A aluna das folhas de chá
Foi um alívio finalmente pisar na terra firme de Hogsmeade e tirar a capa, tanto para Julie quanto para Harry.
_ Bom, pelo menos chegamos. _ disse Julie recuperando o ar, aparentemente ela tinha prendido a respiração na descida.
Harry a deixou se recompor e prestou atenção a sua volta. Todo aquele lugar lhe era familiar, mas estranho ao mesmo tempo. O vilarejo tinha se desenvolvido, mas a rua principal, com as lojas que eram invadidas pelos alunos, continuava ali. Ele teve a sensação esquisita de que a qualquer momento veria Hermione, Rony e Gina saindo aos risos da Dedosdemel.
_ Isso não parece ser uma escola de magia. _ disse Julie parando ao lado dele e olhando em volta.
_ Lá. _ Harry apontou para adiante onde as torres de Hogwarts eram visíveis por detrás das árvores. _ Mas antes temos que avisar da nossa chegada. Minerva Mcgonnagal é a diretora?
_ Até onde eu sei, sim.
_ Não vão nos deixar entrar se não nos anunciarmos antes. Vamos mandar uma coruja.
_ ... não gosto de corujas. _ resmungou ela o seguindo pela rua larga.
Depois de receberem uma resposta com a autorização para entrarem nos terrenos da escola, os dois seguiram o resto do caminho andando. A paisagem de primavera também trouxe várias lembranças para Harry, que por várias vezes teve que ser apressado por Julie para poderem chegar logo.
Enfim, os portões com os javalis ficaram visíveis, e também já havia alguém esperando por eles. Um velhinho encurvado, apoiado em uma bengala e com uma expressão de pouquíssimos amigos aguardava pela entrada deles. Harry não pode conter uma exclamação quando reconheceu no velho o abominável zelador Argo Filch com os cabelos totalmente brancos.
_ Eu conheço você! _ disse ele encarando Harry com um olhar torto sem cerimônias e mantendo o ar rabugento _ Nunca esqueço de um malandro encrenqueiro!
_ Olá, sr Filch. _ disse Harry tentando parecer amigável _ Viemos falar com a diretora.
_ Ah, ela com certeza ficará encantada de vê-lo, Potter._ esganiçou ele _ Mas não espere o mesmo da minha parte!
E ele os conduziu pelos terrenos até o castelo, resmungando vez ou outra que antigos alunos não deveriam voltar par a escola, já não bastava os novos que chegava a cada ano?
_ Não liga para ele. _ Harry sussurrou para Julie que parecia estar incerta sobre o que pensar do velho _ É só um velho abor... velho rabugento, não muito diferente de quando eu estudei aqui.
Julie deu um meio sorriso, desconfiada do que Harry quase disse, e passou a dar atenção para o interior do castelo. Não demorou muito para ela não conseguir esconder o seu deslumbramento.
_ Podem aguardar aqui. _ anunciou Filch fazendo-os parar no meio do hall de entrada _ A diretora está no salão principal com os alunos. Irei avisá-la e logo ela virá até vocês.
Aos passos do velho zelador, Harry supôs que o logo não seria um logo muito breve. Então não pôde conter a sua vontade de ficar olhando em volta e relembrando daquele lugar que sempre fora a sua casa.
_ Deve ser incrível viver aqui... _ disse Julie pensativa, estendendo a mão para tocar a parede, mas a encolhendo receosa quase eu instantaneamente _ Parece que cada pedra tem sua própria magia...
Harry engoliu em seco. Mais uma vez se dava conta da situação de Julie. Ele tinha a experiência de alguém que crescerá trouxa e ficara sabendo que era um bruxo, mas e ela que sempre vivera com as coisas maravilhosas que a magia proporcionava e nunca pôde tê-las? Era realmente de apertar o coração pensar em tudo o que ele teve ali naquele castelo e ter ao lado alguém como Julie, que o máximo que teria de Hogwarts é imaginar como seria viver ali.
_ Você estudou aqui? _ perguntou Julie de repetente, mas não esperou uma resposta e continuou _ Mas é claro que estudou, me desculpe. É que... eram só histórias que a Anne contava a cada verão, sabe, a copa das casas, os banquetes, as festas, as aulas...
A voz dela diminuiu até sumir e ela continuou olhando para as ampolas que marcavam a pontuação de cada casa. Harry sentiu uma necessidade enorme de lhe falar algo, mas antes de poder abrir a boca alguém o chamou:
_ Potter! _ A diretora vinha do salão principal.
Com certeza o cargo de direção de Hogwarts tinha legado à professora Mcgonnagal muito mais do que prestígio. Os cabelos brancos, as rugas mais acentuadas, o andar mais lento, porém não menos determinado. Mas a expressão severa continuava com ela, apesar de neste momento ela deixar transparecer um pouco de alegria.
_ Bom dia, diretora. _ cumprimentou Harry educadamente, usando sua melhor pose de Auror _ Estamos aqui para...
_ Eu sei para que vieram aqui, Potter. _ anunciou a professora retomando a sua atitude severa quando parou em frente dele, o mirando de cima a baixo _ Harry Potter, o menino que sobreviveu... _ ela deu um sorriso _ Tenho orgulho de ter sido sua professora, Harry, e espero que não se esqueça disso! Srta. Rostagni? _ ela cumprimentou Julie um tanto friamente, se comparada com as boas vindas de Harry _ Sentimos muito por sua irmã. Sei que buscam algum esclarecimento aqui em Hogwarts, mas receio que terão que agir por conta própria. Amanhã começam os exames finais e os professores estão muito ocupados com seus afazeres. Já avisei á eles para responderem suas perguntas, mas terão que ser breves. Sabem com quais alunos vão precisar falar?
_ Sim, temos alguns nomes. _ disse Julie _ Provavelmente eles poderão nos indicar mais.
_ Muito bem, peguem esta autorização minha, talvez possam precisar. _ ela lhes entregou um pergaminho _ Fiquem a vontade, mas lembrem-se que aqui existem regras e não toleraremos que as transgridam ou levem algum aluno a transgredi-las. Estamos entendidos?
_ Sim, senhora. _ respondeu Harry, e isso o fez pensar que estava parecendo muito mais um aluno do que um auror.
_ Se quiserem, estão convidados para almoçar conosco hoje, mas as investigações não podem estender até a noite. Como já falei teremos exames amanhã, os aluno precisam preparar-se. Qual é o primeiro aluno com que querem falar?
_ Michelle Nigg, Rosemary Dodson e Marilyn Peters.
_ Ah, sim. _ disse a professora _ As companheiras de dormitório de Anne. Elas estão no salão principal. Vou chamá-las para vocês.
Durante toda a manhã, as amigas e colegas de Anne não trouxeram nenhuma informação nova, além de algumas fofocas. Aparentemente Anne mantinha brigas e discussões constantes com uma aluna da Sonserina chamada Beatrice Sweeney.
No almoço, aceitaram o convite da diretora e participaram do almoço no salão principal. Assim, poderiam falar com os professores que talvez trariam algum fato importante que os alunos adolescentes não tivessem notado.
Para o desespero de Harry, eles foram convidados a sentarem na mesa principal. Dali, todos os alunos, que já tinham sido comunicados pelos colegas da presença do auror famoso, poderiam vê-lo, como se estivesse exposto.
_ Poderíamos ter ido almoçar na cozinha. _ ele sussurrou para Julie _ Eu sei onde fica.
_ Eles só querem ver a sua cicatriz. Tente não ficar pensando que estão olhando para você.
_ Não é tão fácil assim... _ resmungou ele lançando um olhar rápido por todas as mesas e percebendo o grande número de cabeças voltadas para ele.
_ Soube que estão investigando sobre o desaparecimento de Anne. _ disse um professor chegando por detrás deles _ Sou a professora Maven, diretora da Corvinal. Muito prazer em conhecê-los, sr Potter, srta Rostagni.
Os dois o cumprimentaram e a professora continuou:
_ Anne era a melhor aluna da Corvinal, destacava-se em tudo o que fazia. E por isso não era bem vista por muitos colegas. Mas tem uma aluna em especial com que vocês deveriam conversar. Beatrice Sweeney.
_ Elas brigavam muito, pelo que ficamos sabendo. _ comentou Julie.
_ Sim, e já sabem o motivo das discussões?
_ Um aluno chamado Ernest Dawood nos disse que era por causa dele _ disse Harry.
_ Dawood nunca perde uma oportunidade para se vangloriar. Ele já foi um motivo sim, mas elas competiam em outra área além do amor. As duas eram adivinhas e costumavam prever o futuro e contabilizar os acertos.
_ Ah, meu Merlin... _ Julie meneou a cabeça incrédula _ Anne fazia isso, mesmo?
_ Não só faziam como Dawood promovia apostas em cima das previsões delas. Mas tem uma diferença básica entre elas. Anne desenvolvia uma pesquisa extensa em astronomia, e era através de uma analise dos astros que ela fazia suas previsões. Já Beatrice via o futuro pelas folhas de chá. É um talento natural dela. Eu acho que vocês deveriam consultá-la e pedir para ela ler as suas sortes.
_ Por que ver nossas sortes? Não deveríamos só fazer algumas perguntas? _ pediu Harry.
_ O melhor meio de conseguirem alguma resposta dela é deixando que ela veja pela xícara. Prestem atenção no que ela fala. Como eu disse, é um talento natural que ela tem.
Beatrice não era uma aluna muito sociável. Filch teve que conduzir Harry e Julie até a sala comunal da Sonserina, onde ela costumava ficar quando os outros alunos aproveitavam o sol nos terrenos do castelo. Ela era um perfeito exemplo de sonseriana mal encarada, mas não passava um ar de charlatanismo como o da professora Sibila.
_ Tomem a primeira. _ ordenou ela enchendo duas xícaras. _ Até a última gota.
Harry achou engraçado uma garota de quinze anos agindo como uma bruxa altamente capacitada e segura do que fazia. Ela tinha cabelos negros que mantinha presos em duas redes, uma em cada lado da cabeça. Não usava jóias que tilintavam, mas tinha uma corrente no pescoço com uma pedra exagerada e de valor questionável. Além disso, usava uma sombra em volta do olho que fazia com que eles parecessem estar flutuando em buracos negros.
Ela fez os mesmos gestos que Harry tinha aprendido em sua primeira aula de adivinhação, e imediatamente alguma coisa gritou dentro dele: adivinhação era uma tremenda bobagem.
_ Primeiro a sua. _ ela disse analisando a xícara de Julie. _ Vejo um nó. _ ela deixou a xícara e se concentrou em Julie _ Você teve muitos problemas, e eles te trouxeram até aqui. O nó representa um perigo adiante, um perigo que você irá enfrentar devido a esses problemas. Tome mais uma. _ ela serviu mais duas xícaras e pegou a xícara de Harry. _ Uma chave. Você encontrará a solução para o mistério, uma chave que irá abrir todo o caminho. Pode ir bebendo a outra. Uma bengala. _ ela disse olhando para a outra xícara de Julie _ Você necessita de apoio, não pode fazer as coisas sozinhas. Precisa que alguém lhe mostre a verdade. A última, por favor. A sua, sr Potter: um triângulo. Um acontecimento inesperado, uma coisa que está além do que pode imaginar... e tem também uma borboleta, no lado do triângulo. Borboletas representam felicidade. Então esse acontecimento inesperado está ligado com a sua felicidade. Mais uma vez. _ ela encheu mais duas xícaras e esperou pacientemente eles conseguirem tomar tudo _ Essa é a última... eu prometo.
Harry e Julie se entreolharam e engoliram todo o conteúdo de uma vez, entregando as xícaras logo em seguida. Mas isso surpreendeu a adivinha que olhou para as duas xícaras, dizendo:
_ Vocês beberam ao mesmo tempo e as entregaram ao mesmo tempo. Isso representa que o que uma diz, complementa o que a outra diz. Uma lua e uma janela... _ ela largou as duas xícaras sobre a mesa e encarou os dois. _ Na vida conseguimos vários amigos que nos dão suporte para seguirmos em frete. _ ela olhou diretamente para Julie _ Mas muitas vezes nós os perdemos, e junto as possibilidades que teríamos e que poderiam ser concretizadas. Porém, no destino, um raio pode cair duas vezes em um mesmo lugar. _ ela olhou para Harry _ Só precisam de um pequeno empurrão... Três galeões.
_ O quê? _ perguntou Harry.
_ O pagamento. _ disse Beatrice com um sorriso de quem tinha feito um bom negócio.
_ Três galeões para ela falar um monte de coisas dedutíveis? _ reclamava Harry depois de terem se afastado bastante da sala comunal da sonserina _ Claro que você pode encontrar algo perigoso investigando o desaparecimento da sua irmã. Claro que eu estou aqui para ajudar e descobrir esse mistério. Você precisa de apoio, claro, estou fazendo o papel da bengala. Um acontecimento inesperado? Estamos em uma investigação, acontecimentos inesperados são conseqüências disso! _ ele olhou para Julie que não dizia nada desde que saíram _ ...Desculpa, você acredita em adivinhação? Eu não nunca tive boas experiências com elas...
_ Não é isso. _ disse ela pensativa _ Aprendi a desconfiar de magias que nem todos têm, mas... o que ela falou por último...
Harry tentou lembrar de todas as palavras:
_ Bom, ela não me pareceu estar falando de algo futuro... na verdade ela não foi nada clara!
_ Isso mesmo.
Harry ficou calado esperando que ela dissesse algo além, mas ela continuou pensando.
_ Bom, essa menina não nos disse nada que ajudasse de imediato. Qual é o nosso próximo passo?
_ Acho… acho que temos que falar com o professor de astronomia dela.
_ A pesquisa que ela desenvolvia. Com certeza esse professor saberá nos dizer coisas muito mais interessantes. Como é o nome dele?
_ Não sei.
_ Não sabe? Mas sua irmã não falava sobre a pesquisa?
_ Sobre a pesquisa sim. Ela a desenvolvia, não o professor. O gênio era ela, não?
Ele ponderou e indicou o caminho para as torres.
Harry bateu na grande porta de madeira ao final de uma longa escadaria em espiral que levava a torre mais alta do castelo. Ouviram um movimento apressado vindo do outro lado e logo a porta foi aberta.
_ Olá. _ disse Harry assim que alguém apareceu, entregando a autorização que tinha ganhado da diretora _ Podemos fazer algumas perguntas, professor? Nós estamos querendo saber sobre... a sua aluna... que _ Harry não conseguiu terminar a frase porque não estava sendo ouvido por ninguém.
O professor encarava fixamente algum ponto além de Harry, não dando a mínima atenção ao que ele falava ou ao pergaminho que ele estendia. Harry olhou para trás e viu uma Julie branca, que se agarrava aos próprios braços como se isso fosse evitar que ela caísse em um profundo abismo.
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