A Verdade sobre a Verdade
Antoine estava sentada no salão principal de Hogwarts. Era manhã da véspera da seleção das casas, no dia seguinte, os alunos chegariam à Hogwarts. Era seu sexto ano como diretora da escola. Tomava o café da manhã sozinha, tinha em mãos a última carta de Justus, não o via há dois anos, ele continuava na Austrália. Aquela carta era de dez dias atrás, bem alegre, contava mais algumas aventuras dele no inexplorado país. Porém, Justus não escrevia para a “mãe” e sim para “Antoine”. Ela tentava não se importar, contanto que o filho estivesse bem e feliz, mas era difícil ser durona. Respirou fundo e andou até a janela que dava para o pátio do salgueiro lutador. Descansou o pires e a xícara no batente da janela e ao lado deles a carta de Justus, quando ouviu passos apressados vindo em sua direção.
― Queria me ver? - perguntou um homem alto, de cabelos e cara vermelhos e com forte sotaque alemão. Era moço, deveria ter pouco mais de vinte anos.
― Sim. Gostarria de discutirr a matérria que ensina!
― O que tem ela?
― Bem, está saindo um pouco dos padrrões de nossa escola!
― As crianças precisam saber da existência de todo ser mágico.
― Admito que sim, mas elfos não fazem muito a não serr deverr obediência cega a seus donos! - disse Antoine em tom sarcástico - E não acho que se rebelarriam!
― Achar é supor! E se acontecer?
A gargalhada que Antoine deu ecoou pelos corredores do castelo.
― Elfos nunca se rebelarram, prrofessorr! Acho que esse assunto não deve levarr mais do que uma aula! Suas carraminholas podem deixarr os alunos parranóicos! Imagine-os entrrando em nossa cozinha para estuporrá-los!! Não querro mais saberr de revoluções élficas!
― Sua mente é atrasada, não sei como pode ser diretora desta escola! - bradou o professor.
― É assunto parra uma aula e ponto final. - disse Antoine em tom severo, forte e alto.
― Se irei lecionar aqui, será a meu modo! - rebateu o professor.
― Pois então vá lecionarr em outrro lugarr! - gritou Antoine jogando a xícara contra o professor, mas não o atingindo. O rosto avermelhado dele empalideceu, bem que tentou retirar o que disse, mas Antoine não aceitou, pediu que saísse de Hogwarts até a noite. O professor seguiu desconsolado para fora da sala, retrucando com um homem vestido de preto que encontrou no caminho:
― Ela está mais impulsiva e impossível que o normal! Tome cuidado hoje!
O homem de preto olhou para trás seguindo o professor demitido, mas logo voltou o olhar para a diretora, andando na direção dela. Os cacos da xícara de porcelana estilhaçaram-se pelos arredores de Antoine. Dois elfos limpavam rapidamente a bagunça. Quando Antoine notou que alguém estava próximo, lançou apenas um olhar aos elfos e estes saíram tremendo de medo, correndo para a cozinha.
― Espero não estar atrapalhando!
Antoine virou-se com os olhos em brasa, ao ouvir uma voz chamando-a, impressionou-se ao ver Severo Snape em sua frente, pois pensara ser o professor de Defesa Contra a Arte das Trevas que acabara de demitido, voltando para implorar pelo cargo.
― Vim pessoalmente, pois Dumbledore me pediu... o velho não está bem! - disse Snape rapidamente.
― Eu senti algo - disse ela com o olhar distante, inexpressivo.
― Ele quer ver você!
― Querr? - disse ela admirada, mas logo fechando a cara. - Eu não... poderria!
― Ele está velho, moribundo, está... morrendo! Não acho que vá se lembrar...
Antoine olhava para Snape com olhos pensativos. Riu alto antes de chamar os seguranças da escola e avisá-los que iria se ausentar naquele dia e seguiu com Snape até a casa de Dumbledore.
Era um lugar maravilhoso, florido e perfumado, a casa do antigo diretor de Hogwarts. Snape notou que ao entrarem no jardim a expressão dela mudou, ela parecia a Antoine de quinze anos. Conforme se aproximavam da casa, o ar parecia rarefeito. Suas forças pareciam poucas para conseguir respirar direito. Havia muita mágica por ali, e muitas pessoas, algumas delas não gostaram de ver Antoine e não aceitavam que ela estivesse ali, mas fora um pedido de Dumbledore e ninguém o contrariou. Antoine passou com os olhos baixos pelos antigos professores de Hogwarts. Minerva torceu o nariz e saiu da casa, recusando-se a ficar sob o mesmo teto que Antoine. Justus também estava lá, acenou de longe para a mãe, mas ela não sorriu. Antoine se precipitou no quarto de Dumbledore e este estava meio que sentado em seu leito. Ao vê-la Dumbledore soltou um sorriso e flores por toda casa se abriram. As pessoas ficaram maravilhadas e espiaram para dentro do quarto para ver quem estava agradando o ex-professor e diretor.
― Que bom que veio. - disse Dumbledore lentamente. - Chegue mais perto.
― Não devo! - respondeu. Snape automaticamente a empurrou. Antoine olhou trás, mas aproximou-se de Dumbledore.
― Vejo que Severo ainda lhe impõe respeito.
Ela soltou um sorriso amarelo, mas logo fechou a cara.
― Teria muito a lhe dizer, Antoine, mas meu tempo é curto...
Como se alguma coisa a transportasse através do tempo, Antoine viu toda sua vida em Hogwarts a sua frente, então tocou os lábios de Dumbledore com os seus e depois se afastou sorrindo.
― O senhorr foi muito bom parra mim, prrofessorr! Semprre ao meu lado ou encobrrindo minhas trravessurras. Até me deixou prraticarr magia mesmo sabendo que poderria fazerr mal a alguém...
― Eu sempre soube tudo o que acontecia na escola - Dumbledore viu que a expressão no rosto de Antoine se fechou. - Sabia que nunca usaria a magia para levar vantagem sobre alguém - disse ele pausadamente -, seu orgulho em conquistar as coisas por mérito era muito maior do que qualquer prazer momentâneo que a magia poderia trazer. Gostaria de viver muito mais para poder desfrutar da vida que terá de hoje em diante, mas o segredo que vou revelar é o que me levou a perder todas as minhas forças!
Snape estava se afastando, não suportava a palavra segredo, sempre fora muito dura com ele.
― Fique Severo, Antoine vai precisar de você!
― O que foi, prrofessorr? - perguntou interessada
― Diga-me... como vai Damien? Continua nas Forças de Combate às Magias contra Trouxas?
― Sim, está muito contente!
― No fundo sempre foi um bom menino. Conversei com ele poucas vezes, somente quando ainda era diretor de Hogwarts.
Antoine não estava entendendo onde Dumbledore queria chegar, mas deixou que continuasse. Sentou-se ao lado dele e segurou sua mão.
― Justus, pelo contrário, vem me ver regularmente. Ele tem um forte caráter teimoso, muito parecido com o seu! Ele me disse que viu Draco na Austrália.
― Ah, sim! - disse Antoine sem graça. - Depois que Damien foi morrarr sozinho ele resolveu fazerr uma viagem, sentia-se isolado, sufocado pelos pais...
― Quem era a moça com ele? - perguntou Dumbledore. Antoine fez que não escutou. - Justus não a reconheceu. Quem era ela? - insistiu Dumbledore.
― Ah... bem... a nova juíza do Fórrum Bruxal. Parrece muito competente.
― Então vocês dois não estão mais juntos? - perguntou Dumbledore olhando agora para Snape, que tinha os olhos no chão.
― Não - disse ela rapidamente. Os olhos de Snape se ergueram instantaneamente. - Mas onde querr chegarr?
― Bem, a nenhum lugar, só queria saber das novidades!
― Nos separramos há mais de dois anos, foi ela quem prroferriu o divórcio! Porrque se fosse qualquerr outrro juiz nunca terria manchado os anais jurrídicos separrando dois nomes tão poderrosos.
Snape estava pasmo, sentado na cadeira olhando para o nada. Acabara de se lembrar de um detalhe, um pequeno detalhe, e quando o ouviu, achou ter se confundido, mas agora entendia: no dia em que Justus foi falar com a mãe, há dois anos trás, sobre sua ida para a Austrália, o motorista de Antoine a chamou de senhorita Dimanchè e não de senhora Malfoy.
― Dirretorr! - disse Antoine ao ver Dumbledore gemer e se contorcer na cama. Snape correu a auxiliá-la.
― Antoine - disse ele apoiando-se em Snape para se sentar melhor na cama -, me arrependo de não ter lhe contado antes, mas não havia alguém para me ajudar a contar este segredo!
― Dirretorr...
― Quando você nasceu sua mãe a levou para longe, para a França, para ficar junto de sua família materna. Não queria que você se envolvesse com magia. Sentia muito medo disso, assim como toda família dela. E tinha suas razões, seu bisavô foi um dos magos mais sábios e malévolos de todos os tempos e aquela foi uma época difícil, Voldemort e seus comensais... mas afastar você... de mim... foi a pior coisa que ela pôde fazer comigo, porque eu não podia deixar Hogwarts em hipótese alguma para ver você!
― Me... me... verr? Porr que?
― Sim, foi pelo que aconteceu comigo que eu proibi qualquer envolvimento de professores com alunos... eu e sua mãe... - Antoine levantou-se da cama tampando os ouvidos com as mãos e balançando a cabeça negando-se a escutar. Podia ver que Dumbledore continuava a falar, não o ouvia, mas conseguia ler seus pensamentos. - Eu me apaixonei por sua mãe. Ela era uma criança... apenas uma criança... e eu, um homem bem formado e respeitado. Não fui atrás dela para não manchar minha carreira... e a vida dela... desperdicei-a! Percebi há poucos anos que fiz tudo, escolhi caminhos diferentes dos dela por minha carreira...
Antoine tirou as mãos da orelha.
― Não quis que o mesmo acontecesse com você, mas subestimei meus genes, que lhe caíram perfeitamente.
― Não... não diga mais nada!
― Nunca deixei de amá-la, mas não podia tirá-la de sua família de qualquer forma. Por sorte você se inclinou para a magia e então eu a trouxe para Hogwarts, foi uma realização pessoal!
Antoine parou, de súbito, sorriu e depois começou a gargalhar, mas logo lágrimas rolaram pelo seu rosto. Parecia enlouquecida. Algumas pessoas olhavam para dentro do quarto tentando descobrir o que estava acontecendo.
― Que irronia, não Severro - disse ela agindo dubiamente -, o sentimento de perrda tem um gosto que eu nunca poderria imaginarr! - disse socando o próprio peito com força e voltou-se a Dumbledore que retomava a palavra.
― Perdoe esse velho tolo, que quis muito durante muito tempo ser chamado de pai, mas não ousou chamar pela filha.
― Apesarr de tudo... o que me aconteceu nesta vida, Hogwarrts foi o melhorr lugarr que estive até hoje!
― Antoine...
― Não há o que perrdoarr, dirretorr.
Antoine apertou a mão de Dumbledore e saiu do quarto sem nenhum peso em sua consciência, sem aquele peso da mentira ou de uma vida que de nada valeu. Sentou-se num banco do jardim, debaixo de uma árvore florida. Fechou os olhos e chorou enquanto sentia o perfume das flores.
― Cheiro muito doce, não?
― Muito - disse ela olhando para o lado, Justus estava ali sentado, cabisbaixo.
― Deveria ir à Austrália, as flores de lá são exóticas e muito mais cheirosas, você iria adorar, mamãe.
― De que me chamou? - pediu ela fungando.
― Mamãe - Antoine abraçou o filho tão forte que ele gemeu. Afastou-se dele e acariciou-lhe o rosto com as pontas dos dedos. Ele fechou os olhos e pôs a mão sobre a da mãe. Fazia tempo que queria poder estar com o filho.
― Não sabe como senti falta de seus carinhos, mamãe!
― Eu que o diga, Justus! Mas suas carrtas me faziam feliz! Clarro, que a mudança rrepentina de Damien...
― Sim, falei com ele há alguns dias, pensei que não fosse a mesma pessoa. Ele está mudado.
― Muito mudado, ele viu o que a família é!
Justus ficou em silêncio alguns segundos antes de falar.
― Desculpe ter ficado zangado com você...
Ela sorriu e logo mudou de assunto.
― Como está? Ainda morrando com seu pai?
Justus não fez cara de agrado, mas respondeu que sim. Conversaram noite adentro. Antes do amanhecer, Antoine voltou ao quarto de Dumbledore e ficou lá até Snape sair cabisbaixo, avisando que o maior mago de todos os tempos havia deixado aquela terra.
Depois de todos os arranjos, seguiram em cortejo até Hogwarrts, onde Antoine fez questão que ele fosse enterrado. Uma estátua e uma placa com uma mensagem escrita a ouro, sobre o túmulo homenageavam o velho mestre e pai.
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