Quem é aquele?



Era final de tarde, Antoine nem pensava mais no conselho bruxo, tinha o corpo de Snape girando em sua cabeça, e parecia sentir o cheiro e o toque dele em seu corpo apenas fechando os olhos. Quem a tirou daquele devaneio foi Draco, ao puxá-la para trás de uma estátua no corredor que levava ao salão principal.
– O que é que você fez? - rosnou ele baixinho, apertando o antebraço de Antoine.
– Ah? Como é?
– Acorda, Antoine. Disse ao conselho que era a culpada? Eles estão chamando você na sala de Dumbledore!
– Eu... bem... eu disse sim.
– Está louca? Era o Potter que devia ser o culpado! Droga!
– Eu vou até lá então.
– Antoine! Acorda! - disse ele chacoalhando-a - Aonde quer chegar com isso?
– Dumbledorre sabe muito bem que foi você! - respondeu ela em seco a Draco - Ele não irrá deixarr com que eu seja expulsa. Ele vai lhe chamarr com cerrteza! - Draco arregalou os olhos, sabia que nem Antoine nem Harry eram os culpados, mas não acreditava que Dumbledore o chamaria. Antoine saiu ainda olhando para trás, mas Draco tinha o olhar distante, provavelmente pensando o que lhe aconteceria se seu pai descobrisse o que havia feito.

– Entre, Antoine. - disse Dumbledore abrindo a porta para ela e depois fechando-a - Sente-se.
– Sim, senhorr.
– O conselho discutiu por um longo tempo. Pensávamos que você voltaria atrás e entregaria o culpado.
– Eu...
– Antoine, - advertiu - é muito honrado manter um segredo, mas as circunstâncias não são favoráveis para mentir.
– Senhorr... - disse ela pensando que seria interrompida, porém, Dumbledore não falou nada, apenas olhou por cima dos óculos em forma de meia lua - eu... a culpa é minha, senhorr.
Dumbledore sorriu calmamente, aceitando a decisão dela.
– Ano que vem muitos alunos não estarão mais aqui. Muita coisa vai mudar. A rixa entre Sonserina e Grifinória pode continuar, mas não vai ser tão extrema quanto foi nesses últimos sete anos. - O diretor pausou, desejou que a garota esclarecesse tudo, que contasse o porquê da acobertar Draco, e Antoine sabia disse, mas não iria falar, sabia também que Dumbledore conhecia a família de Draco e estava ciente da cobrança imposta ao garoto.
– Eu não querria fazerr mal ao prrofessorr Snape, dirretorr, só querria que ele me deixasse em paz! Eu estou cansada de que me perrsigam... Vêm fazendo isso desde que sou pequena... Sei que ele querr o melhorr parra mim, mas não agüento essa prressão.
Dumbledore sorriu, cruzou os dedos e respirou fundo.
– Vou ter que puni-la, sabe disso.
– Sim, senhorr.
– Pois bem, a destituirei do posto de monitora.
– Sim, senhorr.
– Não poderá usar sua varinha sem a presença de um adulto em hipótese alguma.
– Sim, senhorr.
– Nem poderá carregá-la consigo pelos corredores. Ela ficará em sala de aula e irá automaticamente aparecer na próxima aula que você tiver.
Ela assentiu com a cabeça desta vez.
– Não posso proibi-la de ler livros, mas não poderá tirá-los da biblioteca ou pedir que alguém os tire para você.
– Sim, senhorr.
– Todos os professores ficarão de olho em você, Antoine. Foi decidido também que você não poderá andar sozinha pelos corredores.
– Sim, senhorr.
– Uma última coisa. - ele baixou os olhos, mas logo os levantou e continuou - Você deverá, logo após o jantar, retornar imediatamente para a sala comunal.
– Sim, senhorr.
Houve uma breve pausa em que Dumbledore acreditou que ela fosse lhe dizer algo, entretanto, ela apenas mexia os lábios e pressionava fortemente os maxilares na tentativa de esconder a vontade de chorar.
– Não vai me perguntar até quando terá esse castigo, Antoine?
– Até me formarr, dirretorr? - respondeu ela perguntando. Dumbledore respirou fundo, sentia compaixão por ela, contudo, era o certo a fazer. Ela se declarara culpada.
– Então estamos conversados. Pode ir para o salão principal, o jantar já irá ser servido.
– Quem irrá me acompanharr?
– Ah, sim. Se você descer agora o professor Snape a levará até lá.
E foi assim.
As semanas se passaram. Com a escola toda sabendo que Antoine havia jogado, de propósito, o feitiço errado sobre Snape, os sonserinos se afastaram lentamente dela. Muitos por medo. Outros tantos por não confiarem mais. No entanto, corvinais, lufa-lufas e grifinórios a idolatraram, pois haviam gostado, e muito, do feitiço lançado no professor de Poções. Snape e os outros professores por outro lado, já não a consideravam mais uma aluna exemplar.

Antoine estava na Floresta Negra, procurando a tal avenca perolada que o professor de Poções havia falado na última aula. Sabia que ele tinha um estoque delas em sua sala, mas não tinha coragem de lhe pedir e resolveu, junto com tantos outros colegas sonserinos, procurar pela planta. Snape havia dito que elas cresciam em lugares escuros e úmidos, ao pé de árvores gigantescas cujos troncos não recebiam sol a mais de cem anos. Antoine estava tão entretida na busca da planta que perdeu a noção do tempo e se separou de seus colegas. Quando deu por si já era noite. Chamou por eles, mas sua voz parecia um sussurro num grande campo de quadribol. Lembrou-se que o castelo ficava ao norte e, baseando-se pelo caminho que veio, começou a andar naquela direção. Nunca sentira medo em qualquer situação, mas naquela escuridão, sem varinha, calafrios passavam pela espinha e criaturas estranhas pelos pensamentos. De repente, um quebrar de galhos fez com que ela saltasse de susto.
– Quem é? - perguntou ela em voz alta. Ninguém respondeu, mas Antoine pode ouvir um rosnado. Engoliu em seco, apertou o passo e continuou seguindo em frente, ao norte. Contudo, alguma coisa corria por perto e por mais que ela apertasse o passo, a coisa estava sempre ali. Então, ouviu, mais adiante, bem em sua frente, outro rosnado. Os olhos de Antoine estavam mais arregalados do que o normal e rodopiavam nas órbitas, procurando por todos os lados tentando ver o que estava chegando. Gravetos se partiram e um alto urro a petrificou. Enormes olhos vermelhos surgiram do nada e as aproximaram rapidamente na direção dela. Era um animal acinzentado, quase sem pelos e fedorento. Era maior que um cachorro, parecido com um rato gigante, porém menor que um cavalo, parecia deformado. Antoine deu passos para trás e bateu com as costas em uma árvore. Sua respiração estava pesada, ela ofegava, falava alto sem perceber. Num salto a animal avançou sobre ela e os dentes pontiagudos dele brilhavam como se estivessem refletindo a branca lua cheia do céu, que Antoine não podia ver dali. Ele a cheirou, babou sobre ela e a encarou. Era o animal mais monstruoso que Antoine vira em sua vida inteira.
– Cruccio! - gritou uma grossa voz e o animal caiu ao lado de Antoine, debatendo-se - Antoine, venha rápido!
Era Snape. Antoine não conseguiu responder e andou cambaleando até seu professor, ao mesmo tempo em que olhava para o animal. Snape a puxou rápido para cima de sua vassoura e saiu em disparada por entre as árvores centenárias. Chegando ao jardim do castelo, jogou a vassoura num canto e puxou Antoine pelo braço para a saleta ao lado do hall de entrada.
– O que é que você estava pensando? - gritou Snape apertando o braço dela - O que, pelo amor de Merlin!?
– P-prro-fessorr, não tive a intenção de ficarr lá sozinha... com aquilo!!
– Ah, mas era só o que faltava! Você teria morrido se eu não aparecesse... aquilo era um lobisomem!
– Eu...
– Chega, vá para seu quarto e nada de jardim durante um mês! - disse Snape cerrando os olhos - Deveria ser até se formar!
– Eu merrecia... - disse ela olhando para baixo - ...perrderr cem pontos!
– Sim, poderia lhe tirar duzentos, mas já que vocês não foram vistos por outros alunos nem por professores não vou manchar o nome da Sonserina! - e dizendo isso ele a levou até a entrada do dormitório. Foi como receber um balde de água fria na cabeça, comentários no dormitório diziam que Snape quase tivera um ataque ao saber que Antoine estava sozinha na floresta. Aquela manhã foi difícil de encarar, todo aquele incidente na floresta e os olhares repreensivos de Snape. Ele ficou num estado de nervos tão alterado que nenhum aluno foi perdoado naquela semana. Descontou pontos e mais pontos, até mesmo dos alunos de sua casa.
Snape mal cumprimentava Antoine e não mais a deixava responder às questões propostas nas aulas. Ela o observava atentamente, mas ele parecia não estar se importando. Antoine não parava de lembrava da única vez que ele lhe correspondera um beijo, não fora há muito tempo, fora no dia em que Dumbledore a havia interrogado. Porém Snape era irredutível, temia tanto pela expulsão dela quanto pela própria. Antoine sentia que às vezes, Snape quase caía em sua teia, mas ele sempre conseguia escapar. O coração dela estava partido, e ao mesmo tempo enchia-se de alegria ao ver o professor. Eles ficaram sozinhos apenas por uma vez, Snape não deixava isso acontecer, temia a si próprio. Mas na primeira semana daquele ano, atendendo à insistência de Antoine eles ficaram sós, e ele não perdeu tempo disse a Antoine tudo o que queria:
– Você pode me odiar se quiser, mas enquanto você estudar em Hogwarts eu não tocarei num foi de cabelo seu! Posso ser chamado de qualquer coisa, mas não poderia suportar os olhos de Dumbledore me dizendo que cometi um segundo erro em minha vida!
– Eu não entendo! Você acha que Dumbledorre falarria algo?
– Antoine, você não compreende? Dumbledore não vê vocês como homens e mulheres, os vê como crianças! Não poderia macular essa imagem que ele tem de vocês! Eu ficaria muito envergonhado, não teria coragem de olhá-lo nos olhos nunca mais.
– Mas conseguirria enfrrentarr seu corração parrtido?
– Só mais um ano, um ano e você pode pensar em mim e ficar comigo aonde bem entender! Mas assim que sair daqui um mundo de possibilidades irá se abrir para você e então eu serei apenas uma lembrança. Amores adolescentes são assim, Antoine, parece que o peito vai explodir, mas não, ele continua ali! - disse ele apontando para o coração. Ela não queria saber de mais nada. Deixou-o parado no salão principal e voltou sozinha para seu quarto nas masmorras, jogou-se em sua cama e desatou a chorar.

O verão chegou rápido. Seriam três meses de solidão intensa. Mas a escola toda estaria a sua disposição e como não haveria mais ninguém, a não ser alguns professores, Antoine provavelmente poderia utilizar sua varinha onde quisesse. Harry se despediu dela bem cedo, ainda estava triste por tê-la visto com Draco novamente, mas depois daquele dia não saberia quando a veria novamente... e se a veria algum dia. Ela ainda tinha mais dois anos pela frente e isso poderia mudar uma vida, especialmente a dele, que estaria fora de Hogwarts, longe de Snape e a um passo de ser auror.
Draco, no entanto, apenas encarou Antoine por um instante. Estava ainda ressentido com ela, queria dizer que gostava muito dela, mas a coragem ou o ressentimento não deixavam. Ela acenou e soltou um leve sorriso, Draco apenas respirou fundo e, baixando os olhos, saiu puxando seu malão. Snape observava tudo da janela do hall de entrada e sentiu alívio ao ver Draco partir sem se importar muito em se despedir de Antoine. Por outro lado, um pouco além de onde Draco parara para olhar Antoine, estava Dumbledore, com o coração partido ao ver aquela situação e se lembrar de tantas outras que passara e pelas quais, certamente, Antoine passaria. Se ele pudesse não deixaria que ela sofresse, mas fazia parte da vida, era um tipo de aprendizagem que lhe traria muita experiência.

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