Encontros desastrosos
- Ora, olhe só para ela! O que está aprontando para hoje à noite?
Hermione parecia encabulada enquanto abotoava o casaco de vison. Estavam em maio, mas ainda fazia frio à noite, e o casaco de pele ficava bem nela.
Gina acabara de trancar as portas da loja. O esquema estava funcionando bem. Ela, Kasuco e Hermione davam-se bem como se fossem irmãs, formavam uma equipe poderosa, quase poderosa demais, mas estavam gostando, e a boutique estava indo muito melhor. Os telefonemas dos credores eram raros. Dava para ver o alívio no rosto de Gina.
- Está bem, enxerida - Hermione olhou para Gina, que a observava divertida. - Acontece que vou sair com alguém - falou como se fosse uma garota de 16 anos, com um leve rubor nas faces, e fez com que Gina desatasse a rir.
- E já está com uma tremenda cara de culpada. Quem é o cara?
- Um idiota que conheci por intermédio de uma amiga – falou parecendo quase aflita.
- Quantos anos ele tem?
Gina desconfiava da paixão de Hermione por homens maiores de 60 anos. Ela ainda estava procurando o Tom.
- Tem 28.
- Pelo menos tem uma idade decente, para variar – falou Gina, depois de abotoar o casaco, com expressão virginal.
- Obrigada, Tia Gin.
As duas mulheres riram e Gina tirou um pente da bolsa.
- Por falar nisso, também vou sair com alguém. - Ergueu os olhos com um pequeno sorriso.
- É? Com quem?
A situação agora se invertera, e Hermione parecia estar gostando. Gina andava saindo bastante, nas últimas semanas. Com homens moços, velhos, um fotógrafo, um banqueiro, até mesmo um estudante de direito, certa vez. Mas nunca com engenheiros. E jamais falava de Harry. O assunto era proibido, e qualquer menção do Harry era recebida com silêncio ou cara feia.
- Vou sair com o amigo de uma amiga de Nova York. Ele veio passar apenas uma semana em Londres. Mas, que diabo, por que não? Pareceu legal ao telefone. Um pouco metido a gostoso, mas pelo menos parece meio inteligente. Tem um senso de humor à flor da pele, pelo menos ao telefone. Só espero que se comporte.
Gina soltou um suspiro leve, enquanto punha o pente de volta na bolsa. O seu cabelo descia até bem além dos ombros, num lençol acobreado.
- Você está se preocupando com o comportamento dele? Grande como você é, sempre pode dar-lhe uma surra.
- Desisti disso quando tinha nove anos.
- Por quê?
- Encontrei um garoto maior do que eu, e me machuquei - ela sorriu e apoiou os pés na mesa.
- Quer uma carona até em casa, Gi?
- Não, obrigada, querida. Ele vem me apanhar aqui. Penei em mostrar-lhe o movimento no Jerry’s.
Hermione assentiu, mas o Jerry’s não fazia o seu gênero. Em um bar local “da moda”, cheio de secretárias e publicitários, procurando por sexo. Aquilo a fazia sentir-se solitária. Ia jantar no L’Etoile. Fazia muito mais o seu estilo. Seria também o de Gina, se ela permitisse, mas Gina ainda estava buscando o seu próprio nível. Um novo nível. Qualquer nível. Ela sabia que o Jerry’s não era para ela, mas o movimento ali lhe dava algo para observar, enquanto escutava as paqueras sendo transadas no bar.
Gina fez um aceno de despedida, e Hermione cruzou com um jovem nos degraus. Era um pouco mais alto do que a ruiva, tinha cabelos escuros e fartos. Usava um suéter de gola rolê cinzenta, e jeans. Bonitão, mas muito “peludo”, concluiu Hermione, enquanto sorria e seguia o seu caminho. Perguntou-se como Gina os suportava; todos tinham a mesma cara, não importava a cor dos cabelos, nem como se vestissem, todos pareciam famintos, com tesão e chateados. Com um suspiro, entrou no Jaguar e ligou o motor. Imaginou como andaria Harry. Há um mês que tinha vontade de escrever para ele, mas não tinha tido coragem. Gina podia considerar uma traição. Hermione via as cartas fechadas e rasgadas ao meio quando esvaziava as cestas de papel do escritório que agora partilhavam. Gina sabia ser inflexível, quando queria. E agora estava querendo.
A porta da loja se abriu e Gina viu o rapaz entrar.
- Oi, Mário. Sou Gina.
Imaginou que ele fosse o rapaz que estava esperando, e estendeu-lhe a mão. Ele a ignorou com um sorriso descuidado.
- Suponho que trabalhe aqui.
Nem um comprimento, uma apresentação, um aperto de mão, um ‘Olá’. Estava examinando o local, e ela junto. Tudo bem, meu chapa, se é para ser assim.
- É. Trabalho aqui. - Resolveu não contar que era a dona.
- É. Acho que cruzei com a sua patroa na escada. Uma moça chique, de casaco de pele. Pronta?
Gina já estava irritada.
Pareceu chateado com o movimento do Jerry’s, mas tomou quatro copos de vinho tinto, mesmo assim. Explicou que era dramaturgo, ou estava tentando ser, e ensinava inglês, matemática e italiano como “bico”. Tinha crescido em Nova York, num bairro barra pesada do West Side. Pelo menos, era o que ele dizia, mas Gina achava que não. Parecia mais classe média do West Side do que barra pesada. Ou talvez até dos bairros elegantes da periferia. E agora crescera e passara a não se lavar, a ser inamistoso e grosseiro. Estava surpresa com os amigos que tinham dado o seu nome para ele. Gente que conhecia profissionalmente, mas mesmo assim... Como podiam mandar-lhe isso?
- E que tal Nova York? Há algum tempo que não vou até lá.
- É? Quanto tempo?
- Mais de um ano.
- Ainda está lá. Fui a uma festa de cocaína espetacular na semana passada no St. Mark’s Pisco. Que tal as transas por aqui?
- Cocaína? Não sei.
Ela sorvia o seu vinho.
- Não faz o seu gênero? - ele continuou a parecer entediado enquanto se esforçava para parecer cínico. Garoto da cidade grande em outro país querendo aparecer. Gina estava desejando que ele caísse morto ali mesmo. Ou desaparecesse, ao menos. - Não gosta de cocaína? - insistiu ele.
- Não. Mas esta é uma boa cidade. É boa do se morar.
- Parece uma merda de chata. - Ela ergueu os olhos e sorriu animada, esperando desapontá-lo. Mário, o dramaturgo, estava se saindo um pé no saco dos mais legítimos.
- Bem, Mário, não é tão excitante quanto o West Side de Nova York, mas temos os nossos locais de diversão.
- Ouvi dizer que é um deserto intelectual.
- Você também é, querido.
- Depende das pessoas com quem se conversa. Aqui há alguns escritores. Bons escritores. Muito bons.
Estava pensando em Harry e tinha vontade de enfiá-lo pela goela daquele palhaço abaixo. Harry tinha classe. Harry era encantador. Harry era brilhante. Harry era bonito. O que ela estava fazendo saindo com esse porco? Esse grosseirão? Esse...
- É? Quem, por exemplo?
- O quê?
O seu pensamento passara do Mário para o Harry.
- Você falou que aqui há bons escritores e eu falei quem, por exemplo. Está se referindo a escritores de ficção científica? - falou com nojo e com um sorriso cínico, que fez Gina sentir vontade de acertar com o cálice de vinho nos dentes dele.
- Não, não apenas escritores de ficção científica. Estou me referindo a ficção, ficção pura, não-ficção.
Começou a enumerar nomes e se deu conta de que eram todos amigos de Harry do tempo da faculdade. Mário escutou, mas não fez comentários. Gina estava fervendo de raiva.
- Sabe o que me deixa pasmo?
- O quê?
- Que uma mulher inteligente como você venda roupas numa loja. Não sei, imaginava que você fizesse algo criativo.
- Como escrever?
- Escrever, pintar, esculpir, alguma coisa significativa. Que tipo de existência é essa, vendendo roupas para coroas de casaco de pele?
- Bem, sabe como é, a gente faz o que pode - Gina tentou impedir o seu lábio de se encrespar enquanto soma. - Que tipo de peça está escrevendo?
- Teatro novo. Um elenco só de mulheres em pêlo. Há uma cena fantástica tomando forma agora, para o segundo ato. Uma cena de amor homossexual depois de uma mulher dar à luz.
- Parece divertido. - Ele não percebeu o tom de voz irônico. - Já está com fome?
E ainda tinha que enfrentar um jantar com ele. Estava pensando em dizer-se acometida de um violento ataque da peste bubônica. Qualquer coisa para se ver livre dele. Mas sobreviveria. Já tinha sobrevivido a outros, antes. Com mais freqüência do que gostaria de admitir.
- É. Até que curtiria uma boa refeição.
Ela deu várias sugestões e ele escolheu comida mexicana, porque a boa cozinha mexicana era rara em Nova York. Pelo menos, tinha bom senso nesse aspecto. Ela o levou a um pequeno restaurante na Lombard Street. A companhia era um lixo, mas a comida era boa, pelo menos.
Depois do jantar ela bocejou ruidosamente várias vezes, esperando que ele se mancasse, mas não se mancou. Queria ver um pouco da “vida noturna”, se é que havia alguma. Havia, mas Gina não iria participar dela. Não esta noite, e não com ele. Ela sugeriu um café na Union Street, perto de casa. Tomaria um cappuccino e se mandaria. Estava precisando do café, de qualquer maneira. Tomara três ou quatro copos de vinho durante o jantar, mas Mário tomara pelo menos o dobro, depois do consumo anterior no Jerry’s. Estava começando a ficar com voz pastosa.
Acomodara-se no café, ele com um lrish coffee e ela com um cappuccino espumante, ele a olhou com olhos apertados sobre a beirada do copo.
- Você não é uma mulher feia.
Fazia com que parecesse uma análise química. O seu tipo sanguíneo é ‘O’ positivo.
- Obrigada.
- Onde mora, afinal de contas?
- A uma ou duas ladeiras daqui.
Bebeu a espuma doce do leite da parte de cima do seu café e ocupou-se parecendo evasiva. Uma coisa que não estava planejando fazer era partilhar com Mário o seu endereço. Já estava mais do que cheia.
- Ladeiras grandes?
- Médias. Por quê?
- Por que não quero subir porra nenhuma de ladeira grande a pé, irmã, só isso. Estou podre de cansado. E só um pouquinho bêbado.
Juntou o polegar e o indicador e deu um sorrisinho obsceno. Gina quase sentiu ânsias de vômito ao olhar para ele.
- Não há problema, Mário. Podemos tomar um táxi e terei prazer em largá-lo onde você está hospedado.
- Como assim “onde você está hospedado.”? - Havia uma pequena fagulha de raiva nos seus olhos, ardendo em confusão.
- Você é um rapaz esperto. O que lhe pareceu?
- Pareceu-me por um minuto que você estava sendo um pé no saco, cheia de frescura. Imagino que vou ficar com você.
Por um momento teve vontade de dizer-lhe que era casada, mas não resolveria nada desse jeito. Além disso, como poderia explicar o fato de ter ido jantar com ele?
- Mário - sorriu docemente para ele - você imaginou errado. Não fazemos as coisas desse jeito. Eu, pelo menos, não faço.
- O que quer dizer com isso? - Agora estava desabado na cadeira, com uma expressão desagrado no rosto.
- Quero dizer obrigada por uma linda noite.
Gina começou a abotoar a jaqueta e se levantou com um olhar melancólico. Mas ele se debruçou sobre a mesa e agarrou-lhe o braço. O aperto no pulso dela era surpreendentemente doloroso.
- Escute, sua putinha, jantamos juntos, não foi? Quero dizer, porra, o que você acha...
Havia uma expressão no rosto dele que ela não queria ver nunca mais, e subitamente a conversa anterior com Hermione veio-lhe à mente... “se ele se comportar mal, você pode bater nele”... e ela livrou o braço, e algo na sua fisionomia disse a ele que não insistisse.
- Não sei o que você acha, meu chapa. Mas sei o que e acho. E acredito que você ficará extremamente arrependido se me tocar de novo. Boa noite.
Ela já havia ido embora antes que ele pudesse reagir, e foram os garçons que lhe agüentaram a raiva, enquanto ele varria a mesa com o braço, derrubando as xícaras e os copos no chão. Foram precisos dois garçons para convencê-lo de que o que estava querendo era ar fresco.
A esta altura, Gina estava quase em casa. Enquanto subia sossegadamente a última ladeira que levava à sua casa, o ar noturno era suave no seu rosto, e ela se sentia surpreendentemente calma. Havia sido uma merda de noite, mas estava livre dele, e jamais teria que vê-lo novamente. Homens como aquele a deixavam toda arrepiada de nojo, mas pelo menos sabia como lidar com eles, e consigo mesma. A princípio, noites como aquela a deixava apavorada, no entanto, a esta altura, já havia saído com todos os tipos... todos os tipos desagradáveis na praça. Os bons estavam casados, ou escondidos em algum canto, e os que sobravam eram todos iguais: bebiam demais, riam demais, ou não riam, eram afetados, ou neuróticos, ou homossexuais limítrofes, curtiam tóxicos, ou sexo grupal, ou queriam contar que não tinham uma ereção há quatro anos por causa do que as ex-mulheres haviam feito com eles. Ela estava começando a se perguntar se não se sentiria melhor ficando em casa sozinha. A vida libertina não era muito divertida.
- Que tal foi ontem à noite? - Gina perguntou primeiro à Hermione, quando esta entrou na loja, na manhã seguinte. Estava esperando driblar as perguntas de Hermione, desse jeito. Não tinha vontade de falar sobre o Mário.
- Até que foi uma noite agradável. Não desgostei.
Parecia feliz, relaxada, e quase surpresa. Ao contrario de Gina, ela não esperava divertir-se quando saía com um homem. Aquilo a tornava mais fácil de agradar.
- Que tal foi a sua noite? Acho que cruzei com o seu galã quando ia saindo.
- É, acho que foi. Uma pena que você não o fez tropeçar.
- Foi tão ruim assim, é? – perguntou Hermione. Parecia estar com pena, o que ainda doía mais.
- Na verdade, consideravelmente pior. Foi o fim da picada. - Na opinião de Hermione, a cara dela não negava. - Bem, vamos voltar ao batente.
Gina conseguiu dar um ligeiro sorriso enquanto folheava a correspondência, separando as contas das outras correspondências. Parou apenas por um momento para olhar para o envelope branco, simples e comprido, antes de rasgá-lo ao meio e jogar os pedaços na cesta de papel. Outra carta do Harry. Hermione ficava magoada cada vez que via Gina fazer isso. Parecia tão cruel, um desperdício tão grande. Perguntava-se se Harry saberia, ou suspeitaria, que Gina não estava lendo as suas cartas. Perguntava-se o que ele diria naquelas cartas.
- Não fique com essa cara, Mione. - A voz de Gina interrompeu os seus pensamentos.
- Que cara?
- Como se eu estivesse arrancando fora o seu coração cada vez que jogo fora as cartas dele.
Continuava a separar a correspondência, parecendo quase indiferente. Mas não totalmente. Hermione viu a mão dela tremer só um pouquinho.
- Mas por que você faz isso?
- Porque não temos mais nada a nos dizer. Não quero ouvir, nem ler, nem abrir nenhuma porta. Não daria certo. Não quero marcar bobeira de entrar num diálogo com ele.
- Mas não acha que devia lhe dar uma chance do dizer o que pensa? Assim parece tão injusto. - Os olhos de Hermione eram quase súplicas, e Gina voltou a olhar para a correspondência enquanto respondia:
- Não faz mal. Estou pouco me lixando para o que ele diga. Já me resolvi. Ele agora só conseguiria tornar as coisas mais difíceis. Não poderia modificar nada.
-Tem certeza de que quer o divórcio?
Gina ergueu os olhos antes de responder, e fitou Hermione dentro dos olhos.
- Sim. Tenho certeza.
A despeito dos ‘Mários’, da solidão e do vazio, ainda estava certa de que o divórcio era a coisa certa. Mas isso não significava que não doesse.
Nesse momento, duas freguesas entraram na loja e pouparam a Gina o dissabor de novas discussões. Kasuco tinha saído e Hermione teve que se oferecer para ajudá-las. Gina entrou em seu escritório e fechou a porta suavemente. Hermione sabia o que aquilo significava. O assunto estava encerrado. Sempre estava.
Depois deste ocorrido seguiu-se um dia cheio, uma semana cheia, um mês cheio. A loja agora estava em ótima forma, e o pessoal estava fazendo as compras de verão.
Recebiam de vez em quando postais de Vivian, que já estava grávida, e Kasuco resolvera deixar o cabelo crescer de novo. A vida retornara aos detalhes triviais: quem ia para a França, qual seria o novo comprimento de bainha, se deviam ou não pintar a fachada da loja, o plantio de novos gerânios no pequeno jardim do apartamento de Kasuco. Gina nunca cessava de sentir gratidão pelas trivialidades. A orquestração na sua vida tinha sido sombria por tempo demais; agora era Mozart e Vivaldi de novo. Simples e fácil o leve. E tendo tomado a decisão de pedir o divórcio, não sobravam grandes decisões.
Era quase como se a história de horror nunca tivesse acontecido. O anel de esmeraldas da mãe estava de volta ao banco, em segurança. Os títulos de propriedade da casa e da loja estavam livres e desimpedidos de novo. A loja estava firme, de novo. Mas havia tido mudanças. Muito mais do que ela gostaria de admitir. E ela também se modificara. Estava mais independente, menos assustada, mais madura. A vida seguia o seu curso.
Estavam todos tomando café na boutique, certa manhã, quando Gina se pós de pé e começou a mexer nos vestidos de uma certa seção.
- Está planejando cortar dez ou 20 centímetros da sua altura? - indagou Hermione com um sorriso, vendo Gina mexer nos tamanhos 40.
- Ora, cale a boca. - Olhou por cima do ombro com um sorriso, depois franziu a testa. - Kasuco, qual é o tamanho que a Vivian costuma usar?
- Ah, Jesus, essa é dureza. Tamanho 38 nos quadris, e 48 na parte de cima.
- Fantástico. Então, que manequim você diria, para uma bata?
- Manequim 40.
- Era o que eu estava procurando. - Lançou um olhar vitorioso para Hermione. - Pensei que devíamos mandar-lhe um presente. O garoto com quem se casou não tem muito dinheiro, e vai ser difícil ela arranjar coisa que lhe sirva, agora que está grávida. O que acham desses?
Pegou três vestidos estilo bata, da linha de primavera, em coros do sorvete e modelos discretos.
- Legal! - aprovou Kasuco instantaneamente, Hermione pareceu emocionada.
- Que idéia gentil.
Gina parecia quase encabulada enquanto sorria e os entregava para Kasuco.
- Ahhh... que babaquice. - As três riram e Gina voltou a se sentar para tomar o seu café. - Mande-os para ela hoje mesmo, sim, Ka? Acha que devemos mandar alguma coisa para o bebê?
Não sabia por que, mas queria comemorar o bebê de Vivian. Como se ele, ou ela, fosse alguém especial.
- Ainda não. Só vai chegar daqui a meses. Além disso, dá azar. - Hermione parecia pouco à vontade. - Por que todo esse interesse em artigos de maternidade?
- Resolvi que, se nunca vou ser mãe, vou curtir uma de tia. Além do mais, achei que, se começar a puxar o saco dela bem cedo, pode ser que me convide para madrinha.
Hermione riu e Kasuco dobrou os vestidos cuidadosamente numa caixa cheia de papel fino amarelo. Lançou um rápido olhar para Gina, mas esta se levantou e se afastou. Sentia-se subitamente solitária. Ansiando por um filho pela primeira vez na vida. E por que não? Concluiu que era apenas porque estava pronta para amar do novo.
- Ela vai adorá-los, Gi. E quem falou que você nunca vai ser mãe?
Kasuco estava intrigada. Era a primeira vez que Gina falava abertamente sobre filhos. Kasuco sempre desconfiara que Gina devia ter chegado a uma conclusão sobre filhos, mas era raro para ela abrir-se sobre qualquer assunto pessoal. Não era uma dessas mulheres que discutem a sua vida sexual e os seus sonhos mais caros no escritório. Mas Gina parecia estar com uma disposição de tagarelar que lhe era incomum. E não tinha mais o Harry para fazer as suas confidências. Sentia muita falta de alguém com quem conversar, atualmente. Sentou-se mais uma vez, antes de replicar.
- Eu falei que nunca vou ser mãe. Quero dizer... Jesus, já viram o que anda dando sopa por aí? Se o que tenho visto é uma amostragem-padrão, não me interessa propagar a raça. Deviam estar pensando é em extingui-la! - As duas outras mulheres riram, e Gina acabou o seu café. - Abobados, retardados, debilóides, imbecis. Sem falar naqueles que aniquilaram o cérebro com tóxicos, os filhos da puta que estão enganando as mulheres, e aqueles que não têm senso de humor. Vocês esperam que eu me case com um desses e vá ter um bebê? - E então a sua fisionomia ficou séria. - Além disso, sou velha demais.
- Não seja ridícula - manifestou-se Hermione.
- Não estou sendo. Estou sendo honesta. Quando chegar de hora de ter um bebê estarei com 30, talvez 32 anos. Velha demais. A gente deve tê-lo na idade da Vivian. Quantos anos ela tem? Vinte o seis? Vinte e sete? - Kasuco confirmou com a cabeça, e depois fez uma pergunta que balançou as estruturas do Gina:
- Gina.... Você agora se arrepende de não ter tido filhos com Harry?
Fez-se uma longa pausa antes dela responder, e Hermione ficou com medo que ela fosse perder a paciência, ou a compostura, mas não perdeu.
- Não sei. Talvez me arrependa. Talvez apenas possa dizer isso porque nunca estive a raio de quilômetros de uma criança. Mas parece triste... Mais do que triste, um desperdício, vazio, ter vivido tantos anos com um homem e não ter nada. Alguns livros, algumas plantas, alguns móveis, um carro, mas nada real, duradouro, nada que diga “somos”, mesmo que já não o sejamos mais, que diga “eu o amei”, embora não o ame mais. - Havia lágrimas nos seus olhos enquanto dava ligeiramente de ombros e se levantava. Evitou o olhar delas e fez um ar de ocupada enquanto se dirigia de novo para o seu pequeno escritório. – Bem, é isso ai. De volta ao trabalho, senhoras, e não se esqueça de mandar logo os vestidos para Vivian, Ka.
Só voltaram a vê-la de novo na hora do almoço, e nem Hermione nem Kasuco ousaram comentar a conversa.
Mesmo assim, estavam todas basicamente felizes. Gina estava inquieta e cheia dos homens com quem andava saindo, mas não estava infeliz. Não havia mais traumas nem crises na sua vida. E Hermione ainda estava saindo com o mesmo homem do começo da primavera, e gostando mais do que queria admitir. Ele a levava muito ao teatro, colecionava obras de escultores jovens e desconhecidos, e tinha um pequeno apartamento no centro que Hermione finalmente admitiu já ter visitado, mas sua vida era fora do país. Estava passando os fins de semana ali, e por isso Gina não tinha mais notícias dela de sexta até segunda.
Gina também estava ocupada. Trabalhava aos sábados na Lady G, e sempre havia homens novos. O problema era que nunca havia homens “velhos”, homens que conhecia há algum tempo, e em cuja companhia se sentia à vontade. Era sempre a festa do aniversário, nunca os sapatos velhos. Ficava cheia das explicações constantes. ‘Sim, esquio sim, jogo tênis. Não, não gosto de dar longas caminhadas. Sim, sei dirigir. Não, não sou alérgica a mariscos. Prefiro colchões duros, uso sapatos número tal, vestidos número tal, tenho tanto de altura, gosto de anéis, adoro brincos, detesto rubis, adoro esmeraldas...’ Tudo do que está citado acima, nada do que está citado acima. Era como se estivesse constantemente se candidatando a um novo emprego.
Estava tendo novamente dificuldades em dormir, mas tinha se mantido afastada dos comprimidos desde a sua temporada na fazenda. Sabia que não era a solução, e algum dia... algum dinheiro.... alguém apareceria e ela ia ter vontade que ele ficasse. Talvez sim, ou talvez não. Tinha até mesmo considerado a possibilidade de que ninguém aparecesse outra vez. Ninguém que pudesse amar. Era uma idéia horrível, mas admitia a possibilidade. Fora isso o que a fizera arrepender-se súbita e, quase, cruelmente de nunca ter tido filhos. Sempre pensara que tinha a opção. Agora as suas opções haviam desaparecido.
Mas talvez não importasse que ela nunca tivesse filhos, ou amasse outro homem, ou... talvez não importasse, afinal. Ficou imaginando se já teria cumprido o seu destino. Sete anos com Harry, uma explosão no final, uma boutique, e alguns amigos. Quem sabe era só isso. A sua vida agora era toda igual, chocha, sem propósito, e isso a intrigava. Tudo o que tinha a fazer era se levantar, ir para o trabalho, ficar na loja o dia todo, fechá-la às cinco e meia, ir para casa e mudar de roupa, sair para jantar, dizer boa-noite, ir para a cama. E no dia seguinte, tudo recomeçaria de novo. Estava cansada, mas não deprimida. Não estava feliz, mas pelo menos não se sentia assustada ou solitária. Não estava nada. Estava entorpecida.
Harry mandara um recado, por intermédio do Dumbledore, para que ela não vendesse a casa; compraria a parte dela, no futuro, se fosse preciso, mas não queria que a casa fosse vendida. Assim, ela continuava morando lá, mas agora não passava de uma casa. Mantinha-a arrumadinha, ela servia às suas necessidades, era confortável, era familiar, mas pusera todas as coisas de Harry no escritório e o trancara, e a casa perdera metade da sua personalidade quando ela agiu assim. Agora era apenas uma casa. Lady G era apenas uma loja. Ela era apenas uma futura-divorciada no mercado.
- Bom dia, madame. Quer um encontro?
Hermione estava carregando lírios-do-vale quando entrou na loja, e largou um ramo junto à xícara de café de Gina.
- Puxa, mas como você está com uma cara boa para esta hora da manhã!
Gina tentou dar um sorriso e fez uma careta, arrependendo-se da última garrafa de vinho branco da véspera. Mas deixava até a Gina feliz ver Hermione daquele jeito, usando o cabelo solto e maioria das vezes, e com uma luz feliz nos olhos.
- 0K. Srta. Raio de Sol. Que tipo de encontro? - Tentou outro sorriso, e era genuíno. Era impossível não sorrir para Hermione.
- Um encontro com um homem. - Parecia quase uma garotinha.
- É o que espero. Quer dizer um encontro às cegas?
- Não, eu não creio que ele seja cego, Gina. Tem apenas 39 anos.
As duas riram do trocadilho e Gina deu de ombros.
- Tá legal, por que não? Como é ele?
- Um amor, e só um pouquinho “não muito alto”. - Hermione olhou cautelosamente para Gina. - Tem importância?
- Vou ter que debruçar para conversar com ele? - Hermione deu uma risadinha e sacudiu a cabeça.
- Não. E ele é realmente muito simpático. É divorciado.
- E todo mundo não é?
Gina ficava constantemente espantada ao ver quantos casamentos falharam. Não tinha consciência disso antes de pedir o próprio divórcio. Sempre lhe parecera que todo mundo que conhecia era casado. E agora todo mundo que conhecia era divorciado.
Tinham ido jantar os quatro naquela quinta-feira, e o namorado de Hermione era encantador. Elegante, divertido, bonitão e simplesmente seu irmão.
O parceiro de Gina para aquela noite era agradável, gentil, insuportavelmente monótono. Divorciado, com três filhos, trabalhava no departamento de fideicomissos de um banco. Também media 1,70m, e Gina tinha posto sapatos de salto alto. Ficava quase cabeça maior do que ele. Mas quando Hermione sugeriu que fossem dançar, Gina não teve coragem de negar. Pelo menos este não a agarrou na porta de casa. Apertou-lhe a mão, disse que ligaria, enquanto ela tomava nota mentalmente para não esperar prendendo a respiração, e foi para casa sozinho. Ela estava certa de que na manhã seguinte, nem se lembraria do nome dele. Para que se incomodar?
Tirou a roupa e foi para a cama, mas só conseguiu pegar no sono dali a duas horas. Sentiu como se acabasse de fechar os olhos quando o telefone tocou, na manhã seguinte. Era Alvo Dumbledore.
- Gina?
- Não. Verônica Lake.
A sua voz era rouca, e ainda estava semi-adormecida.
- Desculpe se a acordei.
- Tudo bem, tenho que ir trabalhar, de qualquer maneira.
- Tenho uma coisa para você.
- O meu divórcio? - Sentou-se na cama. Não tinha certeza se estava preparada para este tipo de notícia.
- Não. Esse só daqui a quatro meses. Tenho uma outra coisa. Um cheque.
- Pombas, de quê?
Era tudo muito confuso.
- Dez mil libras.
- Meu Deus. Mas, por quê? E de quem?
- Do sócio do seu marido, Gina. Ele terminou o projeto.
- Ah. - Ela expirou cuidadosamente o franziu a tosta. - Bem, ponha-o na conta dele, Dumbledore. Não é meu, pela madrugada.
- É, sim. Ele o endossou para você.
- Bem, então desendosse, merda. Não o quero. - As suas mãos agora tremiam, o a sua voz também.
- Ele falou que era para reembolsá-la dos meus honorários, dos honorários de Moody, e diversas outras coisas.
- Que ridículo. Diga a ele que não quero. Paguei aquelas contas e ele não me deve nada.
- Gina... ele passou o cheque para o seu nome.
- Estou me lixando. Risque o endosso. Rasgue o cheque. Faça o que quiser com ele, mas eu não o quero! - A voz dela estava ficando mais alta, de nervosismo.
- Não pode fazer isso por ele? Parece significar tanto para ele. Acho que é uma questão de integridade. Harry realmente acha que lhe deve isso.
- Bem, está errado.
- Talvez eu esteja errado. - Dumbledore podia sentir uma leve camada de suor a porejar-lhe a testa. - Pode ser que ele apenas esteja querendo dar-lhe um presente.
- Pode ser, mas seja como for, Dumbledore, eu não aceitarei o cheque. - A voz de Dumbledore fora súplice, e ela sacudiu a cabeça com veemência. - Olhe. É simples. Ele não me deve nada. Não quero nada. Não vou aceitar nada. Estou feliz porque terminou o projeto, acho que é maravilhoso para ele. Agora ele deve ficar com o dinheiro e me deixar em paz. Vai precisar de dinheiro quando sair da prisão, de qualquer forma. É isso aí, Dumbledore, não quero o cheque. Fim de papo. Certo?
- Certo.
Parecia derrotado, e eles desligaram. Na sua extremidade do fio, ela tremia; na dele, sentava-se espiando a paisagem, perguntando-se como contaria à Harry. Seus olhos tinham estado tão cheios de vida enquanto falava em reembolsar Gina, e agora Dumbledore teria que lhe contar isso.
O dia de Gina começara mal. Queimou o café, o banho estava frio, deu uma topada na cama, e o jornaleiro esqueceu de entregar o jornal da manhã. Estava com uma cara de meter medo quando chegou na loja. Hermione olhou para ela, encabulada.
- Está bem, está bem, eu sei, você o detestou.
- Detestei quem? - perguntou Gina, subitamente sem tender.
- O cara que lhe apresentamos ontem à noite. Nunca me dera conta que era um chato.
- Bem... É, mas não é por causa disso que estou com raiva, portanto deixe pra lá. - E então ergueu os olhos e viu o rosto de Hermione, magoado e confuso, feito de uma criança. - Ah, Mione, desculpe. Estou num mau-humor do cão. Tudo já deu errado hoje. Dumbledore telefonou de manhã.
- Sobre o quê? - O rosto do Hermione ficou instantaneamente preocupado.
- Harry terminou o projeto.
- E o que há de errado nisso? - A preocupação virou confusão novamente.
- Nada. Exceto que ele está tentando me dar o dinheiro, e eu não o quero, e é um pé no saco, só isso.
Serviu-se de uma xícara de café e se sentou. Mas o rosto de Hermione agora estava grave.
- Agora você sabe como ele costumava se sentir. Aceitando o seu dinheiro.
- Como assim?
- Às vezes é mais fácil dar do que receber.
- Você está parecendo a sua mãe.
- Ainda bem.
Gina balançou a cabeça e entrou no escritório. Ficou lá até a hora do almoço.
Hermione bateu na porta fechada ao meio-dia e meia. Um sorriso estava lutando para escapar do seu rosto sério... Espere só até Gina vê-lo! Forçou as feições a reassumirem uma expressão de assunto oficial e pareceu quase solene quando Gina abriu a porta.
- O que é?
- Temos um problema, Gina.
- Não pode cuidar dele? Estou verificando as faturas.
- Lamento, mas simplesmente não posso tratar disso.
- Formidável. - Gina jogou a caneta na mesa às suas costas e entrou na sala principal. Hermione observava-a nervosamente. Tinha assinado a nota. Talvez Gina a matasse, mas não se importava. Devia tanto à Harry. Gina olhou ao seu redor. Não havia ninguém na loja, exceto Kasuco, que estava ao telefone. - Então? Quem está aqui? Qual é o problema? - Ela estava começando a parecer extremamente irritada.
- É uma entrega, Gina. Lá fora. Fizeram “onda”, e disseram que não iam descarregar aqui dentro. Falaram que não são obrigados a fazer senão entregas de calçada, resmungaram sobre a guia, e foram embora.
- Mas que merda! Já tínhamos discutido isso no mês passado e eu lhe disse que se...
Escancarou a porta e saiu em largas passadas, os olhos faiscando, procurando a entrega na calçada. E então ela o viu. Estacionado na entrada para carros, onde o Jaguar de Hermione estivera um pouco mais cedo.
Era um elegante Morgan de corrida verde, com frisos pretos e bancos de couro vermelho. A capota estava arriada. Era uma beleza, e em condições ainda melhores do que o seu antigo carro. Gina ficou atônita por um momento, depois olhou para Hermione e começou a chorar. Sabia que era do Harry.
N/A Pessoas lindas do meu coração mil desculpas pela demora, mas algumas pessoas já sabiam que eu ficaria um tempinho sem atualizar por causa da reforma da minha casa e depois para ajudar acabei ficando doente, mas finalmente segue o capítulo, no próximo capitulo comentarei todos os comentes, continuem comentando isso me deixa muito feliz, para quem acompanha Em busca do amor estarei atualizando até o domingo, bjos.
N/B: Perdãaao pela demora... sei que abusei, mas não tenho tido muito tempo ¬_¬ Ah, eu ameeei esse capitulo, momentos engraçados... A Gina sabe como ser engraçada quando quer!! Que perfeito a Mione com o Rony... Acabei rindo com o ‘simplesmente seu irmão’. Rssrs! A Gina não ta tendo sorte com os paqueras dela... isso que dar abandonar o Harry! Huehuehe... Que fofa a Mione entregando o carro pra Gina *-* Arrassou no capítulo!
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