Coincidências e Acasos

Coincidências e Acasos



Capítulo 1 - Coincidências e acasos

Ele olhava pela janela do quarto, fixando seus olhos firmemente, mais do que o necessário. A noite jazia escura lá fora. Pensamentos vinham atormentando-o há dias. Ele não conseguia entender o por quê. Era tudo muito confuso. Quando estava com Remus, sentia-se livre para dizer qualquer coisa, pensar, fazer, nada temia. De uns dias para cá sentia-se mais incomodado com a simples presença do amigo. Receava fazer algo tolo, que soa-se estúpido ou imaturo. Como não fazer isto? Sempre fora a sua vida!! Ser idiota, imaturo e incrivelmente feliz. No entanto, sentia-se atraído ao outro, concretizando sua perversão.

"Como posso ser tão repulsivo? Pensar em algo desse tipo de um amigo!! Sou um completo idiota! Mas eu posso controlar-me, eu sei! Tenho certeza disso, e é o que farei!", pensou, decidido. "Farei algo bem estúpido na frente dele sem me importar! Eu sei que posso e vou!", concluiu.

- Ei, Sirius, o que está fazendo? - Indagou um jovem de olhos verde-intenso e os cabelos negros muito rebeldes, apontando para todas as direções.

- Como assim? Estou olhando o lago!! - Mentiu Sirius, os cabelos negros compridos até a altura da boca.

- E sorrindo como um idiota? Qual é, não combina com você, cara! - Caçoou James Potter.

- James, James, vamos ser francos: Qualquer coisa combina comigo! - Brincou Sirius.

- Ora, Sirius, e não se esqueça do seu ponto mais forte, a modéstia! - Alegou James, entrando no jogo de Sirius. Ele atirou-lhe a mochila que o outro esquecera na sala. - E sua cabeça está cada vez mais calibrada, especialmente em memória!

- Ah, James, é que eu uso um superóleo-calibrador-de-memória! Você deveria experimentar um pouco, faria você lembrar que já levou mais foras da Lily do que pode contar!! - Replicou Sirius, com o intento de fazê-lo desistir de vencer a guerra de palavras.

- É, talvez tenha, sim, levado mais foras do que posso contar, mas continuarei tentando até conseguir alcançá-la. Aliás, Senhor-Eu nunca levei um fora, você deveria usar uma porção mais abundante de seu "superóleo-calibrador-de-memória". Você se esqueceu que está em detenção por causa das bombas de bosta? Está atrasado em quinze minutos...

Sirius empalideceu de vez. A sua detenção era com o temível professor de Defesa Contra a Arte das Trevas, o professor mais implicante, monótono e irritante que já conhecera em todos os seus 16 anos de existência.

- Não se preocupe, amigo, se você chegar logo pode colocar a culpa em alguém. - Disse Potter, angelicalmente.

- Você está se oferecendo? - surpreendeu-se Sirius. James Potter era a última pessoa que imaginaria ouvir algo semelhante a aquilo. Ele já tinha suas próprias detenções, como arranjaria mais tempo para outras?

- Por mim tudo bem, Sirius! - Disse James, jovial.

- Tá bem, mas não reclame depois. - Terminou, intrigado. Prometeu-se que mais tarde arrancaria algumas respostas de James sobre aquilo, mas agora era hora de ir. Ele não hesitou em sair correndo como um louco. Atravessou o Salão Comunal e passou pelo buraco do quadro. Passou por dois outros quadros que o mandaram parar e duas garotas que o olharam estranhamente interessadas na correria. Quando chegava ao primeiro andar, pisou em falso no último degrau e desabou sobre alguém que saía do Salão Principal às pressas e adiantava-se às escadas.

Ele sentiu-se contra o corpo do jovem. Levantou o pescoço, numa tentativa desesperada de levantar-se e viu o rosto surpreso de Remus. Sirius congelou. Eles estavam cara-a-cara, peito contra peito. Sirius sentia-se tão vulnerável com seu coração tão próximo de Remus. Ele não sabia o que fazer. O outro também parecia muito embaraçado. O olhava surpreso e estupidamente calado, com a boca aberta. Parecia que falaria, mas logo receava. Sirius finalmente tomou consciência de que aquilo era um pouco demais, até mesmo para ele.

Levantou-se de súbito.

- Ai, cara, essa doeu mesmo!! - Disfarçou. Esticou a mão para ajudar Lupin a levantar-se também. Este aceitou-a. Sirius o puxara com força, elevando-o no ar e puxando-o para perto de si. Remus olhara-o, ainda embaraçado, mas algo disse a Sirius que ele o agradecia.

- De nada. - Disse. Deu um passou em direção ao corredor que dava a sala do professor de DCAT, mas cambaleou involuntariamente. Remus agarrou-o pelo braço, não deixando-o cair.

- Parece que não haverá detenção hoje, Sirius. - Disse Lupin, ao olhar o tornozelo de Sirius. - A sua queda não foi uma qualquer e você vai mancar por um bom tempo.

- Ai, nada disso teria acontecido se eu tivesse mesmo um superóleo-calibrador-de-memória! - Irritou-se Sirius e virou-se a Remus. Este último olhava-o, sem entender o que o outro dissera. Sirius apenas riu e deixou-se ser levado por Lupin de volta ao Salão Comunal.

Enquanto voltavam ao Salão, Sirius pôde ver as garotas de poucos minutos atrás olharem-no intrigadas. "Devem estar pensando em como um ser humano altamente capacitado de vários e vários dotes pôde ter se machucado tão rapidamente. Acho que meus dotes não são muitos mesmo...", pensou. Sentiu-se ser observado e olhou ao lado. Remus virou o rosto furiosamente, numa tentativa desesperada de desviar o olhar.

Sirius podia sentir seu estômago dando voltas. "Já chega!", pensou. "Não consigo me controlar! Não consigo fazer algo estúpido! A única saída que vejo para não continuar sentindo o que sinto é ficar longe de Remus", concluiu, um tanto infeliz.

Eles chegaram ao quadro da mulher gorda. Ela roncava baixinho. Remus pigarreou. Ela levantou-se de repente, irritada pela interrupção.

- Ah, tá bem! Digam a senha logo!! - Rosnou sonolenta.

- Bafo de dragão! - Disse Sirius.

- Para você também! - Respondeu a mulher, enquanto dava passagem a eles. Os dois entraram no Salão sem hesitar. James e Peter estavam sentados numa mesa ao canto. James falava sem parar ao menos um segundo e estava muito empolgado. Peter olhava-o com grande interesse.

Lupin fez menção de subir às escadas, mas Sirius virou-o para o outro lado.

- Vamos ver o que James fez para estar tão feliz. - Sussurrou. Remus sorriu e concordou com a cabeça.

Eles andaram sorrateiramente até a mesa, parando atrás de James.

- Essa é minha grande chance, Rabicho!! Um Giga-Mega-Enorme-Chance!! - Dizia ansioso.

- O que? O garanhão conseguiu fazer com que a Lily aceitasse sair com ele? - Indagou Sirius em deboche. Ao ouvir uma voz tão próxima, James saltou da cadeira e caiu no chão.

- Ei, e a sua detenção? - Perguntou James, corando.

- Ah, eu tive um pequeno "problema técnico" - E indicou a perna. - Mas não tente mudar de assunto, Pontas!

- Afff!! Eu não a convidei para sair de novo... - Disse desajeitado. - Mas eu vou!!

- E por que estava tão animado, senhor Eu-Posso-Tudo? - Indagou Sirius.

- Porque eu descobri uma coisa ótima! A Lily está em detenção com o professor de feitiços! - Disse animado. Os dois entreolharam-se.

- E daí? Eu não vejo nada de bom nisso!!

- Bem, ela pegou um mês de detenção! - Informou James, esperançoso que vissem a genialidade daquilo.

- E você acha isso bom? É um mês a menos para você conseguir um tempo para sair com ela! - Disse Remus.

- Não! Muito pelo contrário! Se eu fizer alguma coisa idiota na presença do professor de feitiços, ele me colocará em detenção junto com ela e, ela querendo ou não, passaremos noites em claro! É claro que será em trabalho, mas já é um começo, não?

Remus disfarçou o riso, mas Sirius não foi tão discreto.

- Cara, você é... É... Ah, Pontas, desse jeito você me comove! E pensar que alguns anos atrás você não deixaria uma garota sequer passar por você sem puxar conversa e dar em cima dela. - Sirius riu com gosto e James corara um pouco. - Cara, você tá... Apaixonado!! É quase impossível, sabia? Um dos marotos apaixonado? Vai manchar nossa reputação!

- Olha só quem fala! - Retrucou James, voltando à cor normal.

- Como assim? - Sirius sentiu-se muito confuso. - EU não estou apaixonado, é VOCÊ!

- Não sei, não, Almofadinhas! - James deu um passo em sua direção. - Você anda muito calado, distraído, olhando para o nada e nunca ouve nada que dizemos! - Informou.

- Isso...! Isso...! Isso não é verdade!! - Defendeu-se.

- Ah, Sirius, você está se tornando gente? Está criando coração? Nossa, não esperava isso de VOCÊ!! - Alegou James, divertido. - Quem é a sortuda?

- Ah... - Sirius começou a corar, aliás, corou de imediato, furiosamente. Aquelas imagens que vira há alguns momentos voltaram à sua mente. Ele e... E... E Remus! - NÃO É NADA DISSO QUE VOCÊ ESTÁ PENSANDO!!! - Berrou, antes que pudesse se controlar. Desvencilhou-se de Remus e subiu, mancando, escada acima.

- Que foi que deu nele? - Indagou James, confuso. - Era... Brincadeira.

Remus olhou-o, igualmente confuso. Sirius jamais levara algo a sério. Por qual razão teria feito aquilo?

- Eu não sei, James. Ele anda muito estranho e... Eu não sei.

Rabicho olhava-os, ainda divertido.

- Ok, Rabicho, já pode parar de se divertir! - Disse James, olhando-o raivosamente. - Bem, de qualquer forma, acho melhor não subir logo.

Remus concordara com a cabeça, silencioso.



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Sirius estava sentado no peitoril da janela, atrás de sua cama. Fechara as cortinas em volta da mesma. "Por que perdi a cabeça? Eu nunca tinha feito isso, muito menos corado. Isso é injusto, parece uma doença!", pensou enraivecido. "No entanto...", ele fechara os olhos, "Até que eu... Gosto. Não, não, eu não posso pensar nisso! Não, eu e Remus não! Não mesmo! Nunca!", e silenciou-se pelo resto da noite, adormecendo dali a pouco.



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Remus sentava-se no Salão Comunal da Grifinória, numa poltrona defronte à lareira. James e Peter dormiam um sono pesado. O único barulho era o crepitar das chamas e o da chuva, que vinha do lado de fora do castelo.

O ambiente, embora estivesse aparentemente calmo, estava tenso sobre Remus. O silêncio e a escuridão do lugar só o fazia sentir-se mal. Temia algo, pois sentia que esse mesmo algo estava para chegar e que seria um...

- Grande problema. - Concluiu.

A luz vinda do fogo iluminava metade de seu rosto, mas a outra metade continuava escura, sombria.

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