Como Uma Fênix
“Não permita que alguém o faça descer tão baixo a ponto de você sentir ódio.”
Luther King
Haylla jogou-se na cama e suspirou, agarrando o travesseiro. Duas lágrimas solitárias fluíram de seus olhos já marejados há algum tempo. Rolaram lentamente pela sua face e depositaram-se no acolchoado.
Ela não conseguia suportar a dor de ter sido vencida por uma mulher que já havia morrido. Sua tristeza era imensa, só ultrapassada pela sua raiva, que era a causa de tantas lágrimas derramadas em poucos dias. Era difícil entender o que acontecia dentro de si e a cada momento que se passava, ela só queria chorar, chorar e chorar. Nem precisava mais pensar fixamente nos últimos acontecimentos, bastava passar alguns minutos sozinha e tudo vinha à tona. Não sabia como lidar com a situação e sentia-se definhando aos poucos.
Não entrava em sua cabeça o porquê dele comentar tanto sobre sua ex-namorada e repetir tantas e tantas vezes que a amava mais do que tudo em sua vida. Por que continuara a lhe mandar os bilhetes, então? Dizia que gostava dela e a respeitava muito. Ela não conseguia mais acreditar que aquilo fosse verdade. Seu peito arfava e ela já sentia os olhos inchados, a garganta doía imensamente pelo choro a tanto custo contido.
Não se importava com mais nada, apenas queria morrer. Torcia para que a terra a engolisse e consumisse com todas as partes de seu corpo inútil. Sentia-se frágil, desolada, abandonada e não tinha mais propósitos na sua vida. Afundou em desespero, faltando à faculdade em dois dias, coisa que jamais cogitara fazer mesmo estando muito doente. Não tinha ânimo, não queria levantar-se, muito menos sair de seu apartamento. Este que já não era aberto há uma semana e há tanto tempo não via os fracos raios de sol da estação. Um cheiro forte de mofo predominava, mas ela preferia que tudo fosse assim mesmo.
- Ânimo, Haylla. – ela chorou. – Tente levantar-se, ao menos...
Não conseguia. Não havia jeito, nem maneira que a fizesse obter forças.
- Por favor, é por você...
As pernas queriam se mover, mas o cérebro tão danificado não obedecia, não correspondia aos comandos e a deixava ainda pior, mais cansada e mais aflita.
O telefone tocou. Ela precisava levantar, teria que conseguir desta vez. Seus pensamentos afundavam cada vez mais em mágoas e a diminuíam. Depois de quatro toques, ela levantou. Dirigiu-se molemente até a sala, mas quando chegou o telefone já havia parado. Porém, uma mensagem estava sendo gravada.
“Haylla sou eu, a Me”, falou uma voz já tão conhecida da moça. “Não é a primeira vez que ligo e você não atende. Estou ficando muito preocupada com você e com sua situação. Que está acontecendo? Na última vez que nos falamos, há uma semana atrás, tenho certeza que sua voz estava chorosa. Quem me garante que não chorou por horas a fio antes de nos falarmos? E depois também, fico preocupada por estar aí sozinha sem ninguém para lhe ajudar. Todos precisam de apoio e... Bem, eu estou aqui para o que precisar. Sou brincalhona sim, mas sei ser séria quando é necessário. Esse é um momento necessário, eu sinto isso”. Rachel caiu no choro novamente. “Quero falar com você. Ligue-me, por favor. Talvez você não esteja em casa agora, mas tenho quase certeza que esta aí me ouvindo nesse segundo mesmo, enquanto a mensagem é gravada. Eu só queria dizer que te amo, que sou sua amiga e sempre estarei disposta a lhe auxiliar no que for preciso. Sinto que é esse o momento de mostrar por que sou sua irmã e me comportar como tal nesse momento difícil. Não esqueça de me ligar logo que puder. Espero estar totalmente errada quanto aos meus pensamentos. Mas preciso me certificar de que está tudo bem e você não está tentando cometer suicídio. Ah, e aqui estou eu novamente brincando com coisa séria! Ai, ai... então é isso. Por favor, por favor, por favor, me ligue, está bem? Preciso mesmo falar com você. Se não for essa semana pode começar a me esperar a qualquer momento aí no seu apartamento, porque eu juro que vou para aí correndo. Espero sua ligação. Se não a receber até amanhã mais ou menos por esse horário, lhe ligo de novo. E de novo, de novo e de novo se for preciso. Sou chata mesmo. Beijos Haylla. Adoro-te” e depois de alguns segundos, ela desligou.
Haylla suspirou. Sentia tanta falta da família. Estava imensamente arrependida de ter saído de sua cidade calma para meter-se em uma Londres tão agitada e ao mesmo tempo deprimente.
Ouviu novamente a mensagem da irmã e chegou a pegar o telefone do gancho para ligar para ela, começando a discar os números. Mas não conseguiu ligar. As mãos estavam trêmulas e acabara de chorar copiosamente. Tinha certeza de que Melissa viria correndo para ali no momento em que percebesse algo errado.
- Pela sua irmã. – falou a moça. – Haylla Hellarien, você precisa se reerguer. Uma fênix não ressurge das cinzas? É a sua situação. E é também a sua chance de mudar.
Ela levantou-se e dirigiu-se ao banheiro, lavando o rosto com muita água. Penteou e ajeitou os cabelos, colocou uma roupa mais confortável e deitou-se em sua cama, leu um pouco e caiu no sono minutos depois.
Haylla acordou e espreguiçou-se sobre a cama, sentindo-se completamente aliviada após o gesto. Levantou-se, sentindo-se muito melhor. Nem fazia idéia de que horas eram e nem queria saber. Primeiro iria se recuperar para depois pensar em voltar à Universidade, voltar a estudar, a fazer as coisas que geralmente fazia. Não queria se importar com nada naquele momento.
Passou pela sala e, inevitavelmente, olhou para a caixa das correspondências. Havia um novo bilhete lá. Queria lê-lo. Precisava lê-lo. Adiantou-se para ele e quando ia abri-lo, parou abruptamente. Não, não iria recair. Uma rosa caiu da caixa de correspondência. Uma rosa amarela, que brilhava mais que o próprio sol. Haylla não conseguiu segurar um sorriso, mas logo fechou a cara novamente e pegou o envelope pardo e a rosa. Caminhou até a lareira e acendeu-a. Esperou uns bons minutos até que o fogo ficasse alto e jogou os dois lá dentro.
- Com licença, eu poderia falar com você? – indagou Haylla ao porteiro.
- Claro, Srta. Hellarien. – ele respondeu com um sorriso.
- Por acaso já veio a saber quem deixa aquelas cartas para mim? – ela perguntou baixo, quase como num sussurro.
- Não. – respondeu ele, simplesmente. – Nunca soube. Como já lhe disse, elas aparecem aqui como mágica.
- Então eu gostaria de parar de recebê-las.
- O que faço com elas quando chegarem, então?
- O que quiser. Se quiser jogá-las no lixo, jogue. Se quiser queimá-las, queime. Se quiser jogá-las no rio, jogue. Não me importo, realmente.
- Tudo bem, já que a senhorita pede. – ele disse.
- Obrigada, muito obrigada. Fico muito agradecida se você, de forma alguma, não deixar que eles cheguem até mim.
Haylla amarrou o saco de lixo e, sem ao menos passar as mãos pelos cabelos, abriu a porta do seu apartamento. Um vento característico da época do ano passou pelo seu corpo, deixando a garota ainda mais zangada com tudo que estava acontecendo e com a vida.
Como em tantas vezes ela apertou o botão que chamava o elevador. Depois de alguns minutos que pareceram séculos a porta dele se abriu.
- Boa noite, Srta. Hellarien. – cumprimentou uma velha.
- Como vai, Sra. Murder? – ela perguntou, emburrada, reconhecendo a vizinha fofoqueira.
- Mal, muito mal. – ela resmungou.
- Oh, que pena.
Haylla revirou os olhos, não estava com vontade de conversar com aquela senhora naquele momento. Ela já estava irritando-a, desde o primeiro dia em que se falaram e as constantes visitas da mulher ao 15D.
- Não quer saber por quê?
- Sra. Muder, por favor. Este não é o momento ideal. – falou a moça.
- É aquele homem do prédio ao lado deste, de novo. Sabe o que ele fez?
- Não. – respondeu Haylla de maneira extremamente grosseira, sabendo que não haveria como fugir daquela situação e muito menos daquela mulher.
- Faz tempos que vem construindo uma guerra comigo. Canta praticamente todas as madrugadas solitárias dele! E os mios daquele gato dele, então? Não sei nem para que ele tem um gato. Que é que ele quer com um gato? Um homem da idade dele não deve se preocupar com gatos. Não com um que mia o dia inteiro, pelo menos. E ele está quebrando muitas louças ultimamente. Precisamos dar um jeito nele. Você não se incomoda com os barulhos dele, não?
- Nem os escuto, tenho mais o que fazer.
O elevador parou e Haylla saiu apressada de dentro dele.
- Sorte sua, senão estaria tão revoltada quando eu.
- Não sei se tenho tanta sorte assim, como diz. – resmungou Haylla baixinho, com voz triste.
- Por que, moça?
- Minha vida é um lixo. Eu sou um lixo. Não sirvo para nada, não sou nada, não faço nada bom, não...
- Pode ir parando aí! – disse a velha. – E eu lá sou mulher de ficar escutando este tipo de choramingo? Justo eu, que não incomodo ninguém?
- Não. – falou Haylla, largando o saco de lixo no lugar apropriado. – Desculpe Sra. Murder, mas eu preferia ser privada da sua companhia neste momento. Não estou passando muito bem.
- Você precisa se animar, Hellarien! Quem sabe uma boa briga não ajuda?
- Não quero saber de brigas.
- Ah, vamos lá! Seria bom você descontar sua raiva em alguém.
“Vou descontá-la na senhora então”, pensou Haylla, mas não disse nada em voz alta. Estava falando sério quando disse que não queria brigas.
- Não gostaria de ir brigar com o vizinho para mim? – perguntou a velha.
- Eu? É claro que...
- Por favor. – ela pediu. – Sou só uma velha desamparada que não tem ninguém para defendê-la. Sou muito velha mesmo e não consigo conviver com esse tipo de barulho.
Haylla encarou a mulher.
- Tudo bem, eu vou. Mas vou sozinha, a senhora volte para seu apartamento e fique lá quietinha, amanhã conversaremos.
- Obrigada, Srta. Hellarien!
A velha deu uma leve batida com a bengala da perna direita de Haylla e afastou-se, voltando para dentro do prédio. Haylla suspirou e chamou o porteiro do prédio ao lado para abrir as portas para ela.
O velho homem abriu e ela adentrou, tomando o elevador até o décimo quinto andar. O tempo que demorou em chegar lá foi angustiante e ela ainda não conseguia entender o porquê de estar indo tirar satisfações com alguém que sequer conhecia. O elevador parou novamente e ela bateu a porta do apartamento do homem que escutara cantar por noites a fio.
Ela ouviu um “Já vai” de dentro do apartamento. Ouviu risadas e observou o homem que estava à sua frente. Era muito alto, tinha cabelos ruivos opacos e os olhos azuis ostentavam uma tristeza profunda e avassaladora. Estes se arregalaram quando a viram.
- Hermione?
Próximo capítulo: A verdadeira identidade será descoberta. Tudo será explicado e os últimos momentos da vida de Hermione Granger será recontada.
N/A.: Mais um capítulo pequeno e mais um pedido de desculpas. Mas eu não poderia parar em nenhuma outra parte que não fosse essa. E não reclamem, afinal postei rápido e pretendo postar o próximo bem rápido também.
Sem mais comentários, espero apenas que vocês digam o que acharam do capítulo e que votem! Sem esquecer também de agradecer a todos que fizeram isso no último capítulo. Obrigada!
Manu Riddle
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