Fim?
- Bom dia, Tia Beth... Hermione.
Havia um ar de determinação no rosto de Gina, enquanto se sentava para tomar o café da manhã com elas. Aquela expressão era nova para as amigas.
- Santo Deus, menina, o que está fazendo acordada a essa hora?
Raramente, Gina se levantava antes das dez desde que estava na fazenda e isto deixou Tia Beth surpresa.
- Bem. - Olhou cautelosamente para Hermione, sabendo o quanto ela ia se sentir desapontada. - Quero aproveitar o meu último dia. Resolvi ir para casa com você hoje à noite, Hermione.
A amiga exibiu um ar desalentado, ante as palavras de Gina.
- Ah, não, Gin! Por quê?
- Porque tenho coisas para fazer na cidade, e já fui preguiçosa o bastante, querida. Além disso, se não voltar agora, provavelmente nunca mais voltarei.
Tentou usar um tom despreocupado enquanto se servia de torrada com canela, mas sabia que as suas palavras eram um golpe em Hermione. Sentia-se chateada de estar indo embora da fazenda, também. Apenas Tia Beth não pareceu perturbada pela noticia.
- Contou à mamãe antes de contar para mim, Gi? – perguntou Hermione, que notara a expressão do rosto da mãe.
- Não contou, não - Tia Beth apressou-se a responder. – Mas eu senti ontem à noite que isso ia acontecer. Gina, acho que provavelmente está certa em voltar agora. Não fique com essa cara, Hermione, vai ficar com rugas. O que estava achando? Que ela nunca mais ia voltar para a sua própria loja? Não seja tola. Alguma de vocês duas vai andar a cavalo comigo agora de manhã? - Passou manteiga na torrada com naturalidade e Hermione desfranziu a testa como uma criança apagando mensagens escritas na areia.
A mãe tinha razão quanto a Gina ter que voltar, é claro. Mas ela tinha curtido a Lady G até mais do que havia imaginado.
Gina que estivera observando o rosto da amiga, agora parecia quase com remorso.
- Sinto de verdade, querida. Detesto ter que fazer isso com você. - As duas mulheres mais moças ficaram caladas e Tia Beth sacudiu a cabeça.
- Como vocês duas são chatas. Vou andar a cavalo. Se quiserem, podem ficar se lastimando aqui. Uma, sentindo-se ridiculamente culpada, a outra sentindo-se infantilmente roubada, e as duas fazendo papel de boba. Fico surpresa ao ver que ambas têm tempo a perder com tanta bobagem.
Gina e Hermione começaram a rir e resolveram ir cavalgar com a mulher mais idosa e sensata.
Foi um passeio agradável e um dia simpático. Gina despediu-se de Tia Beth com pesar, jurou voltar tão logo pudesse e lutou para achar as palavras que exprimissem o quanto aquelas duas semanas tinham significado.
- Elas me restauraram – disse por fim.
- Você restaurou a si mesma. Agora não vá desperdiçá-la voltando para a cidade e fazendo uma bobagem. - Ela era espantosa, não havia nada que se pudesse esconder. - Não vou aprovar se você fizer uma besteira, menina. E não tenho certeza se estou gostando do seu olhar.
- O que é isso, mamãe! – exclamou Hermione, ao notar o desconforto da ruiva.
Bethanie não prosseguiu no assunto depois da interrupção. Simplesmente deu-lhes uma sacola de maçãs, uma lata de biscoitos feitos em casa e alguns sanduíches.
- Isso deverá mantê-las bem alimentadas até chegarem em casa. - A sua expressão se suavizou de novo e ela envolveu com meiguice a cintura da Gina. - Volte em breve. Vou sentir falta sabe.
Ainda abraçada a sua cintura a fitou com os olhos cheios de carinho. Gina inclinou a cabeça para beijar-lhe a face.
- Voltarei logo.
- Ótimo. E Hermione, querida, dirija com cuidado.
Acenou para elas da porta, até que o elegante Jaguar preto dobrou uma curva e sumiu de vista.
- Sabe, detesto mesmo ter que ir embora daqui. As duas últimas semanas foram as melhores que passei há anos.
- Sempre me sinto assim quando vou embora.
- Por que você não se muda para cá, Mione? Eu o faria, se ela fosse a minha mãe. E é uma região tão bonita.
Gina acomodou-se no banco para a longa viagem, refletindo sobre as duas preciosas semanas, e os últimos momentos de conversa com Tia Beth.
- Santo Deus, Gina, eu morreria de tédio aqui. Você não, depois de algum tempo?
Gina sacudiu a cabeça devagar, uma ruga pequena e pensativa entre os olhos.
- Não, acho que não ficaria entediada. Nem pensei nisso.
- Bom, eu pensei. A despeito da minha mãe, não há nada aqui para fazer exceto andar a cavalo, ler, fazer caminhadas. Ainda preciso da agitação louca da cidade.
- Eu não. Quase sinto raiva de ter que voltar.
- Então devia ter ficado. – comentou Hermione, deixando que por uma fração de momento, a garotinha mimada se fazer presente novamente em sua voz.
- Não poderia ficar, Hermione, tenho que voltar. Mas sinto-me feito um rato, retomando a loja, se é que se pode falar assim. Você me proporcionou as férias mais maravilhosas.
Hermione sorriu às palavras de Gina.
- Não se sinta mal. As duas semanas foram um lindo presente.
Hermione soltou um suspiro suave e acompanhou a estrada rural serena. O sol acabara de se pôr atrás das montanhas, havia um cheiro de flores no ar. Num campo distante podiam ver os cavalos ao crepúsculo.
Gina lançou um longo olhar à paisagem agora familiar e se afundou no banco, com um pequeno sorriso particular. Ela voltaria. Tinha que voltar. Estava deixando um pedaço da alma ali, e uma nova amiga.
- Sabe de uma coisa, Sra. Spinett?
Hermione abriu um sorriso em resposta.
- O que, Sra. Potter?
- Adoro a sua mãe.
- Eu também. - As duas mulheres sorriram e Hermione lançou um olhar de esguelha para Gina. - Ela foi boazinha para você? Ou foi durona? Ela sabe ser, quando quer, e eu estava com medo que fosse muito dura com você. Foi?
- Não de verdade. Sincera, mas não dura. Nunca mesquinha. Apenas franca. Às vezes dolorosamente franca, mas estava certa de um modo geral. Fez com que eu pensasse muito. Salvou a minha vida... Pois, nem sou mais viciada! - Gina riu enquanto dava uma mordida em uma das maçãs. - Quer uma maçã?
- Não, obrigada. E fico feliz por tudo ter se acertado. A propósito, como parecia o Harry na carta que eu trouxe para você? Já era para lhe ter perguntado, mas esqueci.
O rosto de Gina ficou duro ante a pergunta, mas Hermione que estava com os olhos fitos na estrada e não viu.
- É por isso que estou voltando.
- Algo errado? - Hermione lançou um rápido olhar de esguelha para Gina.
- Não, ele está bem. - Sua voz estava estranhamente fria.
- Vai voltar para vê-lo, Gina? – perguntou Hermione um tanto confusa.
- Não. Para ver Dumbledore.
- Dumbledore, o advogado de Harry? Então tem alguma coisa errada.
- Não, não desse jeito. - Então desviou o rosto, vendo as montanhas passando pela janela. - Vou voltar para me divorciar. - disse um tanto fria.
- Você, o quê? - Ela diminuiu a marcha do carro para olhar para Gina, atônita. - Gina, não! Você não quer isso! Quer?
Gina fez que sim, segurando o miolo da maçã com a tremula.
- Quero, sim.
Hermione não conseguia pensar em nada para dizer. Ficaram caladas durante os 150 quilômetros seguintes.
Dumbledore estava livre para recebê-la, quando Gina o procurara na manhã seguinte. Ela foi direto para o escritório dele, e a conduziram pelo corredor dolorosamente familiar.
Como de costume, ele estava sentado à sua mesa com os óculos empurrados para ponta do nariz, e o semblante bondoso. Desde dezembro que ela não o via.
- Então, Gina, como tem passado?
Olhou-a do alto a baixo enquanto se levantava e estendia a mão. Ainda lhe dava uma sensação de desalento vê-lo. Ao seu modo, era um lembrete tão doloroso quanto o Inspetor Vacchi. Era parte de uma era. Mas essa era estava finalmente chegando ao fim.
- Bem, obrigada.
- Está com uma cara muito boa. - Tão boa que o surpreendia. - Sente-se e me diga, o que a traz aqui? Recebi uma carta do Harry na semana passada. Ele parece estar suportando a situação.
Um lampejo de alguma coisa passou pelos olhos de Dumbledore. Remorso? Tristeza? Culpa? Por que ele não fora capaz de manter o Harry livre? Por que não o convencera a impetrar um recurso e depois ganhá-la? Se o tivesse feito, ela agora não estaria no seu escritório. Ou talvez estivesse.
- É, acho que ele está sobrevivendo.
- Mencionou que o projeto está quase pronto e que renderá um bom dinheiro. Falou que estava esperando mais notícias do seu sócio.
- Ah. - Isso era novidade. - Espero que renda mesmo. Faria um grande bem a ele.
Especialmente agora. Mas era só isso o que Harry queria, de qualquer forma.
- E então? Ainda não me disse o que a traz aqui.
As amenidades estavam agora oficialmente encerradas. Gina inspirou e olhou bem nos olhos dele.
- O que me traz aqui, Dumbledore, é um divórcio.
Ele não deixou transparecer nada no rosto.
- Um divórcio?
- Sim. Quero me divorciar do Harry.
Alguma coisa dentro dela tremeu àquelas palavras, revirou-se e soltou uma exclamação abafada, tentou se agarrar ao velho galho conhecido. Mas ela não permitiu, não fazia mal se caísse num abismo sem fundo; tinha que fazer isso. Sabia, agora, que sobreviveria ao abismo sem fundo. Já estivera ali.
- Gina, está cansada de esperar por ele? Ou há outra pessoa? - As perguntas pareciam indiscretas, mas talvez ele precisasse saber.
- Não, nem uma coisa nem outra. Bem, talvez um pouco cansada de esperar, mas apenas porque acho que não teremos mais um casamento quando ele sair. Portanto, para que esperar?
- Vocês tinham um casamento antes? – Dumbledore verbalizou a pergunta que sempre se fizera, nunca tivera certeza absoluta. Parecia que tinham um elo forte e um compromisso firme, mas nunca se sabe quando se estar do lado de fora.
Gina sacudiu a cabeça ante a pergunta dele, depois desviou os olhos, as mãos apertadas no colo.
- Pensei que tínhamos um casamento. Mas... eu contava a mim mesma muitos contos de fadas, na época.
- Tais como?
Ela se perguntava por que tinham que discutir tudo isso agora.
- Como o fato de pensar que éramos felizes. Isso era uma mentira, entre outras. Harry nunca foi realmente feliz comigo, coisas demais se metiam no caminho. Minha loja, o trabalho dele, outras coisas... Ele nunca teria ido atrás daquela mulher se fosse feliz.
- Acredita mesmo nisso?
- Não sei. A princípio não acreditava, mas agora começo a ver o que não dei a ele. Amor-próprio, para começo de conversa.
- Você não o respeitava?
- Não tenho certeza absoluta. Precisava dele, mas não sei se o respeitava. E jamais quis que soubesse o quanto precisava dele. Sempre quis que Harry pensasse que era ele quem precisava de mim. Lindo, não?
- Não. Mas também não é incomum. Então, por que o divórcio? Por que não limpar a imagem e ficar com o que tem? Ainda é melhor do que a maioria, e você têm sorte... enxerga os erros; a maioria, não. Harry enxerga tudo com a mesma clareza que você?
- Não tenho idéia.
- Não falou com ele sobre isso? - Pareceu chocado, enquanto ela sacudia a cabeça. - Ele não sabe que você quer o divórcio?
Ela sacudiu a cabeça de novo e depois o olhou diretamente no rosto.
- Não, não sabe. E... Dumbledore, é assim que eu quero. É tarde demais para “limpar a imagem”. Pensei muito no assunto e sei que esta é a maneira certa. Não temos filhos e, bem... Esta é uma hora tão boa quanto outra qualquer.
Ele balançou a cabeça, mordiscando a haste dos óculos.
- Posso entender o seu modo de pensar, Gina, e você é uma mulher jovem. Pode ser um fardo muito grande ser casada com um homem que foi mandado para a prisão por estupro. Talvez você deva agora ser livre para começar uma nova vida.
- É o que eu acho.
Mas por que parecia ser uma traição tão grande ao Harry? Que coisa nojenta de se fazer... Mas precisava fazê-lo. Precisava. Queria isso para si mesma. Já havia resolvido, mas escutava a voz da Tia Beth, pouco antes de ter saído da fazenda, na véspera: “Não vou aprovar se você fizer uma besteira”. Mas isso não era besteira, era certo. No entanto, o que diria Harry?... E por que isso lhe importaria agora? Exceto que se importava. Importava, merda.
- A sua decisão seria afetada de alguma forma se ele saísse agora da prisão, Gina?
Ela pensou por um momento, depois sacudiu a cabeça.
- Não, não afetaria. Porque nada se alteraria. Ele voltaria para casa, amargurado com o tempo passado na prisão e ainda mais amargurado comigo, porque eu logo o estaria controlando tudo de novo, e nada teria se alterado.
- Não acha que ele seja capaz de cuidar de tudo e fazer diferente?
O tom da voz de Dumbledore encheu-a de vergonha, e ela baixou os olhos de novo.
- Não quis dizer isso. E o importante não é isso, de qualquer modo. Tudo ainda seria a mesma coisa. Eu ainda teria a loja, a conta bancária.... não, Dumbledore. É isto o que eu quero, estou absolutamente certa.
- Bem, Gina, você tem idade suficiente para tomar as suas próprias decisões. Quando vai contar ao Harry?
- Pensei em escrever-lhe hoje à noite. E - hesitou, mas tinha que pedir-lhe - estava esperando que você fosse lá vê-lo.
- Para dar a notícia? - Dumbledore parecia muito cansado enquanto perguntava. Ela balançou lentamente a cabeça. - Francamente, Gina, normalmente não trato de assuntos domésticos. Como sabe, o direito marital não é a minha especialidade.
E esse caso ia ser muito delicado. Entretanto, Harry era seu cliente e sua mulher estava sentada diante dele, olhando-o como se fosse sua culpa que ela estivesse querendo o divórcio, como se por culpa dele houvesse custado o seu casamento. E, que diabos, por que sempre se sentia culpado, se as coisas não saíam exatamente certas?
- Ah, está bem, suponho que posso cuidar disso para você. Vai ser uma coisa complicada? - perguntou Dumbledore vencido.
- Não. Terrivelmente simples. A loja é minha, a casa é dos dois, e eu a venderei, se ele quiser, e porei a parte do dinheiro na conta dele. O meu carro eu vendi e o dele ainda está parado para o concerto, ele não precisa me pagar nada. Fico com a custódia das plantas e ele com os seus arquivos do escritório Fim de um momento.
As únicas coisas que deixara de fora tinham sido os móveis, a que nenhum dos dois dava importância, exceto as poucas peças que tinham sido dos pais dela, e que lhe pertenciam, obviamente. Tão simples. Tão miseravelmente simples após sete anos.
- Você faz parecer tão rápido e fácil – falou o advogado, que parecia incerto e triste pelos dois.
- Talvez rápido, mas não, não muito fácil. Irá vê-lo em breve?
- Até o final da semana. Você irá vê-lo, também?
Ela sacudiu a cabeça, cuidadosamente. Tinha visto Harry pela última vez... Naquele dia pavoroso em que ele tinha levantado e se afastado, e ela ficara olhando por trás de uma janela de vidro com um telefone mudo nas mãos. Seus olhos ficaram cheios de lágrimas à lembrança, e Alvo Dumbledore desviou os olhos. Odiava esse tipo de coisa, parecia-lhe um desperdício.
Gina ergueu os olhos para Dumbledore, contendo as lágrimas. A sua voz mal passava de um sussurro:
- Não, não vou vê-lo mais.
Ele lhe disse que estaria divorciada em seis meses. Em setembro. Um ano depois que Harry fora preso, o fim do casamento deles começara.
Havia uma carta do Harry à sua espera quando deu uma passadinha em casa para buscar a correspondência, a caminho da boutique. Era apenas um bilhetinho e um poema. Leu-o com olhos dilatados e tristes, depois o rasgou cuidadosamente ao meio e jogou-o fora. Mas ele ficara espetado na sua mente, de alguma maneira, como um espinho do cetim. Foi a última carta de Harry que abriu. O poema fê-la decidir-se.
das minhas alvoradas
todas as manhãs.
Você é o sussurro
no fim tardio
das minhas noites.
Você é a sinfonia nos meus crepúsculos,
Você é o esplendor e a glória
da aurora
da minha vida.
A alvorada da vida dele havia passado, com ela, pelo menos. Mas sentia-se como se tivesse matado sozinha o alvorecer, o cancelado, mandado embora. Feito com que chorasse. Quebrando alguma coisa sagrada. Ele e ela própria, e a coisa que era eles dois. A coisa que ela agora acreditava que jamais existira. Porém, sabia tinha que fazer o que estava fazendo.
A boutique estava em grande forma, havia novos mostruários espalhados por toda a sala principal e a vitrina parecia uma visão de primavera. A própria Hermione a decorara e os tons pastéis, beges e tonalidades delicadas, que Gina comprara em Paris há mais de seis meses, ficavam bem em exibição. Havia duas plantas novas em seu escritório, com flores amarelas-vivas em pleno viço, tinha um ar arrumado, jeitoso, na loja, do qual ela tinha quase esquecido. Passara apenas duas semanas fora, mas a ‘Lady G’ renascera, assim como ela. Estava do jeito que era quando Gina abrira a loja, naqueles dias em que estivera loucamente apaixonada por ele, e pusera alma e coração no seu nascimento. Agora ela mostrava os sinais do entusiasmo e do amor recente de Hermione. Não modificara nada radicalmente, apenas dera um jeito em tudo. Até mesmo o Kasuco e Vivian pareciam mais felizes.
- Como foi de férias? - perguntou Katuco, que ergueu os olhos, encantada em vê-la. Mas nem precisava ter perguntado, Gina parecia-se com a verdadeira Gina novamente, só que melhor.
- Era exatamente o que eu estava precisando. E olhe só para este lugar? Parece que vocês o pintaram, ou coisa parecida. Tão alegre e bonito.
- É apenas a nova linha. Está um barato.
- Que tal está vendendo?
- Feito cachorro-quente. E espere só para ver o que escolhi para outono. Tudo é laranja ou vermelho. Um bocado de preto, e umas malhas prateadas espetaculares para a Ópera.
Os castanhos do inverno anterior já haviam sido esquecidos. No ano seguinte seria vermelho. Alegre, movimentado, vivo, talvez fosse um bom sinal para a sua nova vida... Nova vida. Jesus. Ainda não queria pensar nisso. Haveria tanta gente para contar... para explicar... para...
Gina acomodou-se em seu escritório, olhou ao redor com prazer e curtiu a sensação de ter voltado para casa. Aquilo suavizava o fardo da manhã, o encontro com Dumbledore. Tentou não pensar nele. Escreveria para o Harry naquela noite. Pela última vez. Não queria trocar muitas cartas com ele, era bom demais no assunto. As cartas seriam... demais. Poderiam acertar tudo através do advogado. Quanto menos dissessem um para o outro, mesmo por carta, melhor. Ela já se resolvera, estava feito, era para o melhor. Agora tinha que olhar para frente e se forçar a não olhar para trás, para os anos vividos com Harry. Estavam acabados. Uma parte do seu passado, como roupas fora de moda. Harry e Gina eram passado.
- Gina? Tem um minutinho?
Vivian enfiou a cabecinha encaracolada pela porta, Gina ergueu os olhos e sorriu. Sentia-se mais velha, mais quieta, porém, já não cansada. Sentia-se forte. Pela primeira vez em meses, as noites sozinhas não a aterrorizavam. A casa não estava mais assombrada. A sua vida não estava mais infestada de fantasmas. A primeira noite de volta a casa fora até tranqüila. Finalmente.
Forçou a sua atenção a voltar-se para Vivian, que ainda esperava no vão da porta.
- Claro, Vivian, tenho tempo de sobra.
O ritmo mais lento da roça ainda estava com ela. Não sentia atropelada, e estava adorando.
- Está com uma cara ótima.
Vivian sentou-se numa cadeira perto da mesa, parecia ligeiramente constrangida. Fez algumas perguntas sobre as férias de Gina e parecia hesitar cada vez que havia uma pausa. Finalmente, Gina resolveu tomar a iniciativa:
- Então, moça, o que há?
- Não sei o que dizer, Gina, mas...
Ergueu os olhos, e subitamente Gina o pressentiu. Os meses difíceis tinham afetado todo mundo, não apenas ela. Ficou quase surpresa de que nenhuma das duas o tivesse feito antes. Provavelmente não o tinham feito porque eram muito leais. Inspirou fundo e olhou dentro dos olhos de Vivian:
- Está se despedindo?
Vivian fez que sim com a cabeça.
- Vou me casar - falou quase como quem pedia desculpas.
- Vai?
Gina nem sabia que Vivian tinha um namorado. Não tinha, da última vez que tinham conversado.... Mas quando fora isso? No mês passado? Há dois meses? Provavelmente há seis. Desde então estivera ocupada demais com os próprios problemas para perguntar, ou se importar.
- Vou me casar daqui a três semanas.
- Vivian, que notícia maravilhosa! Por que está com essa cara de pena, sua boba? - Gina deu um amplo sorriso e Vivian pareceu tremendamente aliviada
- Sinto-me mal em deixá-la. Vamos nos mudar para Surrey.
Gina riu. Parecia um destino horrível, mas sabia que Vivian não pensava assim, e agora que a notícia fora dada, Vivian parecia radiante. Gina ainda estava muito ligada a Londres e sempre achou que o melhor lugar para se morar era lá.
- Eu o conheci numa festa de Natal, e... Oh, Gin! Ele é o homem mais lindo do mundo, de todas as maneiras possíveis! E eu o amo! E vamos ter um monte de filhos! - Riu toda satisfeita. Gina levantou-se de um salto e deu-lhe um abraço. - E olhe só para o meu anel!
Era toda uma donzela sulista enquanto exibia um minúsculo brilhante.
- Você estava usando isso antes de eu entrar de férias?
Gina estava começando a se perguntar quanta coisa teria perdido.
- Não. Ele só me deu na semana passada. Mas eu não queria escrever e contar para você, portanto resolvi esperar que voltasse. E Hermione proibira todos os comunicados potencialmente perturbadores para você. É um anelzinho tão lindo, não é?
- É uma graça. E você é maluca, mas eu a adoro e estou tão feliz por você!
E então uma pontada de dor atingiu-a até o âmago. Vivian ia se casar, e ela se divorciar. A gente vem, a gente vai, a gente começa, a gente termina, a gente tenta, a gente perde, e quem sabe mais tarde tem outra chance, um novo começo, e ganha desta vez. Quem sabe. Ou quem sabe não tinha realmente importância. Esperava que Vivian ganhasse na primeira tentativa.
- Sinto-me tão mal em dar um aviso-prévio tão curto, Gi. Mas nós só resolvemos agora. Juro.
Estava quase de cabeça baixa, mas o sorriso era grande demais para ocultar.
- Pare de pedir desculpas, pelo amor de Deus! Ainda bem que eu voltei para casa. Onde vai ser o casamento?
- Será no sitio dos meus pais, ou a minha mãe me mataria. Vou para casa daqui a duas semanas e ela já está maluca por causa do casamento. Também não a avisamos com antecedência. Ela ligou para mim quatro vezes, ontem à noite, e você devia ter escutado o papai!
As duas deram risadinhas, e Gina começou a pensar.
- Precisa de um vestido?
- Vou usar o da minha bisavó.
- Mas precisa do um enxoval, certo? E um vestido de viagem, e...
- Ah, Gina, é, mas... não... posso deixar que faça isso...
- Cuide da sua vida, ou eu a despeço! - Apontou o dedo para Viviam e as duas recomeçaram a rir.
Gina escancarou a porta do escritório e conduziu Vivian para a sala principal da loja, parando diante da espantada Kasuco.
- Kat, temos uma nova freguesa. VIP. Esta é a Srta. Nelson, e ela está precisando de um enxoval - Kasuco ergueu os olhos, atônita, depois compreendeu e também começou a participar das risadinhas e sorrisos. Estava aliviada por tudo ter saído bem. Estivera preocupada por causa da Vivian. Nos dois últimos meses fora assustador lidar com Gina. Mas agora ela estava bem. Todos podiam ver isso. E agora estava esfuziante, falando do enxoval de Vivian. - Vai ser perfeito com todas as cores da primavera. Kat, dê-lhe qualquer coisa que ela queira, a dez por cento abaixo do preço de custo, e eu vou lhe dar a roupa de viagem como presente de casamento. E por falar nisso... Sei exatamente qual é!
Os seus olhos brilhavam, e entrou na sala de estoque e trouxe de lá um costume de seda bege de Paris. Tinha uma saia pelo meio da barriga da perna, e uma jaqueta que disfarçaria sutilmente o busto exagerado de Vivian. Pegou uma blusa verde-hortelã para acompanhar o conjunto, e Vivian praticamente babou.
- Com sandálias bege finas e um chapéu... Vivian, você vai ficar incrível!
Até os olhos de Kasuco brilharam ante o conjunto que Gina exibia. Vivian ficou chocada:
- Gina, não! Você não pode! Este não! - falou num sussurro. O preço de venda do costume era mais de 400 libras.
- É, este sim. - A sua voz agora era meiga. - A não ser que haja outro que lhe agrade mais.
Vivian sacudiu a cabeça gravemente, e Gina deu-lhe um abraço carinhoso, e com um sorriso e uma última piscadela para Vivian, voltou para o escritório. Tinha sido uma manhã espantosa, e agora ela teve outra idéia espantosa.
Pelo telefone, conseguiu localizar Hermione no cabeleireiro:
- Alguma coisa errada?
Quem sabe Gina detestara a vitrine, ou não gostara do jeito que ela arrumara o estoque. Estava preocupada, parada ali com o fixador pingando nos seus novos sapatos Gucci de camurça.
- Não, boba, não há nada errado. Quer um emprego?
- Está me gozando?
- Não. Vivian acaba de se demitir, vai se casar. E eu posso estar maluca, porque com você na loja seríamos três capazes de dirigir esta espelunca, mas se não se importa de ser o homem superqualificado na base da pirâmide por algum tempo, o emprego é todo seu!
- Gina! Aceito! - Abriu um amplo sorriso o se esqueceu do que estava fazendo com os sapatos.
- Então está contratada. Quer almoçar comigo?
- Vou já para ai. Não, droga, não posso, meu cabelo ainda está molhado... Oh... merda - as duas riram e o sorriso do Hermione parecia mais amplo a cada minuto. - Estarei lá há uma hora, Gina. Obrigada. Adoro você.
As duas desligaram com sorrisos felizes e Gina ficou contente por ter telefonado.
As quatro fecharam as portas da Lady G, às cinco horas em ponto, ao invés de cinco e meia, Gina abriu uma garrafa de frisante que tinha encomendado de tarde. Viviam resolvera sair do trabalho uma semana antes do combinado, agora que Gina tinha Hermione para tomar o seu lugar. Acabaram com a garrafa em meia hora, e Hermione levou Gina para casa de carro.
- Quer ir até a minha casa tomar um drinque? Ainda não comemorei meu novo emprego.
Gina sorriu, mas sacudiu a cabeça. Estava começando a sentir os efeitos do dia, que começara com a sua visita a Dumbledore para tratar do divórcio. Era estranho como ficava se esquecendo disso. A manhã parecia anos-luz atrás dela. Gostaria que o divórcio também já pertencesse ao passado.
- Não, querida, obrigada. Hoje, não.
- Está com medo de confraternizar com os empregados?
- Não, boba, estou estourada, e já estou meio de porre com o frisante, e... tenho que escrever uma carta.
O rosto de Hermione ficou sóbrio, enquanto escutava.
- Para o Harry?
Gina concordou, gravemente, o riso agora totalmente desaparecido dos seus olhos.
- É. Para o Harry.
Hermione deu uma palmadinha na sua mão e Gina deslizou suavemente para fora, com um aceno. Destrancou a porta e ficou parada por um momento no hall de entrada iluminado pelo sol. Estava tão quieto. Tão insuportavelmente quieto. Não mais assustador. Apenas vazio. Quem iria cuidar dela agora? Era estranho dar-se conta de que ninguém sabia a que horas ela chegava em casa, ou saia, ou onde estava. Ninguém sabia e ninguém se importava. Bem, havia Hermione, mas ninguém a quem prestar contas, dar explicações, para quem correr para casa, fazer favores, acordar, ligar o despertador, ninguém para quem comprar comida... Uma sensação avassaladora de vazio a envolveu.
As lágrimas lhe escorreram pelo rosto enquanto olhava à sua volta, para a casa que já fora o lar deles. Agora era uma casca, um pavilhão de lembranças, um lugar para onde voltar à noite, depois do trabalho. Como tudo o mais, fora repentinamente arremessado para o passado. Tudo estava se movendo tão depressa. As pessoas estavam indo e se modificando e mudando para longe, novas pessoas tomavam os seus lugares, Vivian se casando... Hermione na loja... Harry perdido... e dali a meses estaria divorciada. Gina sentou-se na cadeira do hall de entrada ainda de casaco, a bolsa jogada sobre o ombro, enquanto sentia o gosto da palavra em voz alta. Divorciada.
Era quase meia-noite quando ela lambeu o selo e o colou na carta. Sentia-se com cem anos de idade. Tinha forçado Harry a sair sua vida e não se desviaria da sua decisão. Mas agora não tinha ninguém, exceto a si mesma.
Comentar faz bem e deixa a autora feliz
N/A: A autora sumiu do mapa é só volta quando ninguém quiser mata-la. Meninas lindas do meu coração não me matem, nem tudo está perdido. Bjos
N/B: AAAAAAA coitada da Gina!!!! =/ Quando fico feliz por ela, eu fico triste! Sabe esse misto de sentimentos não faz bem na TPM (fica a dica)! Mas eu bem que queria saber o que tem nessa carta!! Morro de curiosidade com isso. Ain, como será que o Harry vai aceitar isso tudo? Ah, maldade! EU quero mais!! Amo essa fic, já! Demorei um bucado com essa cap.. ai ai.. sorry ne!? beijos! Comeeeeeeenteeeeem!!!!! xD
natália : Eles vão ter que apreender a caminhar primeiro, mas o destino tem uma surpresa preparada para eles. Bjos
Tonks Butterfly: Amiga vc eu perdou, sei como vc tem passado se cuida. Bjos
Prika Potter : A Tia Beth realmente é um máximo e será muito importante para Gina nesta fase. Bjos
Yumi Morticia voldemort: Obrigada realmente a cabeça da Gina nos deixa confusas, mas se ponha no lugar dela, vcs estão lendo o que está se passando com ela, mas aos poucos as coisas vçao parar no lugar certo. Bjos
NATALIA REIS: Obrigada, espero que não fique chocada com esse capitulo rsrs. Bjos
Day Pereira: Infelizmente muitas pessoas só amadurecem com a dor e esse é o caso da Gina, mas ela será uma mulher melhor em breve. Bjos
Anny W. P. Agora a Gina vai mostrar o quanto ela cresceu e vamos conhecer a mulher que ela vem se tornando e em breve tudo estará no seu devido lugar. Bjos
Ana Martinez: A Tia Beth é maravilhosa e será cada vez mais, bjos
cla weasley malfoy. Obrigada espero que goste desse capitulo bjos
Pessoal leiam minha outra fic, Em busca do Amor uma adaptação do Livro da Nora Roberts para o casal mega fofo H/G, já está no capitulo 4.
Bjos
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