Mais um ano, o último




As aulas haviam começado há um mês e o professor de Defesa contra a Arte das Trevas, que também era Snape, passava por uma fase difícil, tinha ficado doente e estava demorando a se recuperar, então Dumbledore chamou um antigo professor para dar aulas, Remo Lupin. Apesar de não querer aceitar o cargo por causa de muitos pais não gostarem que ele fosse lobisomem, Lupin voltou a dar as aulas. Há pouco mais de um ano, muitas pessoas haviam feito protestos contra a discriminação entre raças, e com o argumento de uma poção contra a transformação para lobisomem, conseguiram alguns direitos àquela raça, que vinha crescendo lentamente.
Antoine entrou na sala de Defesa Contra a Arte das Trevas na primeira manhã de aula com o professor novo e sentou-se, demorou cinco minutos a perceber que não havia ninguém ali. Olhou pela janela e estavam todos sentados no jardim, próximos ao salgueiro lutador. Ela suspirou e pensou em ficar ali, mas o zelador Filch a tinha visto e a acompanhou “gentilmente” até lá fora, onde se juntou aos demais alunos. O novo professor parara de falar e dirigiu-se a Antoine com um tom grosso que foi se transformando numa fala suave assim que bateu os olhos nela.
– Dá próxima vez, senhorita Dimanchè... bem, é melhor não se atrasar, seus colegas não parecem prestar muita atenção ao que digo e isso pode causar algum inconveniente ao lhe passarem a matéria.
Antoine corou e prestou atenção na aula, mais especificamente no professor depois de reparar que todas as garotas estavam empolgadas com ele. Era realmente um homem muito bonito, do jeito que falavam. Seu nome era Remo Lupin. As aulas com ele eram diferentes e rendiam muito, Lupin sabia explicar e desenvolvia práticas excelentes. Não demorou a Lupin arranjar um fã clube, as meninas o amavam e suspiravam quando passavam por ele nos corredores. Lupin achava engraçado, pois nunca antes havia despertado tanta curiosidade e tantos olhares apaixonados. Ele pensava consigo se isto tudo seria por causa de seu lado animal e ria sozinho. Comentou tal pensamento com Dumbledore, no jantar daquela sexta-feira, e os dois deram altas gargalhadas. Dumbledore tinha liberado os alunos do terceiro ano em diante para irem a Hogsmeade naquele sábado. A euforia foi geral.
– Elas estão me enviando cartas e mais cartas já estou até ficando envergonhado. Não sei como parar isso!
– Acho que não há como, só parará quando Severo retomar a dar as aulas! - disse Dumbledore. Lupin riu e continuaram a conversar.
Os garotos correram para Hogsmeade, enquanto as garotas acompanhavam o professor de Defesa Contra a Arte das Trevas pela estrada. Elas não davam trégua a ele e lhe faziam as mais variadas perguntas.

– Entediada? - perguntou uma voz suave, era o professor Lupin.
– O que o... não estava lá em Hogsmeade? - perguntou ela indicando a janela com o dedo macilento.
– Foi difícil me livrar delas! - disse ele rindo - Posso me sentar com você? Parece-me que é a única não está nem um pouco interessada em me importunar...
– Fique à vontade - respondeu Antoine voltando o olhar para o livro e continuando a ler.
– Impressão minha ou não está contente em estar aqui!
Ela suspirou nada respondendo. Lupin ergueu a sobrancelhas e fazendo um gesto afastou o livro da frente dos olhos de Antoine. Ele começou uma conversa sobre as aulas de Defesa Contra a Arte das Trevas e Antoine o acompanhou. Falava muito bem, nada lhe escapava: érres, esses ou a pronuncia dos verbos. Também era muito atencioso e ouvia pacientemente para depois argumentar. Lupin percebeu que Antoine era uma garota muito madura para sua idade e muito segura de si o que não a deixava se influenciar por respostas bonitas. Ela também tinha bons argumentos.
– Estou impressionado, senhorita Dimanchè, Dumbledore me alertou sobre você, uma garota iniciada, que poderia ter se formado em três anos...
– Ele disse isso, é? Eu nunca terria aceitado! Hogwarrts é meu larr, não terria parra onde irr se tivesse saído antes da horra! - disse ela olhando para o teto - E o que mais ele lhe disse?
– Que seus poderes eram fortes e que confiava no seu modo de usá-los. - Lupin parou para ver a expressão no rosto dela, mas não havia se alterado - Disse também que você poderia seguir a profissão mais cobiçada há tempos atrás: a de auror.
– Eu? Aurrorr, humf, Dumbledorre parrece que não me conhece! Ele lhe deu minha ficha completa?
– Os melhores alunos sempre chamam a atenção. - Antoine se levantou, não gostava de toda aquela bajulação, se é que era o que Lupin estava fazendo.
– Vou parra meu quarrto agorra, se o senhorr me derr licença!
– Toda! - disse ele se levantando também.
Os dias se passavam e Lupin estava cada vez mais interessado no caráter de Antoine. Ela era muito inteligente e aprendia com muita facilidade, aliás, aos dezessete anos havia pouquíssima coisa que ela não sabia.
Era um sábado de jogo de quadribol importante, mas Antoine estava na biblioteca novamente, vigiada pela bibliotecária, lendo um grosso livro sobre o que a magia negra poderia causar.
– É bom que se importe.
Antoine deu um salto ao ouvir a voz de Lupin.
– Desculpe pelo susto. - disse ele sorrindo. Antoine fechou o livro e olhou para Lupin que sentou a sua frente.
– A lua cheia é na prróxima semana! - Lupin olhou para o livro sobre a mesa. Não achou que ela seria tão indelicada. Talvez ela não gostasse de sua companhia. Bruxos puro-sangue costumeiramente tinham certo preconceito correndo nas veias - Como é que é serr lobisomem? - perguntou Antoine sem rodeios. Os lábios de Lupin se abriram, mas nenhuma palavra saiu - Deve serr muito...
– Não seria tão mal se eu tomasse a poção-antídoto. Mas não sou muito bom na preparação de poções e a única pessoa que sabe não está disposta a me ajudar.
– Eu poderria fazerr parra você!
Lupin sorriu e agradeceu colocando sua mão sobre a dela. Antoine levantou-se, pegou a mão de Lupin e saiu da biblioteca com pressa. Seguiram até a sala de Poções nas masmorras.
– Você está se arriscando...
– Não se prreocupe, o prrofessorr Snape não se imporrta que eu mexa nas coisas dele, desde que nenhum outrro aluno veja! - disse ela percorrendo com o dedo os potes de ingredientes rotulados com as minúsculas letras desenhadas de Snape, organizadamente guardados nas prateleiras.
– Snape... compassível? Estou admirado!
– Ele não é fácil, mas sabe muito bem que sou diferrente. Semprre me ajudou em tudo o que pôde!
– Estou mesmo admirado. Uma coisa muito surpreendente vinda dele, mas afinal, você é uma sonserina.
– Vejamos. - disse ela passando os dedos como que acariciando os potes - Só prreciso pegarr a quantidade cerrta e recolocarr os potes na mesma orrdem! Fácil, fácil!
Lupin olhava para a grande quantidade de potes.
– O velho Snape não muda mesmo, continua o mesmo colecionador de sempre!
– Colecionadorr?
– Sim, quando Severo era novo ficou conhecido por ter todos os ingredientes que a professora de Poções pedia.
– E isso me fez ser o melhor aluno de Hogwarts! - disse Snape em voz alta e com os braços cruzados.
Antoine e Lupin o olharam surpresos.
– Desculpe prrofessorr... só vim pegarr alguns ingrredientes! O prrofessorr Lupin está me acompanhando...
– Você nunca mentiu para mim, senhorita Dimanchè, não é agora que precisa começar a fazê-lo! - disse Snape olhando desconfiado e mexendo nos ingrediente que Antoine havia separado - Se queria a poção por que não me pediu, Lupin?
– E você faria?
Snape riu cavernosamente.
– Está fazendo a cabeça da senhorita Dimanchè só para receber ajuda ou quer voltá-la contra mim?
– Severo, meça suas palavras... - repreendeu Lupin.
– Prrofessorr Snape, me oferreci parra fazerr a poção, nunca a fiz e serrá uma forma de testarr meus conhecimentos.
Os três ficaram em silêncio.
– Não duvido de sua capacidade, senhorita Dimanchè, mas...
– Deixe os ingredientes, Antoine, tentarei arranjá-los em outro lugar!
– Não, - disse rispidamente olhando para Lupin - poderria levarr dias! Levarrei os ingrredientes e farrei a poção com ou sem a aprrovação do senhorr! - disse ela em voz forte olhando bem dentro dos olhos de Snape. E depois Antoine saiu pisando forte. Lupin se despediu de Snape e a seguiu. O professor de Poções roeu-se de raiva.
Levou dois dias para a poção ficar pronta. Lupin entrou numa sala das masmorras e sentou-se em frente a Antoine que mexia a poção no caldeirão. Ela ergueu uma concha e um líquido grosso, meio azulado e fumegante correu pelas bordas do copo em que Antoine despejou a poção. Naquele momento Snape irrompeu na sala e aproximou-se do caldeirão. Mexeu a poção com a concha e ergueu-a sorridente e, em seguida, saiu sem dizer nada.
– Ele realmente se preocupa com o que você faz!
– Gosto disso, de terr esse poderr sobrre ele... - e sorriu. Lupin tomou a poção e a semana que se passou foi muito produtiva, ele se sentiu muito bem. Antoine por outro lado havia magoado mais uma vez Snape.
No final da aula de Poções daquele dia, ela esperou que todos os demais alunos saíssem para depois se aproximar de Snape e lhe falar.
– Algum problema, senhorita Dimanchè? - precipitou-se ele.
– O senhorr não está magoado porr eu ter feito a poção...
– Não, não estou, agora, por favor - disse ele olhando para a saída - preciso terminar isto.
– Só querro que saiba... bem, eu...
– Sei que quis ajudá-lo... eu também já passei por isso, mas não se engane. Se por acaso estiver por perto e ele estiver transformado em lobisomem, não irá pensar duas vezes em matá-la!
Antoine respirou fundo, sentiu certa hostilidade.
– Mas se tomarr a poção...
– Sim, a poção. Mas como todo remédio ela pode deixar de fazer efeito se for administrada por um longo período. Uma pausa de seis em seis meses me parece suficiente.
– Então, - disse ela sorrindo - se prreocupa com ele?
– Não. Preocupo-me com você! - respondeu Snape voltando o olhar dela para sua escrivaninha - Agora vá!
Antoine andou até a porta, mas voltou-se uma última vez.
– Aquela noite, na florresta... erra Lupin?
Snape largou o que estava fazendo, suspirou e levantou-se fazendo barulho com a cadeira. Olhou com impaciência para Antoine e aproximou-se dela.
– Sim, era ele.
– Querr dizerr que lhe devo minha vida... - e dizendo isso se apoiou no peito dele e o beijou suavemente nos lábios, da mesma forma como fizera da primeira vez que o beijou. Snape apertou-a conta si e retribuiu o beijo. Abraçou-a e a apertou contra seu corpo durante algum tempo. Depois se afastou, acariciou-lhe os cabelos e fechou os olhos ao sentir o perfume dela.
– Por favor, vá! - sussurrou ele implorando.
– Severo...
– Professor Snape. Já lhe disse, Dumbledore está observando! - Antoine suspirou, baixou a cabeça e, apertando seus livros contra o peito, correu para seu quarto. Jogou-se na cama e sentiu-se mais feliz do que triste porque mesmo pedindo para ela ficar longe, Snape a havia beijado sem que ela precisasse pedir. Ele a amava, não tinha dúvidas. Aqueles últimos meses tinham sido um martírio sem Draco, apesar de tudo, ele tinha sido bom. A paixão que Antoine sentia pelo professor era tão avassaladora que ela sentia seu peito se arrebentar quando ele a evitada. E isso era o que mais ele fazia.

As tardes de sábado sempre mantinham a biblioteca vazia, especialmente quando não nevava, porque os alunos iam empolgados a Hogsmeade, bem, todos menos Antoine que continuava a ter que cumprir a pena por ter “enfeitiçado o professor de Poções”. Ela acabara de tirar um livro da prateleira da sessão de Poções.
– Toda vez que quero falar com você é só vir até aqui.
– Olá, prrofessorr Lupin.
– Vai ficar aí enfurnada nos livros? Todos foram se divertir!
– Aqui está bom - sorriu ela.
– Depois daquela sua poção... que tal um passeio pelos jardins?
Ela sorriu e os dois saíram de braços dados, andando e conversando muito até sentarem debaixo de um grande carvalho.
– Você é uma pessoa muito séria! - disse Lupin sentado ao lado dela com os braços apoiados nos joelhos - Parece um adulto com muitos problemas...
Ela riu. Era só o que sabia fazer, pois vivera cercada desde pequenina por adultos, explicava ela, nunca havia estado ou brincado com outras crianças antes. Passou a conviver com elas em Hogwarts e sentira raiva, às vezes ódio, por elas serem tão felizes e sorridentes. Essa confissão chocou Lupin.
Ele afastou uma pequena mexa de cabelo que tampava os olhos de Antoine, mas ela o fez parar pegando na mão dele.
– Porr favorr... não faça isso!
Lupin sentiu a mão dela tremer levemente, sentiu que ela respirava mais forte e que tentava controlar um instinto. Instinto que Lupin conhecia melhor do que ninguém. Ele sentiu então o cheiro dela e sem se importar com o que aconteceria no dia seguinte ou em qualquer outro dia, a beijou. Antoine hesitou, mas ao sentir as fortes mãos dele apertando-a, retribuiu o beijo e o envolveu com seus braços. Os dois se amaram ali. E foi uma experiência para ambos. Para Lupin porque ele jamais havia estado com uma pessoa vinte anos mais nova. E para Antoine porque provou a si mesma que nenhum outro homem a faria mais feliz do que Snape, mesmo Lupin sendo extremamente carinhoso e atencioso.
Depois de consumado, Lupin a beijou muito e deitou-se ao lado dela. Ambos tinham as bochechas vermelhas e estavam sorridentes. Ele sorriu com um dos cantos da boca e beijou-a por mais algum tempo, mas a garota olhava em volta preocupada, temia que alguém os visse, pediu que a ele que saíssem antes que alguém chegasse.
Antoine tentou evitar o professor de Defesa Contra a Arte das Trevas durante aquela semana. O que aconteceu deveria ser esquecido, guardado em um baú e atirado ao mar. Como fora estúpida! Contudo, aquela experiência tinha valido à pena, ela jamais deitaria com outro homem senão com Snape.

Continua...

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