Capítulo 2



Capítulo Dois


— Hermione, tem certeza absoluta de que sua mãe nunca mencionou o duque de Grimmauld ou a duquesa de Claremont?
Hermione afastou as lembranças dolorosas do funeral de seus pais e ergueu os olhos para o médico de cabelos brancos sentado do outro lado da mesa da cozinha. Sendo o amigo mais antigo de seu pai, o dr. Dumbledore havia assumido a responsabilidade de encaminhar o futuro das meninas, bem como de tratar dos pacientes do dr. Granger, enquanto o novo médico não chegasse.
— Tudo o que Ginny e eu sabemos é que mamãe foi separada da sua família, na Inglaterra. Ela nunca falava deles.
— É possível que seu pai tivesse parentes na Irlanda?
— Papai cresceu em um orfanato. Não tinha nenhum parente. — Ela se levantou . — Gostaria de tomar um café, doutor Dumbledore?
— Pare de se preocupar comigo e vá se sentar lá fora, com Ginny — o dr. Dumbledore sugeriu com ar gentil. — Você está pálida como um fantasma.
— Tem certeza de que não precisa de nada? — Hermione insistiu.
— Preciso ser alguns anos mais jovem — ele replicou com um sorriso triste, enquanto afiava uma pena. — Estou velho demais para carregar o fardo dos pacientes de seu pai. Meu lugar é em Filadélfia, com um tijolo quente em meus pés e um bom livro na mãos. Não faço idéia de como serei capaz de fazer tudo o que tem ser feito nos próximos quatro meses, até o novo médico chegar.
— Sinto muito — Hermione lamentou com sinceridade. — Sei que está sendo muito difícil para o senhor.
— Está sendo bem pior para você e para Ginny — o velho e amável médico replicou. — Agora vá para fora e aproveite esse agradável sol de inverno. É difícil termos um dia tão quente em janeiro. Enquanto isso, escreverei cartas aos seus parentes.
Uma semana se passara desde que o dr. Dumbledore chegara para visitar os Granger, quando fora chamado ao local do acidente, onde a carruagem que levava Patrick Granger e a esposa caíra de um barranco e capotara. Patrick Granger morrera instantaneamente. Katherine havia recuperado a consciência apenas pelo tempo necessário para tentar responder às perguntas desesperadas do dr. Dumbledore com relação aos seus parentes na Inglaterra. Com um fio de voz, ela conseguira murmurar:
— ...vovó... duquesa de Claremont.
Então pouco antes de morrer, ela sussurrara outro nome: Sirius. Aflito, o dr. Dumbledore implorou para que ela desse o nome completo e, abrindo os olhos desfocados por um breve instante Katherine suspirara:
— Potter... duque... de... Grimmauld.
— Ele é seu parente? — o médico perguntara com urgência.
— Primo...
Ao dr. Dumbledore restara a árdua tarefa de localizar e contatar aqueles parentes até então ignorados, a fim de perguntar-lhes se um dos dois estaria disposto a oferecer um lar para Hermione e Ginny. Tal tarefa tornava-se ainda mais difícil pelo fato de que, até onde o dr. Dumbledore sabia, nem o duque de Grimmauld, nem a duquesa de Claremont faziam a menor idéia da existência das meninas.
Com um suspiro determinado, o dr. Dumbledore mergulhou a pena no tinteiro, escreveu a data no topo da primeira carta e hesitou, franzindo o cenho.
— Como devo me dirigir a uma duquesa? — perguntou a si mesmo.

Cara Madame Duquesa,

Cabe a mim a desagradável tarefa de informá-la sobre a
morte trágica de sua neta, Katherine Granger, além de avisá-la de que as duas filhas da sra. Granger, Hermione e Ginny,
encontram-se temporariamente sob os meus cuidados. Entre- tanto, sendo um homem velho e solteiro, não posso continuar a
cuidar das duas órfãs de maneira apropriada.
Antes de morrer, a sra. Granger mencionou apenas dois no-
mes: o seu e o de Sirius Potter. Assim, escrevo à madame
duquesa e ao sr. Potter, na esperança de que um dos dois,
ou ambos, possa receber as filhas da sra. Granger em seu lar.
Devo informá-la de que as meninas não tem para onde ir.
Suas finanças são limitadíssimas e elas precisam urgente-
mente de um lar apropriado.

O dr. Dumbledore reclinou-se na cadeira e releu a carta, o cenho franzido de preocupação. Se a duquesa ignorava a existência das bisnetas, era fácil prever uma possível hesitação de sua parte em recebê-las, sem antes saber algo sobre elas. Tentando pensar na melhor maneira de descrevê-las, virou-se para a janela.
Ginny estava sentada no balanço, os ombros vergados, em uma postura de desespero. Hermione dedicava-se, determinada, a um desenho, na tentativa de afastar a tristeza.
O velho médico decidiu descrever Ginny em primeiro lugar, pois ela era a mais fácil.

Ginny é uma menina muito bonita, de cabelos ruivos e olhos
azuis. É meiga, de maneiras afáveis e simpática. Aos dezessete
anos, já se encontra próxima da idade apropriada para o ca-
samento, mas não demonstrou, até agora, nenhuma inclinação
particular para com qualquer dos jovens das redondezas...

O dr. Dumbledore fez uma pausa. A verdade era que muitos jovens já haviam manifestado sérios interesses em Ginny. E quem poderia culpá-los? Ela era bonita, alegre e muito dócil. Era angelical, o dr. Dumbledore pensou, satisfeito por ter finalmente encontrado a palavra exata para descrevê-la.
Porém, quando dirigiu a atenção para Hermione, franziu o cenho em uma expressão desconcertada. Embora Hermione fosse a sua predileta, era também a mais difícil de descrever. Seus cabelos não eram ruivos como os de Ginny, nem eram realmente castanhos. Na verdade, apresentavam uma viva combinação de ambos. Ginny era uma coisinha linda, uma jovem agradável e discreta, que virava a cabeça de todos os rapazes da vizinhança. Possuía todos os requisitos para uma boa esposa: era dócil, gentil, dedicada e tranqüila. Em resumo, era o tipo de mulher que jamais pensaria em contradizer ou desobedecer a seu marido.
Hermione por sua vez, passara muito tempo em companhia do pai e, aos dezoito anos, era extremamente inteligente, possuía uma mente ativa, além da forte tendência a pensar por si mesma.
Ginny aceitaria as idéias de seu marido e faria o que ele lhe dissesse para fazer, mas Hermione tomaria suas próprias decisões e, provavelmente, faria o que considerasse o melhor.
Ginny era angelical, o dr. Dumbledore concluiu, mas Hermione... não.
Estreitando os olhos por trás dos óculos, observou Hermione que desenhava mais um retrato do muro coberto de hera, examinou-lhe o perfil aristocrático, tentando encontrar as palavras certas para descrevê-la. Corajosa, pensou, sabendo que ela desenhava porque preferia se ocupar a se entregar à dor do luto. E piedosa, concluiu, lembrando-se de seus esforços para consolar e alegrar os pacientes do pai.
O dr. Dumbledore sacudiu a cabeça, frustrado. Sendo um velho apreciava a inteligência e o senso de humor de Hermione, admirar-lhe a coragem, a força e a compaixão. Porém, se enfatizasse aquelas qualidades aos parentes ingleses da sra. Granger, eles certamente imaginariam uma mulher independente e pedante, para quem seria impossível encontrar um bom marido, e que se transformaria em um fardo em suas vidas. Existia ainda a possibilidade de que quando retornasse da Europa, dentro de alguns meses, Draco Malfoy fizesse o pedido formal da mão de Hermione, mas o dr. Dumbledore não tinha certeza disso. O pai de Hermione e a mãe de Draco haviam concordado que, antes que o jovem casal ficasse noivo, os sentimentos de ambos deveriam ser testados durante aquele período de seis meses, nos quais Draco faria uma versão abreviada do Grand Tour, viagem educacional comumente empreendida por jovens da aristocracia britânica.
A afeição de Hermione por Draco havia permanecido forte e constante, pelo que o dr. Dumbledore sabia. Os sentimentos de Draco, porém, estavam aparentemente oscilando. Segundo o que a sra. Malfoy confidenciara ao velho médico, na véspera, Draco parecia estar desenvolvendo uma forte atração pela prima de segundo grau, cuja família ele visitava, na ocasião, na Suíça.
Com um suspiro infeliz, o dr. Dumbledore continuou olhando para as duas irmãs, ambas cobertas por vestidos pretos e simples. Apesar dos trajes sombrios, elas formavam um quadro adorável.
E foi então que ele teve a inspiração: resolveria o problema da descrição das meninas com um retrato!
Uma vez tomada a decisão, terminou a carta pedindo a duquesa que discutisse o assunto com o duque de Grimmauld, que receberia uma carta idêntica, e o informassem sobre o que desejavam que ele fizesse com relação às duas. Depois de escrever outra carta, esta endereçada ao duque de Grimmauld, redigiu um bilhete ao seu advogado, em Nova York, instruindo para que pedisse a alguém de confiança, em Londres, que localizasse o duque e a duquesa e lhes entregasse as cartas. Com uma pequena prece para que os dois nobres lhe reembolsasse tais despesas, o dr. Dumbledore se levantou.
No jardim, Ginny usava a ponta do pé para se balançar de um lado para outro.
— Ainda não consigo acreditar — murmurou com um misto de desespero e excitação. — Mamãe era neta de uma duquesa! O que somos, então Mione? Possuímos algum título?
Hermione lançou-lhe um olhar irônico.
— Sim — respondeu. — “Parentes Pobres.”
O que era a mais pura verdade, pois embora Patrick Granger fosse amado e respeitado pelos pacientes, cujas doenças ele tratara por tantos anos, aquela gente do campo raramente possuía recursos para pagá-lo em dinheiro. E, sempre generoso, o dr. Granger jamais havia pressionado. Assim, eles o pagavam com produtos e serviços, como galinhas, peixe, caça, consertos em sua carruagem, em sua casa, com pães frescos, cestos de frutas. Como resultado, a família Granger jamais precisara se preocupar com comida, mas também jamais havia conseguido juntar algum dinheiro. Prova disso eram os remendos dos vestidos tingidos à mão, que Ginny e Hermione usavam agora. Até mesmo a casa onde moravam havia sido fornecida pelos moradores do vilarejo, assim como acontecera ao reverendo Snape. As casas eram emprestadas a seus ocupantes em troca por seus serviços médicos e pastorais.
Ignorando a colocação sensata da irmã quando ao seu status, Ginny continuou com seu ar sonhador:
— Nosso primo é um duque e nossa bisavó, uma duquesa! Mal posso acreditar! E você?
— Sempre achei mamãe um tanto misteriosa — Hermione replicou, reprimindo as lágrimas de solidão e desespero que lhes brotaram dos olhos. — Agora, o mistério está desvendado.
— Que mistério?
Hermione hesitou, antes de responder:
— Só quis dizer que mamãe era diferente de todas as outras mulheres que já conheci.
— Acho que tem toda a razão — Ginny concordou.
Como a irmã retomasse o silêncio anterior, Hermione fixou os olhos no desenho que apoiara nas coxas. O mistério estava desvendado. Agora, ela compreendia muitas coisas que a haviam preocupado e confundido. Só agora entendia por que a mãe jamais fora capaz de ficar à vontade com as demais mulheres da região, por que sempre usava a linguagem sofisticada da sociedade inglesa, exigindo com forte persistência que, ao menos na presença dela, Ginny e Hermione fizessem o mesmo. A herança de família explicava a insistência de Katherine para que as filhas aprendessem francês, além do inglês. Assim como explicava seu modo exigente e a expressão estranha, assombrada, que lhe cobria as feições nas raras ocasiões em que ela mencionava a Inglaterra.
Talvez até explicasse sua reserva para com o marido, a quem tratava com gentil cortesia, mas nada mais. Ainda assim, ela fora, na superfície, uma esposa exemplar. Katherine jamais questionara o marido, jamais se queixara de sua existência de pobre plebéia, jamais discutira com ele. Já fazia muito tempo desde que Hermione conseguira perdoar a mãe por não amar seu pai. Agora, dando-se conta de que a mãe fora provavelmente criada em meio ao luxo e à riqueza, sentia-se inclinada a admirar-lhe a postura.
O dr. Dumbledore saiu para o jardim, sorrindo para as duas meninas.
— Já escrevi as cartas e vou enviá-las amanhã. Com pouco de sorte, receberemos uma resposta de seus parentes dentro de três meses, ou quem sabe, menos.
Parecia satisfeito com o papel que estava desempenhando na tentativa de reunir as irmãs aos nobres parentes ingleses.
— O que acha que eles vão fazer quando receberem as suas cartas, doutor Dumbledore? — Ginny perguntou.
O médico afagou-lhe os cabelos com ar paternal e, erguendo os olhos para o céu, tratou de usar a imaginação.
— Suponho que fiquem surpresos, mas não vão demonstrar, pois na Inglaterra, as classes mais altas não costumam revelar seus sentimentos, além de serem muito formais. Depois de lerem as cartas, enviarão mensagens cordiais um para o outro e, então, e reunirão para discutir o futuro de vocês. Um mordomo vai servir o chá...
Sorriu ao imaginar o delicioso cenário com todos os detalhes. Formou na mente a visão de dois aristocratas ingleses, muito ricos e amáveis, que se encontrariam em um salão elegante, a fim de partilhar o chá servido em bandeja de prata, antes de discutir o futuro das até então desconhecidas, mas já queridas, jovens parentes. Como o duque de Grimmauld e a duquesa de Claremont eram relacionados por intermédio de Katherine, certamente eram amigos, aliados...


N/A: Ahh, querido Dumbly, vc não tem idéia de como está enganado. E então, o que estão achando da fic? Comentem!!!
Eu mudei dois personagens no capítulo um, até porque acho que esses combinam mais com o rumo que a história vai tomar, provavelmente o capítulo três sai ainda essa semana, no máximo sexta.
Bjs,
Jéssica Malfoy

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