O Primeiro Bilhete




Photobucket - Video and Image Hosting


“A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las.”
Autor Desconhecido



- Ele me convidou para entrar. E eu...

- E você? – perguntou Haylla, ansiosa.

- É claro que entrei, não sou idiota – ela riu. – Mas depois fiquei preocupada, sabe como é, não sabe? Tinha meus motivos.

- E mesmo assim ficou lá?

- Fiquei. Parecia que meu cérebro dizia que precisava ficar lá e meu corpo acatava essas decisões – ela disse.

- E aconteceu algo?

- Aconteceu. E foram vezes demais para se referir no singular.

- Melissa!

As duas caíram na gargalhada, apenas imaginando cenas. Haylla sentia-se muito melhor na presença da irmã. Já haviam ido três vezes ao cinema, deram várias voltas pelo bairro, já conheciam metade de Londres devido às andanças e comeram tudo que jamais imaginaram comer. E só fazia uma semana que estavam na capital inglesa, juntas. Era incrível a quantidade de encrencas que elas duas conseguiam arranjar em tão pouco tempo.

- Haylla, você está com sede?

- Um pouco, por quê?

- Você poderia fazer um suco para a gente.

- Ah, por que eu?

- Porque você é a dona da casa.

- Ah! É mesmo. Não posso deixar que você estrague meu liquidificador.

Haylla recebeu um golpe de almofada no rosto por causa do comentário que fez. Levantou-se do sofá ainda rindo e dirigiu-se à cozinha. Sem dúvidas o cômodo mais limpo e arejado da casa, como a moça gostava, ela parecia um espelho. Haylla abriu uma das portas do armário e de lá retirou tudo o que precisava.

Enquanto cortava as laranjas ouvia Melissa imitando os personagens de desenho animado na sala. Ela era a garota mais alegre que conhecia. Estava sempre feliz, ria de tudo, gargalhava gostosamente e estava de bem com a vida. Por que será que ela também não era assim? Não parecia ser tão difícil.

Com jarra e copos em mãos, foi até onde a irmã estava e serviu-a.

- Parece que chegou alguma coisa para você. – esta disse, apontando para perto da porta, onde ficava a caixa do correio.

- Oba, minhas primeiras correspondências!

- Parecem ser contas.

- Ah, sua estraga prazeres!

- Só disse a verdade.

Haylla bebeu um gole de seu suco, fazendo uma leve careta quanto ao gosto. Depositou o copo sobre a mesa de centro e foi até os envelopes que haviam chegado.

- Você estava certa. – comentou com Melissa. – São só contas... Não, espere aí! Tem algo diferente entre elas!

Era um envelope de tom amarelado e com aparência de antigo. Em sua frente estavam escritas as palavras Para: Haylla Hellarien e Apartamento 15D numa caligrafia fina que pendia bastante para a direita de cor verde.

- O que é isso? – perguntou Melissa do seu sofá.

- Uma carta para mim. – a voz de Haylla estava parecendo fraca.

- Falando desse jeito todo emocionado, até parece que nunca recebeu uma carta. – comentou a garota.

- E nunca recebi mesmo. – falou ela. – Pelo menos não que eu me lembre.

Haylla jogou-se no sofá em que estava a irmã, apenas com a carta que lhe chamara a atenção em mãos. As outras ela deixou sobre a mesa de centro da sala, completamente esquecidas.

- Abre de uma vez. – resmungou Mel.
Haylla lançou-lhe um olhar fuzilador e rasgou a parte de cima do envelope. Tirou de dentro dele um papel com pauta, simples, e com a mesma aparência de antigo que o envelope.

- Leia em voz alta.

- Tudo bem. – Haylla revirou os olhos.

Querida Haylla,

Deve estar se perguntando o por quê de eu, um completo estranho, estar lhe enviando uma carta. Não se assuste, não sou nenhum desses maníacos que contatam as moças por aí para fazer coisas indevidas ou obrigá-las a fazer (por favor, não me julgue por esse comentário).

Estava caminhando na rua esses dias no período noturno e a vi caminhar apressadamente pela calçada. Sem querer nos chocamos e você deixou cair suas coisas. Até pensei e tentei ajudá-la com o que quer que estivesse acontecendo, mas você foi simplesmente rápida demais. Quando vi, já estava longe com suas coisas. Observei-a caminhar, até porque estava boquiaberto com suas ações, e vi que entrou nesse prédio. Deduzi que fosse essa sua morada, já que parou ali àquela hora. Quando me voltei para o chão, vi um pequeno papel onde havia vários dados seus, como nome e endereço.

Pensei por realmente um longo tempo e acabei me decidindo por escrever a você. Apesar de estar escuro e a rua muito pouco iluminada, achei-a linda. Não vi seu rosto, mas algo em você encantou-me profundamente. Acho que foi seu perfume. Não, não uma colônia. Mas, sim, um perfume natural. Ele me chamou a atenção. Seus movimentos. Não sei, realmente não sei dizer o que foi exatamente. Mas algo muito forte me fez escrever a você.

Gostaria que você respondesse a esse bilhete (é assim que pretendo chamá-los). Moro sozinho há mais de um ano e esse sozinho quer dizer sozinho mesmo. Tenho família, é lógico, e todos me amam muito, mas o tempo deles anda curto para se preocuparem comigo. Sim, sou insignificante. As coisas da vida me deixaram retraído, tímido e fechado. Quem sabe algum dia você venha a saber quais foram as coisas que me deixaram assim. Fale um pouco sobre você, me conte alguma coisa. Sei lá, eu gostaria de me corresponder, conhecer alguém novo, coisas novas. Ficaria muito feliz se você pudesse me ajudar a mudar minha vida.

Por enquanto, não vou me identificar. Sim, talvez você tenha ficado chateada com isso, mas acho necessário. Realmente me decepcionei demais na vida e quero conhecer sua personalidade primeiro e depois, e somente depois, seu rosto e/ou outras coisas. Se for responder (por favor, faça isso) enderece apenas ao Mestre dos Desejos. Deixe na janela de seu apartamento preso por alguma coisa pesada que o vento não consiga levar e, depois, apenas espere pela resposta. Dará certo se fizer como lhe disse, eu garanto.

Até logo, espero.

O Mestre dos Desejos



Haylla estava muito concentrada lendo e acabou por nem ver que todo seu suco fora derramado no chão. Melissa também ouvia tudo com atenção redobrada, escancarando a boca mais e mais praticamente a todos os instantes que se passavam.

- Incrível. – murmurou ela ao final.

- Eu nem sei o que pensar, muito menos o que falar. – disse Haylla. – Nunca sequer imaginei que pudesse acontecer algo desse tipo comigo!

- Incrível. – repetiu Mel.

- Eu lembro desse dia, sabe? O que ele diz aqui. – ela disse, completamente sorridente. – Lembro também de ter batido em alguém, mas estava preocupada. Muito preocupada. Estava sendo seguida, ou ao menos tinha essa impressão. Mas não lembro dele.

- Por quê?

- Já disse que estava preocupada, nem lembrei de reparar no rapaz. No dia seguinte liguei para você, para vir para cá, lembra? Já faz uns dez dias tudo isso.

- Como que você bate com alguém e não está nem aí?! – indagou Mel.

- Já lhe expliquei. – falou a moça. – Você também iria correndo para casa se estivesse na mesma situação em que eu estava. É mesmo desesperador. Era tarde da noite.

- E o que você estava fazendo tarde da noite fora de casa? – Melissa arqueou uma sobrancelha.

- Voltando da faculdade. – ela respondeu, entre dentes.

- Ah... – a garota pareceu entender. – Mas mesmo assim. Deveria ter parado para conversar com ele.

- Recuso-me a discutir isso com você.

- Tudo bem. – ela fechou a cara, mas não resistiu ficar assim por muito tempo. – Quer dizer então que seu perfume natural anda fazendo sucesso por aí, é?

Haylla riu.

- Parece que sim.

- E seus movimentos, também.

- Melissa! Assim vai me deixar encabulada.

- É, mas quando dizemos que você é um gênio, não fica encabulada. – Melissa resmungou. – Tem que aprender certas coisas, maninha.

- Mel, você sabe muito bem que eu dou mais importância a certas coisas do que a outras.

- Todos são assim.

- Mas eu dou importância a coisas realmente importantes, sabe? Como os estudos, por exemplo.

- Muito bem, eu não vou discutir com você sobre coisas óbvias como essa a que você está tentando lutar contra, mas também não posso dizer que concordo com suas idéias.

- Nem precisa, já sei muito bem disso. – falou Haylla.

Melissa bufou.

- Quando vai pegar o papel e a caneta?

- Para quê?

Melissa jogou a almofada no rosto da irmã novamente.

- Oras, para quê? Para responder ao Mestre, para que mais seria?

- Quem disse que eu vou responder ao Mestre?

- Hm... não? – ela perguntou sugestiva.

- Eu... Bem, eu não sei.

- Sei.

- Melissa. – ela a repreendeu. – Talvez ele seja um maníaco que contata as moças por aí para fazer coisas indevidas ou obrigá-las a fazer.

- Logo no início do bilhete ele já disse que não é desses.

- Por isso mesmo eu pensei que fosse.

- Mas não é.

- Tudo bem, eu mando. Mas só com uma condição.

- Qual?

- Pega papel e caneta para mim. – ela disse.

Melissa a encarou com descaso.

- É sério? – perguntou depois de algum tempo.

- Sim, é sério.

Ela suspirou profundamente e levantou-se. Resmungou um “Onde está o papel e a caneta?” quando já estava no outro lado do apartamento e voltou um tempo depois com os objetos pedidos nas mãos.

- Estão aqui. Agora escreve.

Haylla pegou o papel, escreveu um “Querido Mestre dos Desejos” no topo da folha e parou abruptamente, olhando para Melissa de novo.

- O que eu escrevo?

- Hm, diz que você ficou muito contente ao receber o bilhete e quer conhecê-lo.

- Jamais! Outra coisa.

- Diz que você gostou do apelido dele e quer saber quais desejos ele realiza.

- Estou falando sério.

- Eu também. Se ele for um tarado você vai agradar.

- Desculpe, mas não estou nem um pouco a fim de agradar tarados. – ela não conseguiu segurar o riso, nem Mel.

- Pode dizer que você também realiza desejos e perguntar se ele está com vontade de passar aqui no seu apartamento para certificar-se.

Haylla lançou um olhar completamente reprovador à Melissa.

- Eu não vou dizer isso.

- Que tal “sou uma nerd acérebra e meu livro predileto é Os Três Porquinhos”?

- Acéfala. – corrigiu Haylla.

- Você vai escrever isso? – ela sobressaltou-se.

- É lógico que não. – a moça revirou os olhos.

- E...?

- Não, também.

- Ah, justamente agora que eu ia falar sério!

Três horas depois, quando o sol já se punha no horizonte, Haylla Hellarien havia acabado de lacrar seu envelope. Demorara porque não conseguia entrar num acordo com Melissa, que fazia questão de colocar no bilhete coisas que Haylla não havia dito e jamais pensara em dizer. Sem falar nas brincadeiras e nos longos minutos em silêncio das duas, quando achavam que queriam não se falar nunca mais.

Melissa fora tomar banho, pois Haylla a obrigara a limpar o chão onde o suco fora derramado quando percebera o ocorrido. Haylla dirigiu-se até uma janela de seu apartamento e lá deixou o envelope que acabara de lacrar, mas não sem antes dar-lhe uma última olhada.

Querido Mestre dos Desejos,

Devo admitir que fiquei extremamente surpresa com seu bilhete. Moro aqui em Londres não faz nem um mês e antes morava numa pequena cidade no interior da Inglaterra. Vim para cá a estudos e não resisti muito tempo sem minha irmã mais nova, Melissa, que agora está aqui me fazendo companhia.

Desculpe-me, por favor, por qualquer coisa ocorrida naquele dia. Tinha recém saído de minha nova universidade (estou cursando o segundo ano de jornalismo) e senti passos estranhos atrás de mim. Por isso eu estava andando muito mais rápido do que o habitual e provavelmente fui grossa com você naquela noite. Mais uma vez, por favor, me desculpe.

Minha vida também não foi nada fácil. Só para você ter uma idéia, tenho vinte e um anos e só me lembro da minha vida a partir dos vinte. Sim, é sério. Sei que você deve estar rindo aí, achando que é uma piada, mas não é. Minha história é algo difícil, até porque os momentos mais importantes eu nem sequer recordo. Perdi a memória. Não sei por que, onde, nem como aconteceu. Quando acordei, há mais ou menos um ano atrás, simplesmente não lembrava de nada nem reconhecia ninguém. Sorte que fui encontrada pela minha família.

Oh, desculpe! Já comecei a falar sobre mim. É incrível como o meu assunto sempre se volta para a mesma coisa. Espero que não fique chateado. Gosto muito de estudar, isso é muito importante para mim. Na verdade (e minha irmã está aqui salientando), é a coisa de mais importância em minha vida.

Não concordo com sua idéia de ocultar seu nome por enquanto, mas devo admitir que seu apelido é bem legal.

Essa parte foi escrita por Haylla sob total pressão por parte de Melissa.

Estou fazendo como você pediu, deixando a carta sobre a janela. Fiquei curiosa quanto a esse ato, pensando se dará certo. Mas, se você diz... então, vamos lá.

Até mais!

Haylla Hellarien



Haylla parou antes de sair do cômodo e olhou novamente para a janela. Desistira. Iria mudar tudo o que escrevera, ia tirar todas as partes que Melissa a obrigara a escrever e talvez até nem mandasse mais esse bilhete. Seus olhos piscaram e a boca entreabriu-se. O envelope já havia sumido.

No próximo capítulo: Uma triste notícia é recebida pesarosamente pelas irmãs Hellarien. Devido a ela, Melissa escreve um bilhete ao Mestre, bilhete este que contraria todas as idéias de Haylla.

N/A.: Oi, pessoas! Antes de mais nada, quero agradecer a todos que comentaram. Então, muito obrigada! E, Jeanny, antes que eu esqueça, quero dizer que os personagens de Rowling vão aparecer bem antes do que você imagina. E, como e em que circunstâncias eles vão aparecer, é o mistério da fic. Espere e verá!

E, para todos meus adoráveis leitores que estão querendo dar uma de Sherlock Holmes e descobrir antes do tempo os segredos da fic, digo para olharem atentamente a todas as informações dadas pelo Mestre. A chave está nos bilhetes. E, se você descobrir, não diga pelo comentário, por favor! É para isso que eu tenho e-mail ^^’

Espero que tenham gostado do capítulo. O próximo virá em breve, só não garanto que será no próximo domingo, pois nem sei aonde vou estar. Mas, sabem, se os comentários vierem, os capítulos também vem. Então, comentem!

Manu Riddle

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.