Adeus



Capítulo 3 - Adeus



"Quando dois vazios se encontram, eles se completam".



Desatara a chover e os dois já estavam encharcados. Fitavam-se em silêncio, receando que perguntassem e recebessem a derradeira resposta. Os olhos de Sirius e de Remus fitavam-se, buscando respostas, sobretudo, para seus próprios mistérios.

A boca de Remus abria e fechava, sem emitir som. Sirius sabia o que ele estava querendo dizer. Ele estava perguntando "por que?", mas Sirius não queria inventar algo novamente. Não queria mentir. Também não sabia como dizer a verdade, então deixou um vazio cair sobre eles, formando uma parede entre os dois.

- Sirius... - Remus tomara coragem para cortar o silêncio. Seus cabelos alourados estavam caindo sobre o rosto molhado.

- Eu... O que?

- O que está havendo? Me diga, por favor.

- Você não entende, Remus... - Sirius olhava-o, os cabelos muito negros escondendo os olhos.

- Como você sabe? Não tentou me contar...

- Ah, Remus, eu... Eu... Não posso. Não consigo! Por que VOCÊ não entende? - Sirius não agüentava mais.

- Sirius, entender O QUE? - Remus deu um passo à frente.

- Por que você é assim comigo? Por que tem de se preocupar tanto comigo? Por que me faz gostar de você? Isso é injusto! Eu... Não quero que você fique perto de mim, porque... Algo está para acontecer.

- Eu sei. - Remus recuou um passo. - Eu sei que algo está para acontecer.

- Você... Sabe? - Sirius não lembrava-se se tinha ou não inventado aquilo.

- Sei, sim. E se você quer se afastar de mim para ME ou SE proteger, eu o farei. - Seus olhares se encontraram novamente. Sirius sentiu Remus um tanto infeliz, mas finalmente conseguira o que queria, afastá-lo de problemas. Remus virara-se ao colégio, de costas a Sirius. - Mas... Isso é...

- Sim, Remus, isso é... Definitivo. - Concluiu Sirius, sentindo-se repentinamente vazio.

- Oh... Bem, Sirius, então... Adeus. - E ele caminhou até o castelo. Sirius ficou parado por um tempo, olhando-o partir. Ele sentia algo muito estranho, algo que nunca sentira. Era como se estivesse perdendo a si próprio, uma parte de si. Havia um vazio dentro de si que antes era ocupado por Remus, toda a sua preocupação e afeto.

Sirius sentou-se sob o carvalho novamente. A sensação era muito diferente. Além do vazio, ele sentia como se aquele algo houvesse sido arrancado de dentro de si. Como se aquele algo esquentasse seu sangue e lhe desse vida, e agora, sem ele, o sangue corria frio, quase gelado, e onde as artérias foram rompidas escorria o sangue gelado, deixando-o frio, triste. Ele sentia como se não tivesse vida. Mas um sorriso cortou seu rosto e seus olhos opacos cintilaram sob a frieza.

- Antes eu morrer que ele. - Concluiu, satisfeito consigo e, ainda assim, infeliz.







Uma semana depois. Sirius acordara. Era domingo, por isso tardara a levantar. Vagarosamente impulsionara seu corpo para fora da cama. Despira-se e pusera o uniforme, ainda sonolento. Calçara os sapatos e afastara as cortinas. Avistara James sentado sobre a cama, meio acordado, meio dormindo.

- Oi, James. - Cumprimentou desanimado.

- O-Oi. - Respondera James com um bocejo.

- Já conseguiu a detenção? - Perguntou Sirius, sentando ao lado do amigo.

- Não... E o pior é que agora eu só tenho três semanas para arranjar uma! - Ele parecia repentinamente desanimado.

- Ora, James, com todo esse tempo você consegue. - Disse Sirius.

- É, mas eu queria fazer algo que ela não achasse idiota... - James alegou. U_U

- Cara, você deve ter algum problema. Eu vou tomar o café, você vem?

James balançou a cabeça negativamente.

- A Lily toma café às 9:37 no domingo. Ainda são nove horas. - Ele sorriu. Sirius olhou-o, desacreditando.

- Você deve mesmo ter algum problema. Já vou. - Ele passou pela porta fechando-a atrás de si. Descera as escadas do Salão Comunal e vira Lupin conversando com Lily. Uma pontada de inveja passou por ele, mas não quis acreditar.

Passara pelo quadro da mulher gorda e termina de descer até o Saguão de Entrada, passando pela porta do Salão Principal. O Salão não estava muito cheio. Ele escolheu um lugar mais ao meio desta vez. Sentou-se e puxou uma enorme tigela onde estava o mingau. Enquanto servia-se, resmungava:

- Maldição dos demônios, será que só tem isso de café da manhã por aqui? - E levou uma colher à boca, aborrecido. Instantes mais tarde, ele pensou, vira Lily e um grupo de amigas entrarem no Salão Principal, seguidas pelos outros marotos. As garotas sentaram-se à ponta, mas Lily continuou andando até Sirius.

- Oi, Sirius. - Disse sorridente.

- Oi. - Ele disse, sem entender o porquê dela estar lá. Ela sempre o repudiara por brigar sem "motivo aparente".

- Posso sentar aqui?

- Claro, o mundo é livre. - Ele disse, sorrindo. Ela sentou-se ao lado do rapaz.

- Tudo bem com você? - Ela perguntou. Era uma pergunta suspeita. Alguém teria pedido para ela fazer aquilo?

- Sim, por quê? Quem te mandou aqui? - Ela fechou a cara.

- Eu não fui enviada! Não mandam em mim, sabia? É um mundo livre! - Replicou.

- Lily, Lily, isso é o que a impressa quer que você pense, mas na verdade a mídia nos controla! - Ele disse e sorriu, ela pareceu reprimir um sorriso. - Tá bem, ninguém te mandou. Então por que quis saber?

- Bem, fiquei meio preocupada, posso? Você não está mais andando com James, Remus e Peter.

- Ahn... - Ele ficara ligeiramente envergonhado pela grosseria. - É meio difícil de explicar...

- Não precisa me explicar, Sirius, eu só vim te dar um recado.

- Pode falar!

- Bem, eu temo a sua tristeza, Sirius. Você sabe que o coração está com as pessoas amadas, não? Se você perdê-lo, ficará imensamente infeliz. - Ela sorrira uma última vez e levantara, rumando ao grupo de amigas. Sirius sentiu-se grato pela preocupação, mas algo que ela dissera lhe parecia realmente familiar, mas o que?

- Não importa. Muito obrigado. - Dissera. Ele sabia que ela dizia a verdade pois lhe acontecera o que ela previu. De repente, algo passou-lhe pela cabeça:



"Você fará, jovem, o que quiser. De dois, um só poderá escolher. De dois, um só poderá salvar. De dois, um só não irá acabar. De dois, um só deixará de existir. Eles são você, jovem. Um é a razão, o outro, o coração. Os dois irão separar-se, e só um dos caminhos você deverá seguir".



Ele já estava se dividindo, pois seu coração já partira e ele não fez nada para impedir. Mas... Qual dos dois ele iria salvar? Se o coração era... Remus, quem era a razão? Ou o que?



"Na hora certa, você verá".

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