Maldita Carta
CAPÍTULO XXVIII. - MALDITA CARTA
Ela não podia acreditar... Os seus olhos passaram mais uma vez pela carta... e de novo, e de novo... Como eles podiam ter escondido uma coisa tão grave? Eles não tinham o direito...
Sentiu a vista ficar embaçada... E só então percebeu que começara a chorar, ali, na frente de todo mundo.
Mordeu o lábio. Voltou a fitar os amigos.
Remo e Lílian olhavam-na apreensivos. O garoto foi o primeiro a se manifestar.
- Mia? O que está escrito?
Não podia se explicar agora... Só tinha que...
Sem dizer uma só palavra, Amélia se levantou e deixou o salão principal. Voltou à torre da grifinória... Tinha muito que pensar. Precisava ficar sozinha.
XxXxXxX
Quase duas horas tinham se passado, e ela ainda estava lá, miserável. Trancada em seu quarto, sozinha... Ouvindo o barulho infernal do punho de Lílian batendo contra a porta.
Suspirou pesadamente.
Enxugou as lágrimas.
Analisou a situação...
Ela não podia deixar os pais... A mãe... Como ela não percebera antes? Sempre distante... Emiliana Lair sabia que estava com os dias contados, e, ainda assim, não se desesperou... Não muito, pelo menos.
E o seu pai... Agora ela sempre entendia porque ele ficava tão triste quando ela dizia que ficaria na Inglaterra... Entendia porque ele dizia que não podia perdê-la... O coitado estava prestes a perder a mulher...
E como ela tinha sido egoísta! Tão egoísta que nem perguntou por que os pais estavam agindo de forma tão estranha... Ela deu um sorriso triste... Preferiu achar que a mãe tinha um caso... E assim não teria que se meter em problemas e podia continuar cuidando do seu mundinho.
Lílian, mais uma vez, bateu na porta.
Ela se sentou...
E percebeu.
O seu plano, toda a vida que tinha imaginado com Severo, ruíra. Ela não podia ficar com ele e simplesmente esquecer a mãe morrendo. Tinha que ficar ao lado dela... E do pai, na hora da perda.
Teria que aprender a viver sem ele.
Mas como dizer isso a ele?
As lágrimas ameaçaram voltar. Para tentar reprimi-las, Amélia abriu a porta... Talvez, conversando com amiga, tudo ficasse menos negro.
Lílian, assim que viu o estado de Amélia ao abrir a porta, abraçou a amiga.
As lágrimas de Amélia não resistiram ao abraço afetuoso... Caíram em cascata.
- O que aconteceu?
Amélia se libertou do abraço, sentou-se na cama. Suspirou.
Precisava contar para alguém.
- A carta... – não conseguiria prolongar muito a frase. – Minha mãe está morrendo!
E voltou aos soluços. Lílian apenas ficou ao lado dela, confortando-a, esperando que Amélia se acalmasse, parasse com aquele choro desesperado.
E disse.
- Não é possível... Eu vi uma coluna com seus pais, semana passada! Ela estava saudável.
Sem mais querer falar, Amélia entregou a carta para a amiga. Enquanto Lílian lia, uma expressão de profunda tristeza tomava conta do seu rosto... E, por fim, a ruiva derramou uma tímida lágrima solidária.
- Eu sinto muito.
Amélia não saiu do quarto pelo resto daquele dia.
XxXxXxX
Ela esperou que todos tivessem descido para o café da manhã, para poder se levantar. Não suportaria responder. Não queria mais chorar.
Desceu lentamente as escadas que levavam para o salão comunal da grifinória... Para encontrar, lá, uma única pessoa.
- Severo?
O garoto levantou o rosto para encarar a namorada. O aspecto de Amélia era deplorável: não estava arrumada como de costume, e o seu rosto estava inchado de tanto chorar... Sem falar nas enormes olheiras.
Ele se levantou, esperou ela se aproximar... Para cumprimentá-la com um casto beijo.
- Estou aqui desde ontem, te esperando.
- Me esperando?
- Esperando você sair do quarto e vir falar comigo.
Ela quase sorriu.
- Desde que horas você está aqui?
Ele crispou os lábios.
- Desde a hora que você saiu em disparada do salão principal. Tive que ficar umas boas horas brigando com aquele quadro idiota, até que A Trouxa apareceu e me deu a senha.
Ela sentiu o coração parar.
- Você está aqui? Direto? Por mim?
Ele rolou os olhos e assentiu.
Mais uma vez, Amélia sentiu o nó na garganta, e começou a chorar copiosamente. Severo, coitado, estava perdido. Nunca vira a namorada chorar daquele jeito, antes. Não sabia o que fazer.
Em meio aos soluços, ela sussurrou.
- Obrigada.
E abraçou-o.
Se ele tivesse idéia de como essa simples demonstração de carinho complicava ainda mais a cabeça de Amélia... Se ele soubesse que o simples fato dele ter se preocupado com ela, a fazia querer esquecer de tudo e ficar com ele para sempre...
E que, quanto mais forte ele a apertava, quanto mais persistentemente ele tentava extirpar a dor dela, mais ela pensava que não conseguia mais viver sem ele...
Depois de um tempo,os braços do namorado conseguiram acalmá-la.
Eles se sentaram.
Num tom brando, quase incomum, Snape Disse:
- Já que você está mais calma, quer me dizer o motivo do choro?
‘Não...’
Não estava pronta, ainda... Não queria que ele ficasse triste. Não queria ver nos olhos dele a decepção.
Ele nunca deixava de cumprir os planos. Sempre ia até o fim com tudo. Decepcionaria-se ao constatar que ela não era assim... Que ela estava suscetível a covardias e desistências.
Mordeu o lábio.
- Eu só estou um pouco deprimida.
O olhar dele se tornou duro.
- Isso não tem nada haver com uma carta que você recebeu ontem?
Ela temeu.
- Lílian te contou algo? Alguém te contou algo?
- Não. Eu vi que você lia uma carta, antes de sair do salão principal feito uma louca.
Ela suspirou. Sorriu tristemente.
- Vamos esquecer isso? Eu só quero esquecer...
Ele assentiu.
- Eu vou aceitar isso, por enquanto. Eu tenho o resto de nossas vidas para resolver esse assunto, não?
'Não, meu amor, porque eu vou para a América'
Ela fechou os olhos, se controlando. Mentiu.
- Exato.
- Você vai ficar bem?
- Vou sim.
Ele se levantou. Ao chegar perto da porta, ele disse:
- Dois dias.
E ela percebeu: só tinha hoje e amanhã para ficar com ele! Depois disso, talvez eles nunca mais voltassem a se ver.
De repente, um grande vazio se implantou no peito dela...
Sem pensar, ela disse.
- Fique.
Severo se virou. Viu a namorada, o rosto choroso voltando.
- O que diabos você está escondendo de mim?
- Por favor...
Ele passou a manhã com ela...
XxXxXxX
O dia se passou rapidamente...
O penúltimo dia.
Severo estava com ela... Até fez com que ela se alimentasse...
O dia inteiro, e ela não disse a ele uma só palavra sobre o fim dos planos.
A noite caiu, e com ela as meninas começaram a entrar no salão comunal da grifinória... Todas tagarelavam sobre o baile de formatura.. Todas comentavam como os seus vestidos eram lindos e perfeitos... Como todas ficariam com inveja delas.
Amélia o olhou, sugestiva. Tinha que se arrumar, também... Fazer alguns feitiços para diminuir aquela cara de quem tinha passado o dia chorando.
Sem ela dizer uma só palavra, ele entendeu. Deixou a Grifinória.
Antes de se arrumar, Amélia escreveu aos pais, dizendo que voltaria para casa. E que eles não precisavam ir buscá-la. Ela já estava grandinha suficiente para voltar sozinha.
Deixou a carta de lado. Abriu o malão, para olhar para o seu vestido...
Azul. Combinava com os seus olhos. Ela ficaria angelicalmente bela.
Mas não era isso que ela estava procurando...
Talvez, uns toques de varinha nele – e nela – a deixariam com o visual perfeito para ter uma noite perfeita com Severo.
A última noite dos dois.
E então ela contaria.
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