Estrondo e luz
Danniel trancou a porta da cabine em meio a um bocejo e se dirigiu para a janela. Fechou a cortina com um puxão, deixando apenas um pequeno facho de luz tremeluzente na parede a sua frente. Sentou-se e se acomodou, sentindo o sono invadir seu corpo e os olhos se fecharem antes que pudesse bocejar a segunda vez... Em segundos, dormia a sono solto.
Para ele, a sensação era de que não havia se passado nem uma hora quando acordou. Alguma coisa não estava certa, ainda tinha sono, então, porque estava acordado? Em segundos entendeu o por que, quando passos apressados reboaram do lado de fora. Pequenas batidas na porta.
-Tem alguém ai? – Uma voz perguntou do lado de fora. Danniel decidiu ignorar, se não houvesse resposta, talvez fosse embora. Quem quer que fosse, tentou abrir a porta. Trancada, é claro, veio seguida de outra batida, desta vez mais forte.
-Tem alguém ai dentro?
Nada, dessa vez, foram mais murros que batidas. Dan, mesmo assim, ignorou, e apenas cobriu os ouvidos com seu casaco. Silencio...E então...
-ALOHOMORA!
A porta abriu num baque tão violento que Danniel chegou a saltar de susto, cobrindo os olhos logo depois, da claridade que vinha do corredor.
-Não está aqui... Oh, droga, onde mais posso verificar...?
-Será que dava pra fechar essa maldita porta?
-Quê?
O garoto conseguiu espiar entre os dedos, e apesar da luz ainda machucar seus olhos, foi capaz de identificar a silhueta de uma menina contra o batente da porta. Certamente, a responsável pela invasão, pois tinha a varinha na mão direita, e olhava para ele surpresa.
-Ah, desculpe, não sabia que estava dormindo, mas se tivesse atendido a porta...
-O que você quer? – Perguntou o menino mal-humorado.
-Estou procurando por Edward Flatterhat. – Respondeu a menina, consultando um pergaminho.
-No vagão dos monitores. – Danniel respondeu, cobrindo a cabeça com o casaco e se preparando para voltar a dormir. A menina agradeceu e saiu fechando a porta. Ele fechou os olhos, esperando voltar a dormir, ficou assim por uns cinco minutos, até desistir, o susto da porta arrombada o tinha despertado completamente. Levantou-se xingando e abriu as cortinas.
Já era noite, isso ele já sabia, devido à inundação de claridade do corredor há poucos minutos, o que significava que as luzes já estavam acesas. Quase não se via nada do lado de fora da janela, o que só podia significar que estavam chegando.
Danniel trocou suas roupas normais pelas vestes da escola, e estava terminando de se calçar quando Edward apareceu na porta, ofegante.
-Uma garota veio te procurar. – Informou Dan, ficando em pé e agarrando
sua mala.
-Sei... – Respondeu o amigo, recuperando o fôlego. – Uns desencontros... Mas já estamos chegando...
-Ótimo, com essa de dormir, não comi nada. – Murmurou Danniel, se espreguiçando, quando percebeu o cansaço do outro. – Andou correndo?
-Já disse, tivemos uns desencontros...Maldita coruja.
-Vou ignorar que é melhor, certo?
Edward ergueu o rosto, ainda curvado de cansaço, enquanto Danniel se sentava novamente, fazendo um gesto para que ele continuasse.
-Algum engraçadinho achou que seria muito divertido trocar bilhetes a distancia usando uma coruja. – explicou o louro, sentando-se de frente para o amigo. – Sabe, para colegas no trem, quando conseguimos pega-la, já estava com as penas todas reviradas.
-E quem foi?
Dan estava, obviamente, se esforçando para não rir; a idéia da coruja lhe pareceu o tipo de coisa que eles próprios fariam alguns anos antes.
-...os gêmeos Wesley. Você sabe, os novos, irmãos do Gui e do Carlinhos.
-Ahhh...Eles bem disseram que esses eram impossíveis...Irmãos do Percy também não? Eu me pergunto quantos irmãos Wesley existem.
-Ainda faltam dois, um menino e uma menina caçula. – Respondeu Edward, jogando a cabeça para trás e fechando os olhos. – Mas eu vou te contar, esses gêmeos vão ser páreo duro, até pra você.
Danniel riu, olhando pela janela e vendo, com um olhar saudoso, o grande castelo se aproximar. Uma névoa fina cobria o chão e o luar brilhava, dando a escola um ar ainda mais misterioso do que o normal.
-Vamos, o trem já vai parar, se ficarmos aqui, vamos ser deixados para trás.
-Tá...Escuta, Ed...
Danniel parou no arco da porta, exatamente onde a menina procurando por Ed tinha estado, e olhava com uma expressão séria e dura para o amigo.
-O que foi?
-Ah...É só...Não me delata, tá? – Pediu o moreno. Ed chegou a pensar que se passava de uma brincadeira, mas mudou de opinião ao ver que a expressão de Dan não se abalara.
-Claro que não, mas tem uma coisa.
Voltaram a andar pelo corredor do vagão, juntando-se aos outros estudantes que se preparavam para desembarcar, enquanto o trem perdia gradualmente a velocidade.
-O que? Vai fazer chantagem agora?
-Não seja tonto! Mas eu não sou o único monitor lembra? Minha parceira da Griffinoria pode não ser tão compreensiva.
-Hum...Parceira, é? – Debochou Dan, cutucando Ed nas costelas e fazendo-o fechar a cara. – Tudo bem então, quem é ela?
-Não sei – Respondeu, arrumando suas vestes. – Ela não apareceu no vagão; um péssimo começo, se quer saber.
-Mas se não souber quem é o inimigo, como poderei eu me defender??? – Danniel fez uma pose dramática, resultando em risadinhas vindas de um grupinho de meninas do primeiro ano.
-Vai acabar descobrindo, cedo ou tarde. – Respondeu Edward, rindo da encenação e fazendo as meninas pararem imediatamente, para depois ir mais ainda. – Mas você poderia, por favor, parar com isso? Sabe que é extremamente irritante...Todas as risadinhas e gritinhos.
-Eu não faço nada, quem grita são elas.
-Você faz de propósito. – Frisou o monitor, fechando a cara quando as meninas explodiram em risadinhas ao serem indicadas.
Danniel deu ombros, saindo para a noite estrelada na pequena plataforma de Hogsmeade. Respirou fundo o ar da noite e se virou para o colega, que o encarava com uma expressão divertida.
-Você parece um perdigueiro fazendo isso sabia?
-Um o quê? – Perguntou o moreno, fingido-se de ofendido.
-É um tipo de cachorro. – Os dois entraram em uma das carruagens puxadas por cavalos invisíveis, junto com uma segundanista loira, aparentemente muito interessada no teto.
Ed pareceu achar realmente graça no ímpeto da menina para encontra-lo, o que inclua o fato de ela ter arrombado a porta da cabine, mas realmente não fazia idéia do porque dela o estar procurando. A viagem cheia de solavancos transcorreu sem transtornos, tirando, talvez, o fato que na hora da pobre menina desembarcar, a carruagem tenha se mexido e feito ela cair bem em cima dos dois. Ao chegarem nas grandes portas de carvalho do castelo, Dan suspirou.
-É agora que fica chato. – Murmurou.
-Por que não fala com Snape sobre isso?
-Tá maluco? Não mesmo, só ia piorar as coisas! – Exclamou Danniel, atravessando o grande portal.
-Mesmo assim, algum dia você vai se machucar de verdade, e ai é que eu quero ver como vai se virar.
O outro deu ombros e entrou no salão principal. Lá estavam, as quatro mesas longas e já coalhadas de estudantes, e no outro extremo do salão, o grande caldeirão, onde Alvo Dumbledore estudava todo o ambiente, com um perceptível brilho de satisfação nos olhos. Edward olhou para o amigo, com um olhar solidário.
Este simplesmente deu um sorriso amarelo e se dirigiu para uma mesa, no outro extremo do salão. Já sentia os olhares sobre si. Sabia que o tormento logo ia começar. Vaias, urros, provocações, e finalmente, a repulsa... Mas tudo bem, estava acostumado. Enquanto o amigo se dirigia para a mesa da Griffinoria, onde era esperado, ele caminhava para a sua sina.
Ah...Como é difícil ser um Sonserino solitário.
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