Afaste-se
Capítulo 2 - Afaste-se
"Uma lua enorme e redonda mostrava seu esplendor no céu escuro, porém, ao contrário de outras muitas vezes, ela fazia-se seca, cruel. Sua sombra caira sobre a terra pela primeira vez. Ela brilhava vermelha, espalhando o segredo do silêncio das florestas e dos sussurros do riacho. Sangue fora derramado aquela noite, marcando o fim para um ser da Floresta Proibida. À sombra daquela lua estava um enorme cachorro negro, a desvendar seus próprios mistérios".
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- Ah, que preguiça! - Bocejou James, sonolento. - E a primeira aula é História da Magia?!! Ninguém merece...
Eles estavam sentados embaixo do carvalho, ao lado do lago. James falava palavras que Remus não conseguia ouvir. Observava a superfície trêmula e imperfeita do lago. A água escura que escondia as profundezas e aninhava os seres da mesma. Como era bela a imperfeição.
"Remus, você poderia vir a ser algo belo, mesmo que imperfeito?", perguntara-se. "Não tenho certeza. Como poderia? Sou meio homem, meio fera. Sou um humano selvagem. Sou uma... Uma criatura que não merecia ter nascido". Ele suspirou. "Eu preferiria não ter nascido a ver meu corpo transformar-se em monstro e perder o controle sobre mim mesmo".
- Você viu o Sirius? - Perguntou James, aborrecido. Ele sabia que Remus não o ouvia desde que se sentaram ali.
- A última vez que o vi, estava dormindo. - Respondeu sem emoção. James levantou-se.
- Pois bem, vou acordá-lo. - Informou, mas parou por um segundo quando viu um grupo de garotas passar e sentar-se à beira do lago. Junto a elas estava Lily Evans. - Er... Pensando bem...
- Eu vou. - Concluiu Remus e, sem hesitar, levantou-se e seguiu ao castelo. Cruzava o Saguão de Entrada quando vira uma garota olhá-lo de uma forma provocativa. Ele sentiu corar furiosamente e quase tropeçou no primeiro degrau para a Torre da Grifinória, mas não olhou para trás.
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"Qual é o mistério? Quem pode morrer? Quem morrerá? Eu posso fazer algo?", Sirius continuava sonhando. Agora ele tentava arrancar respostas daquela escuridão que jazia sobre si no sonho.
Você fará, jovem, o que quiser. De dois, um só poderá escolher. De dois, um só poderá salvar. De dois, um só não irá acabar. De dois, um só deixará de existir.
"Eu não entendo! Quem são esses dois? Diga!!", urrou Sirius. O silêncio era angustiante.
Eles são você, jovem. Um é a razão, o outro, o coração. Os dois irão separar-se, e só um dos caminhos você deverá seguir. Na hora certa, você verá.
- QUAL É A HORA CERTA?!!! - Gritou Sirius, ao acordar de súbito, caindo da cama. Ele olhara a sua volta. A coberta estava esparramada pelo chão, a camisa estava molhada de suor, assim como a cama. - O que está acontecendo? Eu acho que estou ficando doente. Ou maluco, algo assim.
"Mas se eu for dividido, é porque tem um motivo. Qual é o meu motivo?", ele engoliu em seco. "Seria o que sinto... Por Remus?". Ele silenciou-se. Um silêncio de indecisão, receio e medo.
- Bobagem, eu nunca tive medo de nada. - Ele concluiu, embora soubesse que sempre tivera medo de uma coisa: Perder aqueles que ama.
Ele ouviu alguém bater na porta e o ranger do abrir desta. Passos cuidadosos entraram no quarto. Alguém andou até a metade do recinto, parando em frente à cama de Sirius.
- Sirius, está acordado? - Ouviu a voz de Remus perguntar. Este estava abrindo caminho pelas cortinas e, logo, pôde ver Sirius junto ao chão, olhando-o, vazio. - Está quase na hora da aula, Sirius. É melhor você vir. - Informou, desconcertado.
- Já vou... - Disse Sirius, com uma expressão impossível de ler-se. Se Remus não o conhecesse, diria que ele estava com medo. Remus voltou-se à sua cama e passara a remexer um baú muito grande. Sirius olhara-o por um instante, pensando no que fazer.
"Eu tinha de me afastar dele pois não queria sentir o que sinto, mas agora... Eu quero", concluiu pesaroso. "Mas... Se eu tiver de tomar uma decisão por causa dele... Se algo acontecer a ele... Eu não poderei me perdoar. Se não consigo me afastar dele por mim...", suspirou, "Farei por ele".
- Remus. - Chamou.
- Sim, Sirius? - O outro virou-se, terminando de abotoar a camisa limpa que trocara. Sirius não queria dizer, não queria mesmo, mas sabia a diferença entre querer e dever.
- Eu não quero você perto. - Disse friamente. Remus olhou-o, confuso e desconfiado.
- O que quer dizer com isso? - Indagou, levantando-se.
- Que eu não quero você perto de mim. Nunca mais. - Disse o outro, trêmulo. Remus estava, inconscientemente, caminhando até ele.
- O que?!! Por que?! Sirius, você está estranho ultimamente... O que há com você? - Preocupou-se o outro. Já estava ajoelhado na frente de Sirius. Os dois encaravam-se.
- Eu... Não quero você por perto porque... Porque... - "Pense, Sirius, pela primeira vez em sua vida use a cabeça para algo!" - Porque eu sei que você está traindo o James!!!
- O QUE? Quando? Como? Hein? - Remus parecia cada vez mais confuso e desesperado.
- Eu sei que... - "Isso deve funcionar, de algum modo. Eu espero" - Que Lily tem uma espécie de queda por você, não tente negar! E mesmo assim você dá corda para ela!
- Sirius, de que está falando? - O outro parecia levemente irritado.
- Estou querendo dizer que se você não tem a decência de ficar longe das garotas de seus amigos, seus amigos terão de ficar longe de você! - Concluiu. - Fique longe de mim!! - Um brilho passara pelos olhos de Lupin e, sem dizer nada, ele levantou-se, pegou a capa de cima de sua cama e saiu do quarto, batendo a porta com violência. - Isso deve ser o bastante... - Disse Sirius, infeliz.
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Já era hora do almoço. Sirius não aparecera na primeira aula e chegara atrasado na segunda. Ele estava sentado numa das pontas da mesa, isolado de tantos outros alunos que faziam a festa com o banquete. Ele fitava seu prato deprimido.
"Eu odeio isso. Odeio ter de fazer coisas que não quero, mas... Esta foi diferente. Foi como se negasse a mim mesmo. Como se eu não assumisse o que eu sinto", ele largou o garfo no prato e pôs a cabeça sobre os braços cruzados, em cima da mesa. "Eu não assumo o que sinto".
- E aí, coisa? Deprimido? Brigou com seus amiguinhos?! - Ele ouviu uma voz levemente familiar. Virou-se e deu de cara com Severus Snape, um aluno de seu ano, da Sonserina.
- E se for, seboso? Algum problema? - Ele estalou os dedos e olhou para Snape assustadoramente. - Vai fazer o que?
- Pode parar de estalar os dedos agora, coisa, você não me assusta. Agora você está sozinho e seus amigos não podem te proteger. - Disse, um sorriso recortando a face.
- Acorda, seboso, eles nunca me protegeram. - Replicou Sirius. - É melhor você dar o fora daqui antes que diga algo idiota e me deixe irritado.
- Ta bem, coisa, mas eu pensei que você quisesse saber de um boato que está rolando por aí. - Snape alargou o sorriso.
- Ah, é? E o que seria esse boato?
- Alguém anda dizendo por aí que um dos Marotos é gay. Esse seria você? - Perguntou Snape, divertido. Sirius levantou-se de súbito e agarrou a gola da camisa do outro, o punho apertado.
- E esse "alguém", seria você? - Desafiou. Alguns alunos correram em direção a Sirius, dentre eles, Lily Evans.
- Sirius, larga ele! - Disse ela. James, que postava-se agora ao lado de Sirius sentiu uma pontada de raiva.
- Acaba com ele, Sirius! - Alegou.
- James!! - Censurou Lily. Ele fingiu não ouvir. - Você é mesmo um crianção. - Ela bufou.
- Lily, se eu faço isso é porque tenho um bom motivo! - Disse Sirius, mirando o nariz "avantajado" de Severus.
- Ela está certa, Sirius. Se fizer isso vai se meter em confusão. - Sirius ouviu Remus falar de algum lugar entre a multidão. - Você não precisa provar nada.
O punho de Sirius afrouxou e, lentamente, os pés de Snape tocaram no chão. Sirius virou-se e abriu caminho dentre os alunos, até chegar a porta e passar por ela, caminhando até os jardins de Hogwarts. James virou-se para Snape.
- Não sei o que você fez, mas da próxima vez, você não escapa.
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Sirius estava parado embaixo do mesmo carvalho que estiveram James, Remus e Peter mais cedo. Ele olhava o lago. Tão escuro e tão cristalino ao mesmo tempo. Se você olhá-lo de longe, verá a escuridão sobre as águas, mas ao pegar a mesma sobre as palmas da mão, você verá o outro lado dela, as próprias mãos. Ele sentiu-se ser observado. Ao virar-se, pôde ver Remus a fitá-lo seriamente.
- Precisamos conversar...
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