O Delator
Era sábado importante, um jogo de quadribol muito esperado iria decidir quem venceria o campeonato entre as casas. Sonserina estava à frente e se ganhasse mais este jogo seria campeã invicta por quatro anos consecutivos, contudo Corvinal vinha quebrando todos os seus limites para não deixar os esnobes sonserinos vencerem mais um ano.
― Achei que a encontraria aqui! - disse Snape parado na porta da sala de Poções. - O tempo não muda quando se trata daquilo que não gostamos!
― Vai perrder o jogo!
― Sim, só voltei para pegar minha bandeirinha! - disse ele agitando-a. - Vamos à Hogsmeade comemorar a vitória de hoje?
― Convencido! - respondeu Antoine atirando um papel amassado nele. Snape o pegou no ar e andou até ela.
― Vou esperá-la entre as árvores na saída do castelo, às dez horas!
Antoine concordou e recebeu um gostoso beijo na bochecha. Enquanto todos se divertiam, continuou trabalhando em uma poção secreta que vinha desenvolvendo há mais de dois meses. Só o borbulhar da poção ecoava na sala silenciosa. Passou-se um tempo e gritos abafados podiam ser ouvidos ao longe, eram, provavelmente, dos alunos da Sonserina. Resolveu parar com o trabalho, seguiu em direção ao corredor e não demorou aos alunos entrarem erguendo Damien nos braços. O menino passou ao lado da mãe e a encarou com uma das sobrancelhas erguidas. Ela sorriu e o cumprimentou, mas ele nem se deu ao luxo de agradecer. Snape, que vinha metros atrás, abriu um largo sorriso ao ver Antoine.
― Convencido, hein?! - disse ele apenas e seguiu para seu quarto. Antoine seguiu em frente e foi para o salão principal jantar. Na entrada encontrou Minerva, a diretora da casa Grifinória.
― Essa nós perdemos! Semana que vem a Lufa-lufa não vai resistir aos sonserinos e lá se vai mais um campeonato para a Grifinória - desabafou Minerva.
― As crrianças se diverrtirram muito - disse Antoine sorridente sentando-se ao lado de Dumbledore. - Boa-noite, dirretorr.
― Olá! Jogo acirrado, mas seu... Damien é um ótimo apanhador.
― Sim, ele é - respondeu Antoine ao diretor.
― Gostaria de conversar com você depois do jantar, se for possível, Antoine!
― Clarro, dirretorr - respondeu ela. E mais uma vez sentiu que Dumbledore já sabia o que ela estava fazendo.
Eram nove e meia quando ela entrou no escritório de Dumbledore. Ele estava sentado atrás de sua escrivaninha escura e pediu que ela se sentasse a sua frente.
― Vou deixar Hogwarts no ano que vem! - foi o que ele disse, em seco, sem rodeio. Antoine engoliu em seco. - Estarei pedindo que fique em meu lugar!
― O quê? Tão cedo? Nunca aceitarrão...
― Eu tenho grande influência sobre Conselho dos Bruxos.
― É muita responsabilidade, direetorr Dumbledorre!
― O que você tem de sobra! - alegou cruzando os braços sobre a mesa e com isso se aproximando mais de Antoine. Ela, porém, sentiu aquela afirmação se tornar uma pergunta.
― O senhorr sabe tudo o que acontece porr aqui! Como é que posso com isso?
― São coisas que vêm com o cargo, minha querida! Estarei me reunindo com os professores amanhã, não que algum possa impedir algo, pois tudo já foi formalizado, apenas quero deixá-los à par da minha decisão antes da reunião geral com os conselheiros.
― Eu... eu... não tenho cerrteza se... posso!
Dumbledore baixou a cabeça e espiou por sobre os óculos meia-lua. Antoine se levantou, juntou as mãos e andou até a janela. Os dedos dela estavam se mexendo freneticamente revelando esconder algo que não sabia como contar, e que nada tinha haver com assumir o posto de diretora de Hogwarts.
― Não é muito bonito ou honrado o que anda fazendo, eu sei, mas se é o que seu coração quer!
― Deve haverr outrra pessoa que possa substituí-lo, prrof... - disse baixando a cabeça, os olhos fechados, uma das mãos tocou a testa.
― Sim, com certeza, mas a que acho perfeita está aqui em minha frente.
― Mal sei resolverr minha vida... querria fazerr tudo mudarr, mas não tenho corragem!
― A mudança é um grande obstáculo quando temos uma vida perfeita. Sair de um lugar seguro, confortável e previsível parece-nos loucura, mas o que é a vida se não um jogo onde tentamos encontrar nossa felicidade?
― Prrofessorr Dumbledorre... - disse Antoine jogando-se aos pés dele e agarrando sua veste lilás. Dumbledore pôs sua mão enrugada sobre a cabeça de Antoine, permaneceu alguns instantes pensativo, e então levantou o queixo dela e acalentou-a.
― Eu pedi a Severo que se afastasse de você, queria que seu destino se realizasse, Antoine. Você, no entanto, fez com que Severo se perdesse com sua insistência. Ele é um homem, e os homens são fracos! Você adiantou as coisas com esse encontro e um pouco mais ao aceitar o pedido de Malfoy, mas no final se deu muito bem. É uma das pessoas mais sábias e reconhecidas no mundo bruxo, é uma maravilhosa colega e professora, as crianças a adoram e ainda tem dois filhos muito inteligentes!
― Eu sabia que foi o senhorr, mas Severro desmentia...
― Ele também não deixou que Lupin, apesar da ótima pessoa que é, interferisse no seu futuro! Severo tinha certeza de que você seria uma pessoa muito reconhecida! Nem ele, nem eu tivemos a intenção de estragar sua vida! - parou de falar, piscou e continuou: - Você, porém, terá que se decidir, ou segue um caminho ou outro. Mas nunca, nunca mesmo, deve enganar as pessoas com sentimentos falsos!
― Como é que vou enfrrentarr aquela família?
Dumbledore sorriu e estendeu a mão para ajudá-la a levantar.
― Você não está sozinha! E... acho melhor ir ou Severo terá um ataque tendo que esperar tanto por você! - os dois foram obrigados a rir.
Damien andava de um lado a outro no dormitório. Não conseguia descansar, dormir. Uma euforia descontrolada o tomara, o dominava de tal forma que seus pensamentos mais profundos lhe saíam pela boca se não forçasse a se calar. Havia também muita agitação na sala comunal sonserina. Desde tempos ela vinha acontecendo, a copa das casas já estava vencida e por isso todos estavam mais felizes do que costumeiramente estariam. Enraivescido, atirou-se na cama enfiando o travesseiro sobre a cabeça, como se todos os sons ou preocupações fossem sumir com aquela ação.
Já passavam vinte minutos das dez e Snape chutava a raiz de uma árvore quando Antoine chegou ofegando. Ele tinha a cara amarrada, mas aproximou-se preocupado.
― Aconteceu algo?
― Eu estive com Dumbledorre!
― O que ele queria?!
― Nada não, vamos a Hogsmeade?
Snape balançou a cabeça, estendeu a mão para ela e os dois seguiram caminho. Chegaram a Hogsmeade e sentaram-se numa mesa nos fundos do bar. Eles não faziam nada de mais, sentavam, bebiam e conversavam ao som da banda que tocava. Passavam horas conversando, às vezes, um único assunto, até chegarem a uma conclusão em que concordassem. Deixaram o Três Vassouras lá pelas duas da manhã. O ar gelado da madrugava, misturado a uma leve brisa, parecia cortar o rosto de Antoine. Ela não estava acostumada àquilo, sempre saía de carro quando estava com Draco. Snape percebeu o sofrimento e a envolveu com sua capa. Andaram bem juntos para se aquecerem.
― Foi uma noite maravilhosa! - disse Snape ao chegarem ao portal de entrada de Hogwarts.
― É bom poderr esquecerr do resto do mundo, às vezes! - sussurrou. Snape abraçou-a carinhosamente, logo depois recebeu um suave beijou e uma leve mordeu nos lábios, que o fez suspirar.
― Não faça isso! - sussurrou - Aqui não é um bom lugar para acontecer o que queremos que aconteça!
Despediram-se e Snape deixou que Antoine entrasse primeiro no castelo, daria um tempo para que relaxasse e, minutos depois seguiria para lá também. Resolveu demorar um pouco mais ali, na entrada principal do castelo, para observar Hogwarts. Aquele vento gelado parecia revigorar suas forças. Fazia seu cérebro trabalhar melhor. Era por isso que gostava tanto de trabalhar de madrugada: o silêncio, o frescor, tudo cooperava para que suas idéias fluíssem.
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