Sem Você



CAPÍTULO XXIX. - SEM VOCÊ

Esta seria a noite mais especial e difícil da vida dela, assim pensava. Era o dia em que romperia com o amor da sua vida. Tudo, absolutamente tudo, tinha que transparecer a alma dela... A alma que estava obscura por causa do coração dilacerado.

Tudo na vida dela estava escuro.

Com um leve toque na varinha, os seus cabelos, outrora loiros, tornaram-se negros.

O seu vestido, outrora azul, tornou-se vinho.

Ela suspirou. Sentiu vontade de chorar. A porta se abriu.

Elizabeth irrompeu no quarto, quebrando o momento dela... Aquela menina inconveniente não tinha o direito de invadir o momento de melancolia de Amélia! Mas, antes que esta pudesse falar qualquer coisa, Thompson começou a tagarelar feito uma maritaca.

- Ah, Mia, queridinha! Adorei a nova cor dos cabelos! Sabe, eu até estou pensando em mudar os meus, também! O que você acha? Estava pensando num loiro, igual ao seu... Não me leve a mal, agora, que você está morena, mas os garotos preferem as loiras, sabe? Você ficou bem, sim, mas vai perder boa parte dos seus admiradores.

Amélia apenas assentiu tristemente. Mal escutava o que a companheira de quarto falava.

- Mas que cabeça a minha, não? Você não se importa com isso! Quer dizer, você já tem um namorado... Tudo bem, ele não é lá grandes coisas, mas... Merlin sabe o que você viu nele! É sério, Mia, você vai mesmo morar com ele?

Ela a olhou, irritada.

- Não, Elizabeth, eu não vou morar com ele! Eu não vou ficar com ele! Eu estou voltando amanhã para a casa dos meus pais. Pronto! Agora você tem um boato quentíssimo para espalhar! Deixe-me só.

A menina passou um tempo encarando Amélia, abismada. Sentou-se ao seu lado. Solidariamente, segurou a sua mão.

- O que aconteceu? Vocês brigaram?

- Não – misteriosamente, Amélia se sentiu, pela primeira vez desde que entrara em Hogwarts com vontade de conversar com aquela menina – Eu apenas vou ter que voltar para casa. Tudo o que eu mais quero é ficar aqui, com ele.

- Mas você não disse que estava decidida a jogar tudo para o alto? Você não disse que ficaria com ele contra tudo e contra todos?

Amélia suspirou. Livrou-se da mão da menina. Começara a ter vontade de chorar, não queria estragar todos os feitiços que tinha feito para desinchar a cara.

- Existem coisas mais importantes do que nós dois. Nunca era pra ter dado certo entre agente. Agora eu não quero mais falar nisso... Apenas deixe-me arrumar.

Elizabeth a observou demoradamente. Então, assentiu. Silenciosamente, foi até o baú dela, tirou o seu vestido e se aproximou da porta do quarto.

- Eu acho que você precisa passar um tempo sozinha. Se precisar de mim, nem que seja para chamar a Lílian, eu estarei com Liv.

E deixou o quarto.

Amélia nunca se sentira tão agradecida a uma pessoa.

Talvez ela tivesse julgado mal aquela menina por todo esse tempo.

XxXxXxX

Lentamente, ela desceu as escadas que levavam ao salão comunal da grifinória. Estava atrasada... Lá, apenas sirius Black se encontrava, andando de um lado para o outro.

E parou ao avistar Amélia.

Passado o susto, ele falou.

- Olá, vampira!

Finalmente um comentário espirituoso, num dia tão difícil. Amélia até conseguiu sorrir sinceramente.

- Está tão mal assim?

- Ao contrário.

Ele a olhou tão demoradamente o que a deixou sem-graça.

- Nunca tinha notado o quanto você é branca.

- Eu acho que fiz de tudo para todos notarem isso hoje.

- Sabe, o morcegão vai gostar. Vocês vão parecer terem sido feitos um para o outro essa noite... Drácula e Mina.

- Bram Stoker? – Amélia ergueu uma sobrancelha. – Não sabia que você gostava de literatura trouxa!

Sirius deu de ombros.

- Tem coisas interessantes. Drácula, de Bram Stoker é uma delas. Mas deixa eu te contar: Drácula já está lá fora. É bom correr, Mina, ou ele vai acabar procurando um outro pescoço.

Amélia o olhou... Sirius Black estava a mandando ao encontro de Severo... do Ranhoso... Ela quase riu.

- Já estou indo!

Antes de sair, já bem perto da porta, ela se virou.

- Afinal, Sirius, você escolheu quem? Para o baile?

Ele piscou o olho.

- Véronique! Eu quero ver se as histórias que ouvi sobre ela são verdadeiras!

As histórias...’

Amélia balançou a cabeça... Era melhor não perguntar.

Deixou o salão comunal.

XxXxXxX

Do lado de fora, bem em frente ao quadro da Mulher Gorda, Severo a esperava com um semblante impaciente. Amélia quase temeu que o namorado a repreendesse por chegar atrasada...

Mas foi só vê-la que a expressão no seu rosto mudou.

Seria surpresa ou deslumbramento? Seriam os dois?

Ela sorriu, envergonhada.

- Olá conde!

Aos poucos, a expressão dele voltou ao normal – fria e severa. Somente então, ele respondeu.

- Como?

- Você sabe.. Bram Sto-- - ‘literatura trouxa. Ele não sabe!’ – Esquece! – ela deu um meio sorriso e se agarrou ao braço dele – Vamos.

XxXxXxX

O baile... as pessoas... as danças...

Tudo fora tão maravilhoso...

Quanto mais Amélia queria que aquilo não acabasse, menos pessoas ficavam no salão principal de Hogwarts, o que anunciava o fim da festa.

A musica parou. As luzes começaram a se apagar. No chão, apenas a sujeira que lembrava a festa animada.

Amélia sentiu um vazio imenso tomar conta dela.

Braços enlaçaram a sua cintura.

Aquela voz que ela tanto amava ouvir sussurrou no seu ouvido.

- Eu acredito que a Murta está nos esperando.

Ela mordeu os lábio.

Seria a última noite dos dois, ela não queria que tivesse um fantasma vigiando-os... Não... Tinha que ser muito especial.

Lílian tinha citado um lugar que, vez por oura, ela ia namorar Tiago... Claro, não para fazer o que ela e Severo faziam – Lílian era uma santa. Era uma sala que ficava no sétimo andar... Era só pensar no que se estava precisando, e ela aparecia.

- Não.

Severo a virou, para encará-lo. Os olhos dele estavam duros.

- Por que não, Mia? É a nossa última noite aqui.

Ela suspirou.

- Justamente por isso... Eu não quero que seja lá. Apenas me siga!

XxXxXxX

Amélia arrastava Snape através dos corredores do sétimos andar até chegar a um trecho onde a parede era lisa. Ela suspirou.

- Nós passamos na frente dessa parede três vezes, pensando no que precisamos.

Ele crispou os lábios.

- E do que nós precisamos?

- De um bom lugar onde possamos passar a noite. Pense no seu quarto.

Severo rolou os olhos, mas obedeceu.

Após passarem por aquele trecho de parede três vezes, uma grande porta surgiu. Amélia sorriu.

- Deu certo!

Os dois entraram na réplica perfeita do quarto de Severo.

XxXxXxX

O ritmo constante do corpo de Severo sobre o dela era a única coisa que importava. Os gemidos roucos... A sensação de ter o corpo inteiro tremendo no gozo que ele a proporcionara... Sentir o líquido quente do gozo dele dentro dela...

Nada mais existia.

Somente o peso do corpo dele sobre o dela. A respiração pesada. O coração acelerado. Os cabelos dele espalhados sobre o seu seio.

Uma lágrima escorreu.

Mas ela não chorou.

O corpo dele rolou para se deitar ao lado dela. Amélia o olhou.

- Nós precisamos conversar.

Ele se sentou.

- Diga.

Mas como dizer que iria embora? Como contar tudo para ele? Naquele momento?

Agora, sim, ela chorou.

Severo a olhou, preocupado.

- O que está acontecendo?

- Eu não consigo...

- Tente.

- Eu não vou conseguir...

...viver sem você.’

Ele segurou a mão dela. A sua voz foi a mais branda que ela já tinha ouvido.

- Amélia, por favor, me diga o que está acontecendo? Eu quero ajudar você.

- Você não pode me ajudar.

Eles ficaram se olhando. Até que ela sentiu que não conseguiria contar.

A única coisa a se falar, era a única verdade naquele momento.

- Eu não suportaria ficar sem você.

XxXxXxX

Sem você

Vinicius de Moraes / Antonio Carlos Jobim

Sem você, sem amor

É tudo sofrimento

Pois você é o amor

Que eu sempre procurei em vão

Você é o que resiste

Ao desespero e à solidão

Nada existe

E o mundo é triste sem você

Meu amor, meu amor

Nunca te ausentes de mim

Para que eu viva em paz

Para que eu não sofra mais

Tanta mágoa assim, no mundo

Sem você

XxXxXxX

Recomendo a música daí d cima na voz d Chico Buarque.

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