A Caligrafia
“Nunca lamente uma ilusão perdida, pois não haveria fruto se a flor não caísse.”
Thaysa M. Dutra
- Mel? Como está? – indagou Hermione ao telefone.
“Haylla! Finalmente me ligou, estava super ansiosa! Por que é que nunca retornava minhas ligações? Fiquei extremamente preocupada! Que é que houve?”
- As novidades são várias. Como você está? – tornou a repetir.
“Já disse, um tanto preocupada com você. Será que dá para acalmar o coração de sua irmã e contar exatamente tudo que aconteceu?”
- Na verdade, não agora. São realmente muitas coisas, Mel. E... eu gostaria de lhe pedir um favor.
“Diga, vamos!”
- Não me chame mais de Haylla. Agora eu sou Hermione. Hermione Granger.
“O que você está dizendo? Que é que deu com você?”
- É uma longa história. Longa e muito séria, antes que você comece a fazer piadinhas a respeito dela.
“Você está me assustando. Explique isso logo.”
- Vou explicar tudo muito bem, só preciso que você, papai e mamãe venham para cá. Não posso trancar a faculdade agora e é um assunto sério demais para ser dito por telefone, carta, ou qualquer outra coisa.
“É algo grave?”
- Não, apenas é sério.
“Não dá mesmo para me adiantar alguma coisa? Já estou ficando extremamente curiosa e, sabe, curiosos quando não sabem de nada acabam passando muito mal.”
- Mel, por favor. Não posso lhe adiantar nada mesmo, apesar de querer isso imensamente. Sabe que é minha irmã querida, não sabe?
“Querida e curiosa.”
Hermione riu.
“Tudo bem, então, vamos falar sério. E o Mestre?”
- Não falo mais com ele. Aconteceram coisas que eu só vou poder explicar quando estiver em companhia de seu pai e sua mãe.
“Nosso pai e nossa mãe. Que coisa! Que é que há com você? Muda de nome sem falar nada, não os considera mais seus pais...”
- Continuo os considerando meus pais, sim! Já disse e prefiro não repetir que é um assunto muito sério!
“Tudo bem. Gostaria de falar com eles?”
- Sim, por favor.
Alguns segundos se passaram e Mary Ann entrou na linha.
“Filha! Como vai? Sua irmã disse que está esquisita.”
- Estória da Mel, sabe como ela é. Vou bem, sim, mãe. E a senhora?
“Muito bem, também. Mas sem deixar de lado a preocupação com você, sua irmã, a casa e tantas outras coisas que você sabe muito bem quais são.”
- Sim, mãe. Entendo perfeitamente.
“Como vai a faculdade?”
Hermione hesitou.
- Vou ser sincera com você. Há alguns dias não compareço.
“Por quê?”
- Por vários motivos. E foi exatamente por isso que lhe liguei hoje, mãe. Quero que você, papai e Melissa venham para cá o mais rápido possível para termos uma conversa muito séria.
“Conversa muito séria? Haylla, você está grávida?”
- Claro que não, mãe! – ela disse. – E, se você puder me chamar de Hermione Granger daqui em diante, eu agradeço.
“Hermione Granger?! Mas você é Haylla Hellarien!”
- Não tenha tanta certeza disso, Mary Ann.
“Haylla, querida, que houve? Estou ficando preocupada com você! Tão estranha, misteriosa...”
- Eu quero e vou lhe explicar tudo. Só preciso que vocês venham até aqui, a conversa é séria demais para ser feita pelo telefone.
“Por mim não há problemas. Partiremos amanhã mesmo.”
- Obrigada, Mary Ann.
“Estou aqui para lhe ajudar, filha.”
- Nem sei o que dizer. Estou realmente triste por essa situação.
“Qual?”
- A que vou lhes explicar, com a ajuda de um amigo, logo que chegarem.
“Tem certeza que não está grávida?”
- Absoluta!
A campainha tocou e Hermione, já pronta, correu a abrir a porta. Usava um vestido estampado até os joelhos, com um decote comportado em frente. As sandálias um tanto altas a faziam sentir-se desconfortável caminhando, mas pouco se importava.
- Mary Ann, John, Mel! – ela suspirou, abraçando cada um deles.
- Está linda, filha – disse o homem. – Mas por que queria tanto que viéssemos?
- Logo vão saber, se me acompanharem.
- Com certeza, o mais rápido que desvendarmos este mistério, melhor – falou Mary Ann.
- Aceitam algo antes? Uma bebida, um suco, café...?
Melissa aceitou, mas logo foi cortada pela mãe.
- Não, Haylla. Já paramos no caminho e comemos e bebemos tudo quanto necessário. Agora queremos apenas entender qual o motivo que nos trouxe aqui, se for possível.
- Claro que é – afirmou a moça, suspirando. – Acompanhem-me, vamos até o edifício ao lado.
Eles desceram o elevador e rapidamente já estavam subindo o do prédio ao lado, chegando ao apartamento de Ronald. Este abriu a porta e convidou todos a entrarem. Acomodaram-se no sofá, apreensivos.
- Mel, Mary e John, este é Ronald Weasley – apresentou Hermione. – E Rony, este são meus pais Mary Ann e John, e minha irmã Melissa.
Eles se cumprimentaram, Rony demorando-se um pouco mais ao fitar Melissa. Ainda lembrava-se do bilhete que recebera dela.
- Eu, em companhia do Ronald, tenho que lhes contar uma coisa muito importante.
Eles prestavam imensa atenção à Hermione.
- Quando vos liguei, esses dias, disse a todos que a partir de agora sou Hermione Granger, e não mais Haylla Hellarien. Há um motivo para isso. Não resolvi mudar meu nome por nada, de uma hora para outra. Para que vocês entendam melhor, preciso que Ronald conte-lhes uma passagem da vida dele.
O rapaz a encarou e começou a falar claramente, para que tudo se resolvesse o mais rápido possível.
- Quando eu tinha onze anos, conheci dois amigos em minha nova escola. Estes eram Harry Potter e Hermione Granger. Nossa amizade superava quase tudo – falava, sério. – O tempo foi passando e nós crescemos juntos. Nosso amigo Harry sempre fora perseguido por um assassino poderoso. Ele tornou-se órfão ao seu primeiro ano de vida, nas mãos deles. E nós, eu e Hermione, ajudamos Harry contra esse assassino. Conseguimos pará-lo. Só que, antes disso, nossa amiga Hermione sumiu. Nunca mais conseguimos a encontrar. Tínhamos certeza de que ela morrera, até esses dias.
A família Hellarien parecia confusa, não conseguindo entender o porquê de terem que saber daquela história um tanto sem nexo.
- Como vocês bem sabem, quando cheguei a Londres vim morar nesse edifício ao lado – continuou Hermione. – Foi difícil acostumar-me, afinal não deixa de ser uma cidade perigosa e extremamente diferente daquela em que eu acreditava que nasci. Então, chamei Mel para passar uns tempos comigo. Depois de um tempo, Mel voltou para nossa cidade e eu fiquei sozinha novamente. Quando cheguei aqui, conheci uma senhora que beirava os cem anos de idade. Ela pareceu gostar de mim e nos tornamos amigas, de certa forma. Ela chama-se Sra. Murder e é muito fofoqueira. Reclamava bastante de um boêmio do edifício ao lado, ou seja, este. Num dia, esta senhora pediu-me para vir até este apartamento em que estamos agora para tirar satisfações com o dono dele, por causa dos mios do gato, do barulho e outras coisas. Estava um tanto contrariada, mas vim. Quando cheguei aqui, Rony estava em companhia de Harry e de Gina, sua irmã e mulher de Harry. Eles me chamaram de Hermione. Só então, fiquei conhecendo a história que Ronald contou-nos novamente agora. E então, minha memória voltou.
Mary Ann e John se encararam.
- Quer dizer que... Você é essa tal de Hermione Granger? – indagou a mulher, com lágrimas nos olhos.
- Sou.
- Como pode ter tanta certeza disso? – ela indagou novamente, um tanto seca.
- Porque lembrei-me de vida antes de conhecer vocês. Lembrei-me de Ronald, de Harry, de Gina e de todos os outros que fizeram parte de minha vida. Recordei de vários momentos que vivi em companhia deles, de lugares... Lembram-se daquela vez que indaguei sobre uma sala enorme, um gato e a escola em que eu estudava? Não foi um sonho. Foi uma lembrança. Está aí o motivo por eu não ter reconhecido vocês nem o lugar onde Haylla sempre morou durante tanto tempo. Porque eu nunca fui Haylla Hellarien.
Lágrimas descontroladas rolavam pelas faces de Mary Ann e Mel, apenas John ficava um tanto calado e imune às novas informações.
- Mas, se você não é a Haylla, onde está minha menina?
Hermione também controlou-se ao dizer:
- Acho que está morta, como sempre previram.
Mary Ann começou a chorar copiosamente nos braços da filha Melissa que também não parecia muito bem. Hermione achava que era a primeira vez que via a irmã chorando.
- Eu estava tão feliz por você ter aparecido – ela disse. – Foram tantos meses nos preocupando, chorando... E depois tantos de alegria. Para quê? Para voltarmos à estaca zero, com a certeza da morte de Haylla.
- Por favor, me desculpem por dizer tudo assim. Mas eu precisava ser sincera com vocês. Estivemos enganados durante muito tempo.
- Não se preocupe, Hermione.
Hermione e Ronald ficaram um determinado tempo os observando, cabisbaixos. Não sabiam o que falar, como consolá-los. Estavam felizes por eles mesmos, mas não conseguiam demonstrar isso diante da tristeza dos outros pela perda de alguém da família.
- Você vai dizer a eles que é bruxa? – sussurrou Rony para ela.
- Não. Acho melhor mantermos isso em segredo. Não seria bom para eles nem para nós que soubessem. Provavelmente não acreditariam.
Hermione jogou-se no sofá novamente. A família de Haylla já estava melhor, no momento eles estavam reunidos no quarto de visitas do apartamento dela, arrumando algumas coisas que ainda não haviam sido arrumadas, tomando banho e preparando-se para descansar bastante à noite, pois a viagem de volta seria longa.
Hermione sabia que eles estavam muito abalados emocionalmente e por isso os tratava melhor. Permanecia muito tempo insistindo para que não fizessem nada, não pensassem em ajudar. Ela faria tudo que fosse necessário sozinha. Compraria as passagens de volta para eles, cuidaria do dinheiro para isso e também faria um lanche para levarem com eles. Apesar de tudo, Hermione os amava. Passara mais de um ano em companhia deles e jamais alguém levantou a voz ou a mão para ela. Eram uma família realmente invejável e ela sentia-se triste por estar deixando de fazer parte dela.
- Estamos indo, Hermione – falou Mary Ann.
- Já está tudo pronto? – ela indagou.
- Ah, sim. Já arrumamos tudo, estamos com as passagens e as malas pequenas em mãos. É só irmos, realmente.
- Deixem-me ajudá-los.
Com uma das malas em mãos, Hermione acompanhou a família até o ponto de ônibus mais próximo. Novamente, disse a eles exatamente como fazer para chegarem até a rodoviária e onde provavelmente estaria o guichê correto.
- Obrigado por tudo – agradeceu John. – As notícias que recebemos não foram nada boas ultimamente, mas estamos muito felizes com você mesmo assim.
- Principalmente por ter nos avisado de tudo logo que soube – disse Mary Ann.
- Não, não se preocupem com isso. Simplesmente achei que seria o melhor a ser feito, já que não era filha biológica de vocês. Fomos enganados por muito tempo, não achei justo continuar a enganá-los, sabendo qual era a verdade.
Uma lágrima solitária desceu lentamente pela face de Melissa e esta abraçou Hermione repentinamente.
- Eu amo vocês, todos – disse Hermione. – Foi um ano realmente fantástico de minha vida, este que passei em companhia de vocês. Nunca mais terei uma família tão especial e uma irmã tão alegre.
- Nós também lhe amamos imensamente, Hermione. Mesmo não sendo nossa Haylla, mesmo sendo alguém completamente diferente dela, conseguiu nos fazer muito felizes neste tempo que ficou com a gente.
- Obrigada. Mas não quero que vocês me comparem com sua filha, jamais.
- Sempre será nossa filha também. Aprendemos a amá-la como tal e, mesmo que nunca tivéssemos acreditado que fosse Haylla, só sendo uma amiga nossa também a amaríamos dessa maneira. Porque você é especial, querida. Você é uma ótima garota.
Um sorriso surgiu nos lábios da moça e, logo após, uma dor e um vazio profundo no peito quando viu o ônibus seguindo seu caminho.
Ela mal conseguiu acreditar no que viu quando voltou ao seu apartamento. Havia correspondência em sua caixa de correio, e estas eram provavelmente um tanto antigas, pois as vira de relance anteriormente, mas não as pegara e acabara esquecendo-se. Uma era carta do Mestre e a outra estava num envelope muito parecido com o da primeira.
Por instinto, resolveu abri-la, depois de muito tempo sem fazer isso.
Haylla,
Esta é,com certeza absoluta, minha última tentativa em falar com você. Por que não me responde? Andei pensando e cheguei à conclusão de que sequer abriu meus últimos bilhetes. Fico muito triste mesmo em pensar que me entendeu de maneira errônea. Eu não queria magoá-la. Nunca quis, de maneira alguma. Disse-lhe várias vezes que você é muito importante para mim. Como pode deixar de acreditar nisso?
Sei que ficou muito chateada com meus comentários sobre a mulher que amei imensamente. Na verdade esse seu tipo de ciúme me deixou um tanto contente. Afinal, quem não fica contente com ciúmes quando estes não são exacerbados?Todos ficamos. Mas jamais achei que fosse odiar isso a ponto de não me responder mais.
Quero que você entenda: eu te amo. Sim, sei que nunca disse isso antes, mas eu te amo mesmo. Sei que deveria dizer isto de outro modo, pessoalmente, talvez. Mas você não me deu uma oportunidade para isso. Estou perdidamente apaixonado por você, pela pessoa que é. E fico feliz por isso ter acontecido comigo novamente, jamais achei que fosse amar de novo. Você me conquistou. Hermione Granger foi meu grande amor. Estará, queira ou não, sempre dentro de mim. Mas agora quem eu amo é você. Dê-me uma chance, é só o que lhe peço.
Beijos,
O Mestre dos Desejos
Ela mal podia acreditar no que acabara de ler. O que ela mais desejou ler nos últimos tempos estava em sua frente. A declaração de amor do Mestre, que tanto esperara, estava em suas mãos. Antes que explodisse, resolveu ler a outra carta. Porém, havia algo muito estranho nesta também.
Hermione,
Pedi para que minha coruja deixasse isso com você. Queria entregar-lhe pessoalmente, mas sequer sei onde mora. Desculpe-me por ser tão imprudente e não ter perguntado isso.
Na verdade, só mandei-lhe isso para dizer que minha família já sabe de tudo e a sua também. Sabe que você não morreu e que está conosco, muito bem. Como você me pediu, contei a todos eles a melhor parte da história. Seus pais estão super ansiosos para conhecerem os Hellarien e, principalmente, para agradecê-los por terem cuidado tão bem da filha deles enquanto tudo ocorria.
A família Weasley também está muito feliz. Como Fleur está trabalhando n’O Profeta Diário,alguns fuxiqueiros de lá já publicaram uma matéria sobre sua ‘volta’. É, é exatamente assim que estão a tratando.Como um espírito. É engraçado. Bem, sabe como são os escritores do Profeta. Rita Skeeter está uma fera por tudo, ainda não esqueceu o tempo em que ficou trancafiada num vidro como besouro.
Venha até meu apartamento quando puder e me informe onde está morando para que eu também possa lhe fazer visitas.
Beijos,
Ronald Weasley
Mal se importava com Rita Skeeter ou como estava seu temperamento naquele momento. Mal se importava com sua família ou com a de Rony, apesar de amar muito a ambas. Mal se importava com o mundo.
Uma única informação pairava sobre sua cabeça: a letra das duas cartas eram iguais. O que significava que Ronald Weasley e O Mestre dos Desejos eram a mesma pessoa.
Sem nem pensar duas vezes, correu até o apartamento de Rony. Sabia o que fazer. Sabia o que deveria fazer naquele momento em que descobrira todos seus sentimentos. Levara tanto tempo para desvendá-los, mas ia segura de seu poder.
- Rony, eu preciso lhe falar algo. É muito importante, por favor, você precisa me ouvir.
N/A.: Oláá! Estou tentando me redimir, atualizando mais seguidamente =) Post rápido porque ainda tenho que estudar para minhas provas bimestrais. Eu, pessoalmente, gostei bastante desse capítulo. Achei que as cenas foram curtas, mas precisas. Era exatamente isso que eu tinha para passar para vocês através deste capítulo e acredito ter conseguido. Para ficar bom mesmo, só vocês gostando.
Devem ter percebido também que não coloquei o “Próximo capítulo”. Não fiz isso porque o capítulo X é o penúltimo, então não teria graça dar uma idéia antes do que vai acontecer. Mas, é claro, postarei com certeza sábado ou domingo da semana que vem, já que estarei livre da maioria das minhas preocupações atuais ;]
Obrigada a todos que comentaram! Continuem me fazendo feliz, sim?
Beijos, Manu Riddle.
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