Diz que me Quer



Capítulo 9


- Quer me explicar como, pelo amor de Deus, você acabou convidando Luna Lovegood ao invés de Cel...
- Ron, quer fazer o favor de falar baixo?! – Harry olhou em volta se certificando de que ninguém tinha escutado. – Toda Gryffindor ainda não precisa ficar sabendo.
- De todo jeito vão saber, – o ruivo cochichou se servindo durante o almoço. – afinal todo mundo vai ver você indo à festa com aquela maluca. – ele parou balançando o garfo no ar.- O que deu na sua cabeça?
- “Ela” me pediu. – ele respondeu para o prato. – E também convidou Neville.
- Celi... desculpa. “Ela” convidou Neville? Neville Longbottom? – e vendo o amigo assentir balançou o garfo mais rapidamente, derrubando rosbife sobre o colo. – E pediu a você que levasse a “Loony”? O que foi que eu perdi?
- Bom, vamos bancar os cupidos para o Neville e a Luna.
- Muito nobre. – Ron o fitou sarcástico. – Pelo menos alguém vai se dar bem nessa festa.
- O que mais eu podia fazer? – Harry falou mal humorado.
- Dizer não? – Ron observou o amigo atentamente. – Você está tão caído assim?
Harry o olhou por sobre os óculos.
- Ok. – tornou o ruivo. – Nem preciso perguntar como vai o seu fraco por ela.
- Cada vez mais forte. – Harry terminou de comer.
- Mas felizmente não tem vivido em celibato, não é? – Ron soltou uma risadinha quando Amanda Grady passou sem razão aparente pela mesa da Gryffindor. Um sorrisinho sedutor brincava na boca da loirinha.
- Amor não correspondido e todas as suas dores, sim. Abstinência física, não. Jamais. É isso ou... – ele se interrompeu de brusco.
- Ou agarra a McGregor no primeiro corredor. – Ron completou rindo para o amigo de soslaio.
Harry deu um sorriso conformado:
- Eu nunca faria isso com ela. – puxou uma pena da mochila, rabiscando apressado algumas palavras.
- E que toquem os violinos... “Eu nunca faria isso com ela”, diz o coitado. Azar o seu. – o ruivo deu de ombros. – Talvez ela gostasse.
Harry saiu da mesa dando um peteleco em Ron. Ao passar por Amanda colocou um pedaço de papel em sua mão discretamente. Teve saudade dos tempos em que era senhor de seu corpo. Embora a garota fosse carinhosa e a coisa toda pudesse ser muito prazerosa, talvez fosse o momento de pôr um ponto final em mais um capítulo de sua vida emocional. Ironicamente uma vida emocional desprovida de sentimentos.
Durante as aulas da tarde e no treino no fim do dia, teve a impressão de sentir a atenção de Celina em si mais que o habitual. Não que ela o observasse constantemente, mas aquilo parecia um bom presságio. Harry desconfiava, mas não podia saber, que na cabeça da garota uma guerra se travava, a dos sentimentos versus o hábito da desconfiança.

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Celina fora criada para ser desconfiada. Não teve amigos na infância. Com exceção dos dois primos paternos que compunham sua célula familiar mais próxima, não tinha muito acesso a outras crianças. Um dos primos se tornou seu primeiro amor, a outra a única amiga durante longos anos. Se não fosse sua ida para Hogwarts, provavelmente teria tido uma adolescência muito solitária.
A confiança no “trio” tinha sido inusitada e, principalmente em se tratando de Harry, algo difícil de se explicar. Parecia que se conheciam há muito tempo. Ela confiava na integridade do bruxo, só não sabia se seria seguro confiar a ele algo ainda mais precioso: seu coração.
Ele era um cara legal. Galinha, mas legal. Certo, a parte galinha não era legal, mas o que se podia esperar de um cara jovem, solteiro, popular, muito corajoso, matador de bruxos das trevas e ainda por cima lindo de morrer? Que as garotas não o enxergassem como um herói trágico? Que ele permanecesse puro e casto? Não, ela também não tinha nada de inocente pra pensar deste modo.
Celina estava sozinha na biblioteca, tinha ido apenas devolver um livro, mas o lugar estava tão calmo e pacífico, e ela tão necessitada de pôr as idéias no lugar que resolvera se aboletar num canto e fingir que estudava. Por mais que não quisesse, estava mais uma vez pensando em Harry. E no bilhete que ele tinha recebido na sua frente. No bilhete e nas implicações a que ele levava. Será que ela acharia melhor se Harry tivesse uma única namorada? Alguém como a delicada Amanda Grady, com rostinho e cabelos de boneca? Tinha que ser honesta, o pensamento não lhe agradava. Na sua cabeça se um cara gostasse dela seria natural que a procurasse, chamasse pra sair, tentasse conquista-la. Harry não fazia essas coisas. Mas o jeito que ele tinha de olhar pra ela... deixava suas pernas feito gelatina. Depois da última conversa na sala comunal ele parecera um tantinho mais próximo, mas talvez fosse ela que estivesse se mostrado mais acessível. Tinha muita coisa subentendida nos olhares que trocavam, muitas palavras não ditas. Celina ainda precisava descobrir quais seriam. Descobrir se ele merecia este tipo de confiança.
Paquerar era tão descomplicado... Por que justo com ele tinha que ser tão difícil?
Ela suspirou alto de frustração, seu eco acordando a bibliotecária. Madame Pince pareceu um tanto chocada.
- Nove e dez? – indagou assustada consultando um antiquado relógio de parede. – O que você ainda está fazendo aqui, menina?
- Nove e dez? – Celina repetiu pulando do banco e se pondo apressada para fora.
Tentou ser rápida ao andar pela escola já deserta, o eco de seus passos dando a impressão de estar sendo seguida por umas dez pessoas. Ao chegar a uma bifurcação uma força incerta a fez tomar o caminho mais longo, que por coincidência ou não, passava pelo afamado quarto andar. Não estava certa do que poderia ver. E tomar aquele caminho não parecia nada sensato, principalmente com a sensação agora inconfundível de estar sendo vigiada. A despeito de seu amor incondicional aos felinos, se desse de cara com Madame Norris, transformaria a gata num pandeiro. Mas sua curiosidade levou a melhor, como frequentemente acontecia, e ela resolveu pagar pra ver.
Quando chegou ao silencioso quarto andar suspirou meio aliviada. Estava tudo escuro, vazio. Ela andou sem fazer barulho. Coisa estranha, os archotes não tinham se acendido com sua passagem. Ela puxou a varinha quando uma sombra à frente pareceu ganhar vida. Havia alguém ali com ela, e decididamente não era uma gata.
- Harry? – perguntou incerta. O vulto não respondeu.
Em meio às sombras, ela não distinguiu imediatamente quem seria. Ainda não tinha passado quinze minutos do toque de recolher, mas sabia que se fosse Filch seria detenção na certa. Em todo caso já tinha mesmo sido vista.
- Lumus! – a ponta da varinha clareou o corredor apenas o suficiente para que ela notasse uma pessoa se movimentando.
- McGregor, você por aqui? – Draco se aproximou de uma janela por onde entrava um fino facho de luz.
- Não, eu sou Goyle! Não está vendo? – com outro aceno de sua varinha o corredor se iluminou. – Você precisa parar com essa mania antiga de me seguir. Está ficando deprimente.
- Você realmente não deveria ter feito isso. – ele sorriu apontando para os archotes acesos. – Primeiro, Filch pode aparecer. Segundo... é bem melhor no escuro.
Ela colocou a cabeça de lado.
- Sabe Malfoy, tem horas que eu tenho tanto pena que até considero a possibilidade de te dar um beijo. Sabe, pra você parar de implorar. Então eu lembro que não gosto de cobras, nem de veneno, nem de você. Aí a piedade acaba.
Ele deu um grande sorriso safado.
- Ah, vai ser muito bom quando acontecer. Toda essa raiva sendo canalizada pra outra coisa.
Celina sorriu com desdém e uma ponta de humor, o observando de cima a baixo.
- Se eu não conhecesse os sintomas, diria que você tem tomado Amortentia. – ela deu um passo despreocupado em sua direção. – Toda essa perseguição patética, auto-flagelação... Você está assim tão apaixonado por mim?
- Se estivesse você não ia se surpreender, ia? – ele também se aproximou sem deixar se abalar. – Afinal, você já deve estar acostumada.
Celina apertou instintivamente o cabo da varinha.
- Está com medo, McGregor? – provocou ele.
Ela fechou o cenho e se aproximou perigosamente dele.
- Se toca, garoto! Eu te pareço uma pessoa acuada? Achei que você já tinha entendido que não é digno nem de pena, quanto mais de medo...
- Sabe, há muito tempo eu te observo. Desde a infância pra ser mais exato. Sempre com um séqüito de admiradores à disposição. – os olhos cinza brilharam de malícia. - Namorou alguns, flertou com outros... E quando se tornou mais crescida, mais mulher, simplesmente resolveu ficar sozinha. Estranho... Isso me leva ao pensamento de que você também pode estar apaixonada. Eu só me pergunto por quem... Qual foi mesmo o nome que você disse quando me viu?
Celina apertou os olhos sentindo o calor da raiva se acumular antes da explosão.
- Sempre me seguindo. Pelas festas, pela escola. Fazendo conjecturas sobre meus sentimentos, sobre com quem eu tenho “canalizado minha raiva”. A paixão tirou seu raciocínio, Malfoy? – ela forçou um falso olhar de piedade. - Sabe o que parece? Que você precisa é de arrumar uma namorada, ou uma vida!
Os olhos de Draco pesaram:
- E eu acho que você precisa é de ser beijada.
Draco não deu mais que dois passos antes que duas coisas acontecessem. Um forte soco na boca e uma azaração o atingiram simultaneamente, lançando seu corpo contra a parede de pedra. Celina, com a varinha ainda erguida olhava estupidificada para um Harry lívido com a mão fechada num apertado punho.
Malfoy se endireitou segurando o rosto, e diante dos incrédulos gryffindors começou a rir.
- Ah... dois contra um... que covardia pouco digna de sua casa. – ele estreitou a varinha e limpou divertido um filete de sangue no canto da boca. – Tenho que dizer que não mereci tanto rigor, - e olhando bem para Celina – mas teria valido cada gota de sangue.
Harry avançou para o rival, sendo detido pelas palavras ditas por Malfoy.
- Eu não me importo em te azarar, Potter, mas não gostaria de atingir a Gryffindor por engano. – e apontou a varinha para Celina.
Gryffindor. Aquele nome dito de modo tão peculiar, mais que qualquer outra coisa, fez o bruxo temer pela garota. Celina se adiantou apontando sua varinha para o peito de Draco, tinha a face branca, e pela primeira vez, Harry viu um brilho de verdadeiro ódio em seus olhos claros.
- Não importa quem você conheça, quem você acha que é. Não volte a cruzar meu caminho. Vá embora daqui! Volte para sua corja de assassinos e traidores! – a voz dela cresceu em volume e raiva. - Ou eu juro, pelo nome que você acabou de pronunciar, que você não vai viver mais um dia dessa sua vida inútil.
Draco começou a se retirar andando de costas, o rosto estranhamente sério. Se não fosse o ódio que também queimava dentro de si, Harry poderia jurar que um brilho de sofrimento perpassou por seu olhar metálico.
Somente quando o slytherin dobrou o corredor, Celina abaixou a varinha.
- Ele sabe. – sentenciou.
- Ele está blefando. – ele tentou contemporizar.
- Ele me chamou de Gryffindor! – ela encarou Harry com o rosto contorcido pela impotência. – Eles podem estar tramando matar minha família neste instante, e eu estou aqui presa, com as mãos atadas! – ela se descontrolou fazendo os archotes se apagarem com a energia liberada.
- Eles são da Ordem! Estão preparados! – Harry sacudiu a varinha sem sucesso, o corredor continuando na penumbra. - Se a informação tiver vazado, eles vão ser os primeiros a saber.
- Se soubessem eles teriam me dito, Harry! – ela bateu a mão no peito. – Teriam me chamado pra lutar. Eles contariam!
- Acho que eles concordaram depressa demais com seu retorno à Hogwarts, você mesma disse isso. – ele chegou mais perto. – Talvez eles não queiram que você lute. Talvez só queiram te preservar.
- É tarde demais pra isso. – ela não conseguia pensar num único dia em que não soubesse que a sombra do mal pendia sobre sua cabeça como uma guilhotina. – Eu não tenho mais nada do que ser preservada.
“Exceto da morte.”, sua consciência soprou.
Então o argumento de Harry se tornou consistente demais para ser colocado em dúvida. Ela tinha andado iludida, ingênua como uma garotinha, pensando que seria tratada como adulta, que por que recebera treinamento de guerra eles realmente lhe deixariam enfrentar Voldemort. Um pensamento agourento passou veloz por seu cérebro.
Eles morreriam para lhe proteger.
Celina sentiu seu corpo soltar tremores involuntários, seria aquilo afinal o medo? Ela olhou para os olhos verdes do bruxo. Ele estava muito próximo, e ela percebeu que o que quer que acontecesse ele sempre estaria ali para ela. Ele era sua única certeza naquele instante. As últimas semanas de afastamento desapareceram por encanto. Ela estendeu a mão timidamente, naquele momento a única coisa que queria era procurar abrigo onde se sentira tão segura no passado. Então foi puxada devagar, sendo aconchegada nos braços de Harry.
- Eles não deviam ter feito isso. – sua voz saiu abafada enquanto ela sentia Harry a protegendo. Sentia os braços dele ao redor de seu corpo, suas mãos subirem acariciando seus cabelos, descerem deslizando por suas costas. – Não deviam ter me mandado pra cá. Não deviam ter mentido.
- Eles te amam muito. – ele falou próximo a seu ouvido e a apertou mais contra si. – Todo mundo te ama.
Essas palavras a fizeram desenterrar o rosto de seu peito e olhar nos olhos dele, surpreendendo-se com o quanto eram lindos e verdadeiros. Ele estava próximo demais.
- Todo mundo...? – ela precisava tanto de carinho... Precisava tanto que ele dissesse que tudo ia ficar bem...
- Todo mundo. – ele abaixou a cabeça devagar, dando tempo para que ela recuasse.
Ela não recuou.
Harry subiu uma mão por suas costas, pressionando sua nuca. Celina se sentiu amolecer, os olhos semi cerrados enxergando o rosto dele cada vez mais de perto, sua boca entreaberta a milímetros, sentindo sua respiração.
- Quem está aí?! – o eco da voz reumática de Argus Filch fez Celina acordar para sua situação, o corpo encaixado no do melhor amigo, prestes a ser beijada por ele e a retribuir de bom grado.
A garota deu um passo para trás, e arquejou sendo puxada novamente por Harry.
- Você não vai a lugar nenhum. – ele a encaixou novamente junto a si com urgência.
- Filch está aqui! Está subindo as escadas! – ela sussurrava aflita sem que o rapaz escutasse ou desse importância. – Harry, ele está vindo!
- Dane-se o Filch! Ele vai passar direto. – ele falou a empurrando para a parede atrás de uma enorme estátua de um Trasgo, meio deteriorada. – Está escuro, ele não sabe que estamos aqui.
Os pés do zelador batiam nos degraus, cada vez mais próximos. Sua voz tremida mais audível a cada segundo.
- Ainda dá tempo de fugir...
- Esqueça o Filch, está bem? – o hálito dele estava incrivelmente palpável em seu rosto.
- Você está louco? Ele vai nos pegar! - ela teve um maravilhoso impulso de rir, enquanto tentava se afastar e ele a segurava beijando suas mãos que o empurravam, seus cabelos, suas têmporas. – Pára, Harry! - ele beijava todas as partes que conseguia alcançar, nariz, testa, queixo, e ela quase não mais empurrava.
Harry estava acendendo mil fogueiras com seus pequenos beijos. Celina tinha deixado que ele colocasse seus corpos ainda mais próximos do que antes. Se ele quisesse mesmo beijá-la, então estava tudo bem pra ela.
- Estamos os dois loucos... – ela sussurrou deixando a boca entreaberta.
- Sei que está aí, Potter!!! – dessa vez não puderam ignorar que Filch sabia muito bem quem estava procurando.
Com um suspiro rouco em seu pescoço, Harry a soltou e disse sorrindo:
- Fique aqui!
- Harry, não! O que você está fazendo?! – ela protestou, mas ele a calou puxando seu pescoço e pressionando demoradamente seus lábios contra os dela.
Não tinham mais tempo, Filch subira o derradeiro degrau.
- Estou te protegendo, você não sabia? – Harry a soltou no último instante, os olhos verdes brilhando como faróis no corredor escuro.
Celina levou a mão à boca semi cerrando os olhos, sentindo uma descarga elétrica percorrer toda extensão do seu corpo.
Harry se afastou da estátua ao mesmo tempo em que os archotes se acendiam com a presença do zelador.
- Eu sabia, seu moleque! – Filch vinha bufando pelo corredor com Madame Norris em seu encalço. Ficou ainda mais furioso quando viu o rosto radiante do rapaz.
Harry tinha uma expressão extremamente feliz, não importava a punição por estar fora da sala comunal, depois do que tinha acontecido ou quase acontecido, ele não a deixaria fugir. Mesmo se Filch o levasse para uma detenção naquele segundo, ele a procuraria assim que saísse, ainda que para isso tivesse que invadir o quarto dela no meio da noite.
- Ah, está rindo, moleque insolente? Vou tirar esse sorriso da sua cara. – o homenzinho mirrado bufou. - Detenção! Detenção dupla!
- Eu estou sozinho aqui! – Harry se apressou em dizer. Atrás da armadura a garota segurou a respiração.
- É mesmo? – Filch disse sarcástico, um brilho maníaco no olhar. – E o que esta garota estava fazendo por aqui? E com isto nas mãos?! – ele estendeu um pedaço de pergaminho onde se via a inconfundível caligrafia do bruxo.
- “21:30, no lugar de sempre, Harry.”, Filch leu fazendo graça.
Harry sentiu o mundo parar. Atrás do zelador estava uma encabulada garota loira, com os braços em torno do próprio corpo.
- Me desculpe Harry. Ele pegou o bilhete. – Amanda Grady se explicou com um sorriso sem graça.
No momento em que vira Malfoy avançar para Celina ele tinha se esquecido completamente do motivo que o trouxera àquele lugar.
- Vejo que não está mais tão satisfeito, heim Potter?
Harry não estava mais satisfeito, estava estuporado. Não havia a menor possibilidade de Celina não ter escutado, não ter compreendido. Ele arriscou um olhar de soslaio, ela tinha o rosto estático de surpresa e uma enorme mágoa surgia em seus grandes olhos. Harry se sentiu pior que um inseto.
- Imagino que os dois não vieram estudar Astronomia... – o zelador resmungou puxando Harry pelo braço e empurrando os garotos escada abaixo. – Sei muito bem o quê... pouca vergonha.
Harry cerrou os dentes com força. Se ao menos pudesse falar com ela... tentar explicar o que não tinha explicação. A orgulhosa e independente Celina. Ele pensou nos olhos que adorava, cheios de mágoa. “Ela jamais vai me perdoar”.
Atrás da estátua a expressão de Celina não desmentia a previsão do rapaz.

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Sete dias. Sete dias em que Celina Lux não conversava, olhava, não dava qualquer sinal de que soubesse que Harry estava vivo. Na verdade, pensou Harry amargo, ela tinha sim lhe dirigido umas poucas palavras no dia seguinte, quando ele tentou se explicar:
- Não se preocupe Potter, - ela disse cáustica. – não estou chocada. Quanto mais melhor, não é? Já devia esperar algo assim de você. Não tem nada demais em se encontrar com quem se está afim. Mas seria bom você ser mais cuidadoso com os locais. Se eu fosse você pedia ajuda ao Benjamin, ele é realmente ótimo nisso.
Melhor se não tivesse dito nada. Agora ela andava para todo lado com o ravenclaw e Harry já tinha quebrado as pontas de várias penas tal a força que fazia ao vê-la passar com o rapaz em direção aos muitos corredores que a biblioteca oferecia. Começou a evitar o local, mas não conseguiu evitar as cenas que sua imaginação formava. Ela o estava deixando louco, e desconfiava que não era sem querer.
A situação atingira o ápice naquela manhã. Celina vinha risonha das estufas e tendo se despedido de Benjamin à entrada do castelo, passou por Harry como se este fosse uma pedra decorativa do hall.
Deixando o ciúme subir à cabeça ele puxou a garota pelo braço:
- Precisamos conversar. – ele falou muito sério.
- Precisamos? – ela o olhou cáustica. – Pena que eu não tenho nada pra falar com você.
- Então vai ter que se contentar em escutar. – ele tentou arrasta-la sendo repelido por uma ferroada vinda não sabia de onde.
- Aprenda uma coisa, Potter, eu nunca faço nada contra minha vontade. – ela sibilou. - Se você quer conversar, contente-se em ouvir sozinho sua própria voz.
- Por Merlim! Preciso que você me escute, Celina. – ele falou sincero. – Você não calcula como eu queria poder riscar o que aconteceu. Quando a gente estava junto... era tudo que eu queria, mas eu não podia adivinhar o que ia rolar entre a gente àquela noite. Não tinha idéia de que você ia estar ali. – ele passou a mão pelos cabelos fazendo ela se amaldiçoar por ainda acha-lo tão perfeito. - Eu fui àquele corredor pra terminar tudo com a Amanda. Não estou mais me encontrando com ela, nem com mais ninguém.
- E por que motivo, eu me pergunto, você acha que eu me interessaria por esta informação? – ela riu aparentando descaso.
- Pelo que quase aconteceu entre a gente. Pelo que teria acontecido se o Filch não tivesse chegado. – ele falou a fitando profundamente com seus olhos verdes. – É tarde demais pra negar e você sabe disso.
- Nada aconteceu e nada teria acontecido. – ela retrucou com a voz gelada.
- Talvez você esteja precisando de uma amostra pra se recordar. – ele a fez recuar enquanto dava passos nervosos em sua direção. Ela não iria mais brincar com ele.
- Fica. Longe. De mim. – ela falou pausadamente.
- Fico. No dia em que você parecer querer ficar longe de mim. – ele colocou uma das mãos apoiada no batente da entrada, impedindo que ela passasse. – No dia em que seus olhos pararem de dizer o contrário. Quer saber exatamente o que eles me dizem? – ele a fitou de um modo tão intenso que Celina se sentiu gelar.
- “Ponha as mãos em mim”. – ele mordeu o lábio inferior tentando não obedecer ao pedido mudo.
- Grave bem, Potter, eu nunca, NUNCA, vou te dizer isso! – ela falou com repulsa. - Meus olhos dizem apenas uma coisa: Me esqueça, por que você nunca vai ter o que quer. Você se aproveitou de um momento de fragilidade que nunca mais vai acontecer.
Ele se aproximou perigosamente. Ela deixou que seus rostos quase se tocassem, não daria a ele o gostinho de saber que a afetava.
- Acho bom você se esforçar mais em me convencer. – Harry a fitou nos olhos mais uma vez. – Muito mais. – e com um último olhar para sua boca ele partiu.
Quando ele se foi, Celina controlou o impulso de se apoiar na parede, suas pernas tremendo. Se ele queria ser convencido, ele seria. Do jeito mais doloroso.

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- Isso não está certo. Vocês não podem esquecer anos de amizade leal e simplesmente resolverem se odiar. – Hermione se perguntava se era a única a enxergar a estupidez que aqueles dois estavam fazendo.
- Essa amizade que você diz, acabou já tem tempo, desde que o Harry se tornou tudo aquilo que eu mais desprezo num homem. – Celina estava de frente para o espelho dando os últimos retoques que precisava para ficar pronta. – Desde que tentou me igualar às garotinhas com quem ele se esfrega naquele lugar.
- Ele gosta de você! – Mione falou com ênfase.
- Claro que gosta. – ela respondeu amarga. – Ele gosta de todo mundo. – e ela se lembrou com duplo sentido dele dizendo “Todo mundo te ama...”
- Você também não alivia... Ele está magoado, Celina! – Mione esbravejou. – Não está agindo racionalmente, assim como você! Como você acha que ele tem se sentido vendo você com o Joshua e agora com o Travis? Como você acha que ele vai se sentir na festa do Slug?
- Orgulho ferido. É o que ele vai sentir. – Celina respondeu dura. – A única que se recusou a cair nas garras dele...
- Eu estou desistindo... – Hermione sentou-se na cama desanimada. – Eu juro que não estou te reconhecendo. Quer dizer, você sempre foi meio imprevisível, implacável com algumas pessoas, mas sempre foi generosa, doce. O que está acontecendo?
Uma sombra passou pelo rosto de Celina:
- Já era tempo de você descobrir que eu não sou nenhuma fadinha. – ela falou fazendo a amiga se arrepiar com seu olhar pelo espelho. – Eu sempre tive um enorme potencial para o bem e igualmente para o mal. Talvez por isso eu atraia tantos problemas. Talvez por isso o Malfoy goste de mim. – falou como se tivesse essa conversa consigo mesma há muito tempo. – A felicidade corre de gente como eu.
- Não diga besteira! Você é uma pessoa maravilhosa, - Mione apartou, - só está um pouco confusa sobre seus sentimentos. Pra começar seria bom admitir pra si mesma que está apaixonada.
- Apaixonada? Pelo Potter? – Celina deixou o batom pairar a centímetros da boca, dando um sorriso torto. – Isso me aconteceu só uma vez, com o Dimitri, e nunca mais.
- Aconteceu sim! – Hermione insistiu querendo acordar a amiga. – E não é a mesma coisa que você sentia por seu primo. Você não tem mais nove anos e já parou de acreditar em príncipes encantados. O que está te matando é sentir uma dessas paixões físicas e fulminantes que não dão sossego até serem satisfeitas.
- Vai querer saber melhor do que eu sobre meus sentimentos?
- Estou falando por experiência própria. – Mione desabafou. – Mas diferentemente da minha situação, Harry só está esperando você estender uma mão... nada mais. Será que é tão difícil?
Celina deslizou o batom pela boca não querendo assimilar a amiga.
- Como eu estou? – ela cortou o assunto se virando sem sorrir.
Um vestido reto, azul noite, de finas alças, delineava o corpo e deixava a figura angelical da moça mais terrena.
“Ela definitivamente cresceu”, pensou Hermione que nunca vira a amiga tão fascinante.
- Perfeita! Pronta pra destruir o coração do cara mais legal que eu conheço. – Mione respondeu triste, vendo a amiga pensativa vestir um casaco, dizer “até logo” e se retirar. Ela pensou em Harry e teve vontade de desistir da festa, mas já tinha combinado com Córmac McLaggen, e por sua vez... também queria que Ron tivesse sua porção de dor-de-cotovelo.
- Também pode ser que, ao invés de coração partido, Celina veja toda a frustração de Harry ser liberada da pior maneira. – Mione disse para si mesma, levantando-se e terminando de se ajeitar apressada. “Melhor vigiar de perto aqueles dois”.

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O velho Slug tinha caprichado. Música agradável, flores, temperatura morna, sem falar na excelente escolha da comida e bebida. Todos os requisitos para se agradar ao bruxo mais exigente. Uma suave penumbra tornava o ambiente da sala ainda mais convidativo. A festa tinha tudo para acontecer. E as dezenas de convidados pareciam concordar em serem extremamente sortudos por estarem ali.
O professor circulava entre seus convidados sem se esquecer de volta e meia dar uma palavrinha com seu “preferido”. Harry apertou os olhos ao ver Hermione dançando com Córmac, a amiga tinha acabado de puxar uma das mãos que ele descia atrevidamente em direção à sua bunda. Mais uma gracinha e Harry seria obrigado a chamar o colega para uma “conversinha” lá fora. Sua atenção foi bruscamente retirada quando viu Celina. Entranhas sendo repuxadas. Uma velha sensação.
Já tinha visto a moça quando descera para a sala comunal e a achado linda, o que não era nenhuma novidade. Mas agora sem o casaco de frio, Harry pôde observar demoradamente cada curva de seu corpo como jamais tinha conseguido. Aquele vestido longo teve o poder de atiçá-lo ainda mais do que a famigerada saia escocesa fazia. Ela estava dançando com Neville, segurando o riso quando precisava fugir das pisadas que o desajeitado rapaz quase lhe dava. O garoto de rosto redondo parecia um tanto nervoso, dando olhadas enviesadas na direção de Harry e sua acompanhante.
- Foi muito legal o que você fez, me chamando pra vir na festa e tudo. – Luna Lovegood despertou o colega de seus devaneios.
- Não foi nada. – ele sorriu com o canto da boca.
- É sério, você podia estar aqui com Amanda. Ela faz Herbologia na mesma turma que eu. É muito bonita. – a loira alisou a frente do vestido prateado.
- Eu não tenho nada com a Amanda. – ele deu uma olhadela para a garota e continuou. – Pelo menos não tenho mais.
- Honestamente, quem te pediu pra vir comigo, Harry? – ela disse de repente.
- O quê? – Luna era mais esperta do que sua aparência fazia crer.
- Vamos, Harry, não vai dizer que está interessado em mim. – ela debochou.
- Não! – o rapaz negou veementemente e se desconcertou achando que devia ter sido grosseiro, mas a expressão divertida da garota não tinha se alterado. – Você é uma pessoa bem legal, Luna. Diferente, umas vezes meio...
- Meio maluca. – ela terminou.
- Excêntrica. – ele corrigiu. – Você é uma boa amiga, é leal, deu pra ver no Ministério. Poucas pessoas teriam sua coragem.
- Obrigada, - Luna sorriu mais largo, - você também não é nada mau. Mas também tem estado diferente... mais frio, convencido.
Harry franziu a testa para o comentário franco de Luna.
- Eu não sou assim de verdade, só precisei mudar. – ele deu de ombros analisando seu copo de bebida.
- Preferia o antigo. Você pode estar mais bonito, mas não está mais feliz.
- Não dá pra agradar todo mundo. – ele deu uma risadinha bem humorada.
- Sobre o convite, tinha achado que tinha sido Neville... – Luna fixou seus olhos azuis perscrutando Harry. – Não que eu esteja me achando por isso, é que ele parece meio que... gostar de mim. – ela se justificou.
- Neville não me pediu nada. – Harry respondeu evasivamente.
- Certamente que não. Ele parece tímido demais pra ter pensado em algo desse tipo. Mas você não ia negar um pedido da Celina, não é?
- Ah... peço desculpas, Luna. – ele achou melhor não tentar negar. – Agora estou entendendo o Chapéu Seletor te colocar na Ravenclaw. – ele riu. - Não tinha intenção de te colocar numa armadilha. Tenho certeza que a Celina também não queria.
- Eu sei que não. Vocês só precisam entender que eu não preciso ser resgatada. – um brilho determinado em seus olhos fez a garota se tornar mais bonita do que Harry já tivesse reparado. – Não estou querendo um príncipe numa armadura, mas acho que posso tentar conquistar alguém por mim mesma.
- Mais uma vez, eu sinto muito. É que vocês pareciam se dar tão bem... às vezes precisando só de um empurrão. Não tinha idéia de que você não gostasse dele.
- Neville é adorável! É gentil, carinhoso, me entende, eu gosto realmente dele. – ela ficou pensativa. - Apenas é muito cedo pra dizer como.
- Acho melhor dizer à Celina pra não trazê-lo até você. – ele falou pensando numa forma da garota se dispor a escutá-lo.
- Ah, não, Harry! – Luna se sobressaltou. – Neville vai ser uma boa companhia, e você vai ter uma desculpa pra ficar com ela.
“O que Luna sabia?”
- Escuta, - falou ela em voz baixa – eu não sou a pessoa mais esperta que você conhece, nem sou legilimente, apenas vejo certas coisas dum jeito mais profundo. Quer dizer, não é só conversando com alguém que a gente conhece essa pessoa.
- E eu sempre me julguei capaz de manter um segredo. – Harry falou com ironia bem humorada.
- Vocês combinam. Qualquer um vê isso. Você só vai precisar ser um pouco paciente.
- Por que está dizendo isso?
- Talvez... – e aqui a voz dela tremeu levemente – ela esteja interessada em outra pessoa neste momento.
Harry seguiu instintivamente o olhar da amiga. Celina estava numa rodinha de bruxos mais velhos, juntamente com Neville e Benjamin Travis, num papo animado.
- Travis foi convidado? – o rapaz não fazia a matéria de Slughorn.
- Claro que foi! Mas disse que acharia mais emocionante se viesse como penetra.
- Mesmo? E por que seria? – disse Harry com enfado, sua antipatia crescia com a mania do outro de aparecer.
- Você não sabe? – Luna perguntou surpresa. – O pai do Benjamin é um dos maiores pocionistas de todo o mundo! E o maior de toda Irlanda. – era evidente a empolgação de Luna.
Harry, que nunca soubera que a colega se interessasse tanto pela matéria, e que estava pouco se lixando para Benjamin e seu pai importante, falou secamente:
- E o que tem isso a ver?
- Benjamin estuda poções com o pai durante as férias. Durante todas elas. – ela gesticulou com a mão. – Se dedica tanto que acho que é por isso que se comporta nas aulas como se fossem as férias que nunca tem. – vendo que o amigo ainda não tinha captado, ela se impacientou. – Ele não precisa fazer poções com Slughorn! Foi dispensado.
- Não sabia que um aluno podia fazer isso.
- É um caso especial. O pai dele disse que o método do Prof. Snape era antiquado e que estava atrapalhando a aprendizagem do filho, - Luna fez Harry dar um sorriso de satisfação – e desde então ele aprende em casa. Em todo caso ele faz provas até mais rigorosas que a gente. No próprio Ministério.
Era impressão sua ou Luna falava sobre o rapaz como se ele fosse um tipo de celebridade?
- Você sabe muito sobre ele.
- Ele me contou. Somos amigos. O professor Slughorn não ia perder a oportunidade de convidar o filho...
- Do maior pocionista do mundo. Eu sei. – “grande coisa”
Luna deu uma risadinha:
- Eu diria que não ia perder a oportunidade de convidar o filho do seu maior rival. O Prof. Slug gosta dos seus amigos por perto e dos seus inimigos mais perto ainda. – ela deu uma piscadela.
Harry sorriu com a perspicácia da garota, só então notando a aproximação de Celina e Neville.
- Oi, Luna! – a garota cumprimentou a colega ao mesmo que dava um discreto empurrão de incentivo em Neville.
- Oi, Luna, seu vestido... você está... bonita. – Neville gaguejou tingindo-se de uma incrível cor beterraba.
Harry notou divertido que o amigo não tinha nem ao menos notado sua presença.
- Obrigada, Neville, é novo.
- Quê? – o rosto do rapaz se contorceu de incompreensão.
- O vestido. É novo. – Luna riu para o garoto.
- Ah, sim. Então... você não gostaria de leva-lo para uma dança?
- Como? – Luna não entendeu.
Foi a vez de Celina morder o lábio com a conversa surreal.
- O vestido. Para uma dança. – Neville apontou para a pista fazendo a garota entender.
- O vestido adoraria, – Luna respondeu com presença de espírito. – e o recheio também.
- Recheio... – Neville a conduziu para a pista deixando para trás um par de amigos muito concentrados em não começar a rir.
Ao passar o primeiro momento de descontração, os dois se olharam e o constrangimento surgiu denso como fumaça. A garota, que não estava disposta a dar nenhuma oportunidade para o rapaz se aproximar, puxou pelo braço o primeiro bruxo desacompanhado que passou.
- Professor Slughorn! – ela falou enquanto olhava esperançosa ao redor. Não havia mais ninguém. – O senhor me daria o prazer desta dança? – disse com a voz falsamente animada.
- O prazer seria meu. – Slug a fitou ligeiramente surpreso pelo convite. – Estava mesmo querendo dar duas palavrinhas com a senhorita. Então... Lilith tem passado bem? – eles começaram a se afastar de Harry. – Algum namorado?
“Péssima idéia!”, Celina rodopiava na segunda música com o professor tendo que escutar as perguntas veladas a respeito de Lilith. Ela olhou para a careca reluzente de Slughorn tentando não pensar como seria o professor cortejando sua avó. Se ainda tivesse quatorze anos jurava que fingiria um desmaio só pra se ver livre da ladainha.
Outra música se iniciou. “Vou pisar no pé desse velho tagarela!”. Celina olhou rapidamente para Harry, vendo o bruxo se divertindo muito com a sua situação. Ela o encarou abertamente. Outro grande engano. Ao seguir a direção de seu olhar o professor parou de dançar bem ao lado do rapaz, dizendo:
- Ora, mas que indelicadeza a minha, Harry, seqüestrando seu par enquanto você espera durante horas. – ele disse ao ainda mais divertido rapaz.
- Ele não é meu...
- Vamos! Façam a vontade de um velho, – Slug cortou Celina obrigando o casal a seguir junto para a pista. - deixem-me ver os dois se divertindo.
Ao andar até a pista Celina não pôde evitar a sensação de irrealidade daquela noite. Fazia tudo para fugir “dele”, mas volta e meia Harry cruzava seu caminho. Decerto o destino brincava com ela.
Harry colocou os braços por sua cintura tranquilamente e ela enrijeceu o corpo como se fosse feita de mármore e não carne e osso. O rapaz pensava na ironia de estar abraçado a uma estátua enquanto tocava uma doce música lenta. Seria engraçado se não fosse trágico. Muito engraçado se ele não gostasse dela.
Mais à frente Hermione abanou a mão esperançosa para o amigo.
Eles moveram-se automaticamente durante os primeiros minutos, mas talvez pelo efeito da meia luz, talvez pelo som da música triste, ou pela proximidade um do outro, Harry foi se aconchegando devagar ao corpo da garota enquanto ela, contra todo seu bom senso, esquecia que estava ali para afastá-lo.
Até os piores inimigos precisavam de uma trégua. Celina não queria mais pensar em problemas, em brigas, discussões sem sentido. Queria paz. Ela apertou os ombros do bruxo se entregando àquele momento, amolecendo o corpo como mel aquecido de encontro ao dele. De repente não queria mais que aquela música acabasse.
Harry colocou os braços dela ao redor do próprio pescoço, fechou os olhos e aspirou aquele perfume tão seu conhecido, podia senti-la se entregar, moldar seu corpo no dele. Seu coração martelava com força contra o dela, aquela vontade de ficar abraçado com ela para sempre, a necessidade de estarem só os dois no mundo todo... Era amor.
Ele não queria interromper aquele momento mágico dizendo nada, mas se a música acabasse e ela o soltasse não sabia se teria outra oportunidade como aquela.
- Lyn, a gente precisa sair daqui. – ele sussurrou com os olhos fechados.
Ela apertou os olhos com força na camisa dele. “Não, estava tudo errado! Aquela música, os dois agarradinhos... Ela não podia fazer isso. Ela queria paz, e Harry não lhe trouxera nem um segundo de serenidade desde que descobrira sentir algo a mais por ele.”
- A gente tem que conversar, - ele insistia com a voz arrepiando seu pescoço. – se entender.
- Eu não posso. – falou sem coragem de encará-lo.
- Nós podemos, Lyn. Precisamos. Não dá mais pra segurar... – ele falou com suavidade beijando a orelha dela.
A música dava seus acordes finais e Celina sabia que não tinha forças para solta-lo, para encará-lo. Gostar não era assim, era tranqüilo, calmo. Não era ter o coração arrebentando, querendo sair do peito. Ela, que quase nunca experimentava o medo, estava em pânico. Não sabia gostar desse jeito.
O silêncio caiu por segundos antes de outra música começar e Harry a puxar gentilmente para ver seu rosto.
Ele deve ter percebido algo de errado em seu rosto.
- Não foi bom a gente assim? – ele falou docemente. – Não seria bom se fosse o tempo todo?
Ela balançou a cabeça negativamente.
- Eu não posso te dar o que você quer.
- Pode. – ele segurou seu rosto relutante, dezenas de casais dançando ao redor. - Você está me dando exatamente o que eu quero.
- Eu sinto muito. – ela tirou o rosto das mãos dele. - Isso não vai dar certo. Não gosto de me sentir desse jeito.
- Que jeito? – ele não compreendia.
- Não gosto dessa insegurança, de sentir medo, de me sentir nas mãos de alguém. – ela disse com mais firmeza, querendo agora acabar o mais depressa possível com aquilo. - Não gosto da sensação de que a qualquer minuto vou me machucar.
- Se você acha que eu vou te machucar então entendeu tudo errado. – ele falou magoado. – Por que eu não faria.
- Você diz... Mas é a sua natureza. – ela tentou não se importar com a mágoa dele. - Acho melhor ficar tudo como está entre você e eu.
- Afastados? Dois completos estranhos? – os olhos verdes se apertaram num sentimento de incredulidade. – Como você pode querer...
- Sabe o que eu planejei fazer, hoje? – ela decidiu jogar limpo. – Ficar com o Benjamin... – ele deixou os braços caírem frouxos da cintura dela.
- Começar o que quer que ele e eu possamos ter um com o outro. – Celina continuou, odiando faze-lo sofrer, odiando a sensação de frio sem ele a abraçando. – Pra te fazer entender que não existe nós. Nunca vai existir.
Harry a encarou com os olhos verdes muito escuros, a expressão do rosto ficando muito dura.
- Acho que você conseguiu seu objetivo... O que está esperando? – ele falou com a voz picada pelo ciúme. – Já perdeu muito tempo aqui.
- Sinto muito, Harry, mas preciso cuidar de mim. Eu sou só o capricho que você vai esquecer em dois segundos. – foi a única coisa que ela conseguiu dizer antes de deixá-lo sozinho na pista.
Harry observou sombrio, Celina pegar o casaco e seguir para a porta de saída, sendo quase que imediatamente seguida por Benjamin Travis.

--

- Você está bem? – Neville tocou a mão fria que Luna Lovegood tinha sobre seu braço.
- Vou ficar. – a loira estivera com a atenção sobre Harry e Celina e agora vira Benjamin seguindo a garota para fora.
- Você está pálida. Quer alguma coisa?
Ela balançou a cabeça negativamente.
- Só um milagre ou o tempo podem fazer alguma coisa por mim. – seus olhos ficaram vidrados de lágrimas.
- Luna, por favor... Me deixa fazer alguma coisa pra te ajudar... – Neville tinha no rosto a expressão de um cachorrinho sem dono, ansioso por deixá-la de novo feliz, para cuidar dela.
As pessoas não costumavam ser gentis com ela. Não costumavam achar que ela sentisse dor ou alegria como todo mundo. Que precisasse de alguém.
- Ah, Neville... Você já está ajudando. – ela suspirou como quem se desculpa, ficando de frente para ele e colocando as mãos em seu rosto. – Sim, você está.
E assim Luna inclinou a cabeça de lado e o beijou.

--

- Harry, tudo bem? – Hermione se livrara de Córmac e se aproximara mostrando sinais de preocupação.
- Brilhante. – respondeu virando todo o conteúdo de seu copo. – É o melhor dia do ano.
- Onde está Celina? – falou a garota receosa.
- Pergunta interessante... – ele sacudiu o dedo pegando um novo copo na bandeja de um Elfo. – Quantos lugares existem no castelo para uma boa transa? Escolha o melhor e ela com certeza estará lá.
- Eu não sei o que aconteceu, mas não volte a falar desse jeito sobre ela na minha frente.– Hermione usou uma voz baixa, mas ao mesmo tempo autoritária. – Você está chateado, mas não tem esse direito.
- É, você tem razão. Sua amiga não merece o tempo que eu gastaria falando sobre ela. – ele fechou os olhos virando outro copo. – Deus sabe que já perdi horas demais correndo atrás dela, sendo o bichinho de estimação adestrado para agir como ela quer. – voltou a olhar pela sala apressado, quando fechava os olhos via Celina sendo beijada por Benjamin e sentia seu peito queimar.
- Você não acha que já bebeu demais? – ela disse com uma voz mandona irritante.
- Acho que nem comecei, mamãe. – ele pegou outro copo desafiadoramente. – Tenho uma boa notícia pra você. Os dias de “coitadinho de mim” acabaram. Agora vou simplesmente fazer o que eu quiser, com quem eu quiser, sem ter a menor preocupação com o que os outros acham certo. Exploda-se o mundo! – ele falou alto atraindo alguns olhares sobre si.
Hermione o olhou severa:
- Bebida e sarcasmo nunca curaram nenhuma doença. E ficar com centenas de garotas pra fazer ciúmes em Celina não vai te ajudar a conquistá-la.
- Olha só quem fala... – Harry a olhou irônico. – A senhorita perfeição que veio à festa com o Trasgo do McLagen pra fazer o Ron roer as unhas.
- Se sua intenção é afastar todo mundo de você, está conseguindo, Harry. – ela deu as costas saindo aborrecida.
Ele resmungou tomando o rumo da porta, estava pouco se lixando para Hermione. Sua vida tinha se tornado um inferno e a causa parecia incapaz de entender ou demonstrar a menor compaixão. Deixar de gostar de Celina seria um abençoado alívio naquele momento.

---

Já fazia algum tempo que estavam conversando. Benjamin percebera que algo de errado tinha acontecido entre ela e Harry, mas não insistira em perguntar. Mesmo que ela estivesse se sentindo uma bruxa má de contos da carochinha e uma péssima companhia, Benjamin ficara a seu lado conversando sobre trivialidades apenas por que gostava de ficar perto dela. Celina descobrira mais sobre ele naqueles momentos do que em meses de conversa. Benjamin era um cara legal. Sempre tinha muita sorte em achar caras legais, pensou com ironia, só não conseguia mantê-los.
- Acho que vou me deitar. Está ficando tarde... – ela disse desanimada ao rapaz. – Não estou sendo mesmo boa companhia.
- Que nada. – ele disse sorrindo. – A murta que geme consegue ser bem pior.
Celina riu com gosto, abafando o som de seus passos pelo corredor.
- Só você pra me fazer rir desse jeito. Como você consegue ser tão seqüelado e ainda ser bacana?
- Charme natural. - ele piscou marotamente.
Ele parou de andar e ela o olhou indagadora.
- O quê? – ela perguntou sem entender o motivo da parada.
- Achei que você ia dizer que um dia eu ainda vou fazer alguma garota imensamente sortuda, muito feliz.
- Eu tenho certeza que vai. – ela respondeu pensando que devia mesmo ser verdade. – E então...?
Ele ainda estava parado.
- E então eu meio que me perguntei se você não gostaria de ser essa garota. – ele sorriu apontando para cima. – A idéia me ocorreu assim de repente.
Celina subiu os olhos para o ramo de visgo pendurado no teto.
- Estou vendo... Um acaso do destino, certamente.
- Ah, sim. Eu e a Prof. Trelawney acreditamos muito nessa coisa de destino. – ele falou tentando parecer sério. – Principalmente quando ela predisse que eu beijaria uma linda jovem numa noite fria de natal.
- Tem certeza que ela não predisse que você seria assassinado por uma garota emburrada numa noite sangrenta de natal?
- Nada de morte, apenas beijos. – ele enganchou os polegares na calça.
- Quando foi que a Prof Trelawney predisse isso, Travis? – Celina pôs as mãos na cintura. – Nos seus sonhos?
- O caso é que ela ainda não predisse. – ele se concentrou no rosto da garota. – Mas eu tenho certeza de que consigo persuadi-la com um bom feitiço.
Celina voltou a rir e quando deu por si, o rapaz estava muito perto. Perto demais. Antes que pudesse tomar qualquer decisão seu corpo se afastou involuntariamente. Alguma coisa não fazia sentido. Não havia borboletas no estômago ou sinos batendo em seu peito. Havia apenas outro belo rapaz que ela não queria magoar. Ela então entendeu o motivo de ainda não ter ficado com Benjamin. Não era por orgulho ou recato.
Não era ele quem ela queria.
O sorriso culpado, os lindos olhos negros do rapaz, não eram nada quando comparados a Harry. Harry com seus olhos verdes que queimavam, com sua boca vermelha tocando sua pele atrás de uma velha estátua, tocando sua pele momentos atrás. Será que ela estava...? Será que podia...?
- Ben... – ela disse baixo em tom de quem se desculpa.
- Já escutei este tom antes, e geralmente não é sinal de boa coisa... – ele parecia sério, mas tranqüilo. - Não vai acontecer, não é?
- Sinto muito... – ela murmurou.”Sinto muito”. – Já disse essas palavras muitas vezes hoje.
- Tudo bem, em todo caso eu precisava tentar. – ele correu os olhos por seu rosto recuperando o bom humor. – É uma grande pena e você precisa mesmo sentir muito. Vou acabar me lembrando de você como a garota que nunca beijei. Daqui a trinta anos vou estar contando pros meus netos sobre a noite de rejeição que aconteceu bem antes de um solitário natal.
Celina riu olhando para o visgo.
- Bom, eu não quero me sentir culpada por esse trauma... E tradição é tradição.
- E um beijo não mata. – ele ajuntou esperançoso.
- Não... Pode machucar, mas definitivamente não mata. – ela sussurrou pensando em Harry e antes que pudesse mudar de idéia sentiu seu casaco deslizar para o chão e seu rosto ser puxado num doce beijo.
Sua cintura foi envolvida e seus braços se enroscaram no pescoço de Benjamin. Não tinha nada de errado, nada de ruim. Não haveria mágoa ou culpa no dia seguinte, só uma boa recordação.
Num momento era apenas um beijo. Tranqüilo, cálido, bem dado. No outro sentiu um forte puxão a separando de Benjamin e uma luz vermelha cortar sua frente, azarando o rapaz de encontro ao chão.
- Ben!! – ela se ajoelhou ao lado do garoto e olhou horrorizada para Harry Potter. – O que você fez?!
- O quê...? – Benjamin sacudiu a cabeça e se levantou, sendo ajudado por Celina. O feitiço pareceu ter pegado de raspão.
- Ele vai sobreviver. – Harry virou o resto do whiskey brindando à Celina. – À sua saúde.
- Com mil diabos... – Benjamin parecia ter recuperado o raciocínio. – Potter? Como...? Por que você fez isso?!
- Pode parecer estranho, – Harry jogou o copo para o lado, o pesado vidro se estilhaçando no chão. – mas acordei hoje com uma vontade incontrolável de quebrar seu nariz irlandês.
Benjamin levou a mão até o próprio bolso.
- Ele bebeu demais. Não fez por mal. – ela segurou o braço do rapaz temendo um problema ainda maior.
- É, Travis, não fiz por mal, mas fiz muito bem feito. – Harry provocou deixando o rapaz estupefato.
- Não sei se você é louco, mas se está querendo uma briga, acabou de arrumar. – Ben arrastou a voz.
- Ben... – Celina voltou o rosto do rapaz para si com as duas mãos. – Por favor, não faça nada, me deixa falar sozinha com ele. Ele não está no seu juízo perfeito. Por favor...
Benjamin respirou pesadamente fitando o rosto apreensivo dela. Algo ali começou a fazer sentido. Ele avaliou a situação, o momento com a garota estava perdido.
- Você ainda me deve um beijo. – ele falou com dificuldade, tentando controlar a raiva.
- Uhhh... – gritou Harry, eufórico, dando pulos como um pugilista antes de entrar no ringue. – Por que não tenta beijar agora, Travis? Estou precisando treinar a pontaria.
- Hei, Potter! – Benjamin apontou para o bruxo – Por causa da Celina, e de nada mais, você acabou de nascer de novo.
- Obrigado, minha querida. - Harry se abaixou numa debochada reverência para ela. – Pelo interesse e por me apresentar a tantos vícios. Whiskey e outros bem piores. – ele a olhou significativamente.
Benjamin balançou a cabeça segurando um riso nervoso:
- Dessa vez, - ele encarou Harry. – por que você está bêbado e por que gosta dela, eu vou deixar passar. Dessa vez!
- Ben, é melhor você ir. – Celina falou com a voz cava.
- Você ouviu a dama. Adeus! – Harry acenou atrevido.
- Eu vou ficar bem. – ela disse vendo a expressão preocupada do ravenclaw.
- Ok. Te vejo amanhã... mas me chame se mudar de idéia. – ele se despediu dela ainda olhando feio para o bruxo.
Harry retribuiu fixamente o olhar.
Quando se viram a sós, o bruxo devolveu a varinha para o bolso.
- Agora é entre nós dois. – Celina apertou os olhos. – Que porcaria foi essa que aconteceu aqui?
- Você não sabe? – a dor era evidente em seus olhos.
- Eu não vou me sentir culpada. – ela o encarou se recusando a se mortificar pelo estado do rapaz. – Fui honesta com você. Isso não te dá o direito de agredir ninguém.
- Você pode achar o que quiser, mas agora estamos quites. – ele falou com a expressão impenetrável.
- O quê? – ela voltou a pôr as mãos na cintura.
- Você apenas teve o que pediu! Está satisfeita? – Harry a fitou friamente. – Não estou mais disposto a te servir de fantoche. De agora em diante pense duas vezes antes de me provocar.
- Essa cicatriz fundiu seu cérebro?! Ou é o excesso de ego?! – ela gritou. – Eu estava há quilômetros de você! E você acha que o que viu aqui tem alguma coisa a ver com provocação?!
- Estou inclinado a pensar que sim. – ele sorriu em escárnio.
- Você é doente. – a boca dela se torceu de desprezo. – Posso ter pensado, mas não sou assim.
- E você é o quê? – ele falou malicioso, olhando o vestido da garota de cima a baixo. – Um anjo descido do céu?
- Estou até a garganta de meias palavras, se você tem algo a dizer, acho bom dizer com todas as letras. – ela desafiou.
- Como quiser. Você é o quê, quando cata o primeiro que te acha gostosa? Uma garotinha inocente que por acaso está sempre disponível em cantos escuros? – ele falou sem refletir, soltando todo seu ciúme. – Parker, Malfoy, Travis, quem vai ser o próximo, heim Celina? Tem alguém com quem você não tenha ido?
- Cantos escuros são sua especialidade, Potter, não minha. – Celina sibilou num tom malévolo, muito parecido com o de Severus Snape. - E se eu resolver te imitar e me agarrar com cem garotos em cem cantos escuros, este vai ser um problema só meu. E se eu gostar, tanto melhor pra mim. Você devia ir embora se não quer me ver com o próximo.
- Tenho certeza que sim. – ele crispou as mãos se enfurecendo novamente. - Eu já deveria ter aprendido que garotas como você não querem um cara certinho, bom moço, que no fundo não passa de um grande idiota. Agora eu sei o que você quer. – ele a olhou ameaçador. – E você não vai poder reclamar de ser tratada exatamente como gosta.
- É? Pois é a minha vida. E eu faço com ela o que eu quiser. Quanto a você... Vá se ferrar! – ela disse virando as costas. Se estivesse com sua varinha ele viraria pó.
Antes que desse meia dúzia de passos Harry avançou, a prendendo pela cintura enquanto segurava com força seus dois braços. Quando conseguiu imobiliza-la, começou a arrasta-la para longe dali.
- O que você está fazendo?! – ela gritou enfurecida, os saltos das sandálias riscando o chão.
- Te agarrando, Celina, do jeitinho que você gosta. – ele falou muito de perto, quase tirando os pés dela do chão. - E ainda nem comecei.
- Tira suas mãos de mim!!! - ela lutava inutilmente, suas unhas arranhando o bruxo, suas exclamações de raiva se perdendo pelos corredores desertos enquanto tentava se soltar do abraço esmagador em sua cintura. Sentia tanto ódio que a voz quase sumia. Mataria aquele filho da puta se não a largasse, mataria se encostasse um dedo nela.
Mas havia muito mais de Harry em contato com seu vestido justo e sua pele.
- Eu não sou um brinquedo! – ele sibilou. – E agora você vai descobrir que não pode me ligar e desligar quando quer!
Harry finalmente empurrou a garota para trás de uma pesada tapeçaria, numa das passagens secretas que ele tão bem conhecia. Então virou o corpo dela para ele e quando ficaram frente a frente, a jogou com violência contra a parede.
- Me solta!!! – ela o empurrou freneticamente, tentando afastá-lo. – Agora, Potter!!!
O efeito parece ter sido o contrário, porque ele eliminou o pequeno espaço que ainda havia entre eles, capturando de novo as mãos que empurravam seu peito e pressionando seus pulsos na parede. Então apertou o corpo dela com força contra a pedra fria.
- Te soltar? Será que eu deveria? – ele falava com o rosto muito próximo, um gemido de frustração saiu da garganta dela. – Há alguns minutos me pareceu que você queria ficar exatamente assim com o Travis.
- É, eu queria, - ela mentiu, colocando todo seu veneno nas palavras. – só que você não é o Ben-ja-min. – falou o nome arrastando as sílabas, sabendo que nada deixaria o bruxo mais furioso.
Harry sentiu sua raiva dobrar de tamanho. Raiva misturada com vontade.
- Do jeito que você anda, achei que gostaria com qualquer um. – inclinou sua boca para perto enquanto ela virava o rosto para o lado, o único movimento que conseguiu fazer.
- Gostaria mesmo. – ela falava tentando ocupar sua mente em odiá-lo, tentando ignorar o cheiro dele misturado com whiskey, não querendo sentir o detestável desejo que crescia a cada palavra que ele dizia, a cada mínimo movimento que ele fazia com o corpo. – Eu gostaria com qualquer um. – a garota continuou imprudentemente provocando. - Por que eu posso ter qualquer um. Por que eu posso fazer o que quiser com qualquer um. – ela já não sabia quem ofegava mais alto. – Por que só tem uma pessoa com quem eu não quero: Você!
Ele passou a boca pelo pescoço de Celina, fazendo-a dar um curto gemido de antecipação.
- Não é o que parece. – ele sorriu vitorioso, se controlando com custo em não morder, lamber, chupar aquele pescoço, beijar à força aquela boca macia. Estavam num lugar isolado. Ela estava inteiramente em suas mãos. Seria tão fácil...
- Você deve estar me confundindo com a dezena de garotas estúpidas que se oferecem pra você. – ela fechou os olhos com força sentindo a respiração pesada dele no seu ouvido. – No meu caso... eu estou sendo forçada. – sua voz saiu entrecortada, efeito da pressão que ele fazia em seu corpo. - Ou você ainda não percebeu... que eu queria estar em qualquer lugar do mundo... menos aqui com você?
- Mesmo? Achei que estava com a guardiã do Amuleto de Ísis. – ele movimentou o quadril pesadamente contra o dela, sua mente se enchendo de imagens do que faria com ela nua embaixo dele. - Por que você simplesmente não me azara?
- Eu juro que vou fazer se você não me soltar nesse minuto. – ela disse baixinho, tomando consciência do que ele estava pensando, dos seus corpos totalmente pregados, sentindo que se ele continuasse se mexendo daquele jeito ela perderia o juízo.
- Não, você não vai. – ele falou rouco, os movimentos se tornando mais provocantes. – Você quer continuar. Quer tanto quanto eu.
Ela precisava entender... ele precisava dela.
- Celina, olha pra mim... – ele implorou com o corpo latejando de desejo. - diz que você quer, que você gosta... que você quer comigo.
Harry olhou para a garota, estava completamente presa, mas ainda assim o deixava inteiramente vulnerável. Era ele quem estava nas mãos dela.
Ela sentiu suas pernas se entrelaçarem involuntariamente nas dele pela fenda do vestido, ouvindo ele gemer com seu movimento. Então sentiu seu corpo amolecer, as roupas incomodarem. Queria que ele a beijasse à força, que rasgasse seu vestido, que deslizasse com ela para o chão, que dissesse que gostava dela, que queria somente ela. Celina se pegou pressionando os quadris de encontro aos dele e ficou desesperada com o que estava prestes a fazer. Ela era apenas mais uma. Precisava sair dali naquele segundo.
- Não! Eu não preciso te olhar pra saber que não gosto de você. Você não é o Joshua, não é o Benjamin. – ela abriu os olhos e voltou a se debater violentamente. - É só o imbecil pretensioso que um dia eu chamei de amigo. Você não é nada pra mim, Potter!
As palavras dela acertaram o alvo em cheio. Harry perdeu completamente a noção do que dizia, só queria machucá-la. A pressionou com toda sua força a fazendo gemer de dor:
- Você se esqueceu do Dimitri? – ele riu irônico, um brilho de ódio no olhar, observando com prazer ela voltar o rosto para ele, muito pálida.
- Não se atreva a falar sobre o Dimitri. – ela sibilou.
- Pode ficar sossegada, eu não vou. Já sinto pena dele o suficiente por ter estado tão enganado sobre você. Por ter achado que você valia alguma coisa. – ele a soltou de uma vez, fazendo com que ela quase caísse sem o apoio de seu corpo. – Assim como eu.
Celina apoiou o ombro na parede vendo Harry se afastar quase correndo. Ela escorregou até o chão sentindo de repente muito frio. Esfregou a mão em um de seus pulsos, eles estavam doloridos com a força que tinha feito para se soltar. Se soltar... Já não tinha tanta certeza se era o que queria ter feito. A raiva voltou a crescer quando pensou nas palavras ofensivas dele. Quem ele pensava que era? Como ele ousava falar com ela daquele jeito depois de tê-la provocado? Como ele se atrevia a questionar o comportamento dela enquanto se atracava com todas aquelas garotas? Ele que nunca amara ninguém? Celina se afastou da parede andando cada vez mais rápido, no final, quase correndo no encalço de Harry. Se ele queria escutar algumas verdades, ela diria. Ela mostraria quem tinha enganado quem.
- Harry Potter entrou aqui? – ela gritou para o retrato da torre da Gryffindor.
- Entrou ventando, agora há pouco. – a mulher gorda respondeu bocejando contrafeita. – Quer fazer o favor de decidir se entra ou não para eu voltar a dormir?
- Varinha de condão. – Celina resmungou a senha sem deixar de reparar o quão ridícula era.
Quando conseguiu passar pelo buraco na parede deu largas passadas em direção ao dormitório masculino. “Dane-se!” Ela iria falar com ele nem que fosse a última coisa que...
Ela estacou os passos num choque perplexo. Não precisaria subir as escadas, Harry estava ali. Parado próximo à lareira, acompanhado por uma garota morena de costas, Parvati. Grudado na colega num beijo sôfrego. Celina sentiu seu coração martelar dolorosamente quando ele abriu os olhos em meio ao beijo e a encarou feroz. Ela não sabia se era possível, mas de repente ele parecia beijar a garota ainda com mais fome. Seus olhos verdes dizendo para Celina que queria machucá-la, mas fazer aquilo com ela também. Ela tinha os olhos presos aos dele, como se ele a estivesse forçando a assistir. Celina recuou um passo com dificuldade e deu as costas nauseada, subindo a escadaria para seu quarto o mais rápido que pôde, infelizmente não tão rápido que não escutasse os suspiros da colega, não depressa o suficiente para a imagem não persegui-la. Harry com uma garota. Harry com outra garota. Harry com o corpo grudado ao de outra como tinha acabado de fazer com ela. Como se estivesse prestes a terminar o que tinham começado naquele corredor deserto. Ela entrou depressa no banheiro, parecia que ia vomitar.

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N/A: Este cap saiu numa velocidade espantosa se eu comparar com o último e com o quanto minha vida tem andado corrida. OBRIGADA, MERLIM!!!
Também quero dedicar atenção especial à minha querida Mary, que me deu a dica que faltava para a ficha cair e eu conseguir finalmente entender e postar a fic no fanfiction. Ainda levo algumas surras, mas sigo firme e forte.
Vocês todos são muito importantes como fonte de entusiasmo. Escrever é bom, mas escrever quando a gente sabe que estão gostando... é quase como um vício.
Eu não tenho palavras pra dizer o quanto esta fic tem significado para mim. Comecei como um desafio, pensando mais em fazer uma estória pequena, mas a coisa saiu de controle. Quanto mais eu escrevo, mais idéias vão aparecendo, e o que era pra ser uma estória de quatro ou cinco capítulos já está indo para o décimo e sem previsão de acabar. Tem MUUUUUUITA estória pela frente.

E não se esqueçam da campanha: FFF FAÇA UM FICWRITER FELIZ
Para isso basta apertar os dedinhos nas teclinhas alfabéticas e deixar seu recadinho.

Vou aproveitar pra fazer um apelo: no fanfiction minha pobre fic está completamente virgem, tadinha dela, se sentindo rejeitada, sem nenhum review pra dar amor, carinho, um cheiro no cangote. E vocês sabem, não pega bem pra coitadinha passar por uma humilhação dessas.

E TCHAM, TCHAM, TCHAM, TCHAAAMMM !!!
Pensando nisso: Será que alguém quer receber por e-mail um pedacinho aleatório(beeem legal) do que vai acontecer daqui pra frente? Se quiserem é só mandar o endereço junto com um recadinho.
Chantagista!!!!!!!!!

PS: Mary, o seu de todo jeito já vou enviar. Me avise se não receber.

Mil beijos, já estou escrevendo um monte do cap 10,
Georgea.

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