Defesa Contra a Arte do Amor
― Esse menino não tem nada dos Malfoy! - aquela sem dúvida era a voz de Snape, que agora estava comportadamente vestido em seu usual terno preto. Ele observara Antoine e Justus de longe durante um bom tempo.
― Não, não tem!
― O que tanto conversam? - perguntou curioso - Se dá muito bem com ele, não?
― Sim, é um garroto especial!
― Ele... me lembra alguém... às vezes! - continuou Snape olhando para o horizonte, mas dando uma breve espiadela em Antoine. Esta não fez comentário algum, mas seus olhos disseram muita coisa a Snape, pois se sentou e a encarou.
― Quando ele chegou a Hogwarts tive a impressão que o conhecia de algum lugar... há pouco tempo me dei conta de que também fui como ele, quieto, e apesar de saber todas as respostas não gostava de chamar a atenção.
Ouvir uma recordação da vida de Snape significou muito para ela. Mas temia o ponto em que ele queria chegar.
― Aqueles cabelos... vivia tentando descobrir uma poção para ajeitá-los... sempre achavam que eu não tomava banho, me chamavam de seb... - Antoine riu interrompendo-o.
― Justus é realmente muito parrecido com você! Quando se põe a pensar faz a mesma carra que você... e quando fica brravo, tem a mesma exprressão que você, que tanto aterrrorriza os alunos... - Antoine não soube explicar a si mesma por que disse aquilo, mas não falou mais nada e um mórbido silêncio tomou conta dos dois. Snape olhou para frente.
― Estive na... - ele desviou o olhar para o chão e suspirou - ...na estação no dia que você saiu de Hogwarts. Antoine ficou lívida, arrepios correram por seu corpo todo.
― Vo-você... você o-o quê? - gaguejou tremendo. - Você esteve na estação? - repetiu ela sussurrando ofegante, não acreditava.
― Mas cheguei tarde, - disse vendo lágrimas se formando nos olhos dela - seu trem já não estava mais na estação e eu não fazia idéia de onde você poderia ter ido! Dumbledore havia me dito que tinha conhecidos... - Snape parou de falar quando Antoine encostou-se no banco e tampou o rosto com as mãos.
― Poderria terr sido tudo diferrente! Porr que não me disse que farria isso! - perguntou dando um soco no peito dele e afastando-se dali, mas voltou em súbito - E porr que vem me dizerr isso agorra?!
― Eu... eu...
― Esses anos todos... Severro, o que fez comigo é... - não terminou a frase, apenas saiu de perto dele. Snape foi atrás, alcançando-a na escadaria de mármore do castelo.
― Pare e fale comigo! - disse zangado.
― E o que querr que eu diga? Porr que não me prrocurrou antes?
― Eu... não sei! Mas por que você não me procurou também? Por que não me mandou uma coruja? Eu teria ido vê-la...
― Cale-se! - gritou histérica.
― Essa agitação toda...
― Não fale comigo! - disse ela subindo os degraus de dois em dois.
― Antoine, pare um pouco e me responda...
― Tenho muito a fazerr, me dê licença! - resmungou afastando-se o mais rápido até a sala de Poções.
― Você não pode fugir de mim! - disse Snape parando e abrindo os braços. Antoine continuou andando - Se não falar comigo hoje vai ter que falar outro dia! - continuou - vivemos sob o mesmo teto! - ela sumiu ao passar pela terceira coluna de mármore - Droga! Maldição, mulher!
Antoine parou em frente a sala de Poções e olhou para trás, sentia que iria se arrepender, mas seu coração batia forte dentro do peito... e ver Snape parado no meio do corredor pedindo por explicações fez com que ela desejasse não ter voltado naquele dia a Hogwarts. Fechou os olhos, voltou pelo corredor e estendeu a mão convidando-o para se aproximar. Formal, como só ele, andou vagarosamente até a sala dela, entraram e pararam sob uma das grandes e coloridas janelas da sala. Antoine o encarou brevemente.
― Minha vida é diferrente agorra!
― Sim, soube que você se tornou chefe dos laboratórios Beneth, mas desistiu disso a pedido de Dumbledore.
― E farria isso novamente!
― É uma grande conhecedora de poções, eu mesmo não sei tanto!
― Orra, Severro, não seja modesto, não condiz com você! - ironizou impaciente - Porr que não me disse que ia à estação?! Poderria... poderríamos... serria tudo diferrente!
― E muito. Não teria encontrado os Farret, não teria trabalhado para Beneth e não estaria aqui em Hogwarts hoje.
― Mas estarria com você! - sussurrou. Snape sentiu seu corpo amolecer. Aproximou-se dela, tocou-a e a beijou. A doçura dela continuava a mesma. Mal haviam se beijado e seus corpos ansiavam um pelo outro.
― Está tudo mudado agorra - lembrou ela afastando-o de perto de si.
― Você está aqui por alguma razão, me chamou aqui por algum motivo.
― Querria ouvirr o que você tinha a dizerr.
― Só isso mesmo? - disse com sarcasmo. - Por que toda aquela ceninha então? Se fosse apenas para me ouvir teria feito isso lá no jardim, não teria?
― É difícil falarr com você! - disse Antoine com rispidez.
― E por quê se tudo está tão diferente? Se sabe o que quer, por que fugiu?
Ele era insuportavelmente arrogante quando queria. E sempre queria.
― E então? - insistiu quando ela ficou em silêncio.
― O que querr que eu lhe diga? Eu esperrei porr você porrque o amava! - mas arrependeu-se do que disse e tentou consertar - Talvez tudo não passou de uma paixão adolescente, nunca tive uma imagem paterrna forrmada... e você erra perrfeito...
― Não como pai! - alertou fulminando a com o olhar. - Será que devo lembrá-la de certa ocasião onde você me mostrou muito mais do que um pai gostaria de ver?
Ela forçou os dentes uns contra os outros, os olhos desviaram dos dele.
― Talvez nada tenha mudado - sussurrou ainda irônico.
― Parre!
― Diga então que seu coração não ficou me esperando esse tempo todo....
― Não ficou - respondeu seca.
Ele gargalhou alto, passou a língua nos dentes e deu um passo para perto dela. Cara a cara, centímetros de distância, era alto o desgraçado, e aquele corpo, forte, preparado.
― Onde querr chegarr?
― Onde quer que eu vá? - perguntou soltando um sorriso pelo canto da boca. Ela suspirou.
― Está me testando, é isso, Snape? - murmurou ela.
― Onde está aquela adolescente sedenta de desejo...
― Parre! - disse fazendo-o rir outra vez.
― Não tenho mais certeza de que você é Antoine Dimanchè. O tempo não pode mudar uma pessoa tanto assim... pode?
Ofegando de raiva, ela o empurrou contra a parede e o beijou. Não houve freio, foi tudo muito rápido. Tiveram-se ali mesmo na sala de Poções, com janelas e porta abertas, sem preocupações, sem medo, porque o desejo era maior do que tudo!
― Achei que a tivesse perdido - disse Snape sorrindo, encostado às costas dela, prensando-a levemente contra a parede. Antoine virou o rosto para cima, olhando-o bem no fundo dos olhos.
― Em parrte perrdeu!
― Mas aí - disse cutucando o peito dela com o dedo -, ainda tenho meu lugar!
― É melhorr nos vestirrmos. - disse empurrando-o para trás, livrando-se dos braços dele e ajeitando o vestido. - Não foi cerrto fazerrmos isso...
― Não aqui - sorriu com sarcasmo. Ela chacoalhou a cabeça negativamente, com impaciência. - Antoine... - disse Snape sorrindo, ela parou o que estava fazendo, o tom da voz dele estava muito diferente - ...você fez falta.
Aquelas três últimas palavras fizeram a professora de Poções sentar, na verdade, ela jogou-se sempre a cadeira. Snape ajoelhou-se ao lado dela e a beijou como se fosse a primeira vez. Foi correspondido com gosto, aquele beijo, sentia o desejo, a respiração dela pedindo por mais.
― Por que disse que a perdi em parte?
― Foi você quem disse! Há muito tempo atrrás... quando o decepcionei.
― Ah, sim, falei aquilo... mas é passado, não existe mais rancor aqui dentro! - e bateu no peito ainda descoberto - Também não quero saber do passado! Hoje somos dois adultos, bem sucedidos, ninguém pode se intrometer...
Antoine se calou, queria esquecer o passado, fechar os olhos e ter apenas aquele homem à sua frente, poder andar de mãos dadas com ele em qualquer lugar, jantar ou dançar com ele sem nenhum problema. Mas não poderia ter tudo aquilo, sua vida estava cheia: família, trabalho, garantias e oportunidades, e não queria perdê-las! Não havia como mudar tudo agora. E estava furiosa com ele. Antoine decidiu que viveria aquilo ao lado de Snape, mas que ninguém mais saberia de seus encontros, além deles mesmos.
Depois daquele dia, os dois passaram a se encontrar quase diariamente, mas não no castelo, se encontravam na casa de Hagrid na maioria das vezes e nas cocheiras que eram quase desabitadas, se não fossem pelos cavalos e hipogrifos.
As semanas pareceram voar e as aulas recomeçaram. Ficou muito mais difícil para eles se encontrarem, já que agora, alunos bisbilhoteiros saíam em caçadas noturnas. Para a professora de Poções seria estranho encontrar algum aluno nas cocheiras... mas para Snape isso não era empecilho, pois se encontrasse algum aluno em qualquer lugar que fosse, depois da hora de dormir, iria adorar poder tirar pontos ou aplicar detenções.
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