A promessa de ajudar



No outro dia Harry voltou até a escola e aguardou as aulas terminarem. Matthew passou por ele e nem ao menos o viu, no seu desespero de imitar um pomo de ouro com mais três colegas. Novamente Sarah sentou-se na escada e esperou até irmã sair. Quando Julie apareceu na porta com sua mochila, Harry foi até elas.
Assim que a moça o viu entrando nos terrenos da escola, apresou Sarah e começaram a sair como se não o tivesse notado.
_ Professora Rostagni, podemos conversar um instante? _ Harry perguntou, mas achou estranho chamá-la de professora. Em Hogwarts a maioria dos seus professores eram velhos ou não tão novos. E Julie parecia ser muito mais nova do que ele.
Ela virou-se de má vontade e resmungou alguma coisa que Harry deduziu que fosse um “o quê?” forçado. Ele tentou escolher as melhores palavras para manter um diálogo sem vozes elevadas:
_ Por que não consta no relatório que você não tem magia?
Os olhos dela estreitaram-se, como se dissesse que a resposta era óbvia e ele era um tonto por ainda não a ter enxergado.
_ Eu disse ontem que não sei nada mais além do que está no relatório. _ continuou Harry, não se deixando intimidar _ E não vou poder ajudar se eu não souber do que realmente aconteceu.
Ela permaneceu calada como se avaliasse a situação, e enfim disse rancorosa:
_ Eles não me ouviram desde o início. Não sou grande coisa para bruxos diplomados e de fama como eles.
Harry sentiu uma pontada de zanga pelos companheiros que esqueciam do seu principal dever, ajudar as pessoas, logo depois que seus nomes apreciam no Profeta Diário. Não eram raros os casos em que os Aurors achavam que poderia resolver tudo sozinhos, sem necessitarem das informações que poderiam obter de pessoas que eles consideravam “inferiores”. Harry sempre achara que, deste ângulo, os Aurors não eram muito diferentes dos Comensais.
_ E... se eu dissesse que quero ouvir o que você tem para falar?
Ela o encarou por um tempo e disse séria:
_ Eu diria que finalmente o Ministério parece saber o que faz por nós.
_ Harry Potter vai encontrar a Anne? _ Sarah perguntou baixinho, puxando as vestes da irmã.
Julie a pegou no colo e disse:
_ Isso nós ainda vamos ver. _ e acrescentou olhando para ele _ É melhor não termos esperança desde o início como tínhamos antes, Sarah.
Harry entendeu a indireta e pediu;
_ Posso acompanhar vocês agora? Moram muito longe?
_ Na verdade, _ Julie começou _ agora já era para ter sido há muito tempo atrás!
_ TIO HARRY! _ eles ouviram Matthew correndo até eles. _ Tio Harry! O Charles não acredita que Harry Potter é o meu tio! Mostra a cicatriz para ele acreditar em mim?!
_ Eu tenho que ir com a sua professora agora Matthew. Eu...
_ Pode ir. _ disse Julie _ Eu e Sarah vamos passar em um lugar antes de ir para casa. Você pode ir lá depois, não é longe. Moramos no fim do povoado em uma casa antiga. Tem uma árvore grande na frente com um balanço, não tem como errar.
_ Ok. _ Harry teve tempo de dizer antes de ser arrastado por Matthew até um grupo de amiguinhos seus que aguardavam curiosos.
_ Julie? _ perguntou Sarah _ Acha que ele vai achar a Anne? Os outros Aurors eram bem mais fortes do que ele.
_ Não é questão de força, Sarah. _ Julie manteve o olhar em Harry.
_ O que é então?
_ ... você vai saber logo, meu bem. Vamos?

Harry perdera quase uma hora com os meninos. Todos tinham pergaminhos, penas e fotos dele e pediam autógrafos. Logo a notícia de que Harry estava autografando fotos espalhou-se. Sua sorte era que não haviam tantas crianças no povoado e que elas ficavam contentes com apenas uma assinatura.
Quando chegou na casa das Rostagni já começava a escurecer, e Sarah atendeu a porta com um “até que enfim!”, assim como quando falara com Julie na primeira vez.
_ Julie está fazendo sanduíches de tomate. _ a menina avisou _ E ela disse que vai fazer pra você também, mas que você só vai ganhar se merecer.
_ Se ele merecer mesmo. _ disse Julie aparecendo na sala _ Sarah, pega a caixa do vovô lá em cima para mim? Pode se sentar, senhor Potter. _ ela indicou a mesa antes de voltar para a cozinha _ Já que chegou tarde, vai ter que jantar conosco. Não posso deixar ela ir dormir sem comer.
Harry se sentou agradecendo e passou a observar a casa. Não tanto por curiosidade, mas por profissão: essa era a melhor forma de descobrir algum detalhe que poderia ajudar em uma investigação. A casa indicava totalmente que seus habitantes eram bruxos. Os quadros o olhavam e murmuravam uns com os outros, alguns ainda resmungaram um “Já era tempo!”, assim como as suas descendentes. Mas o que chamou a atenção de Harry foi um quadro com o que parecia ser os falecidos senhor e senhora Rostagni com as filhas ainda pequenas. Lá estava o rostinho inconfundível de Sarah ainda bebê, com seus olhos azuis estalados e um laço rosa nos cabelos castanhos, sentada no colo da mãe. Ao lado delas estava uma menina, com mais ou menos sete anos com os cabelos castanhos presos em duas tranças, que Harry supôs ser Anne Rostagni. E ao lado do senhor Rostagni estava Julie, com um ar de adolescente que não suporta essas reuniões de família para tirar retratos. No quadro ela parecia diferente, mas ao menos tempo semelhante, com a Julie que estava na cozinha, o que poderia ser explicado pelos longos cabelos cor de palha.
_ Sempre no aniversário de uma de nós três, minha mãe coloria nossos cabelos com a cor que quiséssemos.
Harry sobressaltou-se. Não tinha visto que Julie voltara da cozinha com uma bandeja de sanduíches e copos com suco. Ela sentou-se na cadeira oposta da de Harry e continuou encarando o quadro:
_ Era um feitiço que ela aprendera com a minha vó, mas que não tinha muita utilidade porque ele tem um prazo de dois dias para ser removido. Se a pessoa que fez o feitiço não o retirar, ele fica permanentemente... Minha mãe morreu um dia depois do aniversário de um ano da Sarah...
Harry deu uma olhada rápida no cabelo roxo dela, mas se arrependeu assim que percebeu que seria como se alguém estivesse olhando para a sua cicatriz.
_ Eu gosto. _ disse ela pegando uma mecha do cabelo curto _ Pode-se dizer que é a única coisa mágica que existe em mim.
Sarah desceu as escadas trazendo uma caixa de madeira envernizada trancada com um cadeado e a colocou em cima da mesa.
_ Obrigada, Sarah. Agora coma o seu sanduíche e depois vá fazer seus deveres na sala para eu poder falar com o sr Potter, está bem?
Ela concordou mordendo um grande pedaço do pão enquanto Julie abria a caixa. Não havia muita coisa lá dentro, apenas papéis e alguns objetos pequenos.
_ Isso, _ Julie retirou da caixa o que parecia uma moeda e entregou para Harry _ É o símbolo da família Rostagni.
A moeda tinha o desenho em relevo de um dragão estranho. Ele tinha um corpo muito menor do que os dragões comuns, mas não era comprido como o meteoro-chinês. Do seu focinho, como chicotes, saiam dois bigodes. Possuía grandes asas abertas, como as de um morcego, mas o mais chamativo nele era uma estrela no meio da testa.
_ Cada família com um brasão, têm sua história. _ continuou Julie _ Algumas tão fabulosas que, mesmo sendo sobre bruxos, não parecem reais. Porém todas elas têm um fundo de verdade que foram com o tempo sendo mudadas. O que eu vou contar agora já virou lenda e foi esquecida... porém ela é verdadeira.
_ Verdadeira?
_ Sim. _ Julie respirou calmamente pensando em como começar _ Um jovem curandeiro viajando em pelo país e estudando novas poções para cura, encontrou um velho muito doente. Como ele era uma pessoa boa, resolveu cuidar do velho sem cobrar nada. Ao ficar curado, o velho lhe entregou uma pedra, seu único bem. O curandeiro recusou, mas o velho falou que era uma pedra especial e que ele poderia usá-la para fazer novos remédios, então ele acabou aceitando. Muitos anos depois, o filho desse curandeiro ficou doente, uma doença muito rara. Como última esperança para salvar o filho, o curandeiro fez uma poção com aquela pedra. E o menino se curou. Quando outras crianças apareceram com a mesma doença, o curandeiro também usou esse remédio. Porém, depois de curadas, essas crianças ficaram diferentes do que eram antes. Elas eram agressivas, e a magia delas era muito mais forte do que a de bruxos excepcionais. O curandeiro não achou outra explicação a não ser a sua poção. Voltou a procurar o velho para saber o que era na verdade aquela pedra. Encontrou o velho já muito debilitado pela idade e exigiu que ele lhe contasse sobre aquela pedra. O velho, que só esperava a morte, falou que iria lhe contar tudo, não podiam mais fazer nada contra ele. Ele era na verdade Hun, o cem crânios de estrela...
_ Eu ouvi sobre ele! _ disse Harry de repente, mas se calando logo depois. Na verdade lembrara de ter visto algo assim nas anotações de Hermione sobre História da Magia. Achara um nome engraçado na época, mas não lembrava da informação que vinha depois do nome. _ Ele, hum, tinha algo a ver com dragões...
_ Ele matava dragões. _ disse Julie.
_ Isso... _ ele tentou lembrar de algo mais, mas nada lhe veio na cabeça _ E então?
_ Ele contou que achara a pedra um dia, quando a viu caindo do céu, era a sua estrela. Ele queria ser alguém famoso e por isso usava o poder dessa estrela para matar dragões. Hun ficou realmente famoso por ter matado mais de cem dragões. Como prêmio, ele pegava o crânio dos dragões e gravava uma estrela neles. Só que ele não se contentava em matar apenas dragões, ele matou muitos bruxos e trouxas também. Foi perseguido pelos Bruxos Supremos da época, mas nunca fora capturado.
“Ele contou ao curandeiro que seu poder incrível para matar dragões vinha daquela pedra, mas que ele não matara os bruxos por querer. Ele perdia o controle quando usava aquele poder estranho. E falou também que, quando deu a pedra para o curandeiro, esperava que ele, como um bruxo mais esclarecido, soubesse usar aquele poder. Então o curandeiro entendeu o comportamento das crianças e dedicou o resto da sua vida em encontrar uma cura para elas, que aos poucos iam morrendo por causa de seus atos. Achando que não poderia encontrar a cura a tempo, o curandeiro pediu ajuda aos Bruxos Superiores e depois de muito estudo, eles conseguiram criar um encantamento que selaria o efeito da pedra. Tudo isso foi feito no mais absoluto segredo. Cinco Bruxos Superiores foram os responsáveis pelo encantamento, e somente eles poderiam anular o selo. As únicas crianças que sobraram, foram o filho do curandeiro e uma menina. Por fim, quando adultos, os dois acabaram se casando, o eu foi uma coisa boa, por que o poder seria passado somente para os seus descendentes. Seus filhos também teriam o mesmo poder da pedra, mas também teriam o mesmo efeito do selamento. Ambos, poder e selamento, foram passados de geração para geração... até hoje. Por isso este dragão com a estrela é o símbolo da nossa família.
_ Está querendo dizer que...
_ Alguém sabe dessa história, sr Potter, e a nossa ligação com ela. Eu não tenho magia alguma. Sarah é bruxa, mas ainda é muito nova. E Anne é praticamente uma gênia! Obviamente ela seria o alvo.
_ Por que não contou isso aos aurors? _ Harry perguntou _ Eu sei que muitos deles são arrogantes, mas essa informação eles não iriam deixar de ouvir.
_ Acontece que os bruxos que selaram os dons dos meus antepassados sabiam que, pelo encantamento, eles nunca fariam mal a ninguém. Mas isso não impedia que outros que soubessem tentassem obriga-los a fazer alguma coisa. E os únicos que podem quebrar o encantamento são os que têm laços de sangue com aqueles cinco Bruxos Superiores... Você é um deles, Harry Potter.
_ O que? _ Harry perguntou chocado. _ Eu não... eu nunca...
_ Seu pai sabia, mas você não teve tempo de ficar sabendo... Meu avô... _ ela baixou olhos para a caixa pegou uma carta _ Ele me deixou a chave dessa caixa quando morreu junto com essa carta. Eu já sabia sobre a historiada pedra, ele mesmo havia me contado. Mas era como uma história para dormir, não era real, entende? Ele sempre esteve me preparando mentalmente... E depois que ele morreu eu descobri que tudo está nessa caixa, que era verdade e que ela deve ser mantida em segredo para que ninguém descubra sobre nós. Por isso eu não podia contar para os aurors.
Harry engoliu em seco. As palavras de Julie ainda ecoavam em sua cabeça com um emaranhado de imagens que ele havia formado da história que ela contara.
_ Eu sou o único de fora da família que sabe dessa história? _ ele perguntou.
_ Já não basta ser o único que sobreviveu e derrotou Voldemort?... Alastor Moody também sabe e era amigo do meu avô. Durante o tempo de Você-Sabe-Quem, meu avô alertou Moody e seu pai de que Voldemort poderia descobrir sobre isso. Sabe, seu pai, meu pai e Moody eram aurors, se eles fossem pegos e obrigados a tomar alguma poção da verdade, poderiam acabar contando sobre nós.
_ Mas isso não aconteceu.
_ Não... não naquela época...Moody está velho, meu avô morto e você, sim, é a nossa única opção.
_ E você falou que alguém mais conhece. Alguém além do Moody?.
_ Sim. Quem raptou a Anne. Mas eu não sei quem é. Aqui não tem nada que fale alguma coisa além do que já contei...
Eles ficaram em silêncio e os passos de Sarah subindo as escadas foram ouvidos.
_ Então quer dizer que eu faço parte de um pacto antigo para proteger vocês?
_ Exatamente, sr Potter. _ Julie o encarou com seu ar sério de professora.
_ Bom, _ Harry ajeitou os óculos _ se for assim acho que você pode parar de me chamar de senhor. Harry não é um nome estranho de se falar.
Julie deu um meio sorriso e disse:
_ E, pelo que eu sei, você não tem menos que cinco anos e não está sob minha jurisdição... Pode me chamar de Julie.
A julie adolescente do retrato revirou os olhos e deu um suspiro zangado.


_ Descobriu alguma coisa? _ Rony perguntou interessado assim que Harry voltou para casa.
_ Alguma coisa. _ informou Harry.
_ E o que decidiu?
_ Acho que Moody sabia o que fazia.
_ Então vai ajudar ela?
Harry sentou no sofá e pensou um pouco antes de responder:
_ O que você acha?
_ Se eu disser que não, não vou estar falando do mesmo Harry Potter que conheço desde criança.
Harry riu e disse:
_ É, elas realmente precisam de ajuda... E parece que sou o único que pode ajudá-las.
_ Chegou tarde, Harry. _ Hermione desceu as escadas já pronta para dormir, com um robe que não conseguia fechar direito por causa da barrida. _ Está com fome?
_ Não se preocupe, Mione. Eu jantei com elas.
Hermione franziu a testa:
_ Hum, na casa da Julie. Então você não jantou, porque sei que ela não sabe o que é comida feita em casa.
Harry riu e tranqüilizou a amiga:
_ Talvez. Mas os sanduíches estavam comestíveis.
_ Ok, então. _ ela bocejou _ Vejo você amanhã, Harry. Festa do Rony, não vai fugir durante a noite.
_ Ele não vai, Mione. _ disse Rony contente _ Agora ele tem outros compromissos além do meu aniversário.

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