Senhorita aborto



O homem que estava na porta era da mesma altura que Harry, tinha uma vasta cabeleira castanha e olhos claros, com um ar de arrogante.
_ Hum, nunca pensei que um dia chegaria a vê-la aqui. _ disse o professor em um tom que fez Harry lembrar imediatamente de Draco Malfoy.
Julie ainda ficou paralisada, encarando-o por um tempo, até que conseguiu murmurar:
_ ... O que faz aqui?
_ Acho que sou um professor de Hogwarts ou algo do gênero.
_ Mas... Mas eu... a Anne?...
_ O que querem? _ perguntou ele virando-se abruptamente para Harry.
_ Anhm... _ Harry esquecera por um momento _ Viemos perguntar sobre sua aluna Anne Rostagni. Como deve saber ela desapareceu e ainda não foi encontrada, estamos investigando. Sou Harry Potter, auror do Ministério.
O professor deu uma olhada para a testa de Harry para verificar se ele estava falando a verdade mesmo e então os deixou passar, não parecendo nada feliz com isso.
_ Sentem-se, por favor. _ disse o professor indicando educadamente as carteiras em frente a sua mesa _ Não posso demorar muito, tenho uma aula em meia hora.
Harry concordou em ser rápido e sentou-se em uma das carteiras. Julie o imitou em silêncio e não parecia disposta a abrir a boca para nada, evitava ao máximo olhar para o professor.
_ Bom, _ começou Harry vendo que Julie não iria colaborar _ Ficamos sabendo que Anne desenvolvia um projeto ambicioso em astronomia, e os usava também para previsões.
_ Sim. _ concordou o professor.
_ Acha que pode haver alguma relação entre o desaparecimento dela com essas pesquisas?
_ Talvez.
_ … Pode ser mais específico, por favor.
Era evidente que o professor não queria ser mais específico, mas ele não tinha uma autoridade maior do que a de um auror autorizado por sua superiora, então falou:
_ Anne é uma aluna rara. Na área de astronomia, ela entende facilmente coisa que eu levei anos estudando. E ninguém fazia segredo disso aqui na escola. É bem provável que alguém que precise desse talento dela a seqüestrou.
_ Então, não acredita que ela tenha fugido?
_ Fugir? Não. Anne só voltava para casa nas férias por saudades das irmãs. Se não fosse por elas, ficava o ano todo aqui na escola estudando. Se tivesse fugido de casa, com certeza teria vindo para cá.
_ Tem certeza? _ perguntou Harry desconfiando da firmeza com que ele falava.
_ Absoluta. A conheço há muito tempo, senhor Potter, acho que sei mais sobre ela do que a própria Senhorita Aborto aqui.
Harry sentiu um arrepio e olhou para o lado. Julie estava furiosa da mesma forma de quando a tinha conhecido. Ela lançou um olhar mortal para o professor, levantou-se e saiu da sala, fechando a porta com toda a força.
Harry permaneceu olhando para a porta abobado. O professor deu um meio sorriso e disse:
_ Bom, se tiver mais alguma pergunta, senhor Potter, por favor seja breve, eu ainda tenho que regular estes telescópios para o terceiro ano.
_ Não, acho. Se lembrar de algo que possa nos ajudar, professor... _ disse Harry levantando-se _ Nós, anhm, agradecemos.
O professor levantou da sua mesa e começou a retirar os telescópios que estavam em um canto enquanto dizia:
_ Avisarei. Anne faz muita falta em minhas aulas... É melhor se apressar ou sua companheira de investigação acabará se jogando no lago. _ acrescentou ele meneando a cabeça rindo consigo.
_ Hum, certo.
Harry saiu e correu para encontrar Julie. Não tinha entendido o que acontecera. Mas uma coisa era certa, aqueles dois já se conheciam.


Julie tinha realmente ido para fora do castelo. Ela atropelada meia dúzia de alunos enquanto andava pisando duro até a porta principal.
Lá fora já estava começando a anoitecer e uma brisa fraca a acompanhou até o lago. Ela parou na beira olhando para longe, para o céu, onde uma estrela já começava a brilhar. Tinha vontade de gritar bem alto, como se gritando conseguisse tirar tudo o que estava a apertando por dentro. Mas não conseguiu. Não gritaria, por que já tinha aprendido que gritar não resolvia.
_ Julie! _ Harry parou de correr ofegando ao lado dela _ Você vai se jogar no lago?!
Ela não pode evitar e riu.
_ O que foi? _ perguntou Harry confuso.
Julie olhou para superfície espelhada do lago e disse:
_ Nem pular no lago, nem gritar, nem me jogar do telhado, nem entrar correndo dentro de uma caverna de trasgos... nem jogar bombas em crupes...
Harry ficou mais confuso ainda. Teria que começar desde o começo:
_ Você conhece aquele cara?
Ela afirmou com um sinal de cabeça, mas não falou nada.
_ Sabe, _ Harry suspirou _ Não vou pedir que você me conte detalhes pessoais, mas se eles tiverem alguma relação com Anne, não pode ficar escondendo. Ele disse que a conhece melhor do que você mesma.
_ Eu sei. Só me deixa pensar por onde começar... _ ela respirou fundo e disse por fim _ Acho que nosso tempo de investigação aqui acabou. Que tal voltarmos para o vilarejo? Anne falava de um tal Três Vassouras...
Harry achou uma ótima idéia.


_ É realmente um lugarzinho movimentado aqui. _ Julie comentou para Harry quando ele voltou com duas garrafas de cerveja amanteigada _ Tipos estranhos. Não vejo muitas pessoas assim no povoado. Nem seres assim...
_ Hogsmeade é bem famosa. Ela é mais movimentada nos dias em que os alunos vêem passear.
_ Hum... _ ela tomou um gole da bebida e continuou olhando em volta.
_ Então?
_ O quê?
_ Será que tem algo que eu preciso ouvir e que você não me contou?
Julie olhou para a garrafa em suas mãos e pensou um pouco antes de falar:
_ Eu fiz uma coisa horrível há quatro anos atrás.
_ Coisa horrível?
_ Bom, eu realmente não tinha opção e aquela parecia minha única saída, então... não estou tentando me justificar, mas... _ ela deu uma olhada para Harry e viu que ele estava impaciente, então voltou a encarar a garrafa para conseguir falar _ Minha família não foi bem recebida quando foi morar naquele povoado. Eu lembro como se fosse hoje do dia em que chegamos... As famílias mais antigas não gostam de mudanças, sabe? Elas não querem ninguém atrapalhando a vidinha rotineira delas. E eu fui um ‘atrapalhamento’ desde o começo. Eu não tinha capacidade de fazer coisas simples que qualquer criança bruxa faz, como lidar com corujas ou montar vassouras. Os pais não deixavam as outras crianças brincarem comigo. Então eu me afastava, ficava longe dos outros...
“Mas um dia eu conheci o Lee. Ele era um ano mais velho que eu e tentava desesperadamente fugir da mãe, que o abrigava a ser o menininho perfeito que ela queria. Ele foi o meu único amigo durante a infância...”

_Você é idiota ou o quê?! _ perguntou um menino de cabelos castanhos e olhos claros, que não passava dos sete anos, agarrado a um galho de árvore tentando desesperadamente tirar seus pés do alcance de um bando de crupes que rosnavam ferozes _ Acha que pode jogar uma bombinha no meio deles que eles não vão ligar?!
_ Você subiu rapidinho! _ disse uma menina de cabelos cor de palha um pouco menor que ele sentada no mesmo galho ao lado, se divertindo ao olhar as tentativas frustradas dos bichos em tentar alcança-los.
_ Como vamos voltar para casa agora?! _ perguntou o menino arriscando-se a sentar no galho também, sem se soltar do tronco.
_ Uma hora eles vão embora. _ disse a menina.
_ Eu não vou ficar esperando todo esse tempo!
_ Então pede licença para eles!
_ Muito engraçado, Julie. Se eu não voltar para casa antes de escurecer minha mãe vai ficar brava! E pior vai ser se descobrirem que eu estou com você!
A expressão alegre da menina mudou rapidamente. Ela começou a balançar os pés no ar e não olhava diretamente para nada. O menino conseguiu finalmente se sentar firme e percebeu como ela estava.
_ ... Julie?
_ Que foi? _ perguntou ela rude demonstrando todo o seu aborrecimento.
_ Eu não ligo se eles briguem por eu estar com você
Ela sorriu para ele.
_ Eu sei que você não liga, ou não estaria aqui. Mas...
_ É que eles não conhecem você, sabe? Não como eu conheço. Garanto que se eles...
_ Não são só os seus pais, Lee. _ ela olhou para os telhados da casa ao longe, no vilarejo.
Os crupes lá em baixo se acalmaram e se dispersavam aos poucos. Logo eles nem lembravam mais que aqueles dois em cima da árvore tinham atrapalhado suas sonecas com bombinhas e procuravam por coisas mais interessantes, como um gnomo que passara correndo.
_ Acho que podemos voltar agora. _ disse ela verificando em volta _ Eles já foram.
_ Certo. Eu desço primeiAAAAHHHH!!!
_ LEE!!! _ ela desceu o mais rápido que pode para socorrer o menino estatelado no chão. _ Você está bem, Lee?!
_ Ai. _ gemeu ele _ Eu estou vivo.
_ Machucou? _ perguntou ela pegando o braço esfolado dele.
_ Não foi nada. Já tive tombos bem maiores que esse.
Ela riu e sua expressão voltou a ser alegre, esquecida de todos os problemas.
_ Ei, o que vamos fazer amanhã? _ ele perguntou.
_ Ora, o quê? Amanhã você vai ficar mais velho! Já tenho oito bexigas de lama fedida esperando para o momento em que você aparecer no quintal de casa.
_ Então não vou na sua casa amanhã, pronto!
_ Duvido que você não vá!
_ Que apostar?
_ Suas figurinhas de sapos de chocolate?
_ Nem brincando!
E os dois voltaram pelo caminho de terra que levava ao vilarejo.


_ Quantas vezes nós vamos ter que repetir que não é para você vir aqui?!
_ Me solta, Larsen!
_ Não! Dessa vez vai ganhar um castigo para nunca mais esquecer! Mamãe está furiosa com você!
_ Eu só estava brincando!
_ Você sabe muito bem com que pode brincar!
_ Não! Me solta!
_ Cala a boca, Lee!
O menino era arrastado por seu irmão, enquanto Julie ficava olhando sem poder dizer nada, se balançando de vagar no balanço do quintal da sua casa.


_ Não importa se alunos do primeiro ano não pode jogar quadribol! Meu pai já comprou uma vassoura de corrida para mim. Assim que eu começar as aulas de vôo eles vão ver que não podem me deixar fora do time!
_ E em que posição você vai jogar, Al?
_ Qualquer uma. Sou bom em todas!
O grupo da nova geração de alunos de Hogwarts do vilarejo davam gargalhadas. Era uma tarde ensolarada. Eles estavam, escorados em um muro de pedras e cada um contava aos outros o que haviam comprado para a começarem a vida escolar na magia.
_ E você, Lee? O seu irmão é da sonserina, não? Acha que vai para lá também? _ perguntou uma menina de cabelos cacheados.
_ Eu prefiro não escolher por mim mesmo.
_ Ah, todo mundo pensa em ir para alguma casa. _ disse um menino de óculos.
_ Minha mãe falou que eu vou para a corvinal com certeza. _ disse a menina de cabelos cacheados _ Ela disse que é a casa dos bruxos inteligentes.
_ Então o Alphonse não vai para lá!
_ É claro que não! _ defendeu-se o Alphonse _ Eu vou para grifinória!
_ Vamos ver. _ desafiou o de óculos.
_ Shiii. _ fez a menina.
_ Que foi? _ perguntou Alphonse.
_ Aborto chegando.
Lee olhou depressa para a direção que ela indicava com a cabeça. Julie vinha andando carregando uma cesta de compras. Ela procurava de qualquer maneira não olhar para o grupo e apertou o passo para passar logo. Quando ela já estava longe, a menina riu:
_ Por que ela não vai embora daqui de uma vez? Ela não é uma bruxa!
_ Bruxa ou não ela é uma de nós!
_ Ah, Lee! Nem começa a defender! Você deveria ser o primeiro a nem querer olhar para ela! _ reclamou a menina.
_ É mesmo! _ apoiou Alphonse _ Sua família é a mais respeitável daqui e você não deveria ficar junto de gente igual a ela!
Julie não estava longe o suficiente e ouviu o que eles falavam. Ela segurou mais firme a sacola e correu pela rua.
_ Vocês são uns tapados, sabiam? _ disse Lee saindo do muro e indo atrás dela.


Por alguns instantes várias lembranças passaram pela cabeça de Julie e ela se esqueceu do que estava falando. Harry precisou estalar os dedos na frente dela para que acordasse continuasse:
_ ...Bom, nós crescemos e ele me ajudou muito. Principalmente quando meus pais morreram...

A Julie de quinze olhava fixamente para a superfície escura do lago. Colocou os pés descalços na água e não ligou para a sensação gélida que parecia queimar. Ela não queria pensar em mais nada, não queria fazer mais nada, não queria mais estar ali. A única coisa que tinha na mente era continuar andando até sumir naquela profundeza escura e perder todo o ar.
A água cobriu sua cabeça e ela deixou-se afundar. Fechou os olhos e os gritos ainda parecia ecoar na sua cabeça. “MENTIRA!!!” ela berrava a pleno pulmões para o avô “É MENTIRA!!!”, “Julie, eu não mentiria assim! Seus pais foram mortos pelos comensais esta noite! Não podemos fazer mais nada! Você tem que ser forte!”. “É MENTIRA!!!”. “O que aconteceu?!” perguntava Anne, que acordara com os gritos.
Ela correu, descalça, de pijama, correu até não poder mais e caiu no chão chorando, sentido tudo lhe doer para dentro. O que faria agora?... Então lembrou-se do lago.
Abrindo os olhos, viu a luz da lua cintilar a cima dela, junto com seus cabelos violeta. Não havia mais nada, ela só iria afundar.
De repente algo a pegou pela cintura e a puxou para cima. Ela tentou gritar, falando que não, mas não tinha forças para mais nada. Deixou-se levar.
Lee a arrastou até a beira do lago e a cobriu com um casaco enquanto gritava:
_ VOCÊ É MALUCA?!
Ela olhava para o lago. Era para estar lá dentro afundando.
_ Julie?! Você está bem? _ ele pegou o rosto dela com as duas mãos para forçá-la olhar para ele _ Julie?!
Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto dela junto com a água da lago:
_ Eu quero afundar... _ ela jogou o casaco longe e tentou pular de novo no lago _ ME DEIXA AFUNDAR!
_ NÃO! _ Lee a agarrou e os dois caíram no chão.
_ ME SOLTA! _ ela continuou gritando e se debatendo _ EU NÃO TENHO MAIS NADA!
_ SIM, SEUS PAIS MORRERAM! _ ele tentava se sobrepor aos gritos dela _ Mas seu avô e suas irmãs ainda estão aqui e precisam de você! Muito mais agora!
_ Nãããõoo. _ ela viu que era inútil tentar se livrar do abraço dele e parou, desabando sem forças e chorando. _ Eu sou uma inútil! Elas vão ficar melhor sem mim!
_ E eu?! Como eu fico, Julie?
_ Você volta para Hogwarts! Fica lá o ano todo! Todos vocês vão! Só eu não! Me solta, Lee!
_ Eu não vou soltar você! Está me ouvindo? _ ele apertou mais ainda. _ Muitas pessoas estão perdendo familiares dessa mesma maneira! Acha que todas elas ficam se jogando em lagos gelados?!
_ Elas não são como eu!
_ Você é a Julie e sempre vai ser! Podendo usar magia ou não! Você sabe que eu não ligo!
Ela abraçou os braços dele e continuou chorando.
Quando ela saíra correndo de casa tinha todos os motivos do mundo para nunca mais sair daquele lago. Mas agora, sentindo todo o calor de Lee, ela o agradecia em silêncio por ter a salvado.

_ Ele e Anne se davam muito bem, os dois gostavam de estrelas. Quando ele terminou Hogwarts, foi estudar fora do país por dois anos...

_ Sabe quantas estrelas tem no céu, Lee?
_ Muito mais do que você imagina.
_ Um dia eu vou saber o nome de todas elas!
_ Isso é impossível, Anne. Muitas nem ao menos tem nome ainda!
_ Então eu vou dar nomes para todas elas.
_ Anne! _ a cabeça de Julie apareceu na janela ao lado deles e ela parecia apavorada _ O que está fazendo aí?!
_ Estamos vendo as estrelas.
_ Lee! Vocês podem ver estrelas daqui da janela! Não precisam ir para o telhado!
_ E quem disse que é a mesma coisa? Só está falando isso porque nunca as viu desse ângulo aqui.
_ Ela tem medo de vir aqui. _ sussurrou Anne para o garoto.
_ Medo, é?! _ Julie estreitou os olhos aceitando o desafio _ De subir no telhado da minha própria casa?
_ Ah, ela vai vir aqui! _ Anne bateu palmas.
Julie sentou na janela e passou as pernas para fora, se apoiou nas laterais e já estava quase perto deles quando um choro a fez virar depressa:
_ Ah, Sarah!
Ela pisou em falso na sua pressa de voltar para dentro e resvalou. Ao tentar se agarrar na borda do telhado, bateu o cotovelo e não conseguiu, mas mão de Lee a pegou antes que fosse tarde demais.
O choro de Sarah continuava lá dentro, mas agora ele vinha junto com a voz de seu avô tentando acalma-la. Lá fora, Julie estava suspensa pela beira do telhado sendo segurada somente por Lee e este sendo ajudado por Anne.
_ Julie! Você é maluca?! _ ralhou Anne furiosa e assustada ao mesmo tempo.
Julie e Lee começaram a rir e ele a puxou de volta.
_ Desculpa, Anne. _ pediu Julie quando os três estavam em segurança novamente dentro da casa _ Eu não queria ter assustado você.
_ Não faça isso de novo! _ disse a menina em um tom mandão _ Se não sabe andar no telhado da sua própria casa deixe para quem sabe! E você, Lee?! _ ela apontou o dedo para ele como se o estivesse acusando de ser cúmplice da trapalhada da irmã _ Por que não usou sua varinha?
_ Eu? Não posso usar magia fora da escola.
_ Hum... _ ela avaliou a situação _ ... Ainda bem que você é rápido. Julie tem sorte de ter você.
Lee ficou um pouco sem graça e perguntou para disfarçar:
_ O que tem para o jantar?
_ Não acredito que você vai mesmo comer a comida dela... _ lamentou-se Anne saindo para contar ao avô o que tinha acontecido.


Julie riu lembrando de algo e continuou mais animada:
_ Ele sabe da história da minha família sobre a pedra da estrela... Mas como lenda! _ acrescentou ela ao perceber que Harry poderia levantar suspeitas. _ Ele gostava de estrelas e eu tinha uma história sobre estrelas.

Julie e Lee, no último ano de Hogwarts, estavam no morro de onde podia ter uma vista privilegiada do todo o vilarejo.
_ Estrelas não curam ninguém. _ disse Lee ajeitando o seu telescópio para que Julie pudesse ver.
_ Por isso é uma lenda.
_ Eu já ouvi uma história trouxa sobre meteoritos que caem e trazem um ser com super poderes junto. Mas nada parecido com essa sua história.
_ Não precisa levar ela tão a sério! Eu só contei por que ela fala sobre estrelas. Lee e estrelas, tudo a ver.
_ Sei... _ disse ele terminando os ajustes _ Pode olhar.
_ Eu nunca entendi... _ disse ela olhando pela lente _ Algumas dessas estrelas nem existem mais. Qual o sentido disso?
_ Bom... _ Lee cruzou os braços e olhou para o céu _ Acho que se aprendêssemos a olhar para o céu de vez em quando, veríamos que somos menores do que pensamos.
Julie desgrudou da lente e sentou na grama rindo:
_ Devia falar isso para a sua mãe!
_ Para ela pôr veneno na minha comida? Não, obrigada Deixa ela continuar pensando que minha grande ambição é ter todo o poder astronômico do mundo bruxo. Assim ela deixa com que eu continue meus estudos.
_ Lee...
Ele esperou com que ela continuasse, mas ela desviou o olhar para o chão. Então ele sentou ao lado dela e perguntou:
_ Algum problema, Julie?
_ Quando eu era menor, eu pensava que um dia eu iria embora desse lugar, para onde ninguém me olhasse com desprezo. Depois que eu conheci você, eu pensava que qualquer lugar já não seria tão bom, porque você não estaria comigo... Agora a situação inverteu, não? _ ela sorriu para ele novamente, mas um sorriso triste _ Você vai terminar Hogwarts e vai embora, como seu irmão. Eu vou continuar aqui...
Por um momento os dois permaneceram em silêncio.
_ Eu posso sair por uns tempos. Não vou demorar para voltar.
_ A questão não é o tempo que demora... é se você vai querer voltar.
_ Enquanto você estiver aqui eu vou ter sempre uma razão para... _ ele parou de repente o que estava dizendo, sem graça.
_ Eu não sei se vou agüentar ficar aqui sem você do meu lado, Lee. _ ela mudou para alegre como mágica de novo _ Sem ver você ficar todo vermelho quando está prestes a dizer que gosta de mim.
_ É, por mais que todos sempre dissessem que eu não podia gostar... eu gosto de você.
Ela lançou os braços em volta do pescoço dele e disse o encarando séria:
_ E por mais que eu diga para mim mesma que eu não posso amar tanto assim você, eu amo.
Ele riu e a beijou, não pensando em mais nada além de estar ali com ela, naquele momento.

_ Bom, o Lee, um belo dia, terminou Hogwarts. _ disse Julie quando um esbarrão de um duende a fez acordar de seus pensamentos _ A família dele esperava grandes feitos na carreira que ele escolheu.

_ O que vai fazer agora que se formou?
_ Não sei. Afinal, sou a vergonha da família, se esqueceu? Fui para a grifinória, sendo que meu pai e o pai dele se orgulhavam de serem da sonserina e odiavam a casa rival. Não tenho vontade nenhuma de conseguir um cargo no Ministério, como meu irmão... Ah, e isso sem contar o fato de que namoro Julie Rostagni, a professora mais linda do vilarejo!
_ Bobo. _ Julie riu e o abraçou mais forte _ Você não vai continuar aqui, não é?
_ Não para sempre. _ concordou Lee.
_ E então?
Ele olhou fixo para o céu estrelado e pensou antes de falar.
_ Um velho professor da escola sempre me dizia que eu seria um bom astrônomo se continuasse estudando. Que eu deveria fazer um curso fora do país, me especializar.
_ Hum, um astrônomo. Pensei que você tivesse falado que seria um jogador de quadribol.
_ ...Eu tinha oito anos!
_ Mas você falou tão sério que desde aquele dia.... E você é bom em quadribol!
_ Não, obrigado.
_ E então? Você vai?
Ele a encarou e disse:
_ Seriam uns dois anos.
_ Eu quero o melhor para você, Lee. Sabe disso.
_ E se você resolver se jogar no lago de novo? Quem vai te salvar? O Alphonse?
_ Como se aquele idiota soubesse nadar!... Eu não vou me jogar em lago nenhum. Tenho a Anne, tenho a Sarah e tenho você.
_ É bom saber disso... Mas fique longe do lago, ok?
Ela riu. Mas não conseguia fazer com que o pressentimento de que algo poderia mudar se o deixasse ir.

_ ...Meu avô morreu e foi nessa época que eu comecei a ter problemas financeiros. Nosso único bem de valor era a casa, mas eu não queria sair dela e minhas irmãs também não. Eu já era maior de idade e oficialmente responsável por elas, mas eu não conseguia manter meus empregos. Era um vilarejo mágico, então eu não tinha grande utilidade. Consegui o emprego de professora, e isso ajudou muito. Eu também procurava fazer outras coisas para ajudar nas despesas e Anne também me ajudava quando estava de férias. Porém, sabe eu os materiais de Hogwarts não são baratos, e o dinheiro eu meu avô tinha deixado não daria para sustentar os sete anos de estudos de Anne e mais tarde o de Sarah. Foi então que a mãe de Lee me fez uma proposta...

No começo, as cartas de Lee vinham toda a semana. Julie não conseguia mandar cartas por corujas, então dependia totalmente de Anne para enviá-las. Depois elas começaram a atrasar, mas ele explicava que o curso estava exigindo muito dele.
Julie sentia um aperto todas as vezes que olhava para o céu, principalmente durante a noite quando ficava imaginando que estrela eles estaria olhando. Ela tinha Sarah para ocupar seus pensamentos e seus aluninhos da escola. Começara a dar aulas por necessidade, mas no final descobrira uma magia que estava ao seu alcance: ensinar.
As coisas já não eram tão fáceis como antes. Seus pais não lhe deixaram muito dinheiro quando morreram. E seu avô também não. Ela precisava cuidar das irmãs e arcar com as despesas da escola. Poderia não ter tido a oportunidade de ir para Hogwarts, mas as irmãs teriam.
Quando ela já estava começando a contar os dias para a volta de Lee, recebeu uma visita inesperada. Sem cerimônias, a mãe dele entrou na sua casa. Primeiro ela deu uma olhada geral na sala, principalmente para o quadro da família, e então disse:
_ Tenho uma proposta a lhe fazer.
Julie sentiu que não era coisa boa. A mãe de Lee nunca fora uma flor de pessoa. Para falar a verdade, ela pensava seriamente que Lee fosse adotado.
_ Que proposta? _ ela arriscou perguntar, já que a megera não falava.
_ Fique longe do meu filho e eu pago todos os anos de estudos das suas irmãs.
Julie se segurou para não rir na cara dela, mas a velha deixou claro que ela estava falando sério.
_ Meu filho virou o que é hoje por sua causa, menina! Não pensa em crescer, em um futuro promissor! Ele pode ter tudo na vida, mas só quer coisas simples! Deixe-o em paz e você não terá mais que se preocupar com dinheiro. Afaste-se dele! Invente algo. Apesar de não ter magia deve ter um pouco de cérebro aí dentro dessa sua cabeça de uva!
_ Como a senhora pode entrar aqui na minha casa e me pedir uma coisa dessas?! _ perguntou Julie com raiva.
A velha percebeu a estática aumentando a sua volta e respirou dignamente, dizendo:
_ Pense bem, srta, Rostagni. Você não tem muita opção. _ e saiu da mesma forma que entrou.
Depois de alguns dias pensando, Julie percebeu que ela realmente não tinha opções...

_ ... Se eu me afastasse dele, e o deixasse ser um grande bruxo na comunidade mágica como ela tinha planejado, a escola de Anne e Sarah estariam garantidas por ela... Essa foi a coisa horrível: eu aceitei. Eu pensei mais nas minhas irmãs. Eu sou uma inútil, um aborto que não sabe viver como trouxa. Eu não poderia perder a chance de garantir um bom futuro para elas, entende? Acabei aceitando.
_ O que você fez? _ perguntou Harry já começando a suspeitar do final da história.
_ Bom, o Lee voltou e eu falei um monte de coisas que eu não queria. Ele ouviu sem entender. Queria uma explicação, então eu disse que não queria ser uma egoísta e que a minha vida eram as minhas irmãs. Foi uma discussão feia, tanto comigo como na casa dele. Depois disso eu nunca mais o vi. Até hoje… Lee Sharwood… Eu devia suspeitar que a Anne gostasse tanto de astronomia. Ela sempre adorou o Lee, nunca entendeu porque nós brigamos.
_ Puxa, _ Harry deu um meio sorriso _ sabia que um livro sobre a sua vida seria bem mais interessante do que as cinco versões sobre a vida do Menino Que Sobreviveu que estão a venda na Floreios e Borrões?
Julie apertou mais forte a garrafa e disse rindo sem jeito:
_ Isso porque eu não te contei a parte do lago. Eu sou a Garota Que Quase Afundou... Temos que voltar. Eu tenho que dar aula amanhã.
_ Não conseguimos muita coisa aqui, não?
_ O que podemos fazer agora, Harry?
Ele olhou em volta e tentou encaixar todas as informações que tinham conseguido junto com as que já tinha. Mas nenhuma delas apontava para uma nova direção.
_ Julie... Hermione costumava dizer que nós poderíamos ter toda a informação que quiséssemos se procurássemos na biblioteca de Hogwarts. Anne deve ter falado que os documentos históricos guardados lá superam até mesmo os do próprio Ministério. Todo o relato da História bruxa está naquele castelo. E realmente não temos muita opção de busca.
_ Está dizendo para ficarmos aqui para procurar na biblioteca?
_ É uma possibilidade de conseguirmos algo que nos ajude a dar o próximo passo. Eu não tenho uma autorização oficial do Departamento Auror, estou de férias. Não posso simplesmente chegar lá e falar que preciso de documentos antigos sobre o antigo Conselho Supremo para me distrair um pouco.
_ Mas...
Julie engoliu em seco e pensou. Não iriam a tirar do trabalho só porque estava tentando encontrar sua irmã...
_ Ok... Mas só mais um dia!... Preciso mandar uma coruja, faz isso por mim?

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