O Gato e o Sonho




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“Só se vê com o coração. O essencial é invisível aos olhos.”
Antoine de Saint-Exupéry



Sem a irmã ao seu lado, Haylla começou a dar mais atenção aos bilhetes e a achá-los muito mais interessantes. Já nem mais ligava para o fato deles sumirem praticamente no mesmo instante em que eram colocados na janela. Deixava-os sempre na mesma janela e em horários parecidos, como se fosse um ritual. E era o que estava se tornando para ela. Conversar com o Mestre tornara-se necessário, olhar a correspondência pela manhã e respondê-lo antes mesmo do almoço já era de praxe.

Haylla passara o dia todo fazendo um trabalho dificílimo para sua faculdade. Já estava sentindo a diferença entre os cursos dos dois lugares. Em Londres, tudo parecia merecer mais, ser mais responsável, mais atenção, mais dedicação, mais interesse. Talvez se sentisse dessa maneira por não estar mais na companhia de seus pais e familiares, que passaram a mimá-la demais depois de a encontrarem. Tanto que, sem a presença deles, ela sentia-se desprotegida.

Colocou o pijama com o qual se sentia mais confortável e apoiou os braços na janela. A brisa que indicava a chegada sorrateira do outono já estava no ar, parecendo acalmar as copas das árvores que se moviam com delicadeza.

Ela suspirou ao escutar o som de um piano. Alguém, no prédio ao lado, tocava baixo uma música triste, repleta de solidão. As notas calmas eram seguidas de outras ainda mais, dando à música um tom depressivo.

Ela olhou ao redor, atônita, tentando ver quem tocava. Porém, nada viu. Um pensamento veio, de súbito, na imaginação de Haylla. Seria esta pessoa a mesma que cantara com ela logo no primeiro dia em que estivera ali?

~*~*~


Oi, Haylla

Tudo bem com você? Hoje só mandei esse bilhete para poder lhe enviar mais detalhes sobre mim. Sei que você quer me conhecer pessoalmente, mas ainda não dá. Quero que a gente conheça melhor os gostos e vontades dos outros antes de tudo. Acho a personalidade das pessoas de suma importância.

Bem, junto com o bilhete mando uma foto. Nessa foto estão os três seres mais importantes da minha vida. Hoje sinto que jamais viveria sem eles. A menina maior e loira é minha sobrinha Liz, filha de meu irmão Gui. A garota de cabelos negros é Lily, a menininha da minha única irmã, Gina. Não tive filhos e, por isso, estas crianças são como se fossem minhas. E o gato... Bem, o gato chama-se Bichento. Eu o adoro e é meu preferido entre tudo e todos. Talvez ache isso estranho, mas é a única lembrança que tenho da mulher que mais amei em toda minha vida. Bichento era dela e, por vezes, eu o olho e relembro de seu rosto, de seu sorriso...

Mande uma foto de algo que seja importante para você, também. Só se lembre de não estar presente na fotografia.

Muitos beijos,

O Mestre dos Desejos



Haylla sorriu. Não gostou muito do comentário que ele fizera sobre a mulher que tanto amara, mas isso saiu de seu pensamento rápido, pois estava curiosa para ver a foto que ele lhe enviara.

Abriu o envelope novamente e tirou de lá o papel que não havia visto antes. Era papel de foto e ela virou-o rapidamente, a fim de observar atentamente todos os traços das garotas esperando formar um rosto para seu adorado mestre.

As pessoas estavam sobre uma cama de dossel muito grande, coberta com uma enorme colcha branca com almofadas e travesseiros para todos os lados. Identificou uma beleza esplendorosa em uma das meninas. Tinha feições muito claras e traços leves, que realçavam ainda mais sua boca de um rosa delicado. Os cabelos eram louros extremamente claros, lisos e encaracolados apenas nas pontas, e muito brilhosos. A outra menina era consideravelmente menor e aparentava um ano de idade, enquanto a primeira aparentava quatro ou cinco. Tinha cabelos negros pelos ombros e olhos extremamente verdes. Era incrível, Haylla sentia que já tinha visto aqueles olhos em algum lugar. De certa maneira, os conhecia. Uma bola de pêlos laranja chamou sua atenção no colo da menina.

Ao fitar o gato imaginou-o passando pelas suas pernas e ronronando. Balançou a cabeça, pois aquela cena parecia ter sido real. Mas não, era somente algo de sua imaginação. Ela apaixonou-se pelo gato. Era maior do que os que ela normalmente via e muito mais peludo. Era laranja e tinha o rosto achatado.

Querido Mestre,

Por que não me revela ao menos seu nome? Estou ficando curiosa e começando a achar estranho te chamar desta maneira. Bem, deixe para lá.

Primeiro, gostaria de lhe dizer que adorei a foto que me mandou. Suas sobrinhas são maravilhosas! Mas são tão diferentes. Quando soube que havia me mandado uma foto, pensei que poderia ligar os rostos das crianças e formar um para você. Mas, com uma garota de olhos verdes, outra de olhos azuis, uma loira, a outra morena... Não tenho nem chances! Só posso eliminar a chance de você ser ruivo. Mesmo assim, foi muito gratificante receber a foto. Espero poder conhecer as duas garotas pessoalmente algum dia.

E o gato... Eu poderia passar um dia inteiro falando dele! Já mencionei a você que simplesmente os adoro. E esse é simplesmente bonito demais. É diferente, mas me é familiar. Devo ter visto algum da raça dele em alguma revista ou qualquer coisa assim.

Como pediu, estou também lhe enviando uma foto. Minha família não é tão grande quanto a sua, infelizmente, por isso terei de lhe mandar uma de parentes mais próximos. Esta foto foi tirada na minha antiga casa, no interior da Inglaterra. Nela estão meu pai, à esquerda, minha irmã no meio e minha mãe, à direita. Adoro todos eles. Também são muito importantes para mim, afinal é a única família que tenho. Minha irmã ainda é solteira e talvez demore a ter filhos, do jeito que ela é, eu não duvido.

Espero que goste da retribuição.

Haylla Hellarien



P.S.: Não se preocupe, eu não sou muito parecida com nenhum deles. Então pode continuar afirmando que não sabe quase nada sobre minha aparência.


Haylla ficara um pouco triste em desfazer-se da foto. Era uma das poucas que tinha da família toda reunida. Seu pai usava óculos de grau fortes, com armação preta e quadrada e a mãe um vestido florido com fundo branco. Melissa estava em um dia ótimo e sorria muito.

Ela beijou a foto e a colocou dentro do envelope junto com o bilhete que acabara de redigir. Lacrou-o, como sempre, e depois se dirigiu até a janela onde ele foi depositado com todo o carinho e delicadeza possível.

~*~*~


A menina terminou de colocar as vestes e os sapatos. Olhou ao redor no dormitório onde se encontrava, pegou grossos livros e dirigiu-se até a porta. Como se conhecesse muito bem o local, desceu por uma escada que havia logo após o virar do corredor.

Saiu numa sala muito grande, com quadros e poltronas para todos os lados e uma grande lareira a um canto. Seus olhos pararam em um gato laranja e muito peludo sobre um dos sofás e ela correu para ele. Seus olhos brilharam de felicidade ao vê-lo, tanto que o abraçou muito forte.

Haylla Hellarien acordou de um pulo e sentou-se rapidamente em sua cama, no seu apartamento. Tivera um sonho estranho. Fazia força para lembrar-se dele. Havia um gato no sonho. Ela era mais nova e pegou-o em seu colo. Mas não conseguia reconhecer o local em que estivera. Onde seria?

Virou para o lado e viu sobre o bidê a foto que ganhara do Mestre. Passou seus olhos por ela e percebeu que o gato da foto era o mesmo do sonho. Ou não seria sonho? Seria uma lembrança verídica para ela lembrar-se de onde conhecia o animal? Ou ela estaria ficando louca e obcecada demais com o Mestre, e tudo fora apenas um sonho comum? Pensara muito no gato durante o dia. É, deveria ser isso.

~*~*~


- Mãe?

Haylla! Como vai, filha?”

- Muito bem. E vocês, está tudo bem por aí?

Estamos sentindo demais a sua falta. E a faculdade, suas notas, seu comportamento?”

- Estão bons, pode ter certeza. Mas está difícil e complicado também. Estou me esforçando.

Está gostando do curso?”

- Simplesmente adorando.

Que bom. Seu pai anda reclamando que ele anda meio caro.”

Haylla riu.

- Vou arranjar um trabalho logo e poderei, se não pagá-lo todo, uma boa parte dele.

Ah, filha! Mesmo?”

- Mesmo, mãe. Bem, na verdade, eu te liguei para perguntar uma coisa.

O quê? Pode dizer.”

- Onde eu estudei quando era adolescente?

Numa escola bem simples aqui perto de casa. Por quê?”

- Havia dormitórios nela?

Não, era tudo muito simples mesmo. Mas você adorava tudo que tinha a ver com essa escola.”

- Mãe, tem certeza? Não havia uma sala bem grande, com poltronas e uma lareira?

Não.”

- E por acaso não havia essas coisas em qualquer lugar que eu tenha ido lá pelos meus quinze, dezesseis anos de idade?

Não filha, não que eu me recorde muito bem. Mas por que, o que aconteceu para fazer essas perguntas justamente agora?”

- Tive um sonho estranho. E ele pareceu ser extremamente real. Aí fiquei com muitas dúvidas se fora sonho ou alguma lembrança, sei lá. Na verdade torci para que fosse uma lembrança.

Imagino como se sente, Haylla. Mas, sinto desapontá-la, você nunca esteve nesse local.”

- Ah! Mãe! Por acaso algum dia mencionei um gato laranja muito peludo?

Ele estava no sonho também?”

- Estava.

Filha, foi apenas um sonho. Não passou disso, tire essa história da cabeça. Você nunca conheceu um gato laranja nem nunca esteve num lugar cheio de poltronas e com uma lareira. Você viu tudo isso dormindo, por favor, esqueça-se de tudo. Isso não tem nada a ver com a vida real.”

- Desculpe. É que pareceu ser real. Aí achei que pudesse ser. – ela falou com voz triste.

Não se preocupe. Sei que algum dia vai recobrar sua memória. É só uma questão de tempo. De pouco tempo, eu diria. Não esquente a cabeça com isso, não vale a pena.”

- Tudo bem. A Mel está por aí?

Assistindo desenho animado. Vou chamá-la, mas sabe como ela é, não gosta de ser interrompida quando está fazendo essas coisas.”

- Sim.

Haylla! Nem acredito que você ligou!”

- Mel, estou com um problema!

Problema?”

- É. O Mestre me mandou uma foto onde havia duas garotinhas e um gato. Não estou nem aí para as garotas, mas não consigo tirar o gato da cabeça! Tenho certeza de que o conheço de algum lugar. Estou ficando paranóica!

Como era esse gato?”

- Laranja e bem peludo. Grande. Será que eu o conhecia?

Hm, não lembro dele, não.”

- Tive até um sonho com ele, e foi o que me acordou esta manhã. Eu sei, sinto que foi real! Foi uma lembrança, não somente um sonho! E nele eu era mais jovem e estava num local que eu não consegui me lembrar onde é! O gato estava lá e eu o adorava.

Não ligue. Foi só um sonho. Deve ter pensado muito no gato durante o dia.”

- Também pensei nisso. Mas é tão improvável!

Ah, não é tão improvável assim. E você deve estar pensando demais no Mestre para até chegar a sonhar com essas coisas.”

- Não vou tentar te enganar. Estou pensando bastante. E trocando bastante bilhetes com ele.

Sério? E ele disse mais alguma coisa interessante, revelou quem é?”

- Não. A única coisa que fiquei sabendo a mais é que sua única irmã chama-se Gina e tem um irmão chamado Gui.

Acho que não os conheço.”

- Também não me lembra nada. Infelizmente.

Ah! Meu desenho voltou. Preciso ir assisti-lo. Não se importa, não é?”

- Claro que não, pode ir.

Não esquenta com essa do sonho, nem com o gato, tudo bem? Logo você os esquece e tudo volta ao normal.”

- Tudo bem, eu não pensarei mais neles.

Verá que vai ser melhor. Ah! O Kelshio apareceu! Ele vai realizar todas suas vontades malignas e depois destruirá a galáxia!”

- Até mais então, Mel.

Tchau!”

Sua irmã Melissa jamais mudaria. Colocou o fone no gancho mais uma vez e fitou a foto que ainda estava em suas mãos. Não fora um sonho. E ela iria descobrir quando e onde tudo acontecera e o porquê dela gostar tanto daquele gato.

De repente, os olhos verdes da menina morena chamaram sua atenção. Também não eram desconhecidos. Ela balançou a cabeça. Sim, estava ficando paranóica mesmo. Precisava parar de pensar nisso, parar de achar que reconhecia aquelas pessoas e animais.

Uma cicatriz veio em sua mente, sobre aquele par de olhos que estavam usando óculos redondos de aro grosso. Sumiu no mesmo instante em que aparecera. Haylla suspirou. De quem eram os olhos que acabara de ver? Da menina, é lógico, mas de alguém mais. Seriam os olhos do pai dela? E quem seria o pai dela, o marido de Gina?

Próximo capítulo: A insistência do Mestre em determinado assunto deixa Haylla enfurecida e extremamente enciumada. Ela faz coisas que jamais imaginou fazer, e que jamais faria sã.

N/A.: E então, gostaram do capítulo? Foi meio triste para eu postá-lo, afinal é o em que os leitores descobrem o maior segredo da fic. Mas, é necessário, não é? Alguns acertaram em cheio quem era o Mestre. Parabéns para esses! E, alguns têm idéias sobre a Haylla... Acho difícil alguém não ter descoberto quem ela é realmente.

E agora, qual a graça de continuar lendo a fic? Eu diria que para saber o que fez “Haylla” perder a memória e a maneira como ela e o “Mestre” vão se encontrar. Espero sinceramente que tenham gostado! Algumas pessoas se sentirão frustradas, mas assim é a vida... ^^’

Ah, uma coisa importante que eu tenho a falar é que a fic só foi betada até este capítulo. Ou seja, para que eu poste o próximo é necessário que a minha Beta Reader o mande para mim primeiro. Só depois que eu o tiver em mãos betado, é que eu postarei. Se demorar, tenham paciência, por favor.

E, por fim, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada por todo o apoio e os comentários! Eu amo vocês! Continuem assim e façam a Manu postar, okay? Se vocês não insistirem, sabem que eu sou chata. Até mais!

Manu Riddle

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