Acontecimentos Imprevistos



Damien voltou para Hogwarts pior do que nunca, não deixava o irmão em paz! Contudo, aquele sábado seria diferente para Justus, seria um sábado inteiro sem Damien e ainda por cima em Hogsmeade, a cidade bruxa mais divertida que existia.
― Vai me acompanhar a Hogsmeade? - perguntou Snape a Antoine.
― Sim, mas acho que não deverríamos...
― Claro que sim! - insistiu. Estava ciente de que Antoine receava serem descobertos, Snape, porém, n]ao via mal nisso, deu o braço a ela e seguiram à carruagem que os levaria até Hogsmeade. Pararam em frente ao Três Vassouras. Mas foi quando tudo veio a tona.
― Antoine! - gritou uma voz familiar.
― Drraco!! - disse ela assustada, mas acabara de se lembrar que o havia convidado para passarem os sábados juntos em Hogsmeade, assim, o marido não ficaria tanto tempo sem vê-la. Draco correu até ela, a abraçou e a girou no ar beijando-a apaixonadamente. Snape ainda não havia entendido, estava tentando discernir, mas segundos depois, a ficha caiu - Senti saudades! Não tem você em casa é péssimo! - disse Draco colocando Antoine no chão e beijando-a na testa.
― Também senti saudade - respondeu baixinho.
― Oras, mas se não é o professor Snape! - disse Draco estendendo a mão. - Ainda está em Hogwarts, suponho?
― Pretendo me aposentar lá, Malfoy - disse Snape apertando a mão de Draco.
― Então vejo que minha esposa está em boas mãos!
Mesmo depois de ter-se dado conta da condição entre Antoine e Draco, a palavra “esposa” fez os olhos de Snape se arregalarem e caírem sobre Antoine. Ela não conseguiu sentir o peso do olhar de Snape e virou-se para Draco sorrindo.
― Vamos até o Três Vassouras? - perguntou Draco. - Nos acompanha, professor?
― Ele tem outrras coisas a fazerr! - interrompeu Antoine ainda sem olhar para Snape, que balançou a cabeça afirmando o que ela havia dito, mas logo completou:
― Se bem que tenho o dia inteiro para fazê-las... vamos até lá! - e aceitou o convite de Draco. Os três entraram no bar e se sentaram em uma pequena mesa redonda aos fundos. Snape e Draco conversaram muito tempo sobre o trabalho no Ministério, enquanto Antoine apenas os ouvia sem levantar os olhos.
― Olhe só quem está lá! É o Crabbe, esperem aí, que eu preciso falar com ele. O que esse idiota está fazendo aqui? - disse Draco levantando. Antoine segurou-o pela manga do paletó, mas Draco sorriu, beijou a mão dela e foi ao outro lado do bar. Ela não olhava para Snape, porém podia sentir os negros olhos percorrerem seu rosto.
― Não tem nada a me dizer? - rosnou Snape olhando fixamente para ela.
― Eu... - mas só o que fez foi balançar a cabeça e olhar para as mãos.
― Olhe para mim! - comandou e ela o fez imediatamente. - Não era de duvidar, vocês eram muito unidos em Hogwarts. Mas por que não me disse?
― Porrque... não... consegui! E não deu tempo!
― Não deu tempo?
― Dumbledore sabia que eu havia me casado, mandei convites parra todos em Hogwarts! E ele foi ao meu casamento... e ninguém mais!
― Ah... ele foi? - disse Snape irônico. - E quando foi isso?
― Achei que você estivesse fingindo não saberr...
― E para que diabos eu faria isso? - disse Snape balançando a cabeça, o corpo tenso, o rosto cheio de rugas. - Quando é que se casaram?
Ela olhou para baixo e sussurrou quase que inaudível:
― Há... mais de dez anos!
― O quê? - disse Snape cerrando os olhos e aproximando seu rosto ao de Antoine. - Casou-se com ele logo depois de sair de Hogwarts? Por que?
― Ele me amava.
― Ha! - disse em alto tom, arrependendo-se por chamar a atenção.
― O pai de Drraco estava me esperrando na estação. Sentia-me tão só vendo toda aquela gente e não conhecendo ninguém... e ele foi muito gentil...
― Gentil... - repetiu cheio de cinismo.
― Vejo que vocês estão entretidos! - disse Draco voltando sorridente. - Então o senhor conseguiu finalmente lecionar Defesa Contra a Arte das Trevas, não, professor?
A conversa com Antoine parou por ali, em Hogsmeade, mas não em Hogwarts. Snape tiraria a história a limpo, faria ela entender o erro cometido. Entretanto, depois de algum tempo sentado àquela mesa, pôde ver nas atitudes de Draco que Antoine era uma ótima mulher, e que o rapaz realmente a amava, depois de dez anos ainda fazia pequenos gracejos para arrancar um sorriso daquele rosto lindo que ela possuía. Não querendo mais incomodá-los, Snape se despediu e foi resolver negócios, mas não conseguia parar de pensar neles.
Na manhã de segunda-feira, o castelo acordou silencioso, todos queriam que aquele fosse mais um dia de folga para poderem descansar já que todo domingo depois de um dia de Hogsmeade trazia muito cansaço. Antoine resolveu rapidamente o problema de seus alunos, ensinando-lhes a poção do Despertar e estes voltaram a agir euforicamente. No final da manhã todos os alunos estavam preparados para a tarde cheia de aulas.
A menina que era muito amiga de Justus chamava-se Minna Hollow, fazia parte de uma das mais antigas famílias de bruxos, um ancestral dela era o fundador da cidade de Hollow. Eles ainda moravam lá, era uma pequena e assustadora cidade que dera origem a muitos filmes trouxas de terror. Minna e Justus formavam uma dupla e tanto, os dois viviam juntos e sempre tinham segredos. Justus sabia que não deveria, mas contou à Minna que a professora de Poções era sua mãe. Os dois andavam aprontando algo e Antoine desconfiara, mas não descobrira, mesmo quando Justus a encheu de perguntas, há poucas semanas.
Justus conversava com Antoine, enquanto andavam pela orla do lago na manhã de um domingo de sol. Ele havia feito muito rodeio antes pedir à mãe o que queria, mas por fim, criou coragem e largou:
― Mãe, por que Damien me chamou de bastardo!
― Sabe que ele tem a boca grrande... - disse Antoine desconfortável.
― Mas foi Lúcio quem falou, não foi, por quê?
― Não chame seu avô pelo prrimeirro nome, qierrido! E quantas perrguntas!?
― Sei que sou muito mais parecido com você... mas acho que isso não é maneira de me tratar.
― Justus, não sei o que lhe dizerr! Não sei porrque o trratam assim!
― Eu sou mesmo filho de um Malfoy?
Antoine não respondeu e o silêncio era o que Justus esperava. Ele pediu desculpas dizendo que não iria mais incomodar a mãe com aquele assunto e continuou andando ao lado dela em silêncio.
Todos os sábados, Antoine ia à Hogsmeade encontrar-se com Draco. Divertiam-se muito, eram muito ligados. Mas naquele, ao voltar do encontro com o marido, Antoine foi chamada às pressas às masmorras por uma aluna da grifinória, que sabia o quanto a professora odiava brigas. Havia um tumulto do outro lado da porta de entrada da sala comunal sonserina. Não havia sinal do diretor da casa, e todos os alunos estavam na sala comunal. Antoine pôde discernir duas vozes: a de Justus e a de Damien. Furiosíssima, empunhou sua varinha e sem dizer qualquer palavra escancarou a porta. Quando os sonserinos viram a professora de Poções entrando em sua sala comunal, silenciaram-se e esbugalharam os olhos. Antoine estava tão furiosa com os dois filhos que fulminaria com apenas um olhar qualquer um que se atrevesse a dizer algo. Apontou sua varinha para as de Justus e Damien, que duelavam, e estas vieram até ela.
― Mãe! - gritaram os dois juntos assustados.
― Calados! Cansei de suas brricadeirras! Parra forra, já! - gritou seguindo-os com os olhos. Quando iam saindo pela porta da sala comunal, Snape entrou, uma menina sonserina o havia chamado.
― O que está acontecendo? E o que é que você faz aqui?
Antoine não respondeu, empurrou os dois meninos para fora e os acompanhou até a sala de Poções. Um aluno cochichou algo no ouvido de Snape e depois ele saiu com sua capa esvoaçante em direção a sala da professora de Poções.
― Eu jurro que se não parrarrem com isso, faço uma besteirra! - gritava Antoine. - Me admirra você, Justus, semprre tão disciplinado e centrrado, porr que é que se deixa levarr por Damien? Você sabe muito bem que ele somente querr terr a change de te machucarr!
― Mas... - Justus tentou se explicar.
― E você... - disse Antoine, com repugnância, olhando para Damien com os olhos cerrados -, não prrecisa mais se prreocuparr com o que ou “quem” serrá no futurro, senhorr cópia de Lúcio Malfoy!! - Antoine chamou o filho pelo nome do avô - Se é isto que querr parra sua vida, ótimo, mas não venha implorrar porr minha ajuda quando te deixarrem na mão! - Damien fez menção em responder, mas Antoine o interrompeu levantando o dedo indicador. - Vocês me conhecem, sabem que seu boa, sabem que mal levanto a voz... mas não virram ainda o que sou capaz de fazerr! Se não querrem voltarr mais cedo parra casa... uns cinco anos antes, eu dirria, tenham respeito porr mim! - berrou.
― Acho que esse assunto não é você quem vai resolver, professora Dimanchè - Snape acabara de entrar na sala de Poções. - Eu sou o diretor deles, além disso, terei que comunicar a Dumbledore que você entrou na sala comunal...
― Cale-se! - disse Antoine rispidamente e uma fita apareceu do nada e tapou a boca de Snape. Os meninos riram, mas subitamente calaram-se, e ela lhes apontou a varinha, que brilhou e os fez sentar e ficarem presos nas cadeiras. - Esta serrá a última vez que vou alerrtá-los, na prróxima, um de vocês dois serrá expulso!
― Snape havia conseguido se livrar do feitiço e estava admirado com aquela situação. Os poderes de Antoine certamente estavam mais fortes e muito eficazes, mas não entendia o que a havia deixado tão furiosa, a não ser que o cochicho da aluna fosse verdade! Bem, casada com um Malfoy ela era...
― Acho que deveria se acalmar! - disse Snape aproximando-se.
― Quando tiverr filhos como estes irrá entenderr! - disse ela e virou-se para os meninos. - As coisas vão mudarr porr aqui e vocês não vão querrerr me contrrarriarr quando as mudanças acontecerrem! - Antoine agitou a varinha e esta ergueu os dois meninos que foram levitando até a enfermaria. Antoine apoiou-se na janela tentando puxar a maior quantidade de ar possível para dentro do peito.
― Mas o que é que está acontecendo?
― Desculpe, Severro.
― Mas uma vez você me surpreende, então os dois são seus filhos!
Ela balançou a cabeça afirmando, sem olhar para ele.
― Por isso Justus e você...
― Sim. No entanto, Damien não cansa de atorrmentá-lo, o que viu hoje nunca aconteceu antes, eu nunca havia grritado com eles... só esperro que me perrdoem...
― Quando pretendia me contar - argumentou aproximando-se, cheio de ódio, agarrando o braço dela com força proposital.
― Eu os prroibi de me chamarrem de mãe porr causa dos outrros alunos...
― Se tivesse me contado antes que sua vida estava tão completa eu jamais teria lhe dito a verdade sobre o dia na estação.
― Eu não me arrrependo de terr me entrregue a você!
― Grande consolo! E o que mais posso esperar de você... senão sexo?
Antoine acertou um tapa maciço no rosto de Snape. Ele estava impassível, indiferente, como se tudo o que aconteceu entre eles não passou de uma aventura. Não era o que queria, prém nada poderia ser feito. Snape saiu da sala de Poções muito pensativo, não aparentava, mas estava abalado. A partir daquele dia, os dois não se falaram mais. Nem mesmo se cumprimentavam e pelos corredores, os alunos começavam a comentar.
― Esse feitiço da verdade trará a tona tudo o que você quer saber. Resta conseguir jogá-lo em alguém que saiba da verdade - murmurava Minna, que apressadamente andava ao lado de Justus, dirigindo-se para a sala de Feitiços.
― Vamos ter que esperá-lo depois da aula, e lançarmos o feitiço juntos. - calculou Justus - Não, melhor ainda, Minna, no sábado de manhã é dia de quadribol e ele não perde um jogo quando Sonserina está em campo!
Justus sabia que sua mãe não gostava de jogos de quadribol, nos dois últimos sábados ela havia ficado sozinha enquanto todos estavam no campo. Antoine não sabia, mas Justus conversava muito com Snape. No terceiro sábado depois da primeira conversa com Snape, Justus marcou um encontro com ele numa cachoeira, em Hogsmeade. Sabia que Draco, seu pai, não viria a Hogsmeade naquele dia, pois sua mãe havia comentado sobre uma reunião no Ministério. Assim, Justus e Antoine saíram cedo para o vilarejo visinho. Estavam brincando e rindo dentro do lago debaixo de uma das cascatas da cachoeira quando Justus olhou para a beira do lago e sorriu.
― Espero que não se importe, mamãe, convidei mais alguém!
― Quem? Aquela sua amiguinha, a Minna? - quis saber Antoine, virando-se rapidamente para ver quem era.
― Não... - respondeu Justus afastando-se da mãe. Snape estava parado na borda do lago. O sorriso nos lábios de Antoine tinha sumido. Justus pensou, por um instante, que tinha estragado tudo, deveria ter contado que convidara o professor, entretanto, se o tivesse feito, provavelmente a mãe não teria vindo.
― Vai entrrarr assim? - perguntou Antoine irônica, quebrando o gelo entre os dois, Snape olhou para os lados. - Vamos virrarr Justus, ele tem verrgonha!
Mãe e filho voltaram-se para a cachoeira, enquanto o professor de Defesa Contra a Arte das Trevas tirava as roupas de cima e ficava de calção. Quando ele ia entrar na água, os dois se viraram e começaram a molhá-lo. Foi muito engraçado porque ele não esperava por aquilo e para não sentir a água gelada ser respingada aos poucos em seu corpo, Snape mergulhou.
― Traiçoeiros! - disse cerrando os olhos e empurrando fortemente a água com os dois braços, respingando o máximo que podia nos dois. Eles se divertiram muito. Parecia não estarem mais zangados um com o outro e passaram a tarde na cachoeira. Há certa hora, Justus foi até a margem e deitou-se, estava exausto, Snape o seguiu enquanto Antoine mergulhava, nadando para chegar até uma das quedas d’água.
― Minha mãe é muito bonita, o senhor não acha, professor?
Snape ficou sem palavras ao ouvir o menino, apenas riu. Os dois estavam sentados lado a lado, olhando para Antoine.
― Sim, é muito bonita!
― Meu pai não a merece, aliás, ninguém daquela família a merece! - disse o menino mexendo com um graveto na água. - Eu queria lhe dizer uma coisa, professor, mas não tenho coragem para isso...
― Agora que começou a falar?
― Eu queria que o senhor soubesse que sou... - mas Justus foi interrompido pela mãe que os chamava para entrarem na água novamente. Justus olhou para Snape com um sorriso amarelo nos lábios. Os três ficaram ali até entardecer. Ao chegarem aos arredores do castelo, Justus já havia se afastado deles, queria contar a Minna sobre o passeio daquela tarde. Antoine e Snape andavam pelo caminho de seixos que passava pelo jardim dos altos arbustos.
― É um menino especial, o Justus! - disse Snape andando com as mãos juntas nas costas e olhando para frente. - Muito parecido com você!
― Obrrigada! Eu querria que os dois fossem assim... mas tem muita gente envolvida, principalmente famíl...
― Os Malfoy sempre foram desse jeito, soberbos, superiores, mesmo não sendo tão inteligentes!
― E você, está melhorr? - perguntou Antoine, Snape havia sofrido outro ataque surpresa: algum aluno tinha jogado um feitiço deixando-o desmemoriado por algumas horas.
― Sim. Só espero não encontrar os pestinhas que me jogaram o feitiço, por não sei o que posso fazer com eles! - mas não queria mais falar daquilo. - Foi um bom sábado este!
― Como Justus foi convidá-lo? - perguntou Antoine.
― Engraçado você dizer isso, ele é um menino muito convincente, me disse que queria aprender a nadar...
Antoine riu. Snape olhou para os lados, puxou-a para dentro de um quiosque, trouxe o corpo dela para perto do seu corpo, e depois de acariciar os cabelos a beijou de leve.
― Eu quero vê-la esta noite!
― Já não está mais brravo comigo?
― Eu não poderia... estaria sendo hipócrita...
Beijou-o, não queria mais saber do passado. Combinaram de se encontrar na sala de Poções às onze horas. Antoine achou arriscado porque alunos poderiam estar andando por aí àquela hora, mas Snape a tranqüilizou dizendo que não era naquele lugar que iriam ficar. Despediram-se e Antoine saiu primeiro. Quando todos haviam se recolhido e ninguém mais perambulava pela entrada do castelo, somente os grilos sentiram a presença de algo, um menino de cabelos muito claros saiu de trás de uma moita próxima a estrada de seixos do jardim dos altos arbustos.

Naquela noite, Snape levou Antoine até Hogsmeade. A cidade ficava muito diferente à noite. As ruas eram iluminadas por archotes e o Três Vassouras era o centro da agitação. Bandas bruxas tocavam lá. Os dois se divertiram muito. E, para os bisbilhoteiros de plantão, a semana seguinte voltou ao normal: os professores de Poção e de Defesa Contra a Arte das Trevas haviam feito às pazes e voltaram a se falar e andar juntos.
Snape achava que mais nada poderia surpreendê-lo depois das revelações de Antoine: estava casada, com dois filhos, o mesmo sangue, mas muito distintos. E ria consigo lembrando de quando a observara andando com Justus, via-se com sua mãe andando nos jardins de casa... imaginava, apenas imaginava, pois sua mãe nunca havia sido assim com ele. Sabia que os pais de Antoine também nunca a haviam tratado daquela forma, então como ela poderia tratar aquela criança daquele jeito meigo e protetor? Deveria ser um amor muito grande, não só pelo filho, mas pelo pai dele também!

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