O velho rádio
- Harry? – perguntou a Sra. Weasley sentada ao seu lado no meio da escada.
As lágrimas escorriam com facilidade. Seu pensamento estava confuso, agora não tinha mais certeza se valia a pena brigar com Rony e Hermione.
Você não pode simplesmente voltar lá e pedir desculpas, não depois dele ter dito tudo aquilo. Disse uma voz em sua cabeça. É! Mas, você sabe muito bem que as pessoas não medem palavras quando estão irritadas e também sabe quem esteve sempre com você nas horas de dificuldades. Dizia outra voz pondo-lhe ainda mais confuso.
- O que foi que houve? Todo esse barulho... – dizia ela no instante em que Rony e Hermione apareciam no alto da escada.
- Não foi nada – respondeu enxugando o rosto com a manga da camisa.
- Como não foi nada? E todas essas coisas? – perguntou apontando para o malão e a gaiola que Edwiges se encontrava assustada e inquieta.
- São minhas.
- Eu sei que são suas. Você não estaria indo...
- Embora? Estava sim. Acredito que Hermione poderá lhe explicar mais tarde – respondeu sem olhar para a amiga no alto da escada.
- Que? Você não irá a lugar algum! – bradou ela incrédula.
- Obrigado por tudo. Gosto muito da senhora, serviu-me como mãe nesse tempo todo mais surgiu um problema e eu não quero mais ficar.
- Problema? Que problema? – perguntou ela quase se entregando as lágrimas quando o garoto mencionara que tinha o servido como mão.
- Hermione lhe explicará, já disse – concluiu decidido pondo-se de pé.
- Você não pode ir. Não tem porque. É perigoso demais, você sabe muito bem – tentava Molly a fazê-lo voltar atrás da decisão.
- É perigoso, mas posso enfrentar coisas pior do que já enfrentei. A propósito, tenho dezessete anos e sou maior de idade.
- Esqueça isso. Para onde você vai? – as lágrimas já eram visíveis no rosto adulto da Sra. Weasly.
- Ainda não sei. Não se preocupe comigo, em breve nos falaremos.
- Foi alguma coisa com Gina?
- É, foi.
- Mas isso pode ser conversado.
- É, pode. Mas o problema é o que vem depois – e nesse tom de mistério abraçou-a e caminhou até a porta.
- Almoce pelo menos.
- Obrigado pelo convite mas, eu me viro mais tarde.
- Não vai sumir tão fácil. Vou dar um jeito para tudo resolver.
- É, sei que vai.
- Dá pra parar com isso? – perguntou ela confusa.
- Desculpe, só estava brincando – respondeu sorrindo.
- Como vai? – perguntou ela segurando a maçaneta da porta.
- Aparatando, acho que agora consigo sozinho. – respondeu analisando para onde ia. Estava em dúvida do Largo Grimmauld ou o Caldeirão Furado.
- Tome cuidado e volte logo.
- Ok. – e assim dizendo desapareceu em um craque.
Agora estava em uma rua relativamente movimentada. Atravessou-a e parou em frente de uma pequena loja. Tinha um aspecto velho e sombrio, com teias de aranha que se formavam nas juntas da construção. Certamente que não a notaria se não houvesse estado ali anteriormente mas, era assim que ocorria. As pessoas que por ali transitavam nem mesmo olhavam para aquele lugar “abandonado” e “indesejável”.
Com um esforço ao girar a maçaneta da porta, Harry entrou. Com certeza o tempo fizera a emperrar porque fora necessário dar um empurrão com a ponta do pé.
O local era mal iluminado, ainda era assim quando o conheceu pela primeira vez há seis anos. O Caldeirão Furado era um bar de renome na comunidade bruxa, andava sempre movimentado com bruxos e bruxas que se reuniam para tomar um copo de cerveja amanteigada e discutir os últimos acontecimentos como a queda do time de quadribol Francelhos de Kenmare para a segunda divisão da Liga dos Times de Quadribol naquela época.
Mas algo tinha mudado, o movimento caíra. Já tinha percebido quando viera ano passado comprar os materiais de Hogwarts.
Agora só tinha duas mesas ocupadas.
Um casal de bruxos discutia alguma coisa em uma mesa defronte do balcão. O homem apontava para alguma coisa em uma folha de jornal enquanto a mulher olhava interessada antes de fazer uma cara de espanto como se tivesse visto uma versão dócil de Lord Voldemort.
Harry esticou-se para tentar sem sucesso identificar do que se tratava a matéria do jornal. Acreditava que era referente ao ocorrido no Beco Diagonal.
No fundo do bar quatro homens conversavam silenciosamente com canecas de cerveja amanteigado sob a mesa.
No balcão, Tom o dono do bar – um tanto velho – secava alguns copos e pratos com um pano sujo sem dar conta de que uma pequena aranha descia por um fio de teia transparente em direção a sua cabeça de poucos fios de cabelos grisalhos.
- HARRY! – gritou Tom em clima de felicidade como se tivesse ganhado o prêmio da loteria do Profeta Diário.
- Olá! – respondeu Harry cumprimentando o velho.
- Que prazer em revê-lo – disse ele com lágrimas nos olhos já marcados pelo tempo que vivera.
- Igualmente.
As poucas pessoas nas mesas observavam a cena em silencia em um ar de curiosidade, mas ainda assim mantiveram-se em seus lugares.
- Como vai? Vamos... sente-se e beba alguma coisa – disse Tom conduzindo Harry para um banco alto defronte do balcão.
- Não precisa Tom...
- Como não precisa? Não seja modesto! E não precisa pagar – acrescentou ele no momento em que Harry abria um pequeno saco de pano que continha alguns galeões.
- Obrigado! – agradeceu, após Tom colocar uma caneca de cerveja amanteigada sobre o balcão.
- O que conta de novo? – perguntou Tom também sentando em um dos bancos ao lado de Harry e encarando-o com curiosidade e atenção.
Eu...nada – mentiu. Se fosse contar tudo que se passava ficaria ali por horas.
- Mas...porque não voltou a Hogwarts?
- Porque Hogwarts perdeu seu sentido após a morte de Dumbledore, ainda mais pelos rumores de que ele teria sido assassinado por um professor – respondeu Harry tentando contorná-lo.
- Mas dizem que o senhor esteve na hora do ocorrido.
- Já estou acostumado com as mentiras que contam sobre mim. E são idiotas os que acreditam, acabam alimentando outras mentiras – disse Harry tomando um gole de sua cerveja amanteigada.
- Claro, claro Sr Potter...eu não acredito neles – prontificou-se Tom a esclarecer a questão, embora parecesse desconcertado.
- Que bom! – respondeu com um sorriso forçado.
- O que o trás aqui?
Harry não queria responder em voz alta e pegou um pedaço de papel, pena e tinteiro que estavam sobre o balcão.
Vim para passar uns dias aqui, mas não quero que outras pessoas saibam disso. Espero que possa me ajudar com isso.
Harry pegou o pedaço de pergaminho e entregou a Tom que acompanhava com um olhar curiosa enquanto Harry escrevia.
- Não se preocupe Sr. Potter, ninguém ficará sabendo que está hospedado aqui – disse Tom murmurando perto do garoto para certificar-se de que ninguém os ouvia.
Harry agradeceu com um sorriso e em seguida perguntou:
- Será que teria algo para o almoço?
- Ah! Claro que sim. – respondeu o velho enquanto pegava um pequeno folheto com os pratos que eram servidos no lugar.
Harry deu uma olhada para uma parte do cardápio que indicava costelas de porco.
O almoço não demorou muito, em meia hora Harry já estava devorando o prato de porco com fritas. As preocupações e toda aquela confusão do dia lhe parecia dar fome.
Durante aquele tempo algumas pessoas entraram no bar, a maioria de passagem para o Beco Diagonal que ficava atrás do bar. Era preciso tocar em alguns tijolos com a varinha para que a passagem se abrisse.
O casal que discutia o Profeta Diário saiu do Caldeirão Furado, restando apenas os quatro homens no fundo do bar e uma mulher com dois filhos vindos do Beco com algumas sacolas de compra.
- Obrigado Tom! Pode colocar o almoço na conta do quarto onde ficarei e quando sair pagarei tudo de uma vez. – agradeceu Harry levantando-se e pegando a gaiola de Edwiges que dormia com a cabeça embaixo da asa além do seu malão que ficara perto da entrada do bar. – Onde ficarei?
- Quarto número três – disse Tom pegando uma grande chave enferrujada em um pequeno armário de madeira preso na parede atrás do balcão.
- Valeu – disse Harry pegando a velha chave na mão de Tom.
Andou em direção as escadas que o levariam ao andar superior.
Por coincidência fora o mesmo quarto em que ficou a quatro anos, após inflar Tia Guida, irmã do seu tio Válter.
Onde e como estariam agora? – pensou.
Jogou as coisas sem jeito pelo canto do quarto e colocou a gaiola de Edwiges em cima de uma mesa de madeira carcomida por cupins.
Tirou o tênis, ligou um velho rádio que estava na escrivaninha, pensou que o mesmo não iria funcionar mais estava errado.
Tocava um rock. Era do famoso grupo As Esquisitonas.
Deitou-se na cama. Estava com raiva e com a cabeça ocupada em diversos pensamentos.
“... até o sol nascer, sem parar
as mãos para o alto levantando
como um ogro que não está
nem ligando...”
O que Rony e Hermione estariam fazendo agora?
“ ...você consegue dançar como um hipogrifo?
atirando-se de um penhasco
precipitando-se sobre o chão
voando em círculos por todo lugar...”
Preferia que nunca estivesse que passar o que estava passando. Será que ainda queria ter descoberto que era bruxo?
“...imite um fantasma assustador
aterrorizante como ele só
chacoalhando como um bicho-papão em dor
outra vez e outra vez e outra vez...”
Teria sido mais fácil ter deixado Voldemort o matar?
“...bata os pés como um leprechaun
mande ver...
O rádio produzira um ruído estranho e a música parou.
- Interrompemos nossa Sessão Mágica Musical para informar a morte de dois aurores famosos do mundo mágico, Kingsley Shacklebolt e Dawlish. Os dois foram mortos...
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