vida. Ela lhe dera Hermione, a filha de Katherine, a imagem de Katherine. Uma felicidade quase insuportável o invadiu, seguida imediatamente de um ódio desmedido. Aquela velha sem coração iria finalmente realizar o sonho de ter a família ligada aos Zabini. Não hesitara em sacrificar a felicidade de Katherine para atingir aquele objetivo sem sentido e, agora, conseguiria seu intento.
A raiva de Sirius diante da constatação de que ela também estava prestes a obter o que sempre quisera quase apagou sua alegria pela oportunidade de ter Hermione. Então, uma idéia súbita cruzou-lhe a mente. Estreitando os olhos, ele a considerou e avaliou. Lentamente, um sorriso curvou-lhe os lábios.
— Dobby — ele chamou o mordomo. — Traga-me pena e papel. Quero escrever um anúncio de noivado. Providencie para que seja entregue ao Times imediatamente.
— Sim, alteza.
Sirius olhou para o velho criado com olhar de júbilo.
— Ela está errada, Dobby — anunciou. — A bruxa está completamente errada!
— Errada, alteza?
— Sim, errada! Ela não será a responsável pelo casamento mais esplêndido da década. Eu serei!
Era um ritual. Todas as manhãs, por volta das nove horas, Slughorn, o mordomo, abria a pesada porta da frente da mansão de campo do marquês de Gryffindor e recebia um exemplar do Times das mãos de um lacaio que trazia o jornal de Londres.
Depois de fechar a porta, Slughorn atravessava o hall de entrada e entregava o jornal a outro lacaio, à espera no pé da escada.
— O exemplar do Times para o lorde — anunciava.
O lacaio levava o jornal até a sala de jantar, onde Harry Potter geralmente tomava o seu café da manhã e lia a correspondência.
— Seu exemplar do Times, milorde — o lacaio murmurava, colocando o jornal ao lado da xícara de café do marquês e retirando seu prato.
Sem dizer uma palavra, Harry apanhava o jornal e o abria.
Tudo isso acontecia com a mais absoluta precisão, uma vez que lorde Potter era um patrão exigente, que fazia questão de ter tudo funcionando em suas propriedades como máquinas muito bem reguladas.
Os criados o temiam, tratando-o como a uma divindade assustadora e inatingível, que todos se esforçavam ao máximo para agradar.
As beldades que Harry levava a bailes, óperas, teatro e, claro para a cama, sentiam o mesmo, uma vez que ele as tratava com apenas um pouco mais de calor humano do que dedicava aos criados. Ainda assim, as mulheres o observavam com olhares desejosos, aonde quer que ele fosse, pois, apesar de atitude cínica, Harry parecia envolvido por uma aura de virilidade que fazia os corações femininos dispararem.
Seus cabelos eram negros como carvão, os olhos penetrantes, verdes como jade, os lábios firmes e sensuais. Uma força implacável parecia esculpida em cada um dos traços que constituíam o rosto bonito e bronzeado, desde as sobrancelhas retas e espessas até o queixo arrogante. Até mesmo sua compleição física era extremamente masculina, com sua estatura de um metro e oitenta e oito, ombros largos, quadris estreitos e pernas longas e musculosas. Montado sobre um cavalo, ou dançando em um baile, Harry Potter destacava-se dos demais representantes do sexo masculino como um felino selvagem cercado por gatinhos indefesos.
Como lady Trelawney apontara entre gargalhadas, Harry Potter era perigosamente atraente como o pecado e, sem dúvida, igualmente perverso.
Tal opinião era partilhada por muitos, uma vez que quem quer que fitasse aqueles cínicos olhos verdes saberia dizer que não restava nem sequer uma fibra de inocência ou ingenuidade naquele corpo espetacular. Apesar disso, ou melhor, por causa disso, as mulheres eram atraídas para ele como mariposas para uma tocha, ansiosas para provarem do seu ardor, ou simplesmente se deleitarem com um de seus raros sorrisos. As casadas planejavam ardis para ocupar-lhe a cama, enquanto as solteiras sonhavam em ser aquela que derreteria seu coração de gelo, fazendo-o ajoelhar-se a seus pés.
Alguns dos membros mais sensatos da ton, como era designada a alta sociedade inglesa, acreditavam que lorde Potter possuía razões de sobra para ser cínico no tocante às mulheres. Todos sabiam que o comportamento de sua esposa, quando ela fora para Londres, quatro anos antes, havia sido escandaloso. A partir do momento em que pusera os pés na cidade, a belíssima marquesa de Gryffindor ocupara-se em se envolver em um romance atrás do outro, sem a menor preocupação em ser discreta. Traíra o marido repetidas vezes. Todos sabiam, inclusive Harry Potter, que parecia não se importar...
O lacaio postou-se ao lado da cadeira de lorde Potter, segurando um delicado bule de prata.
— Aceita mais café, milorde?
O marquês sacudiu a cabeça e virou a página do jornal. O lacaio curvou-se e começou a se afastar, habituado ao fato de o patrão raramente se dar ao trabalho de falar com os criados. A verdade era que o lorde não sabia o nome da maioria deles, não sabia nada sobre eles e não se importava. Mas, ao menos, não era dado a maus-tratos, como a maioria dos nobres. Quando contrariado, o marquês se limitava a dirigir um olhar gelado ao responsável pelo seu desgosto, sempre atingindo o objetivo de deixá-lo petrificado. Nunca, nem mesmo diante da mais extrema provocação, lorde Potter erguia a voz.
E foi justamente por isso que o lacaio quase derrubou o bule de café quando Harry deu um murro na mesa, gritando:
— Aquele miserável! — Pôs-se de pé, o rosto transformado em uma máscara de fúria. — Aquele maldito, patife... Só ele seria capaz de fazer uma coisa dessas!
Lançando um olhar faiscante na direção do pobre lacaio, saiu da sala, apanhou a capa com o mordomo e se dirigiu para os estábulos.
Slughorn fechou a porta da frente e correu até a sala de jantar.
— O que aconteceu com o lorde? — inquiriu.
O lacaio, ainda segurando o bule de café, encontrava-se inclinado sobre o jornal aberto.
— Acho que foi este anúncio no Times — o rapaz murmurou, apontando para o anúncio de noivado entre Harry Potter, marquês de Gryffindor, e a srta. Hermione Granger. — Eu não sabia que o lorde estava pensando em se casar.
— Resta saber se o lorde sabia — Slughorn questionou, pensativo.
De repente, deu-se conta de que acabara de cometer um deslize imperdoável, envolvendo-se em fofocas com um subalterno. Assim, fechou o jornal com ar autoritário.
— Os assuntos particulares de lorde Potter não são da sua conta, McLaggen. Trate de se lembrar disso, se pretende manter seu emprego.
Duas horas depois, a carruagem de Harry parou diante da residência londrina do duque de Grimmauld. Com passos firmes entrou na casa.
— Bom dia, milorde — Dobby cumprimentou-o ao abrir a porta. — Sua alteza está a sua espera.
— Aposto que sim — Harry replicou de péssimo humor — Onde ele está?
— No salão, milorde.
Harry se dirigiu para onde o homem grisalho se encontrava sentado, com ares da maior dignidade.
— Imagino que você — acusou sem preâmbulos — foi o responsável por aquele anúncio absurdo no Times.
Sem se abalar, Sirius sustentou-lhe o olhar ameaçador.
— Exatamente.
— Pois vai ter de fazer um novo anúncio, desmentindo o primeiro!
— Não. A jovem se encontra a caminho da Inglaterra e você vai se casar com ela. Entre outras coisas, quero que você me dê um neto. E quero segurá-lo em meus braços, antes de partir deste mundo.
— Se quer um neto, tudo o que tem de fazer é localizar os seus outros bastardos. Tenho certeza de que eles poderão lhe proporcionar uma dezena de netos.
Uma sombra cruzou rapidamente o semblante de Sirius, mas ele logo recuperou o controle e declarou em voz baixa:
— Quero um neto legítimo, para apresentar ao mundo como meu herdeiro.
— Um neto legítimo! — Harry repetiu com sarcasmo. — Quer que eu, seu filho ilegítimo, lhe dê um neto legítimo? Diga-me uma coisa. Se todos acreditam que sou seu sobrinho, como espera apresentar meu filho como seu neto?
— Vou apresentá-lo como meu sobrinho neto, mas saberei que é meu neto e é só isso o que importa. — Sem se impressionar com a fúria do filho, Sirius concluiu, implacável: — Quero um herdeiro de você, Harry.
Lutando para se controlar, Harry inclinou-se, apoiando as mãos nos braços da poltrona de Sirius, o rosto a poucos centímetros um do outro. Com um sussurro lento, anunciou:
— Já lhe disse antes, mas vou repetir pela última vez: nunca voltarei a me casar. Compreendeu? Nunca voltarei a me casar!
— Por quê? — Sirius inquiriu, irritado. — Não se pode dizer que você detesta as mulheres, pois todos sabem que tem amantes e que as trata muito bem. Na verdade, todas elas parecem se apaixonar perdidamente por você. É óbvio que as moças gostam de partilhar a sua cama e, mais óbvio ainda, que você gosta de tê-las lá...
— Chega! — Harry explodiu.
Um espasmo de dor contorceu as feições de Sirius, que levou a mão ao peito, antes de abaixá-la lentamente.
Harry estreitou os olhos, mas embora suspeitasse que Sirius estava apenas fingindo, forçou-se a permanecer em silêncio, enquanto o pai continuava:
— A jovem que escolhi para ser sua esposa deve chegar dentro de três meses. Enviarei uma carruagem ao porto, para transportá-la diretamente para Gryffindor Park. Em nome da decência, também irei para lá, onde permanecerei até que o casamento seja realizado. Conheci a mãe dela há muito tempo e vi a semelhança de Hermione. Você não vai se decepcionar. — Ergueu o retrato. — Ora, Harry — falou com voz subitamente macia e persuasiva —, não está nem um pouco curioso a respeito dela?
As feições de Harry se tornaram ainda mais duras.
— Esta perdendo seu tempo. Não vou aceitar isso.
— Vai, sim — Sirius garantiu, apelando para a ameaça. — Se não aceitar, vou deserdá-lo. Você já gastou meio milhão de libras em reformas nas minhas propriedades, que jamais pertencerão a você, a menos que se case com Hermione Granger.
A reação de Harry foi de puro desprezo.
— Suas preciosas propriedades podem ir para o inferno, no que me diz respeito. Meu filho está morto. Não preciso de herança alguma.
Percebendo a sombra de dor que obscureceu o olhar de Harry ao mencionar o garotinho, Sirius suavizou o tom de voz:
— Admito que fui precipitado em anunciar o seu noivado, Harry, mas tive razões para fazer isso. Talvez eu não possa forçá-lo a se casar com Hermione, mas pelo menos, não crie preconceitos contra ela. Prometo que não vai encontrar defeitos na moça. Veja, tenho um retrato de Hermione. Pode ver com os seus próprios olhos como ela é bonita... — Sirius parou de falar ao ver Harry girar nos calcanhares e sair da sala, batendo a porta atrás de si.
Então, fixando o olhar irado na porta fechada, falou em voz alta para o aposento vazio:
— Você vai se casar com ela, Harry, nem que eu tenha de fazê-lo entrar na igreja com uma arma apontada para a sua cabeça!
Poucos minutos depois, Dobby entrou, carregando uma bandeja de prata com uma garrafa de champanhe e duas taças.
— Tomei a liberdade de selecionar algo apropriado à ocasião — o mordomo anunciou, confiante.
— Pois deveria ter selecionado cicuta — Sirius replicou. — Harry já se foi.
— Já? Mas nem tive tempo de cumprimentar o lorde pelo noivado!
— O que foi muita sorte — Sirius comentou com uma risadinha marota. — Ele teria sido capaz de acabar com seus dentes.
Quando Dobby saiu, Sirius encheu uma taça de champanhe e, com um sorriso determinado, ergueu-a em um brinde solitário.
— Ao seu casamento iminente, Harry.
— Só vou demorar um minuto, senhor Fudge — Hermione informou, descendo da carroça de fazenda, carregada com a bagagem dela e de Ginny.
— Não tenha pressa — ele replicou com um sorriso. — Sua irmã e eu não partiremos sem você.
— Apresse-se, sim, Mione — Ginny pediu. — O navio não vai esperar por nós.
— Temos tempo de sobra — O sr. Fudge garantiu. — Chegaremos à cidade antes do anoitecer, eu prometo.
Hermione subiu correndo os degraus da entrada da casa de Draco e bateu na porta.
— Bom dia, senhora Pince — ela cumprimentou a governanta. — Posso falar com a senhora Malfoy por um momento? Gostaria de me despedir e entregar uma carta para ela enviar a Draco. Assim, ele saberá para onde escrever, na Inglaterra.
— Vou dizer a ela que você está aqui, Hermione, mas não garanto que ela vá recebê-la — a simpática governanta informou, sem jeito. — Você sabe como ela se comporta quando não está se sentindo bem.
Hermione assentiu. Conhecia muito bem os mal-estares da sra. Malfoy. Segundo Patrick Granger, a mãe de Draco era uma queixosa crônica, que inventava doenças a fim de não ter de fazer o que não deseja fazer e, acima de tudo, para manipular e controlar o filho. O médico dissera isso a ela, diante de Hermione, anos antes. Evidentemente, a sra. Malfoy jamais perdoara os dois por isso.
Hermione sabia, assim como Draco, que a sra. Malfoy era uma fraude. Por isso, as palpitações, tonturas e formigamentos exerciam pouco efeito sobre os dois, o que colocava a mulher em posição totalmente contrária à escolha do filho para esposa.
A governanta voltou com expressão contrariada.
— Sinto muito, Hermione. A senhora Malfoy diz não estar em condições de recebê-la. Entregarei a carta que escreveu para o senhor Draco. Ela me pediu para chamar o doutor Dumbledore — acrescentou em tom impaciente.
— O doutor Dumbledore simpatiza com as doenças da senhora Malfoy, em vez de mandá-la levantar-se da cama e fazer algo útil — Hermione comentou com um sorriso, lamentando que o correio fosse tão caro e ela fosse obrigada a dar suas cartas para que a mãe de Draco as incluísse na própria correspondência. — Acho que ela prefere a atitude do doutor Dumbledore à atitude de meu pai.
— Na minha opinião — a sra. Pince sussurrou, torcendo o nariz —, ela gostava do seu pai mais do que deveria. Eu chegava a me cansar de observá-la se arrumar, antes de chamá-lo no meio da noite e... — a governanta interrompeu a frase, corrigindo-se depressa: — Não que seu pai, um homem tão maravilhoso, aceitasse o jogo dela.
Quando Hermione se foi, a sra. Pince levou a carta para cima.
— Senhora Malfoy, aqui está a carta de Hermione para o senhor Draco.
— Dê-me isso e mande chamar o doutor Dumbledore — a patroa ordenou com voz surpreendentemente forte para uma inválida. — Estou sentido tonturas. Quando o novo médico vai chegar?
— Dentro de uma semana — a governanta respondeu, estendendo-lhe a carta.
Quando a sra. Pince saiu, a patroa lançou um olhar de desgosto mesclado a desprezo para a carta deixada sobre a cama.
— Draco não vai se casar com essa camponesa — declarou com arrogância para a criada. — Ela não é nada! Ele escreveu duas vezes, dizendo que a prima Pansy, da Suíça, é adorável. Contei isso para Hermione, mas a tola não me deu ouvidos.
— Acha que ele vai trazer a senhorita Pansy para casa, como sua esposa? — a criada perguntou, ajeitando os travesseiros da sra. Malfoy.
As feições da patroa se contorceram de raiva.
— Não seja tola você também! Draco não tem tempo para uma esposa. Eu já disse isso a ele. Esta propriedade é mais que suficiente para mantê-lo ocupado e, além do mais, ele tem obrigações para comigo. — Apanhou a carta de Hermione entre dois dedos, como se estivesse contaminada, e estendeu-a para a moça. — Você sabe o que fazer com isto.
— Eu não sabia que podia haver tanta gente, ou tanto barulho, em um único lugar — Ginny comentou, impressionada, parada no porto de Nova York.
Estivadores com baús sobre os ombros iam e vinham pelas pranchas de embarque, enquanto grossas correntes rangiam nas alturas, içando cargas pesadas a bordo. Os gritos de ordens dos oficiais dos navios misturavam-se às gargalhadas de marujos e aos convites imorais de mulheres vestidas sem a menor decência, espalhadas pelas docas.
— É excitante — Hermione declarou, observando os dois baús que continham todos os pertences de ambas sendo carregados a bordo do Gull por dois estivadores grandalhões.
Embora assentisse em concordância, Ginny parecia perturbada.
— Sim, é excitante, mas fico me lembrando a todo momento que, no final da nossa viagem, seremos separadas por culpa de nossa bisavó. Que motivo ela pode ter para recusar receber você na casa dela?
— Não sei, mas você não deve se preocupar com isso — Hermione afirmou com um sorriso encorajador. — Pense em coisas boas. Olhe para o rio East, feche os olhos e respire fundo.
Ginny observou, mas torceu o nariz com uma careta.
— Tudo o que consigo sentir é o cheiro de peixe podre! Mione, se a nossa bisavó souber mais sobre você, tenho certeza de que vai querer que se junte a nós. Ela não pode ser cruel e insensível a ponto de insistir em nos manter separadas. Vou falar muito de você e fazê-la mudar de idéia.
— Não deve dizer ou fazer nada que possa ofendê-la — Hermione advertiu. — Ao menos por enquanto, somos inteiramente dependentes dos nossos parentes.
— Não vou ofendê-la, se puder evitar, mas cuidarei de deixar claro, por todos os meios possíveis, que ela deve voltar atrás e mandar chamar você. — Como Hermione se limitasse a sorrir, sem dizer nada, Ginny suspirou. — Existe um consolo nesta viagem para a Inglaterra. O senhor Flitwick me disse que, com mais prática e muita dedicação, poderei me tornar uma pianista. Ele garantiu que, em Londres, será fácil encontrar excelentes professores. Vou pedir, ou melhor, insistir para que nossa bisavó me permitia seguir a carreira musical — Ginny conclui, exibindo a determinação que pouquíssimas pessoas sabiam existir por trás daquela fachada de docilidade.
Hermione decidiu não enumerar os possíveis obstáculos que a irmã poderia encontrar. Com a sabedoria de alguns anos a mais, limitou-se a sugerir:
— Não insista com muita intensidade, querida.
— Serei discreta — Ginny concordou.
N/A: Passei de anoooooo!!! Meu Deus, essa notícia me deixou tão feliz que eu resolvi postar o capítulo hoje, então aproveitem e comentem!
Jéssica Malfoy
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