Transfiguração, finalmente

Transfiguração, finalmente



Tiago e Remo estavam se vestindo para descer para o café, Pedro, como de costume, já tinha ido, e Sirius acabava de sair do banho, enrolado em uma toalha.
--Posso dar início ao interrogatório? –pergunta Sirius passando as mãos no peitoral (e que peitoral!).
Tiago e Remo se entreolham. Não teriam como escapar das perguntas ‘cabulosas’ de Sirius.
--O Pontas primeiro. –fala Remo, no que Tiago lhe olha feio. Que lobo traiçoeiro!
--Certo. –concorda Sirius, coçando o queixo. A pergunta não seria boa coisa – Recordo-me que estávamos todos no Saguão de Entrada, eu azarando o Ranhoso, quando Lily apareceu. Você saiu furioso com ela, por pensar que a mesma teria nos comparado, e, como se isso fosse surpresa, disse que preferia a mim. Onde você se enfiou? Na Sala Precisa? Naquele bosque de sempre? Aquele que nós usamos para descobrir em qual animal nos transformar com aquela magia antiga?
Tiago ficou sem fala. Sirius era um ótimo detetive quando queria. Apenas balançou a cabeça afirmando cada pergunta.
--Bom... isso não é surpreendente. –prossegue Sirius, com ar de quem resolvia um mistério – Quando você e Lílian se encontraram? Como foi? –ergue uma sobrancelha, e Tiago o encara.
--Bom... eu estava saindo da sala, caminhando pelo corredor do sétimo andar, quando nos esbarramos. De fato, ela estava correndo. Devia ter me escutado.
--O que? –Sirius fica perplexo – E ela descobriu sobre a sala?
--Ao que tudo indica, não. –Sirius suspira aliviado e segue com o interrogatório:
--E o que vocês dois ficaram fazendo? Continuaram no mesmo lugar ou seguiram para outro?
--Primeiro nos encaramos, depois eu recuei um pouco e ela passou as três vezes pela porta da sala, que apareceu. Mas Lily não percebeu nada e apenas entrou, eu a acompanhando. Lily pediu para que eu sentasse ao seu lado, para que pudesse me explicar o mal entendido. Assim que me contou, adormeceu, em um sofá. Claro que fiquei ao seu lado, e acabei pegando no sono também. Ela acordou à meia-noite e corremos para cá. Foi só isso.
Sirius mira Tiago desconfiado. O amigo estava ‘alegrinho’ demais para ter sido apenas isso.
--Não aconteceu nada que o deixasse... feliz? –perguntou com uma sobrancelha erguida.
--Bem... ela me chamou de Tiago. –responde sonhador –Essa foi uma das raras vezes que ela fez isso. Coloque-se no meu lugar, Almofadinhas. Quem não ficaria contente?
Sirius o encarou. Era incrível como Tiago se contentava com tão pouco.
--Ok. –vira-se para Remo –Sua vez, Aluado. –seu semblante mudou. Ficara mais rígido.
--Certo. –Remo senta em sua cama, mirando fixamente os olhos claros do amigo maroto.
--Você encontrou Lalita na biblioteca, não?
--Exatamente. Quando cheguei, ela já estava lá.
--E vocês trabalharam, ou ficaram só conversando?
--Ambas as coisas.
--E qual era o assunto? –Como Sirius conseguia ser tão ‘bedelhudo’? Que sujeito irritante!
--Animagia. Falamos sobre nossa pesquisa, Laila me elogiou por saber muito sobre essa matéria, e falamos sobre as outras duplas sorteadas. –Remo começa a agitar a mão direita, impaciente.
--Mas vocês chegaram muito tarde, não é mesmo? Lua e eu ficamos horas esperando o retorno de vocês dois...
--E o que você e Lua ficaram fazendo? –Remo queria se livrar.
--Jogando xadrez de bruxo.
--Só isso?
--Sim. Mas não tente fugir do assunto, Remo John Lupin...
--Quem está fugindo agora é você, Sirius Black.
Sirius e Remo se encaram. Lupin não ia escapar tão facilmente do interrogatório.
--Ok. Lua sentou-se em uma poltrona de frente para mim, conversamos sobre a festa depois do jogo, de como Laila e você não eram nossa casal favorito... até sobre os NOM’s nó falamos.—Sirius andava pra cá e pra lá, impaciente – Mas agora, diga-me o por que do seu atraso!
Remo suspira. Sabia que não daria certo sua tentativa de fuga.
--Laila não tinha jantado. (N/A: eu sei que no capítulo anterior eu coloquei almoçado. Foi um pequeno erro. Me perdoem!) Então seguimos para a Cozinha.
--Hm... E lá vocês fizeram o que, exatamente?
--Nadamos com a Lula Gigante! –responde sarcástico— Comemos, é claro, Almofadinhas! E conversamos também.
--Sobre...
--Você.
Sirius encara Remo surpreso. Sobre ele? Será que teriam falado mal dele?
--Não foi nada de ruim, se é o que você está pensando.—diz Remo, adivinhando pelo rosto de Sirius o que estava pensando.
--Então... o que disseram?
--Eu disse que ela estava te pressionando demais, que devia dar um tempo.
--E ela?
--Concordou, é óbvio. Laila te ama, Almofadinhas. Não quer te afastar.
Sirius olha para a janela, sonhador. Laila era só uma amiga... não era? Uma irmã que nunca teve... não é mesmo? Um apoio... disso ele não tinha dúvidas. Será que dariam certo? Ou será que seria mais uma aventura, para completar a coleção? Pensara que com a Lisa da Lufa-Lufa seria diferente. Depois veio Endora, que foi o melhor início-término que já teve (não ficaram juntos nem três dias!). Marlene o usara para ficar próxima de Remo, não que ele não a tivesse usado também, mas aquilo mexeu com seu ego. E tantas outras mais vieram depois dessas. Agora Laila, era diferente. Não queria que fosse apenas mais uma na sua estante. Gostaria de tê-la, mas por tempo indeterminado. Por isso não poderia ficar com ela por enquanto. Sirius queria curtir sua liberdade!
--Obrigado, Aluado.
--Que isso, Almofadinhas.
Os amigos se abraçam por alguns segundos, mas Remo se afasta.
--Você não se enxuga quando sai do chuveiro, não? Me molhou todo, seu cachorro!
Sirius sorri. Tiago, que olhava para os dois se levanta e fala para Remo seguí-lo para o Salão Principal e que Sirius não se demorasse.
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Tiago, Pedro e Sirius estavam na aula de Adivinhação, junto de Laila (Lua, Lily, Remo e Alice não cursavam essa aula. Lua e Alice ficaram com Estudo dos Trouxas, com Remo, com o interesse de descobrirem mais sobre o mundo desconhecido e estranho das pessoas ditas ‘normais’. Lily preferia Runas Antigas.) quando pararam de encarar as bolas de cristal para conversar, aos cochichos.
--Temos que nos encontrar na Sala Precisa hoje, depois do jantar. – diz Tiago, cuidando para que Laila não ouvisse. Sirius e Pedro, um em cada lado, juntam as cabeças para ouvir – Vamos nos transformar pela primeira vez. Tragam as anotações que fizemos ao logo dos anos de pesquisa, para nos ajudar caso alguma coisa dê errado. Remo deve ir conosco, para verificar se tudo está saindo nos conformes. A lua cheia está próxima. Será na segunda, se não me engano, e durará até domingo, dia primeiro de novembro.
--Certo. Vou falar com Aluado. –fala Sirius.
--E eu pego as anotações, pois elas ficaram comigo.—diz Pedro. --Só não compreendo uma coisa, Pontas. Por que não vamos a Hogsmead no dia das bruxas? Sempre vamos todos os anos.
--Acho que Dumbledore não queria deixar Remo de fora da visita. Pensem, a festa ele já tinha desde o primeiro ano, então não sentiria tanta falta, mas o passeio ao vilarejo é algo que realmente poderia interessá-lo, por estar acompanhado pela gente.—conclui Sirius. Tiago reflete e concorda com a cabeça, no que Pedro logo imita.
Quando terminam de conversar, voltam sua atenção para Laila, que mantinha os olhos na bola que tinha névoa dentro. Estava amarelada.
--Sente-se mal, Lalita? –pergunta Tiago. A menina se vira para ele, com lágrimas nos olhos.
--Tenho que procurar a professora. –sai da mesa sob os olhares dos três marotos.
--Que será que ela tem? –pergunta Sirius, vendo Laila conversar com a professora, as lágrimas, enquanto a velha a mirava admirada.
Algum tempo depois, a aula chega ao fim.
--Gostaria que todos deixassem a bola de cristal na estante. Durand, fique mais um pouco. Conversarei com McGonagall, caso você se atrase.
Os alunos se levantam e fazem o que foi pedido pela idosa professora.
A sala de aula era em um sótão, um tanto abafado por causa dos incensos. As mesas eram postas em fileiras desorganizadas, e não tinham nenhum forro, era só a madeira e os materiais usados na aula. A estante era repleta de bules de chá, xícaras, bolas de cristal, caixas de incensos e livros usados de Adivinhação.
Laila, com os olhos vermelhos, mira os amigos que saíam da sala. Vai até eles e pede:
--Digam às meninas que vou demorar um pouco, por favor.
--Claro. –responde Sirius. A garota lhe dá um sorriso meio tristonho e se afasta. Mas virá-se novamente.
--Não digam o que houve. Vocês sabem... sobre eu ter chorado.
--Pode confiar. –fala Tiago, e a menina se dirige à professora.
Os marotos seguem para a aula de Transfiguração.
Remo, Lua e Alice chegam logo depois deles na porta da sala.
--Lua e Alice, a Laila disse que vai demorar um pouco para chegar. –informa Pedro e as meninas fazem que sim com a cabeça.
--Preciso falar com você, Aluado. –Sirius sai puxando Remo pelo braço.
Lílian chega, juntando-se com o resto da turma.
--Dormiu bem, ruivinha? –pergunta Tiago sorrindo marotamente.
--Sim, Potter. –corta Lily. Tiago revira os olhos. Voltara tratá-lo formalmente.
--Quem inventou a frase: ‘tudo que é bom acaba’, estava certo. –resmunga com Pedro, que dá uma risadinha.
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Tiago, Remo e Sirius estavam no sétimo andar, bem em frente ao tapete de trasgos dançarinos, esperando Pedro aparecer, trazendo as anotações, que surge quinze minutos depois.
--Por que a demora, Rabicho? –pergunta Sirius, que se encontrava apoiado a parede, com os braços cruzados.
--As garotas me viram saindo, e quase que me seguem. Se eu não tivesse pegado um atalho... –responde Pedro, ofegante.
Os quatro marotos andam da esquerda para direita, e dessa para a esquerda novamente.
A porta da Sala Precisa apareceu, e Tiago a abre.
O bosque em que Tiago esteve na noite anterior retornara.
A lua, agora minguante, pairava elegantemente no céu, junto às estrelas e constelações brilhantes. As árvores centenárias continuavam ali, com as folhas verdes e troncos rígidos.
Os marotos entram, fecham a porta e ficam próximos a uma clareira, no interior do bosque mágico.
Fora ali, no quarto ano, que os garotos fizeram o Mapa do Maroto. Eles pediram para a sala um pergaminho, capaz de receber encantamentos, onde tivesse desenhado todo o castelo de Hogwarts, os lugares que eles conheciam, com as passagens secretas, salas, e onde desse para ver o que cada pessoa estivesse fazendo.Assim que ganharam o mapa da sala, Aluado procurara em livros da biblioteca, algumas vezes sob a capa de invisibilidade de Pontas, feitiços capazes de colocar um pouco da essência de cada maroto, outros para que o pergaminho não fosse queimado, rasgado, descoberto por qualquer um que não tivesse más intenções, molhado, em resumo, que não fosse destruído. Fora, de fato, um dos maiores feitos dos marotos até aquele momento. Mas a animagia desbancaria tal feito.
Ainda no quarto ano, os garotos se reuniram, no mesmo bosque, para realizar uma magia antiga, muito conhecida na era medieval por feiticeiros capazes de mudar de forma. Com o feitiço, os bruxos descobriam em quais animais se transformariam caso se tornassem animagos segundo a personalidade de cada um. Tiago se tornaria um lindo e valente cervo, Sirius um fiel e astuto cão, enquanto Pedro um pequenino e veloz rato. Remo, como já era um lobisomem, não se tornaria animago.
Pontas, Aluado, Almofadinhas e Rabicho, já na clareira, apontando as próprias varinhas em si mesmos, dizem uma palavra em latim, o feitiço que, finalmente, os transformaria em animagos.
Tiago fora o primeiro a dizer o feitiço. Ele se encurvara. Sentia suas mãos mais grossas, firmes. Suas orelhas pareciam crescer alguns centímetros e se moldar. Sua cabeça doía muito, como se algo pontiagudo lhe perfurasse o crânio, de dentro para fora. Sua coluna não conseguia mais deixá-lo de pé, sobre as duas pernas, que estavam mais finas, embora com músculos. Tiago fica de quatro. Sente pêlos crescerem rapidamente por todo o seu corpo. Tentou gritar, pedindo a Remo que dissesse o contra feitiço, mas só conseguia soltar gritinhos, bramidos. Não enxergava mais as cores verdes das folhas da árvore que estava na sua frente. Via em preto e branco agora. Transfigurara-se.
Sirius, o segundo a falar o feitiço, sente que suas mãos e pés ficavam mais fofos, cobertos por pêlos negros como seu cabelo, que agora se estendia por todo seu corpo. Curvara-se, ficando de quatro, por não agüentar o esforço que fazia para ficar de pé. Sentia seu nariz alongar, assim como suas orelhas. Fechou os olhos, e ao abri-los novamente, percebeu que tudo ficara com um tom um pouco cinza, uma mistura de preto com branco. Sentiu almofadas no que antes eram suas mãos, mas agora eram patas. Sentia cheiros e ruídos distantes com tamanha clareza, que se assustou, mas ao invés de gritar, soltou um latido forte e alto. Outro motivo para o latido fora a dor que sentiu no final de sua coluna, sentindo algo crescer. Algo peludo, seu rabo.
Pedro, que hesitou um pouco em falar o feitiço, fora o terceiro a se tornar animago. Sentiu suas orelhas arredondarem, diminuírem, mas ouviu tudo melhor do que nunca. Suas bochechas tornaram-se maiores, como se seus olhos diminuíssem cada vez mais. Seu nariz, já arrebitado, ficou maior e surgiram bigodes, com uma cócega ligeira. Sua cabeça diminuiu gradualmente, assim como seu pescoço e seus ombros. Seu dedos, e ele via, ficaram menores, assim como as mãos. Seu tronco ia ficando menor, e uma dor repentina o tomou na suas ‘partes de trás’. Sentia algo fino, na ponta, e um tanto escamoso, crescer. Piscou diversas vezes, mas só conseguia ver em preto e branco, assim como os outros. Guinchou várias vezes de medo e dor.
Remo, que vistoriava a transformação de cada um dos amigos, se surpreendeu no tanto que os mesmos eram talentosos e inteligentes. Nenhum outro aluno do quinto ano conseguiria, com tamanha facilidade, se tornar um animago tão rápido! A própria professora McGonagall já falara que demorou alguns anos para conseguir! Ela ficaria mais surpresa do que Remo, se soubesse como seus três alunos, transgressores, conseguiram tal feito em quase quatro anos!
Mais do que nunca, Remo sentia um profundo orgulho de ter amigos tão leais, fieis, companheiros, justos, talentosos, capazes e, é claro, nem aí para as regras da escola, ou, como era o caso, do mundo bruxo. Nenhum bruxo poderia ser animago sem antes ter a permissão do Ministério da Magia. É claro que nenhum dos marotos realmente se importava com o que o Ministério pensava. Eram todos jovens e inconseqüentes demais para pensar no que uma cambada de velhos babões faria se descobrissem. Era tudo tão maravilhoso que nada de ruim que acontecesse futuramente, importava. O que era verdadeiramente importante era o presente momento. Haviam conseguido! O próprio Lupin, que não apoiara desde o início a transformação dos três, agora via tudo de um ângulo completamente diferente, devido ao seu entusiasmo. Poderiam passar a lua cheia de domingo, e de toda a semana, juntos!
Os marotos continuaram animais durante mais algum tempo, para terem certeza de que o encantamento era duradouro. Depois, se tornaram humanos de novo e saíram da Sala Precisa. Olharam no mapa se havia alguém por perto. Se houvesse, eles todos se esconderia sob a capa da invisibilidade, que Pedro trouxera consigo quando fora buscar o mapa. Mas isso se fez desnecessário. Já eram duas da matina, não tinha nenhuma alma viva acordada. Apenas pirraça se encontrava no corredor abaixo, mas pelos atalhos conhecidos pelos garotos, o fantasma não sentiria nem o fedor que Pedro emanava.
Entraram no dormitório, exaustos por causa da magia complexa que acabaram de realizar, embora satisfeitos consigo mesmos.
Estavam prontos para a lua cheia. ‘Hogsmead mal pode esperar! Os desordeiros de Hogwarts prometem dar as caras no pacato vilarejo’, pensa Tiago, antes de adormecer pesadamente em sua cama, com um sorriso maroto nos lábios.

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