Na Toca



A modorrenta névoa se espalhava no exterior da Toca, o frio intenso e a contínua chuva, incomum nessa época do ano, faziam com que a respiração da jovem fosse visível e sonora, ela estava sentada no peitoril da janela e tinha um pedaço de pergaminho em suas mãos. A face alva demonstrava preocupação excessiva para alguém de sua idade, escrevia com uma rapidez quase desastrosa, era o terceiro pergaminho a ser amassado por suas mãos. Após pensar por um minuto voltou a escrever e quando terminava de colocar a carta dentro de um recipiente foi interrompida por um garoto de cabelos muito vermelhos, contrastando com uma blusa laranja fluorescente:
- Papai chegou Mione!! E pela sua cara, estamos realmente enrascados. – disse Ron teatralmente passando o dedo indicador pela garganta. – Pediu pra gente descer o mais rápido possível. Quer conversar com todos.
- Estou terminando de colocar a carta no protetor pra Pichí levar ao Harry!
- Você não falou nada de mais né??
- Não, ele vai ficar com raiva mais não há nada que eu possa fazer! – disse contrariada.
Hermione abriu a janela com dificuldade e a pequena corujinha se molhou instantaneamente, tentaram acompanha-la com o olhar mais a névoa estava mais densa do que nunca.
Desceram as escadas em silêncio, e encontraram uma cozinha abarrotada de gente, alguns totalmente desconhecidos por eles, mais também viram rostos costumeiros. Lupin acenou para eles de um canto acompanhado por Tonks que parecia alegre com os seus cabelos rosa chiclete; Olho-Tonto Moody apenas os observou com o seu olho mágico do outro canto da sala, estava rodeado por um bando de aurores, entre eles Quim que Hermione reconheceu imediatamente como um membro da Ordem da Fênix, Mundungo também estavam por lá conversando aos cochichos com os gêmeos mas não pareceu notar a entrada dos meninos na cozinha. Ron e Hermione atravessaram o aposento se desviando eventualmente das muitas pessoas que se apertavam no cômodo, indo ao encontro de Gina, Fleur, de um enfaixado Gui e da senhora Weasley.
- Onde está o papai? – perguntou Ron.
- Subiu. – Gina respondeu – Quer enviar algumas cartas antes do toque de recolher.
- Toque de recolher? – questionou Ron.
- Bem se vê o quanto você anda desinformado Ron – falou Gui, para surpresa de todos. Desde que o rapaz havia voltado para casa, não parecia disposto a participar das conversas, refeições ou qualquer atividade que envolvesse mais de duas pessoas. – devido aos constantes ataque noturnos promovidos pelos comensais da morte e a freqüente interceptação de corujas, o Ministério resolveu criar um toque de recolher.
- É. isso pode parecer absurdo Ron, mas a questão é que pelo menos por enquanto tem funcionado, quer dizer, os ataques diminuíram consideravelmente desde o mesmo período do mês passado. - completou Gina.
- E segund esse toque di recolhier, ninguém pod mandarr currujas depois das 7 horras. – dessa vez quem falou foi Fleur, enquanto observava irritada vários homens de aspecto nada agradável, que insistiam em fitá-la abertamente.
- Mas eu achei que ele queria dar algum comunicado importante – disse Ron com impaciência.
- Ele quer Ron.- falou a senhora Weasley – mas primeiro tem que resolver algumas coisas mais importantes.
Ron decidiu por calar-se. Achava um desproposito o pai chamar todas aquelas pessoas à sua cozinha para deixá-las esperando, mas o humor de sua mãe não estava bom e ele não estava disposto a testá-lo.
Desde que Hermione e Ron haviam ido pra Toca, os dias eram mais ocupados e cheios de novidades do que se poderia esperar. Os constantes e insistentes ataques de Lord Voldemort eram motivos pra grande preocupação, já que com a morte de Dumbledore o senhor Weasley assumira o comando da Ordem da Fênix. Era comum ver bandos de aurores mesmo que estes não pertencessem a Ordem, aparecerem na Toca, já que as informações e meios de que o senhor Weasley detia de localizar comensais da morte eram mais eficazes do que os do ministério da magia. Não que adiantasse de muito ter informações mais precisas sobre os comensais, nenhuma captura havia sido feita, apesar dos desmedidos esforços por todas as partes interessadas, mas muitos ataques que poderiam ter se transformado em verdadeiros desastres haviam sido impedidos com eficácia e isso já podia ser considerado um avanço.
Teoricamente, o ministério da magia não deveria saber da existência da Ordem da Fênix, mas o fato era que poucas das pessoas que tinham acesso a informações importantes sobre a guerra que acontecia desconheciam a organização secreta, e por mais que todas as vezes que o senhor Weasley tivesse alguma coisa importante a anunciar ele não mencionasse a Ordem, por chamar pessoas que não faziam parte dela, não havia viva’alma que desconhecesse o suposto motivo que fazia o senhor Weasley tão bem informado.
Hermione e Ron conversavam entretidos com Gina quando um homem com cabelos vermelhos que rareavam na cabeça e óculos com aros de tartarugas adentrou a cozinha com um ar indescritível. As demais pessoas que também se encontravam no cômodo fizeram silêncio ao verem-no entrar.
- Boa tarde – disse o sr. Weasley enquanto se dirigia ao meio do aposento. Algumas pessoas retribuíram o comprimento com cordialidade.
- Eu os chamei aqui, porque tenho algo muito importante a dizer, e isso não pode esperar. - falou tentando dar a maior ênfase possível as palavras.
- Pois então prossiga Arthur. – rosnou Olho Tonto Moody do seu canto da sala de forma áspera.
- Pois muito bem, como vocês sabem Lord Voldemort tem atacado constantemente povoados trouxas e infelizmente, a informação que eu tenho é que o vilarejo onde está localizada a Toca, é o próximo alvo. – a maioria das pessoas que se encontravam na cozinha, após estremecerem diante da menção do nome de Lord Voldemort, abriram a boca em sinal de choque diante da notícia. Após o que pareceu uma eternidade onde todos pareciam digerir a notícia, alguém quebrou o silencio:
- Se é assim, eu reportarei a novidade ao ministério imediatamente. – se pronunciou um homem baixinho e magrelo, que nem Hermione nem Ron conheciam. – não se preocupe sr. Weasley, o ministério mandará reforços, para proteger o local.
- Muito obrigado sr. Mcbourne, toda a ajuda será necessária. Inclusive eu convoquei todos aqui hoje porque preciso do máximo de colaboração possível. – disse Arthur Weasley, com uma expressão grave. As pessoas presentes na cozinha pareciam já esperar por isso, pois, antes mesmo de ouvirem o pedido do homem se olhavam ansiosas, sem saber o que fazer, aparentemente a idéia de enfrentar um monte de comensais não oferecia muitos atrativos.
- Pelo jeito o ataque não deve demorar Arthur! Precisamos agir rápido! – quem falou dessa vez foi Lupin com um brilho indescritível nos olhos.
A idéia de agir rápido assustava a maioria das pessoas que se encontravam na cozinha e Olho Tonto Moody pareceu perceber, porque tomou a palavra com energia:
- É isso que vocês ouviram! Mecham- se bando de palermas, nós precisamos de pessoas nas ruas. Ou vocês acham que os trouxas podem se virar sozinhos?
Mais do que rapidamente Ninfadora Tonks abriu a porta e enquanto a grande maioria de bruxos presentes saiam apavorados, Lupin, Moody e o sr. Weasley davam as coordenadas:
- Você já pode ir para o ministério sr. Mcbourne, avise que nós precisamos do máximo de gente que eles puderem mandar. – disse o sr. Weasley, vendo o homem baixinho e magricela com quem conversava aparatar, e voltando-se para a sra. Weasley e companhia:
- Vocês irão imediatamente para o Largo Grimmauld! – falou com voz calma porém firme.
- De maneira alguma Arthur! Eu vou ficar e não é você que vai me impedir! – disse a sra. Weasley fechando a cara.
- Muito bem, então você pode ficar Molly, mas o resto... – diante dos protestos gerais o sr. Weasley alteou a voz – e eu não quero ouvir nenhuma reclamação!!
Não foi com alívio que os gêmeos, Gina, Ron e Hermione se prepararam para aparatar (Gina segurava firmemente no braço de Hermione, para fazer aparatação acompanhada já que era muito jovem), enquanto observavam os grupinhos que se aprontavam para irem em direção ao vilarejo, comandados por Quim Shacklebolt, Lupin, Moody e Tonks. Hermione se lembrou de perguntar enquanto via a sra. Weasley se aproximar com um embrulho na mão:
- E vocês sr. e sra. Weasley, o que vocês vão fazer?
- Proteger a casa – respondeu a sra. Weasley enquanto entregava o embrulho nas mãos de Gina. – cuide bem disso Gina, é o relógio da família. – a menina não pareceu entender muito bem o motivo da mãe mandar ela levar a relógio para o Largo Grimmauld, mas não teve muito mais tempo para perguntas, com uma última visão de Molly e Arthur Weasley eles partiram.




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