Sozinha Novamente
“Se seus sonhos estiverem nas nuvens, não se preocupe, eles estão no lugar certo; agora construa os alicerces.”
Autor Desconhecido
- Haylla, bateram na campainha, mas quando fui ver não tinha ninguém na porta.
Melissa ainda estava com seu pijama e as pantufas. Estava com olheiras e os cabelos totalmente bagunçados, devido ao fato de ter acordado há pouco. Ela estava parada na porta do quarto de Haylla, tentando manter uma conversa com a irmã que dormira tanto que nem sequer ouvira a campainha tocar.
- Deve ter sido o porteiro, deixando a correspondência.
- Não tinha nada embaixo da porta.
- Deve estar tudo na caixa do correio. – resmungou Haylla, com as mesmas olheiras que a irmã.
- Por que eles batem na campainha se tem caixa de correio? – perguntou Melissa, parecendo furiosa.
- Não sei. E me deixe dormir.
Haylla virou para o lado, colocou o travesseiro sobre a cabeça e, devido as poucas horas que dormira à noite, caiu no sono novamente.
Ela espreguiçou-se e esticou-se na cama. Aquilo tudo estava tão bom. Recuperar o sono era esplêndido, principalmente num dia em que ela teria que voltar às aulas. Tudo estava correndo bem por lá, mas mesmo assim a preocupação tomava conta da moça.
Haylla levantou-se e passou pela sala. Lembrou-se que sua irmã a acordada há algum tempo, e ela não sabia quanto, falando sobre a campainha. Olhou para a caixa do correio e lá estava um envelope pardo, sem remetente. Ela abriu-o rapidamente, sentando-se no sofá e tirando os cabelos despenteados do rosto.
Haylla,
Fiquei imensamente feliz quando vi que você havia recebido meu bilhete e principalmente que tomara a iniciativa de respondê-lo. Sim, deve ter achado estranho deixar o envelope na janela. Bem, deu certo! E é a única maneira de dar. Pode continuar acreditando em mim, pois saberei dar o devido valor ao seu voto de confiança.
Achei muito interessante sua história. Aquela de ter perdido a memória. Deve ser difícil se reerguer depois, sem lembrar-se de nada. É assustadora a idéia de qualquer pessoa lhe falar alguma coisa e, por você não se lembrar, não poder contestar.
Sua irmã mais nova está aí com você, é? Fico feliz que se dê tão bem com sua irmã. É a única? Eu tenho vários irmãos. E nem me dou bem com todos eles. Dizem que é comum em uma família. Concorda? Sei não. Bem, já que você mencionou sua idade, acho melhor dizer a minha também. Tenho vinte e um anos. Coincidência? Talvez. Mas uma boa coincidência, não é? Acho que a idade pode influenciar nos relacionamentos.
Você disse que adora estudar. Bem, nesse ponto não combinamos. Espero que não fique chateada, mas eu não estudo. Estudei muito já, é claro, mas não fiz nem faço faculdade alguma. Fico confuso sempre que penso nessas coisas. Na verdade, eu ia estudar para ser uma coisa, mas aí não deu certo. Perdi o ânimo e também pessoas que me apoiavam. Mas, como já disse, isso você talvez venha a saber mais tarde.
Estou adorando te conhecer. Fale mais sobre você, sobre sua personalidade. Só lembre-se de que não quero saber de sua aparência por um tempo. Já lhe dei os motivos. Basta-me lembrar de seu perfume.
Espero resposta.
O Mestre dos Desejos
Haylla sorriu, feliz por ter sido respondida. Este estava sendo o primeiro amigo que fazia naquela grande cidade. Este era o primeiro bom sentimento que conseguia encontrar por lá. Também se sentia só. Agora, concordava com a citação “A solidão está no meio das multidões.”. Sim, ela era verídica. Em meio a tantas pessoas, a tantos milhares de homens e mulheres, ela não conseguira encontrar ninguém. Mas agora encontrara.
- Haylla, já levantou? – perguntou uma voz vinda dos quartos.
- Acabei de levantar. Que horas são? – ela indagou, lembrando-se de que existiam horas.
- Três e meia da tarde. – respondeu Melissa, olhando em seu relógio de pulso.
Haylla gritou. Não acreditava que pudesse ser tão tarde.
- Você está brincando!
- Não estou, não! – retrucou Mel. – Pode olhar aqui se quiser.
- Então esse relógio parou quando ainda era madrugada – ela supôs.
- Não, porque nós fomos dormir cinco e quinze da manhã, e tenho certeza que olhei nesse relógio.
- Meu Deus!
Haylla esgueirou-se até a cozinha e lá checou as horas no relógio de parede, onde os ponteiros eram uma vagem e um galho de couve-flor. Quando voltou, Melissa estava lendo o bilhete que havia acabado de chegar.
- Mel, devolve isso. – ela pediu, com a mão esticada na direção da irmã.
- Deixe-me terminar de ler. – Melissa respondeu.
- Não, não deixo. O bilhete é meu e eu o quero. Dê-me, já.
- Mas é tão bonitinho!
- Melissa, devolve. – falou ela, imperativa.
A garota parou de ler e devolveu o bilhete dentro do envelope.
- Vou arrumar o café, ou melhor, o lanche para nós. – falou Haylla, ainda com a cara fechada.
- Tudo bem.
Ela foi até a cozinha novamente e estava arrumando a mesa quando ouviu o telefone tocar. Melissa gritou um “Eu atendo!” lá da sala e logo não se ouviu mais nada.
- Quem é? – Haylla perguntou baixo para a irmã.
- Mamãe. – e depois para o telefone. – Não fiquei sabendo, não! Mas... Mãe! Não tem problema! Está tudo bem aqui! É claro que não. Por quê? Não, não explicou. Então explica de novo.
- Que ela quer? – indagou Haylla novamente.
- Fale com ela. – resmungou Mel, com a cara fechada, e entregou o telefone.
- Mãe?
“Haylla! Finalmente vou falar com alguém sério, hoje.”
- Está tudo bem por aí?
“Aqui, sim. Mas sei que aí pela sua Londres não anda muito.”
- Não? Que aconteceu aqui?
“Vai dizer que não sabe, Haylla? Aqueles ataques. Estes, que andam acontecendo em todos os lugares. Nos metrôs, nas praças, nas lojas... os jornais só noticiam isso! Como você pode não saber?”
- Não ouvimos nada mãe, é verdade.
Melissa encarou Haylla, fazendo cara feia novamente.
“A Melissa dizer isso, tudo bem. Mas você, Haylla? Por favor, seja sincera. Vocês sabem, sim.”
- Não sabemos mãe, é sério. Acredite em mim, por que eu mentiria?
“Não me obrigue a responder a essa pergunta.”
- Tudo bem. E o que você quer?
“Em primeiro lugar saber se vocês estão bem. E se Melissa está tomando os remédios dela.”
- Que remédios?
Mel soltou um grito ao ouvir isso. Olhou para Haylla e murmurou um “Esqueci”.
“Que remédios? Eu vou matar Melissa Hellarien.”
- Mas ela está tão bem, mãe. Nem achei que precisasse de remédios.
Mel fez sinal de positivo para a irmã.
“Não interessa. Sua irmã está sempre alegre. Ouso dizer que ela morrerá rindo e fazendo piadinhas sem graça.”
- As piadas dela têm graça, sim. Admita.
“Este não é o assunto em pauta!”
- Tudo bem. Qual é o assunto, então?
“Como vocês estão.”
- Estamos muito bem, obrigada.
“Mesmo?”
- Mesmo, mesmo, mesmo. Muito bem.
“Quero que a Mel volte.”
- Você quer que a Mel vol... O quê?
Melissa escancarou a boca.
“Quero que ela volte. Já tentei convencer você a voltar e não deu certo. A quero de volta, perto de mim. Esses ataques me deixam preocupada.”
- Estou cuidando dela, mãe! E aqui na região onde moro ainda não aconteceu nada!
“Disse bem, ainda! E se acontecer? Minhas únicas filhas aí, nesse viveiro de cobras? Não! Pode dizer para a Melissa que amanhã mesmo ela estará de volta.”
- Amanhã?
“É, amanhã. E sem mas, gritos, berros, sapateios e choros.”
- Mas...!
“O que eu disse?”
- Você é muito má. Quer me dar o troco por ter te deixado, não é?
“Não blasfeme.”
- Mas é verdade.
“Dê-me sua irmã, ainda quero falar com ela, dizer a que horas a esperarei na rodoviária.”
- Só mais uns dias!
“Nem meio dia. Aconselho-a a ajudá-la com as malas desde já.”
- Eu vou me vingar.
“Sua irmã Melissa, Haylla.”
- Boa semana para você também, mãe. Mas eu acho que a minha não será muito boa.
“Haylla Hellarien! Não seja mal educa...”
Haylla passou o telefone para a irmã, também fazendo cara feia.
- Tentei, mas não deu. – ela falou ao entregá-lo para Melissa.
Mel suspirou e atendeu ao telefone.
- Diz. – ela falou. – Amanhã às oito? Não tem como me deixar mais um tempo, não, mãe? Ah, não? Só até depois de amanhã. Tudo bem, eu vou para casa. Só não reclame se eu não lavar a louça. Haylla tem uma lavadora. Você não sabia?
Haylla cutucou a irmã.
- Ai! Não, não é nada. Só senti uma coisa aqui. Deve ser um espinho no sofá da Haylla. Eu estava brincando mãe, não precisa ficar nervosa. Está tudo muito limpo aqui. É sério, pode vir ver. Sim. Está bem, espero-te. Sim. Sim. Sim, mãe! Sim. Tchau.
Melissa recolocou o fone no gancho, com uma expressão muito abalada. As duas se encararam durante alguns instantes.
- Quer me ajudar a responder o bilhete do Mestre antes de ir?
- Sério que você deixa? – ela pareceu alegrar-se.
- Sim!
Mestre,
Aqui é a Mel. Eu sou a irmã da Haylla e tenho dezoito anos. Ela está momentaneamente impossibilitada de responder o bilhete e, por isso, eu estou respondendo por ela. Sim, ela está bem. Só que está chorando muito. É que eu vou embora. Mamãe ligou aqui e me obrigou a voltar. Vou amanhã mesmo. Aí ela começou a chorar e a chorar muito, então resolvi escrever para ela. Bem, quando eu falei que ia fazer isso ela melhorou um pouquinho, deu um pulo bem alto, viu minha cara de tristeza e resolveu voltar a chorar e me entregar o papel e a caneta. Agora, me olhando escrever, ela chora mais ainda. Por que será?
Ela mandou dizer: “Chida pa el qui chochano podois.” Ai! Ela me deu um soco. Na verdade, ela disse: “Diga para ele que conversamos depois.” Deve ser quando o estado de espírito dela estiver melhor, não é? Quando já se acostumar sem minha presença. Vai demorar um pouco.
Hm, aproveitando que ela não está olhando, poderia fazer uma pergunta? Que tipo de desejos você [parte ilegível do bilhete, pois Haylla rabiscou tudo e chegou até a furar o papel]. Desculpe a Haylla, ela não está muito bem mesmo. E agora, até eu estou chorando. Mas é que ela quase enfiou a caneta no meu olho numa tentativa frustrada de me matar. E pegou na minha bochecha, então está doendo muito.
Se algum dia vier a conhecer minha irmã melhor, lembre-se de perguntar por mim. Eu adoraria conhecê-lo. Só vai ser meio difícil convencer minha mãe a me deixar voltar para cá, nem que seja só por um ou dois dias.
Falamos-nos, quem sabe. Tudo de bom.
Melissa Hellarien
Haylla, após ler o bilhete amassou-o e jogou-o no lixo. Melissa voltou lá e pegou o bilhete novamente sem que a irmã visse. Deixou na janela, como havia instruído o Mestre e, quando voltou no local quinze minutos depois, não viu mais nada.
- Tchau, Mel. – disse Haylla, abraçando a irmã. – Logo essas coisas vão passar e tenho certeza que mamãe deixará você voltar.
- Queria ter sua certeza.
Melissa estava com as malas prontas e várias pessoas entravam na circular.
- Desculpe não te acompanhar. Sabe que tenho um trabalho difícil a ser feito.
- Não se preocupe. Andei tanto com você por aqui que até já aprendi algumas coisas. – ela riu.
- Que bom! Estou lhe esperando. Convence a mamãe de te deixar voltar. Ou de vir me fazer uma visita. Sei que ela vai gostar daqui, só não gosta porque não veio ainda.
- Eu falo com ela. Mas, sabe, não posso garantir nada.
- Manda abraços para o papai. E para todo mundo que eu gosto, você sabe quem.
- Manda lembranças minhas para o Mestre.
Haylla sorriu.
- Se eu voltar a falar com ele, sim.
- Como assim, se eu voltar a falar com ele? Promete para mim que não vai parar de se corresponder.
- Mel...
- Promete.
- É perigoso.
- Por favor. – ela insistiu.
- Tudo bem, eu prometo.
- Estou vendo que até virei para o casamento dos dois!
Haylla riu novamente, feliz.
- Veremos, então, mocinha.
- Tchau, Haylla.
- Até logo!
Haylla observou a irmã subir na circular e acenar para ela da janela. Logo, a circular já havia partido e a rua tornara-se deserta novamente. A moça voltou para seu prédio e quando estava quase entrando no elevador, alguém a chamou.
- Srta. Hellarien?
- Sim?
- Acabou de chegar correspondência para você.
O porteiro dirigiu-se até ela e entregou o já habitual envelope pardo.
- Por acaso conhece quem deixa isso aqui? – ela perguntou baixo, arqueando uma sobrancelha.
- Não. Aparece aqui de repente. Até parece mágica!
Haylla só conseguiu sorriu.
Adorei sua irmã, Melissa é muito simpática e engraçada. Ela é sempre assim?
O Mestre dos Desejos
- Eu vou matar a Melissa. Eu juro que vou esganá-la e fazer picadinho dela quando a vir. – resmungou Haylla, ficando rubra de vergonha diante do bilhete.
No próximo capítulo: Os dias passam e Haylla percebe a falta que sua irmã faz. Falta que a cada dia é mais preenchida pelo “convívio” com o Mestre dos Desejos. Uma foto enviada por ele de alguns parentes provocam várias reações na moça que, desesperada, chega a ligar para a família.
N/A.: Olá, meus queridos! Já disse o quanto eu amo vocês? Muito! Nossa, mal sei como agradecer o apoio que vocês estão me dando com essa fic. Fico realmente muito feliz com todos os comentários, com todos os incentivos e elogios! Só falta saber se eles são realmente sinceros para minha felicidade estar completa.
Agradeço também às várias pessoas que me mandaram e-mails sobre quem é o Mestre. A maioria está seguindo a pista certa. E, no próximo capítulo, os mais atentos já poderão afirmar quem é ele. Muito obrigada mesmo!
Hoje, nota da autora menor. Mas, antes de me despedir de vocês, eu gostaria de divulgar minha outra fic, que vários leitores dessa também já conferem. Quem puder e quiser passar lá e comentar, eu agradeço muito.
A Herdeira do Mal
http://floreioseborroes.net/menufic.php?id=5229
Continuem comentando e votando! Beijos, Manu Riddle.
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