Capítulo 14



N/A: Não acredito que eu consegui, ontem passei o dia tentando postar esse capítulo, mas a minha internet 'discada' não estava ajudando! Bom chega de ladainha e vamos ao capítulo que eu tenho certeza vai agrada muita gente!

Capítulo Catorze

Nas semanas que se seguiram, Hermione sentiu o impacto da rejeição de Draco. No início, sentira-se magoada. Então, ficara furiosa. Finalmente, fora invadida por um profundo e doloroso sentimento de perda. Porém, com força e determinação, forçou-se a enfrentar a dura realidade daquela traição, bem como o fato inegável de que sua vida anterior chegara ao fim. Aprendeu a chorar na privacidade de seu quarto para, então, envergar um lindo vestido e seu melhor sorriso para exibir aos amigos e conhecidos.
Tratava de manter seus sentimentos bem escondidos de todos, exceto de Harry e Luna Weasley, que a ajudavam de maneiras diferentes. Luna mantinha Hermione ocupada com intermináveis atividades sociais e Harry a acompanhava a todos os lugares.
Na maior parte do tempo, ele tratava Hermione como se fosse seu irmão mais velho, acompanhando-a a festas, ao teatro, à ópera, permitindo-lhe desfrutar da companhia dos amigos, enquanto ficava com os dele. Porém, era sempre alerta e protetor, pronto para afastar qualquer pretendente que ele não aprovasse. E Harry não aprovava um grande número deles. Para Hermione, que agora conhecia a fundo a fama de Harry como libertino incorrigível, era muito engraçado vê-lo intimidar um admirador mais entusiasmado com a simples força de seu olhar.
Para o resto da ton, o comportamento do marquês de Gryffindor era não apenas engraçado, mas também muito estranho e até mesmo suspeito. Ninguém acreditava que os dois pretendiam se casar, especialmente porque Harry continuava a receber todos os admiradores de Hermione em sua casa e a afirmar que o noivado não era um compromisso definitivo. Por causa disso e pelo noivado ter sido anunciado antes de a condessa chegar à Inglaterra, a conclusão a que todos haviam chegado era de que o noivado fora arranjado de maneira prematura pelo duque, que, além de não possuir saúde boa, não escondia a profunda afeição pelos dois jovens. Assim, era fato aceito que o casal estava mantendo o compromisso apenas para agradá-lo.
Agora, porém, tal teoria começava a ser suplantada por outra, um bocado maliciosa. Desde o início, alguns membros da sociedade haviam manifestado objeções quanto ao fato de Hermione morar na mansão Gryffindor. Por ser ela uma moça tão dócil e como lorde Potter não demonstrara interesse especial por ela, a maioria das pessoas não dera ouvidos a tais objeções. No entanto, à medida que as aparições públicas de Harry ao lado de Hermione aumentavam, os mexericos cresciam, especulando que o notório lorde Potter havia decidido transformar Hermione em mais uma das suas conquistas... se já não o fizera.
Alguns dos mexeriqueiros mais ferinos chegaram a insinuar que o noivado não passava de um disfarce conveniente para uma ligação imoral, levada a cabo bem abaixo do nariz da pobre srta. Sibila Trelawney. Esse boato em particular, embora repetido e passado adiante, não recebeu maior crédito simplesmente porque lorde Potter, embora acompanhando Hermione a todos os lugares, jamais exibia a atitude possessiva de um amante. Além disso, lady Hermione já conquistara um grande número de ferrenhos defensores, entre eles a condessa Weasley e seu marido, que tomavam como ofensa pessoal qualquer comentário maldoso a respeito da condessa de Ravenclaw.
Hermione não ignorava a curiosidade que cercava seu relacionamento com Harry, nem deixava de perceber o fato de que muito membros da ton pareciam desconfiar dele. À medida que se acostumava ao jeito de ser de seus novos amigos, tomava maior consciência das suaves nuances de expressão exibidas pelas pessoas, sempre que Harry estava por perto. Suspeitavam dele, assumiam posição de alerta, desconfiavam. No início, Hermione acreditara estar imaginando coisas, mas depois confirmou suas suspeitas de que todos se tornavam mais tensos e formais na presença dele. Às vezes, ouvia comentários, ou partes de conversas sussurradas, nos quais reconhecia uma pontada de malícia ou, no mínimo, reprovação.
Luna a advertia sobre o fato de as pessoas temerem Harry e não confiarem nele. Uma noite, Ginny tentou fazer o mesmo.
— Mione, Mione, é você? — Ginny chamou, atravessando a pequena multidão que cercava Hermione no jardim da casa de lorde e lady Edgecomb, onde havia uma festa.
Hermione, que não via a irmã desde que as duas haviam desembarcado do navio, fitou-a com ternura.
— Por onde você esteve? — perguntou. — Tem escrito tão raramente, que pensei que ainda estivesse “de castigo” no campo!
— Vovó e eu voltamos para Londres há três dias — Ginny explicou, apressada. — Eu queria vê-la imediatamente, mas vovó não quer que eu tenha o menor contato com você. Assim mesmo tenho me mantido informada sobre todos os seus passos. Mas vamos deixar esse assunto de lado, pois não tenho muito tempo. Minha acompanhante virá a minha procura a qualquer momento. Eu disse a ela que vi uma amiga de vovó e que precisava lhe dar um recado. — Lançou um olhar apreensivo por cima do ombro, sem perceber a curiosidade com que os admiradores de Hermione a observavam. — Ah, Mione, estou tão preocupada com você! Sei que Draco fez uma coisa horrível, mas você não pode nem sequer considerar a possibilidade de se casar com Gryffindor! Ninguém gosta dele. Ouvi lady Bones, a acompanhante de vovó, falar dele. Sabe o que ela disse?
Hermione deu as costas à audiência, que não escondia o interesse ávido.
— Ginny, lorde Potter tem sido muito bondoso comigo. Não me peça para ouvir mexericos desagradáveis, pois não lhes darei ouvidos. Deixe-me apresentá-la...
— Não agora! — Ginny a interrompeu, desesperada. — Sabe das coisas horríveis que falam de Gryffindor? Lady Bones disse que ele nem seria recebido em Londres, se não fosse um Potter. A reputação dele está abaixo da crítica. Ele usa as mulheres para suas finalidades devassas e, depois, as abandona! Todos têm medo dele e você também deveria ter! Dizem... — parou de falar ao avistar uma senhora de meia-idade que abria caminho por entre a multidão. — Preciso ir. Aquela é lady Bones.
Ginny correu ao encontro da mulher e as duas desapareceram.
O sr. Warren, que se encontrava bem ao lado de Hermione, aproveitou a oportunidade para dar a sua contribuição:
— Aquela jovem tem razão, sabia?
Com expressão de desagrado, Hermione virou-se para o jovem que parecia ser do tipo incapaz de enfrentar até mesmo a própria sombra. Então, olhou para os outros que a cercavam com expressões apreensivas. Era evidente que haviam ouvido boa parte das palavras de Ginny.
Sentiu uma explosão de desprezo no peito. Nenhum daqueles jovens jamais se dedicara nem sequer a um dia de trabalho honesto, como Harry fazia. Eram tolos, superficiais, meros manequins bem vestidos, que adoravam criticar Harry pelo simples fato de ele ser muito mais rico e muito mais desejado pelas mulheres do que todos eles juntos.
O sorriso dócil que curvou os lábios de Hermione não escondeu o brilho ameaçador em seus olhos.
— Ora, senhor Corner, está preocupado com meu bem-estar?
— Sim, milady, e não sou o único.
— Que absurdo! Se quer mesmo ouvir a verdade, em vez de perder tempo com mexericos tolos, vou contá-la. Cheguei aqui, sozinha no mundo, sem família, nem fortuna, totalmente dependente de sua alteza e de lorde Potter. Agora, quero que olhe bem para mim.
Hermione teve de conter uma gargalhada quando o jovem tolo colocou os óculos, a fim de obedecer as suas instruções ao pé da letra.
— Pareço uma mulher abusada? — inquiriu com impaciência. — Fui assassinada em minha cama? Não, cavalheiro! Na verdade, lorde Potter deu-me o conforto de uma bela casa, além de me oferecer a proteção de seu nome. Com toda a honestidade, senhor Corner, penso que muitas mulheres em Londres, adorariam ser “abusadas” dessa forma e, pelo que pude observar, por aquele homem em particular. Além disso, acho que é a inveja e o ciúme que dão origem a esses mexericos ridículos.
O sr. Corner corou e Hermione virou-se para os outros.
— Se conhecessem lorde Potter tão bem quanto eu, saberiam que ele é o homem mais gentil, generoso, refinado e... e amável! — concluiu. Atrás dela, a voz de Harry soou divertida:
— Milady, em sua tentativa de defender minha negra reputação, está me fazendo parecer um homem tedioso!
Hermione virou-se para encará-lo embaraçada.
— No entanto — ele continuou com um sorriso —, poderei perdoá-la se aceitar dançar comigo.
Ela pousou a mão na dele a se deixou levar para o salão.
O sentimento de orgulho que a invadira por ter reunido coragem suficiente para defendê-lo começou a se dissipar, quando Harry a tomou nos braços, deslizando pela pista de dança, em silêncio. Só então Hermione parou para refletir que ainda sabia pouco sobre ele, embora houvesse aprendido, pela própria experiência, que Harry dava grande valor a sua privacidade e não gostava de falar de si mesmo. Sem jeito, perguntou-se se ele estaria zangado por tê-la surpreendido a discuti-lo com outras pessoas. Como ele continuasse quieto, Hermione ergueu os olhos e arriscou:
— Está zangado comigo por eu estar falando de você?
— Era de mim que estava falando? — ele indagou, erguendo as sobrancelhas. — Pela descrição que ouvi, jamais teria adivinhado. Desde quando sou gentil, generoso, refinado e amável?
— Você está zangado — Hermione concluiu com um suspiro.
Harry riu baixinho, ao mesmo tempo em que a apertava contra si.
— Não estou zangado — corrigiu. — Estou envergonhado.
— Por quê?
— Para um homem da minha idade e tamanho, com a minha reputação duvidosa, é um tanto embaraçoso ser defendido por uma jovem delicada como você.
Fascinada pela ternura que iluminou os olhos dele, Hermione teve de lutar contra a impulso absurdo de deitar a cabeça em seu ombro.


A notícia que Hermione defendera lorde Potter em público se espalhou com rapidez. Aparentemente, ela o admirava, embora não estivesse decidida a se casar com ele. Ainda assim, a ton concluiu que a data do casamento deveria ser marcada em breve. Tal possibilidade deixou os admiradores de Hermione em pânico e eles redobraram esforços para agradá-la. Disputavam suas atenções com ferocidade, brigavam entre si por causa dela e, no final, lorde Thomas e lorde Finnigan duelaram por ela.
— Ela não quer nenhum de nós dois — o jovem lorde Thomas informou a lorde Finnigan uma tarde, quando saíram da mansão Gryffindor, depois de uma visita breve e insatisfatória.
— Quer, sim — lorde Finnigan protestou. — Ela demonstrou um interesse particular por mim!
— Ora, seu idiota! Ela nos considera almofadinhas ingleses e é evidente que não gosta dos ingleses. Prefere aqueles colonos rudes! Ela não é a criaturinha meiga que parece. Na verdade deve rir a nossa custa e...
— Mentira! — o amigo o interrompeu, furioso.
— Está me chamando de mentiroso, Finnigan? — Thomas inquiriu, indignado.
— Estou — Finnigan confirmou com petulância.
— Muito bem. Amanhã, ao raiar do dia, nos bosques de minha propriedade — Thomas decretou.
Em seguida, partiu a galope, na direção do clube que freqüentava, onde a notícia do duelo iminente se espalhou, chegando às mesas de jogos, onde o marquês De Salle e o barão Krum se distraíam.
— Malditos idiotas! — De Salle praguejou ao ser informado da disputa — lady Hermione ficará inconsolável quando souber disso.
O barão Krum se limitou a rir baixinho.
— Nem Thomas, nem Finnigan tem pontaria para causar maiores estragos. Fui testemunha disso durante uma caçada na casa de campo de Finnigan, em Devon.
— Talvez eu deva tentar impedir esse absurdo — o marquês declarou.
O barão sacudiu a cabeça, ainda parecendo divertido.
— Não vejo por que você deva se preocupar. O máximo que vai acontecer é um dos dois conseguir ferir o cavalo do outro.
— Estou pensando na reputação de lady Hermione. Um duelo travado por causa dela não será nada bom.
— Ótimo! — o barão zombou — Se ela se tornar menos popular, minhas chances de conquistá-la serão maiores.
Horas depois, ocupando uma outra mesa de jogo, Ronald Weasley soube do duelo, mas não recebeu a notícia de bom humor. Pedindo licença aos amigos, deixou o clube e se dirigiu à residência do duque de Grimmauld, onde Harry estava hospedado. Depois de esperar durante uma hora pelo retorno do amigo, Ron persuadiu o mordomo a acordar o valete de Harry. Como resultado de muita insistência, o criado forneceu, com grande relutância, a informação de que o patrão voltara cedo do sarau a que acompanhara lady Hermione e, então, saíra para visitar uma certa dama, na Williams Street.
Ron voltou para sua carruagem e deu o endereço ao cocheiro, ordenando:
— Depressa!
As batidas altas e insistentes na porta finalmente despertaram a criada francesa que, com a maior discrição, negou qualquer conhecimento do paradeiro de lorde Potter.
— Vá chamar sua patroa imediatamente — Ron comandou impaciente. — Não tenho muito tempo.
A criada lançou um olhar para o brasão na porta da carruagem e, após uma breve hesitação, subiu a escada apressada.
Depois de outra longa espera, uma bela loira desceu a escada, vestindo uma fina camisola.
— O que está acontecendo lorde Weasley? — Fleur inquiriu.
— Harry está aqui? — Ronald perguntou.
— Está.
— Diga a ele que Dino Thomas e Simas Finnigan vão duelar por Hermione ao amanhecer, no bosque da propriedade de Thomas.
Quando Fleur se sentou na beirada da cama, Harry estendeu a mão e, de olhos fechados, encontrou a abertura as camisola e acariciou-lhe a coxa.
— Volte para cama — convidou com voz sonolenta. — Preciso de você de novo.
Um sorriso triste curvou os lábios dela.
— Você não precisa de ninguém, Harry. Nunca precisou.
Com uma risada, Harry deitou-se de costas e puxou-a para cima de seu corpo já excitado.
— Se isso não é precisar, então, o que é?
— Não foi isso que eu quis dizer com “precisar” e você sabe disso. Não! — Fleur protestou, ao sentir as mãos experientes começarem uma sensual exploração de seu corpo. — Não temos tempo, agora, Weasley está lá embaixo. Pediu para avisá-lo de que Thomas e Finnigan vão duelar ao amanhecer, na propriedade de Thomas.
Harry abriu os olhos imediatamente, mas não pareceu preocupado.
— Vão duelar por Hermione — Fleur completou.
Em questão de segundos, Harry estava de pé, vestindo-se apressado.
— Que horas são? — perguntou.
— Falta mais ou menos uma hora para o amanhecer.
Ele assentiu, inclinou-se para beijá-la na testa e saiu.
O céu começava a clarear quando Harry finalmente localizou o bosque na propriedade Thomas e avistou os dois oponentes. À direita, sob os carvalhos frondosos, estava a carruagem do médico. Harry fincou os calcanhares nos flancos de seu garanhão, disparando em galope veloz.
Ao alcançar a clareira, saltou do cavalo antes mesmo que este parasse e correu para Thomas.
— Que diabo está acontecendo? — inquiriu, e ficou surpreso ao ver o marquês De Salle se aproximar de Finnigan. — O que está fazendo aqui? Você deveria ter mais juízo do que esses dois moleques!
— Estou fazendo o mesmo que você, mas sem muito sucesso, como logo vai descobrir.
— Thomas atirou em mim — Finnigan acusou com voz engrolada pelo álcool que havia ingerido, na tentativa de reunir coragem para o duelo. — Thomas não... não se comportou como um... cavalheiro. Agora... vou atirar nele.
— Não atirei em você — Thomas protestou, irritado. — Se tivesse atirado, você estaria ferido!
— Você não atirou para cima! — Finnigan persistiu. — Não é um cavalheiro... merece morrer... e vou cuidar disso.
Então, Finnigan ergueu o braço trêmulo, apontando a arma na direção do oponente. Em seguida, tudo aconteceu de uma só vez. A pistola explodiu no momento em que o marquês De Salle se lançava sobre Finnigan, na tentativa de tomar-lhe a arma. Ao mesmo tempo, Harry atirou-se sobre Thomas, derrubando-o no chão. A bala passou zunindo, próximo à orelha de Harry, ricocheteou no tronco de uma árvore e, então, atingiu-lhe o braço.
Após um momento de imobilidade, Harry se sentou devagar, com expressão incrédula. Pôs a mão sobre a dor lancinante em seu braço e viu o sangue, que logo lhe manchou os dedos.
O médico, o marquês e Finnigan correram para ele.
— Deixe-me examinar seu braço — o dr. Smith falou, afastando os outros e se ajoelhando ao lado de Harry.
O médico rasgou-lhe a manga da camisa e o jovem Finnigan emitiu um gemido estrangulado ao ver o ferimento.
— Ah, meu Deus! Lorde Potter, não tive a intenção de...
— Cale-se! — o dr. Smith ordenou. — Alguém me dê uma garrafa de uísque que está na minha maleta. — Para Harry, explicou: — É um ferimento sem maiores conseqüências, Harry, mas é profundo. Terei de limpá-lo e dar pontos. — Apanhou a garrafa que o marquês lhe entregou e lançou um olhar de desculpa para Harry. — Vai arder como o fogo do inferno.
Harry assentiu e cerrou os dentes, quando o médico derramou o líquido âmbar sobre o ferimento para, então, estender-lhe a garrafa.
— Se eu fosse você, Harry, beberia o resto. Vai precisar de muitos pontos.
— Não atirei nele — Finnigan explodiu, na tentativa de escapar à ira de lorde Potter, que teria todo o direito de exigir uma revanche. Quatro pares de olhos se fixaram nele, com evidente desprezo. — Não atirei! — ele repetiu, desesperado. — Foi a árvore. Atirei na árvore e, depois, a bala atingiu lorde Potter.
Harry fitou-o com expressão sombria.
— Se tiver sorte, Finnigan, vai conseguir se manter longe de minhas vistas, até que eu esteja velho demais para açoitá-lo.
Finnigan girou nos calcanhares e começou a correr, Harry virou-se para Thomas, que o fitava, petrificado.
— Thomas, sua presença me ofende.
Seguindo o exemplo do amigo, o jovem montou em seu cavalo e desapareceu.
Em seguida, Harry bebeu um longo gole de uísque, contorcendo-se para suportar a dor provocada pela agulha com que o dr. Smith fechava seu ferimento. Então, virou-se para De Salle:
— Infelizmente, não dispomos de copo adequado, mas sirva-se à vontade.
Sem hesitar, o marquês aceitou a garrafa e bebeu, antes de explicar:
— Dirigi-me a sua casa, logo que soube do duelo, mas fui informado de que você não estava. Seus criados se recusaram a me fornecer seu paradeiro. Assim, trouxe o doutor Smith comigo, para tentarmos evitar que o pior acontecesse.
— Devíamos ter deixado que se matassem ¾ Harry murmurou com desgosto, voltando a se contorcer, pois acabar de levar mais um ponto.
— Tem razão — De Salle concordou.
Harry bebeu mais dois goles de uísque e começou a sentir os efeitos do álcool sobre seus sentidos. Apoiou a cabeça no tronco da árvore e, com um suspiro, perguntou:
— O que, exatamente, fez a minha pequena condessa para provocar esse duelo?
De Salle empertigou-se diante do tom afetuoso usado por Hermione.
— Pelo que pude entender, lady Hermione teria chamado Finnigan de almofadinha inglês.
— Nesse caso, Finnigan deveria ter desafiado Hermione para um duelo — Harry falou com uma risada. — Ela não teria errado o alvo.
O marquês não achou graça da piada.
— O que quer dizer com “sua pequena condessa”? — indagou. — Se ela é sua, está se demorando demais para oficializar o noivado. Você mesmo disse que nada estava decidido. Que tipo de jogo está fazendo com os sentimentos dela, Gryffindor?
Harry sustentou o olhar hostil do outro e, então, fechou os olhos e sorriu.
— Se está pensando em me desafiar para um duelo, espero que saiba atirar muito bem. É humilhante demais para um homem da minha posição ser atingido por uma árvore.

Hermione virava-se de um lado para outro, na cama, exausta demais para dormir e incapaz de afastar os pensamentos agitados. Ao amanhecer, desistiu de tentar e se sentou, apoiando-se nos travesseiros e pensando em sua vida como um túnel longo e escuro a sua frente. Pensou em Draco, que estava casado com outra e perdido para ela. Lembrou-se dos camponeses que aprendera amar quando ainda era criança e que a amavam como a uma filha. Agora, eles se encontravam longe demais, totalmente fora de seu alcance. Só lhe restava tio Sirius, mas nem mesmo o afeto sincero daquele homem poderia abrandar a agitação e o vazio que preenchiam seu peito.
Durante toda a sua vida, ela se sentira útil e necessária, de alguma maneira. Agora, sua vida era um seqüência interminável de frivolidades, com Harry pagando por todas as suas despesas. Sentia-se inútil, desnecessária... um fardo.
Havia tentado seguir o conselho insensível de Harry e escolher outro homem para se casar. Sim, tentara, mas simplesmente não conseguia imaginar-se casada com nenhum daqueles almofadinhas londrinos, todos tão superficiais, esforçando-se como podiam para agradá-la. Não precisavam dela como esposa. Hermione seria um mero ornamento, um objeto de decoração em suas vidas. Com exceção dos Weasley e de outros raros casais, os casamentos na ton não passavam de acordos convenientes, nada mais. Os casais raramente compareciam junto ao mesmo evento, e quando o faziam, não era de bom-tom ficarem na companhia um do outro. Os filhos nascidos desses casamentos eram prontamente entregues aos cuidados de babás e professores. O significado do casamento era muito diferente na Inglaterra, Hermione concluiu.
Com nostalgia, lembrou-se dos maridos e esposas que conhecera em Portage. Lembrou-se do velho sr. Parker, sentado na varanda, durante o verão, lendo com determinação para a esposa paralisada, que mal tinha consciência de onde estava. Recordou a expressão nos rostos dos Makepeace, quando seu pai os informara de que, depois de vinte anos de tentativas vãs, a sra. Makepeace finalmente estava grávida. Pensou em como o casal de idade já pouco avançada havia se abraçado, chorando juntos a felicidade partilhada. Aqueles, sim, eram casamentos como todos os casamentos deveriam ser: duas pessoas trabalhando juntas, ajudando uma à outra, nos bons tempos e nos ruins; duas pessoas rindo juntas, criando seus filhos juntas e até mesmo chorando juntas.
Hermione pensou nos próprios pais. Embora Katherine Granger não amasse o marido, ainda assim havia lhe proporcionado um lar acolhedor e sido sua companheira. Os dois faziam quase tudo juntos, como jogar xadrez diante da lareira, durante o inverno e sair para longas caminhadas, no verão.
Em Londres, Hermione era desejada por uma razão simples e estúpida: estava “na moda”, no momento. Como esposa, não teria nenhuma utilidade, exceto a de ocupar o seu lugar à mesa, quando os convidados chegassem para o jantar. E ela sabia que jamais seria feliz vivendo assim. Queria partilhar sua vida com alguém que precisasse dela, fazer seu marido feliz e ser importante para ele. Queria se sentir útil, saber que possuía um propósito que não fosse meramente ornamental.
O marquês De Salle gostava muito dela, era verdade, mas não a amava. Hermione mordeu o lábio, atacada mais uma vez pela dor da perda, ao se lembrar das juras de amor que ouvira de Draco. Ele não a amara de verdade. O marquês De Salle também não a amava. Talvez os homens ricos, incluindo Draco, fossem incapazes de amar. Talvez...
Hermione empertigou-se ao ouvir passos pesados se arrastando pelo corredor. Era cedo demais para ser algum criado. Além disso, eles praticamente corriam pela casa, na tentativa de satisfazer os desejos do patrão. Algo bateu contra a parede e um homem gemeu. Tio Sirius podia estar passando mal, Hermione pensou, atirando as cobertas para longe e saindo da cama apressada. Correu para a porta e abriu-a.
— Harry! — exclamou ao vê-lo apoiado na parede, o braço esquerdo suspenso em uma tipóia improvisada. — O que aconteceu? Ora, esqueça. Não tente falar. Vou chamar um criado para ajudá-lo.
Girou nos calcanhares, mas ele a segurou pelo braço, puxando-a de volta, com um sorriso estranho.
— Quero que você me ajude — Harry murmurou com voz engrolada e passou um braço pelos ombros dela, apoiando assim todo o peso do corpo. — Leve-me para o meu quarto, Hermione.
— Onde fica o seu quarto? — Hermione sussurrou.
— Você não sabe? Eu sei onde fica o seu.
— Que diferença isso faz, agora? — ela indagou, irritada.
— Nenhuma — ele admitiu e parou diante da primeira porta à direita.
Hermione abriu-a ajudou-o a entrar.
Do outro lado do corredor, uma outra porta se abriu e Sirius Potter apareceu, vestindo seu robe de seda, com ar preocupado. Então, imobilizou-se ao ouvir Harry ordenar em tom sedutor:
— Agora, minha pequena condessa, acompanhe-me até a minha cama.
Hermione percebeu a maneira estranha com que Harry estava pronunciando as palavras, mas atribuiu o fato à dor, ou à perda de sangue.
Quando pararam ao lado da cama imensa, Harry retirou o braço de seus ombros e esperou pacientemente enquanto ela puxava as cobertas. Em seguida, ele se sentou, fitando-a com um sorriso tolo. Hermione estudou-o, tentando esconder a ansiedade. Usando o tom de voz suave e profissional de seu pai, perguntou:
— Poderia me contar o que aconteceu com você?
— Claro! — ele respondeu, parecendo afrontado. — Não sou nenhum imbecil, sabia?
— Muito bem, o que aconteceu? — ela repetiu, começando a ficar impaciente.
— Ajude-me a tirar as botas.
Hermione hesitou.
— Acho melhor eu ir chamar Slughorn.
— Esqueça as botas — Harry decidiu, antes de se deitar ainda calçado. — Sente-se ao meu lado e segure a minha mão.
— Não seja tolo.
Ele lhe lançou um olhar magoado.
— Você deveria ser mais gentil comigo, Hermione. Afinal de contas, fui ferido em um duelo pela sua honra.
Horrorizada pela menção de um duelo, ela obedeceu.
— Ah, meu Deus, um duelo! Por quê? — Examinou-lhe as feições e sentiu o coração se derreter. Por alguma razão, Harry havia lutado por ela. — Por favor, diga-me por que você se envolveu em um duelo ¾ implorou.
Harry sorriu.
— Porque Finnigan chamou você de almofadinha inglesa.
— Do quê? — Hermione inquiriu, ansiosa. — Harry, quanto perdeu de sangue?
— Todo. Quanto você lamenta?
— Muito. Agora, por favor, tente falar coisa com coisa, Finnigan atirou em você porque...
Harry revirou os olhos, com ares de desgosto.
— Ele não atirou em mim. Ele seria incapaz de acertar uma parede a dois metros de distância! Uma árvore me atingiu. — Estendeu a mão e acariciou a rosto de Hermione, puxando-a para si. — Sabe que você é linda? — disse com voz rouca e dessa vez, o forte odor de uísque atingiu as narinas de Hermione.
— Você está bêbado! — ela acusou, recuando.
— Tem razão — Harry confirmou de bom humor. — Eu me embriaguei com seu amigo De Salle.
— Meu Deus! Ele também estava lá?
Harry assentiu, mas não disse nada, pois estava fascinado pela bela mulher a sua frente. Os cabelos castanhos, caíam soltos sobre seus ombros, emoldurando um rosto de beleza incomparável. A pele era lisa como alabastro, as sobrancelhas delicadamente arqueadas. Seus olhos castanhos estudavam as feições de Harry com preocupação, tentando avaliar suas condições. Orgulho e coragem marcavam cada um de seus traços, das maças do rosto bem delineadas, ao nariz pequeno e arrebitado, e também o queixo, com sua encantadora fenda. Ainda assim, a boca era suave e vulnerável, tão suave quanto seus seios que ameaçavam saltar para fora do decote da camisola fina, parecendo pedirem a Harry que os tocasse. Porém, era a boca de Hermione que ele queria capturar...Lentamente, puxou-a para mais perto.
— Lorde Potter! — Hermione advertiu, tentando se afastar.
— Você acabou de me chamar de Harry. Não negue.
— Foi um erro.
— Então, vamos errar de novo.
Enquanto falava, ele pousou a mão por trás da nuca de Hermione, forçando-a a se aproximar.
— Por favor, não — ela implorou. — Não me obrigue a lutar com você. Seu ferimento pode piorar.
A pressão em sua nuca diminuiu. Embora não a libertasse, Harry imobilizou-se, limitando-se a impedir que ela se afastasse, enquanto lhe estudava o rosto com ar reverente.
Hermione esperou pacientemente, sabendo que Harry estava confuso por causa da dor, da perda de sangue e da ingestão de uma quantidade considerável de álcool. Nem por um momento acreditou que ele realmente a desejava e, por isso, fitou-o com ar divertido.
— Alguma vez você já foi beijada por alguém, além de David? — Harry indagou.
— Draco — Hermione corrigiu-o, esforçando-se para não rir.
— Nem todos os homens beijam do mesmo jeito, sabia?
Uma risada escapou dos lábios de Hermione, antes que ela pudesse reprimi-la
— Verdade? Quantos homens você já beijou?
Embora o sorriso curvasse os lábios de Harry, ele ignorou a piada.
— Chegue mais perto — ordenou com voz rouca, voltando a intensificar a pressão de sua mão na nuca de Hermione. — Cole seus lábios aos meus. Faremos do meu jeito.
A complacência de Hermione desvaneceu e ela começou a entrar em pânico.
— Harry, pare com isso. Você não quer me beijar. Nem gosta muito de mim, quando está sóbrio.
Ele soltou uma gargalhada amarga.
— Gosto de você muito mais do que deveria — declarou.
Então, puxou-a para si com um movimento brusco e beijou-a com ardor. Hermione lutou para se libertar, mas Harry enroscou os dedos em seus cabelos e puxou-os.
— Não lute! — falou entre os dentes. — Está me machucando.
— É você quem está me machucando! — Hermione protestou. — Solte-me.
— Não posso — Harry argumentou, embora soltasse os cabelos de Hermione e deslizasse a mão por seu pescoço e costas, mantendo os olhos fixos nos dela. — Mil vezes tentei me convencer de que não a quero, Hermione, mas foi em vão — confessou, desolado.
E, enquanto Hermione ainda se recuperava do choque provocado por aquela declaração, Harry voltou a puxá-la para si e beijá-la. Desta vez, porém, seu beijo foi um misto de ternura e paixão, que deixou Hermione atordoada e imóvel. No início, ela simplesmente se deixou beijar, abandonado-se às sensações totalmente desconhecidas que invadiam seu corpo. Então, em um momento de paixão febril, retribuiu o beijo, imitando cada movimento dos lábios e da língua de Harry.
A reação dele foi imediata. Com um gemido abafado, ele passou o braço em torno das costas de hermione e apertou-a contra si com força esmagadora, deliciando-se com o contato dos seios fartos e macios contra seu peito.
Depois do que pareceu uma eternidade, Harry descolou os lábios dos dela, passando a beijar-lhe as faces e a testa com profunda reverência e ternura. Então, de súbito, parou.
Hermione recuperou lentamente a clareza de raciocínio, que trouxe consigo a consciência horrorizada do comportamento devasso que acabara de exibir. Seu rosto encontrava-se pousado sobre o peito de Harry e ela estava parcialmente deitada sobre ele, como uma... uma leviana! Trêmula, forçou-se a erguer a cabeça, na certeza de que os olhos de Harry exibiriam o brilho frio do triunfo, ou até mesmo o mais profundo desprezo. Que era exatamente o que ela merecia. Com relutância, abriu os olhos e se obrigou a fitá-lo
— Meu Deus — ele murmurou com olhar desfocado.
Hermione se encolheu de leve ao vê-lo erguer a mão, pois pensou que Harry fosse empurrá-la para longe de si. Porém, ele segurou seu rosto com dedos delicados, acariciando-lhe a face com o polegar. Confusa pela reação inesperada, ela esperou.
— Seu nome não combina com você — ele finalmente falou. — Hermione é muito longo e frio para uma criatura tão delicada e adorável.
Cativada pelo ar de intimidade com que ele a fitava, Hermione contou:
— Meus pais me chamavam de Mione.
— Mione — Harry repetiu, sorrindo. — Gostei. Combina perfeitamente com você. Também gosto do brilho que seus cabelos refletem o sol, do som da sua risada e da maneira como seus olhos faiscam quando está zangada. Sabe do que mais eu gosto? — acrescentou, ao mesmo tempo em que seus olhos se fechavam lentamente.
Fascinada pelo som da voz grava e pela doçura das palavras de Harry, Hermione sacudiu a cabeça.
Com os olhos fechados e um sorriso nos lábios, ele murmurou:
— Gosto de como você preenche a camisola que está vestindo...
Hermione se afastou de um pulo, ofendida. A mão de Harry caiu inerte a seu lado. Ele já dormia profundamente.
Por mais que tentasse ficar furiosa, Hermione sentiu o coração amolecer. As feições de Harry, normalmente duras, exibiam grande suavidade quando ele dormia. Além disso, a ausência do brilho cínico em seus olhos fazia-o parecer vulnerável e quase infantil.
Perguntou-se como ele teria sido quando criança. Certamente, Harry não fora um garoto cínico e frio.
— Draco arruinou todos os meus sonhos de criança — murmurou baixinho. — Gostaria de saber quem arruinou os seus. Vou lhe contar um segredo — acrescentou, sabendo que ele não poderia ouvi-la. — Também gosto muito de você, Harry.
Do outro lado do corredor, ouviu-se o clique de uma porta se fechando. Invadida pela culpa, Hermione se levantou de um pulo, alisando a camisola e ajeitando os cabelos. Porém, quando espiou da porta, o corredor estava deserto.

N/A: Ehhhhhh, teve beijo! E no próximo capítulo vcs vão descobrir pq eu queria Sirius como pai do Harry. Meu maroto preferido botando as manguinhas de fora!!!
Bjs,
Jéssica Malfoy


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