Natal é todo dia!
O natal estava chegando. Os professores haviam enfeitiçado o castelo com belíssimos arranjos e estátuas cantantes. Até mesmo os fantasmas participavam da comemoração cantando hinos e canções natalinas aos coros. Os alunos estavam eufóricos para voltarem para casa, o que seria dali a poucos dias.
― Quem é? - perguntou Antoine sentada em sua cama ao ouvir alguém bater na porta de seu quarto.
― Justus! - uma vozinha abafada soou. Ela abriu rapidamente a porta e soltou um largo sorriso - Está se arrriscado vindo aqui, se Snape souberr...
― Ele não me viu, está na sala dele, ocupadíssimo. - respondeu o menino entrando. Os dois se olharam e se abraçaram. Justus sentou ao pé da cama de Antoine e baixou a cabeça. Ela se ajoelhou em frente a ele, tomou-lhe a mão e a beijou.
― É muito bom tê-lo aqui, querrido!
― Queria poder vir sempre!
― O ferriado está chegando, nós irremos passarr esse tempo juntos!
― Bem... é sobre isso que eu vim conversar! - disse ele engolindo seco - Eu queria... ficar em Hogwarts.
― Mas é natal! E sabe como são os natais lá em casa!
― Acho que talvez não faça a mínima diferença se eu ficar por aqui!
― Clarro que farrá, orras!
― Para a senhora, mas para...meu pai... - Antoine sentiu um aperto no coração. Abraçou Justus demoradamente, que correspondeu ao abraço.
― Não diga uma besteirra dessas.
Ele se calou, mas encarava-a aguardando a resposta.
― Se forr o que você deseja, pode ficarr em Hogwarrts, meu amorr.
― Obrigado, mamãe! - disse Justus pulando de alegria - Aquela biblioteca será o meu quarto!
― Ótimo... - disse ela sorrindo - agorra volte parra “seu” quarrto!
O natal na casa dos Malfoy era sempre muito festejado, significava o Solstício de Inverno, época mágica para os bruxos. Mas naquele ano foi diferente, pois uma das crianças Malfoy não estaria presente.
― Como assim, Justus não virá?
― Orra, Drraco, ele quis ficarr, sabe como Hogwarrts é cheia de mistérrio!
― Ele não está com saudades? - perguntou Narcisa.
― Está, mas é um lugar novo... e Damien anda pegando muito no pé dele! Além disso, a biblioteca é um prrato cheio! - Lúcio sorriu afirmando com a cabeça, mas ao ver o avô aceitar aquela situação Damien não deixou por menos.
― Isso é mentira! - alterou-se o menino - Ele está é com medo de vir pra casa porque da última vez que brigamos quebrou quatro dentes meus!
Draco e Lúcio olharam para Antoine zangados.
― Não posso manterr o contrrole toda horra! E Damien, é o senhorr quem prrovoca!
― Por que ele é um bastardo!
― O que é que você disse, menino?? - grunhiu Draco enrubescendo. Antoine não podia acreditar no que ouvira. Lúcio deu um passo atrás e tentou disfarçar, mas a nora percebeu que fora ele quem havia, em algum momento, dito aquilo a Damien.
― Sabe o que está dizendo? - perguntou Draco alterado.
― Sim - respondeu o menino sem receio e continuou dizendo pausadamente - Que ele não é seu filho!
O tapa que Draco largou no rosto de Damien ecoou pela sala. Antoine puxou o marido para a outra sala, sabia que o filho errara, mas não queria que Draco fizesse algo que pudesse vir a se arrepender posteriormente. Aquela noite de Natal não foi nada perfeita como as outras haviam sido.
― Antoine, ele não sabe o que está dizendo! - dizia Draco abraçado pela esposa. Eles estavam no quarto.
― Sabe, sim, Drraco. E... Justus é muito diferrente de vocês todos!
― Ele se parece com você!
― Drraco, - disse Antoine andando até a janela - no último ano de Hogwarrts eu fiz muita coisa de que me arrrependi... coisas que você... não entenderria...
― Como a magia negra? - disse abatido, mas sorrindo - Você sempre fez coisas que os outros não entendiam, mas sabe como é minha família, para eles...
― Você não entende, não tem haver com esse tipo de coisa... - e ela parou de falar. Draco esperou, mas Antoine não conseguiu terminar a frase. Ela chorou e adormeceu entre lágrimas e os abraços dele. Na manhã seguinte, foi a última a sentar-se a mesa do café da manhã. Damien não olhou para a mãe. Parecia que Draco já o havia “pego”.
― Estou voltando parra Hogwarrts hoje - Antoine soltou sem rodeios.
― Você passou o ano todo lá! - respondeu Draco - Esse tempo é para nós!
― Pode virr me verr nos fins de semana, estarrei em Hogsmeade - falou de qualquer jeito. Draco a olhou com desgosto, seu maxilar mostrava movimentos irregulares.
― Foi você quem quis ir para lá, trabalhar lá, logo é você que tem que voltar! Agora, se não quiser mais, é só avisar e eu libero o caminho!
― Li-liberra? Como assim? - quis saber olhando para Draco com mágoa.
― Você é quem me diz? Por que quer voltar para lá?
Muito envergonhada com a pergunta, Antoine mantinha os olhos fixos em Draco.
― A única pessoa que ainda tem respeito porr mim está lá e não vou deixarr que ele perrca qualquerr sentimento bom que tenha dentrro de si. - todos sabiam que ela se referia a Justus. Ninguém mais discutiu sobre aquele assunto. Antoine desceu com as malas às dez horas. Entrou no carro que a levaria a estação e saiu. Mas o carro freou repentinamente. Era Draco que o havia parado.
― Eu a encontrarei em Hogsmeade, então! - disse ofegante. Ela sorriu e acariciando o rosto dele. - Eu... eu sinto tanto falta! - murmurou olhando por sobre o ombro, procurando pelos pais em alguma janela.
― Desculpe, Drraco, mas cansei de viverr sob o mesmo teto que seus pais... e acrredito que Justus também tenha se cansado. Aquele lugarr é onde ele se sente em casa! E se eu tiverr que ficarr lá porr causa dele, ficarrei. Além do mais, o natal aqui já foi parra o brrejo mesmo...
― Eu sinto muito. Meu pai...
― Sim, eu sei. Dirrei a Justus que você mandou lembrranças.
― Isso, e diga que o amo!
― Ele vai gostarr de ouvirr de você mesmo isso!
Era noite quando Antoine chegou a Hogwarts. Foi direto para seu quarto, perto da Torre de Corvinal. Adormeceu rápido em meio ao cheiro costumeiro de Hogwarts. Cedo da manhã estava de pé, na sala de Poções, reorganizando todos os potes de ingredientes quando alguém bateu à porta.
― Ei, - cumprimentou uma voz rouca e sonolenta - porque tanto barulho?
― Ah, olá, Severro. Estou orrganizando... - disse Antoine olhando para os potes em sua mão.
― Bem se vê que você não esteve na festa de ontem!
― Festa?
― Ora, Madame Pomfrey festejou o aniversário... maldita hora que tomei a bebida surpresa! - resmungou franzindo a testa - Essa dor de cabeça está me matando!
― Porr isso essa carra de sono - riu ela voltando a organizar os potes.
― Mal peguei no sono! O que você está fazendo aqui?
― Resolvi voltarr mais cedo!
― Isso estou vendo! Mas por quê?
Houve um breve silêncio e os olhares de ambos se cruzaram. Antoine se deu conta de que Snape estava apenas de pijamas, a camisa estava semi-aberta, nem a abotoara pensando em ir logo até a sala de Poções ver o que estava acontecendo, já que ficava perto de seu quarto. Era a primeira vez que o via vestido daquela forma. Snape notou que era observado, então cruzou os braços na intenção de escondê-lo.
― Bom, já que é você quem está aí, acho que vou voltar para minha cama! Mas por favor, não faça tanto barulho!
Antoine sorriu e em sua cabeça mil pensamentos a atormentaram. Snape estava ali, parado à porta, quase sem roupas e seus olhos logo pousaram no corpo dele. O que ele deve ter pensado? Havia se esquecido de como era o corpo dele, forte, torneado. Era um homem bem mais velho, mais sábio. Antoine balançou a cabeça e voltou a organizar os potes, desta vez por definitivo. No almoço, se deu conta que muitos alunos continuavam em Hogwarts. Mas olhando para a mesa sonserina não achou Justus. Comeu rápido com a intenção de voltar à sala de Poções. Chegando na escadaria que levava às masmorras ouviu:
― Mamãe! - o grito vinha de trás dela, que se virou, abaixou-se e recebeu o abraço mais caloroso dos últimos tempos - Você voltou mais cedo!
― Estava com saudades!
― Eu também - disse com uma voz esganiçada. - Vamos dar uma volta no jardim?
Os dois foram passear. Justus contou as novidades que encontrara na biblioteca e mostrou alguns feitiços que aprendera. Ele também era uma criança iniciada. Sendo uma pessoa tão culta, Antoine não queria que seus filhos entrassem em Hogwarts sem saberem nada, de início ensinou aos dois algumas regras básicas, mas com Justus foi mais a fundo, pois prestava atenção e queria sempre aprender mais, enquanto Damien queria apenas se divertir enfeitiçando pássaros e gatos. Passaram a tarde juntos e só se separaram porque uma amiga de Justus se aproximou, cochichou-lhe algo no ouvido e a curiosidade dele foi maior do que a vontade de passar o resto da tarde com a mãe. Antoine não se importou, sabia que ali as crianças aprendiam a ser autônomas e não queria que com seu filho fosse diferente. Despediram-se e Antoine, sentada num banco do jardim, viu seu filho e a amiga correrem para longe.
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