Volta...Triunfante?



Era uma noite relativamente calma, num bairro residencial de Londres. As casas de tijolos, uma ao lado da outra, estavam escuras e silenciosas. Todas as janelas de todos os andares estavam fechadas para manter o interior quente e aconchegante, pesar de ser verão, pois a região não era das mais quentes. Todas, menos uma.

No terceiro e ultimo andar de uma casa, já no fim da rua, uma das janelas se encontrava escancarada e com as cortinas puxadas. Da rua podia ser imperceptível, mas o abajur da mesa de cabeceira estava aceso e projetava uma luz alaranjada sobre o quarto. Ignorando completamente as horas, um rapaz literalmente desmontava seu armário.

-Onde está? Onde raios ela pode estar? Eu vi hoje de manha, não pode ter simplesmente criado pernas e... Ah... Espera, pode sim, mas onde será que eu...

A porta abriu e um pequeno garoto entrou, com um olhar cansado.

-Danny, será que você podia ficar quieto pra eu dormir?Assim a gente vai perder o trem amanha de manha!

O pequenino era uma versão escrita (e com alguns erros propositais) do mais velho. Os dois tinham cabelos preto-acinzentados finos e bagunçados, que cobriam parte dos olhos, castanhos muito claro, chegando próximo do mel.

-Desculpe, Peter, mas eu não consigo achar minha varinha! – Continuou o rapaz desesperado enquanto começava a abrir todas as gavetas da cômoda.

-Aff...Está ali, em cima da mesa de cabeceira. – Apontou o menino, enquanto esfregava os olhos, cansado.

-Ah...é mesmo, obrigada, maninho.

Danniel e Peter Spedler, apesar de parecidos fisicamente, eram bem diferentes. O primeiro tinha acabado de completar quinze anos a poucos dias. Era muito atrapalhado e um pouco...Ah...Sem-noção, na verdade, ele não estava nem ai para nada.

Mas não Peter. Ele completara doze anos a dois meses e estaria indo para Hogwarts pelo segundo ano...Era muito mais atento e preocupado com as coisas...Saiu do quarto bocejando e deixou seu irmão sozinho novamente.
Danniel desfez o sorriso despreocupado e puxou um pedaço de pergaminho, escrito com uma letra impecável que com certeza não era dele, e voltou a fitar a lista que seu melhor amigo, Edward, tinha enviado.

Eles haviam se conhecido no primeiro ano da escola, durante uma aula dupla de feitiços, acabando por se tornarem melhores amigos.Dês de então, como Danniel tinha, como diziam os professores, a cabeça mais que oca, todo ano Edward lhe enviava uma lista de coisas para não esquecer em casa. Como devem ter visto, a varinha era uma delas.

Sorriu, ao que parece, estava tudo no malão. O que não queria dizer muita coisa também, porque organização não era seu forte, mas ao menos estava levando tudo de essencial. Caminhou devagar até a cama e se largou, olhando o céu negro do lado de fora.

Como adorava aquele céu, mas com certeza não visto dali. Não...Hogwarts sim tinha um céu belo...Virou-se na cama e dormiu, com o pensamento que, amanha, àquela hora, estaria olhando para aquele céu tão maravilhoso...Quem sabe, ai então, ele se sentisse realmente completo.



-Danniel, acorda maninho! Anda logo, nós vamos perder o trem desse jeito! – Peter, já vestido e com as malas prontas, sacudia de leve o irmão...Há aparentemente alguns minutos, sem o menor resultado. Hora de medidas drásticas.

– DANNIEL, SE EU PERDER O EXPRESSO PRA ESCOLA EU JURO QUE EU ACABO COM A SUA COLEÇÃO DE FEIJÕEZINHOS DE TODOS OS SABORES, ENTÃO TRATA DE ACORDAR, TÁ ESCUTANDO???

-Ah, cala a boca... – Respondeu o irmão, cobrindo a cabeça com o travesseiro.

-EU TO FALANDO SÉRIO!!!!

-Tá bom, tá bom, já entendi...Eu durmo no trem, mas que coisa, vocês... – Danniel se levantou preguiçosamente e se espreguiçou, diante do olhar reprovador do irmão. – O carro já está ai?

-Ainda não, papai disse que se você não terminar de tomar café quando ele chegar, vamos sem você.

Danny bocejou desinteressado e começou a trocar de roupa, que já tinha deixado separada na noite anterior, enquanto observava da janela os primeiros vizinhos saindo de suas casas. Em cinco minutos, já estava na cozinha de madeira, comendo uma torrada coberta de geléia.

-E então, vai encontrar com o Ed na plataforma? – Perguntou o menor, espiando a pilha de torradas na frente do irmão.

-Nah, ele disse que tinha umas coisas pra arrumar, ou coisa que o valha.

O menino acompanhou mais uma mordida do irmão e ergueu uma sobrancelha. Chegou a abrir a boca para falar, mas mudou de idéia e virou o rosto para a janela da cozinha, onde um antiquado carro verde tinha acabado de estacionar, cantando os pneus.

-Vamos indo, já estamos atrasados! – Um homem alto e magro irrompeu na porta da frente, caminhando até os filhos e tirando o prato de torradas da frente do mais velho. Jonathan Spedler era esguio e jovem, mas parecia constantemente abatido; suas vestes, como sempre, estavam sujas de lama na barra e remendadas em vários pontos. Tinha cabelos negros eram compridos e despenteados, passando de seus ombros, e olhos pequenos como avelãs.

-Gmffng. – Murmurou Danniel, com a boca cheia de torrada, tomando o prato das mãos do pai e caminhando para o lado de fora da casa. Enquanto isso, este fazia os malões levitarem poucos centímetros do chão e seguirem até o bruxo de terno verde que aguardava fora do carro com um aceno de varinha.

Era difícil dizer se o motorista tinha uma habilidade sobre humana para dirigir ou se o carro estava simplesmente guiando por si mesmo, tendo em vista que chegaram na estação King’s Cross em menos de quinze minutos, sendo que teriam atropelado cinco pessoas, atravessado duas paredes, batido em dezoito carros, destruído sete caixas de correio, arrancado doze postes e perfurado uma cerca viva se tivessem realizado as manobras com um carro normal.

Com as malas devidamente descarregadas e arrumadas em carrinhos, depois de se despedirem do bruxo/motorista, os três se dirigiram para as plataformas. Seis... Sete...Oito... Nove. Caminharam tranqüilamente por entre os arcos das plataformas. A essa altura do campeonato, Danniel já tinha terminado as torradas e mantinha uma discussão acalorada com o irmão a respeito da importância de esportes não mágicos para os trouxas (Peter simplesmente se recusava a aceitar a coerência de homens correndo atrás de uma bola, quanto mais da idéia de ter de enfia-la num gol). Encostaram-se displicentemente no arco entre as plataformas nove e dez e deslizaram para dentro da plataforma, atravessando a parede sólida.

-Eles simplesmente acham que é divertido! Qual o problema niss...EI! ED!!!

Danniel ergueu um dos braços, quando um rapaz louro saiu de dentro do trem, absorto lendo um pergaminho. O rapaz ergueu os olhos de súbito e acenou de volta, obviamente pego de surpresa, e se aproximou do grupo.

-Já com suas vestes? – Perguntou Danniel, olhando para o uniforme preto impecável do amigo. Ed tinha cabelos louros brilhantes e lisos, impecavelmente penteados, e olhos violáceos angulosos. O rapaz cumprimentou o pai do amigo e sorriu para Peter, antes de virar-se para Danniel. Pra quem o visse, ia achar que Edward era a pessoa mais séria de Londres, mas não se enganem, com o estimulo certo...Ele é o pesadelo de qualquer professor.

-Monitor, lembra? – Respondeu o rapaz, apontando para o próprio peito, onde um distintivo reluzente com um grande M estava preso.

-Ah...É, eu acho que você falou alguma coisa a respeito na ultima carta... – Danniel murmurou em meio a um bocejo.

-Você passou a noite toda acordado, de novo? – Observou Edward, erguendo uma das sobrancelhas em desaprovação. Ao ver o gesto despreocupado do amigo com a mão, suspirou resignado. – As férias já acabaram, sabia?

-Eu reponho na viagem, se você agora é monitor, vai ter que ficar em outro vagão, não é?

Ed ainda chegou a abrir a boca para responder, mas não pensou em nenhuma replica ao comentário e fechou-a de novo. Como se desse à discussão por encerrada, Peter empurrou o carrinho com a bagagem em direção a um dos vagões, descarregando com ajuda do pai, enquanto Danniel e Edward os acompanhavam um pouco atrás, provavelmente comentando a nova posição do louro.

-Falando sério, eu não sou muito melhor que você...

-Isso tudo é uma questão de pose, Ed. Você sabe que fingir de bonzinho é um quesito em que você me deixa para trás. – Dizia o moreno, sorrindo enquanto dava tapinhas nas costas do amigo, como se o consolasse.

-Pode ser... – Respondeu o outro, erguendo uma sobrancelha, incerto. – Mas isso deveria complicar um pouco as coisas, sabe, toda aquela historia da sala comunal...

-Só se você me delatar.

-Mas essa vai ser minha função!!!

-Então me delate, ora. – Danniel colocou os braços por trás da cabeça, despreocupadamente. – Vai ser até melhor, é só ter um papo com Dumbledore pra resolver a situação. Se bem que eu duvido que ele não saiba.

-Mesmo assim, se o fato de você entrar na sala comunal da Griffinoria se tornar publico, não vai ter muita coisa que o diretor possa fazer...

-Já disse que só vai acontecer se você me delatar. – Concluiu Danniel, visivelmente perturbado, parando ao lado do irmão na porta do vagão. Edward ficou quieto, tinha desistido de insistir.

-Muito bem então, vamos as recomendações... – Disse o Sr. Spedler, chamando a atenção dos garotos. - ...apesar de eu não achar que vai servir de alguma coisa. Dan, eu não quero receber outra carta do diretor logo na primeira semana de aulas, faça o favor de esperar antes de explodir algum banheiro, sim? E você Peter, não preciso de relatórios semanais sobre o seu desempenho escolar; fico feliz com suas cartas, mas é ridículo escrever para relatar cada conquista acadêmica.

Os dois assentiram com a cabeça e receberam um abraço de despedida do homem, antes de subirem no trem e rumarem para o fim do vagão. Peter se separou dos dois na metade do caminho, por ter encontrado um menino de cabelos cor cobre na metade do caminho, e se dirigiu para a cabine do colega. Já Ed e Dan seguiram até a ultima cabine, a que ocupavam por habito há cinco anos. Danniel colocou sua mala de mão no bagageiro e se virou, fingindo um sobressalto ao se virar para Ed.

-Você ainda está aqui? Vamos, vá receber suas instruções que eu vou botar o sono em dia. – Disse ele, arrumando seu casaco próximo a janela para servir de travesseiro. Danniel não deu nem tempo do amigo falar; quando Ed percebeu, já estava no corredor, ouvindo a porta ser trancada atrás de si. Ainda chegou a amarrar a cara, mas de certa forma, obedeceu e saiu andando pelo corredor.

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