Segundo Dia (continuação)

Segundo Dia (continuação)





Partindo para a ação




28 de Dezembro de 1976 (2º Dia - continuação)

Sirius chegou animado ao salão comunal àquela noite.

- Está tudo pronto, Aluado.

- O que é tudo?

- Não posso contar, mas vou precisar da sua ajuda.

Olhei pra ele pensativo. O namoro de James e Lily eram a prova concreta que Sirius não tinha o menor talento com planos. Lucy havia alertado sobre isso no primeiro dia e só tivemos a confirmação quando todas as estratégias mirabolantes do cachorro à minha frente tinham falhado.

Mas ele ainda era meu amigo. Então, tecnicamente, eu teria que ajudá-lo. Mas desde que eu não precisasse me envolver em alguma coisa perigosa.

- O que eu tenho que fazer? – Perguntei cauteloso.

- Simples, levar a Lucy à sala precisa às nove horas.

- Nove horas? E o que eu falo pra ela?

- O que você quiser, contanto que ela entre sozinha na sala precisa e não faça idéia que eu estou lá.

- Algum dia eu posso vir a me arrepender por ter te ajudado hoje?

Sirius gargalhou e não me respondeu.

- Nove horas, hein? – Ele me lembrou antes de sair da Torre da Grifinória.

Passei os olhos pelo salão comunal. Éramos apenas nós de alunos da Grifinória de férias na escola. Lily e James estavam num canto afastado jogando uma partida de xadrez.

Era incrível como Lily sabia jogar xadrez. Quase sempre ganhava, mas a disputa era acirrada quando ela jogava com James.

Me aproximei do casal.

- Ganhando de novo, Lis?

- Quem me dera, Remus. – Ela respondeu risonha.

- Mas ela ainda chega lá. – Respondeu James – Ela não o talento nato como eu, é claro, mas até que leva jeito.

Eu ri e Lily jogou uma almofada em James, mas acertou o tabuleiro.

- Sua doida! – Ele falou rindo. – Agora vamos ter que começar tudo de novo.

- Quer jogar, Remus? – Ela me perguntou.

- Não, obrigado. Queria saber onde eu posso encontrar a Lucy.

Lily deu uma risadinha.

- Minha amiga está disputada, hein?

- Porquê?

- Você está cheio de segredinhos com ela, Sirius começou a dar em cima dela abertamente e agora o Diggory...

- Diggory? O que tem ele?

- Veio me fazer várias perguntas sobre a Lucy hoje. E parece que eles foram passear pela escola.

Isso não era um bom sinal, pelo menos não era para o Sirius. Fiquei por ali por mais um tempo observando o jogo e, assim que pude, subi para o dormitório pegar o Mapa do Maroto.

Ele não estava no lugar de sempre. Provavelmente Sirius o tinha pego. Foi quando alguém bateu na porta do quarto.

- Olá Remus. – Lucy me cumprimentou alegre.

- Estava à sua procura, Lucy. – Falei animado.

Ela olhou pra mim, depois olhou para alguns livros que eu tinha na mão e seguiu com o olhar até o baú que estava aberto ao lado da minha cama.

- Me procurando aí dentro? – Ela perguntou rindo.

Eu também ri e balancei a cabeça.

- Mas então, o que você queria comigo?

Olhei o relógio antes de responder, ainda eram oito horas.

- Apenas conversar. E você, porque veio aqui?

- Queria saber o que você acha do Amus Diggory da lufa-lufa.

Ela é bem direta, não?

- Em que sentido? Como aluno de Transfiguração, ele é ótimo, já em Poções ele é desastroso...

- Digo como pessoa.

- Acho que se você está querendo alguém pra substituir o Sirius, o Diggory não é a pessoa certa.

- Eu imaginava que você dissesse isso. Mas tinha que perguntar. De qualquer jeito estou pensando em aceitar o convite dele para o Baile de Inverno.

- E o Sirius?

Ela não me respondeu. Apenas sorriu e me puxou pelo braço pra fora do dormitório.

- Agora vamos conversar sobre você, lobinho. Como foi o passeio com a Jane?

- Se eu não fosse tão tímido, teria sido melhor. – Respondi francamente.

- Que história é essa de tímido agora? Você não é tímido, Remus. – Ela falou tão segura que até eu duvidei da minha timidez. – Você só está inseguro.

- Talvez seja isso.

- Quer minha ajuda como cupido? – Ela perguntou séria.

- Melhor não. Vamos deixar essa idéia como última opção. - Nós dois rimos.

Tínhamos andado até o saguão de entrada e sentamos em um banco próximo à porta. Foi quando Jane apareceu no topo da escada principal.

- Remus, você pode vir aqui um instante?

Olhei para Lucy como que pedindo permissão pra deixá-la sozinha e ela acenou que sim com a cabeça.

- Aqui estão os livros que eu te prometi. São todos trouxas.

Passei os livros um por um. Tinha desde romance até um livro de suspense.

- São meus preferidos. – Ela abriu um sorriso nervoso.

- Tenho certeza que também vou gostar. Vou cuidar bem deles.

- Não duvido disso. Até mais, então. – Ela acenou sorrindo e saiu.

Eu fiquei ali petrificado olhando ela se afastar. Balancei a cabeça pra sair do transe, como aquela garota podia ser tão perfeita?

Desci as escadas ainda sorrindo, mas o que eu vi fez meu coração parar de bater. Snape estava conversando com Lucy. A loirinha estava com uma expressão séria e Snape ostentava um sorriso cínico no rosto.

Não conseguia pensar em nada rápido para fazer. E a única coisa que passava pela minha cabeça era que ele estava contando sobre a aposta.

Não imagino quanto tempo fiquei ali parado, minha expressão devia ser de puro pavor. Vi Snape passar por mim com aquele sorriso triunfante e só então me aproximei da Lucy.

- É verdade, Remus? – Lucy me encarou séria.

O chão parecia ter sumido debaixo dos meus pés. Ela parecia ainda não acreditar e esperava a minha confirmação às palavras do Seboso.

E eu me sentia imensamente culpado de ter que contar à ela que a aquilo tudo era uma aposta. Eu gostava de verdade da Jane, e o Sirius tinha acabado de descobrir que também gosta da Lucy. Ainda assim, havia entre tudo isso uma aposta, a aposta de conseguir leva-las ao baile como namoradas. E garota nenhuma gosta de ser o troféu de uma aposta entre amigos, não é?

Respirei fundo, fiz ela sentar novamente no banco e comecei.

- Eu sei que não devia, Lucy. Sei também que você jamais esperaria uma atitude assim de mim, mas... sim, é verdade.

- Ora, Remus. Não se sinta tão culpado. Na verdade eu não esperava essa atitude de mais ninguém que não você, só fiquei surpresa. – Ela falou sorridente.

- Surpresa?

- Sim. Achei que se James e Sirius eram inimigos do Snape, você também era. Mas salvá-lo de uma azaração do Sirius foi mesmo surpreendente.

- Foi isso que Snape te contou?

- Sim.

- Mas... porque? – Eu não conseguia entender.

- Ele veio me pedir desculpas pelas ofensas que sempre fez pra mim em todos esses anos, disse que depois de você tê-lo defendido, ele pensou melhor sobre o que vinha fazendo e resolveu pedir desculpas à mim e à Lily pelas atitudes infantis dele.

- Estou pasmo! – Foi a única coisa que eu consegui falar pra exprimir minha surpresa.

- Eu também. Mas sabe que eu estou orgulhosa de você? – Ela abriu um sorriso doce - Mesmo que seja o Snape.

Eu sorri em retribuição. Mas mil coisas passavam na minha cabeça. Onde Snape queria chegar com aquilo? O pior é que eu continuava de mãos atadas, não sabia como agir porque não sabia se ele realmente tinha escutado sobre a aposta.

Talvez só estivesse esperando um momento melhor para agir. Num gesto automático olhei para o relógio, quase nove horas.

- Vem comigo.

- Pra onde?

- Você vai ver.

Subi correndo as escadas e só paramos em frente à sala precisa. Pontualmente 21hs.

- Sabe onde estamos? – Ela fez que sim com a cabeça – Tenho que te mostrar uma coisa, mas você tem que entrar primeiro.

- O que será que você está aprontando? – Ela me perguntou sorrindo e logo entrou na sala.

Minha missão da noite estava cumprida, agora só tinha que me preocupar com Jane e com o Seboso.

Pensando melhor, me preocuparia apenas com a minha doce Jane.




Acompanhei Remus e Lucy pelo Mapa do Maroto durante um tempo. Quando os vi se aproximando da sala precisa, guardei o Mapa no bolso e me olhei no espelho.
Sem necessidade, é claro, pois eu tinha certeza que estava perfeito. Apenas limpei uma poeira imaginária da capa.

Lucy entrou na sala precisa e estancou ao me ver ali.

- Decididamente a originalidade não é o seu forte!

Ela é mesmo muito ingrata. Estou começando a duvidar se gosto tanto assim dessa maluca. A sala estava magnífica, uma linda mesa de jantar, uma música romântica e o mais importante: Sirius Black como companhia.

- Você devia ser mais agradável. Eu preparei tudo isso pra você.

Ela riu.

- E você podia ser mais criativo. Não consegue pensar em nada diferente?

- Não. Desde que eu me dei conta de que estou completamente apaixonado por você, não consigo ocupar minha cabeça com mais nada que não seja a sua imagem, sempre tão linda...

Eu pisquei um olho e puxei uma cadeira pra ela se sentar.

- Nem trabalho você teve, Sirius. Eu sei como funciona a sala precisa.

- Confesso que não mesmo. Mas eu tenho bom gosto, não tenho?

Ela passou os olhos pela sala.

- Em partes. Eu detesto a cor azul e você usou demais na decoração. E a cadeira é bastante desconfortável. E também...

- Chega! – Eu ergui a mão. – Tudo bem, eu já entendi.

Ela sorriu e pegou o menu. Assim que abriu, vários pequenos corações saíram voando na direção dela e formaram no ar a frase ‘Eu Te Amo’.

Ela riu.

- Enfim algo inédito!

Não era bem o que eu esperava ouvir, fechei a cara e ela deu uma risadinha.

Os corações voadores explodiram se transformando em pétalas de rosas que se espalharam pela mesa.

- Ta bom, eu admito que gostei. Foi muito fofo da sua parte, Sirius.

- Hum, fofo. Isso é bom pra mim?

- Acho que sim. – Ela respondeu displicente - Agora, se vamos jantar é melhor ir logo, eu tenho compromisso às 22hs.

- Que compromisso? – Eu sabia que compromisso era. Mas achei que ela desistiria ao ver o que eu preparei pra nós.

- Não lhe diz respeito. – Ela falou séria e pegou novamente o menu. – Não tem muitas opções, não é?

- Você é muito exigente, sabia?

- Eu sei. – Ela falou rindo – Mas eu não estou tentando conquistar ninguém.

Essa garota ainda acaba comigo.

- Eu já te conquistei, você que não quer dar o braço a torcer. – Falei fazendo-a arquear a sobrancelha.

- Não vou nem te responder, Sirius.

Eu sorri e nos servi de vinho.

- À nós dois. – Ergui minha taça.

- À nossa amizade. – Ela respondeu ao brindar.

- Você sabe que eu quero ser mais que seu amigo. – Pousei a taça na mesa. Ela não dá chance por lado nenhum!

- Mas nós temos uma amizade tão divertida, pra que estragá-la, Sirius? Porque você não deixa tudo como está? Eu gosto de ser sua amiga.

- Nós não vamos estragar nossa amizade. Eu gosto de verdade de você, nunca gostei de ninguém assim.

Quem não derreteria ao ouvir uma declaração de amor dessas, ainda mais de Sirius Black? Só mesmo Lucy Eyelesbarrow, que abanou a cabeça séria.

- Pára com isso, Sirius.

Suspirei resignado. Já tinha insistido bastante.

- Tudo bem, eu paro por enquanto. – Falei pra tranqüilizá-la.

- ECA! – Ela bebeu um gole do vinho e jogou todo o resto da taça pra frente, acertando em mim, é lógico.

- Ficou maluca? – Levantei num pulo.

- Você que deve ter problema na cabeça, Sirius! Que nojo!

Limpei minhas vestes com um aceno da varinha e a encarei furioso. Ela não percebeu, já que tinha pego a garrafa de vinho na mão e estava lendo o rótulo.

- Vinho seco. Detesto vinho seco.

- Esse aqui estava bem molhado. – Falei sentando novamente em meu lugar, arrancando uma gargalhada dela.

Como ela fica linda quando ri. O jeito que ela joga a cabeça pra trás e fecha os olhos pra rir, ou quando ela inclina a cabeça para o lado erguendo a sobrancelha e dando aquele sorrisinho de lado... Pra cada situação ela tem um riso diferente, sempre espontâneo, sempre contagiante.

Ai, como eu estou meloso... James que não me veja confessar isso, mas eu nunca pensei que fosse tão bom se apaixonar.

Desde que descobri isso, passei a olhá-la de outra forma. A meiguice com que ela falava, as maneiras educadas até pra me dar um tremendo fora, o riso constante, o jeito de jogar o cabelo pro lado pra tirá-lo do rosto... cada gesto dela me fascinava.

- ... Terra chamando Sirius Black, planeta Terra chamando Sirius Black...

- Que isso? – Falei piscando os olhos.

Ela estava passando a mão na frente do meu rosto.

- Acho que você entrou em transe. Me conta aí, era algum espírito tentando se comunicar com a gente? Algum deles me mandou um recado? Não sabia que você tinha esse dom, Sirius...

- Eu não acredito nessas coisas. – Falei sério.

- Ah, eu também não. – Ela falou sentando novamente na cadeira. – Mas achei que era uma boa explicação pra você ter ficado petrificado com um sorriso bobo no rosto.

- Quer dançar? – Perguntei mudando de assunto. Tinha começado a tocar uma música lenta.

Se com o Pontas e a Lily funcionou, porque não funcionaria comigo?

- Não, muito obrigada, Sirius.

Eu respondo: porque a minha companhia é a Lucy.

- Vamos jantar, então? – Eu perguntei. Alguma coisa tinha que dar certo naquela noite. Mas minha pergunta a fez olhar no relógio.

- Oh, Merlin! Já são quase 22hs, Sirius, eu tenho que ir.

- Mas nós nem jantamos, ainda!

- O tempo passa rápido quando a gente está junto, não é? Mas é sério, eu tenho um compromisso, detesto furar meus compromissos. – Ela me respondeu em tom de desculpas, chegava a parecer que ela estava triste por ter que ir.

Fiz minha melhor cara de cachorro abandonado na chuva.

- Oh, me desculpe. Por favor, não faz essa cara, Sirius. Eu não sabia que você ia preparar isso tudo, se eu soubesse teria remarcado meu compromisso de hoje.

- É assim tão importante? – É lógico que não era. Desde quando encontrar Amus Diggory é mais importante do que um jantar romântico com Sirius Black?

- Um pouco. Até logo, Sirius. – Ela levantou e acenou pra mim saindo da sala precisa.

Eu não ia deixá-la sair daquele jeito, como uma cordeirinha para as garras daquele lufa-lufa cheio de más intenções.

Sai correndo e a alcancei no meio do corredor.

- Lucy! – Chamei ofegante.

- Sim?

- Eu quero pedir... – comecei recuperando o fôlego – Queria te convidar pra ir comigo ao Baile de Ano Novo.

Ela me encarou surpresa antes de responder.

- Melhor não, Sirius. Eu ainda não acredito nessa sua mudança brusca de comportamento. – Ela respondeu sincera.

- O Amor muda as pessoas.

- Sirius...

- Lucy, por favor. Se você ainda não acredita, tudo bem. Mas vamos comigo ao baile, nem que seja como amiga. Aquele baile não vai ter nenhuma graça pra mim se você não for minha companhia.

Ela suspirou.

- Por favor. Você é minha melhor amiga, é meu último baile antes da formatura, eu queria ir com alguém especial.

- Tudo bem.

Eu abri um imenso sorriso, meu coração deu um salto e eu não conseguia nem acreditar...

- Eu prometo que vou pensar. – Ela concluiu me fazendo desmanchar instantaneamente a expressão de felicidade.

Fiquei ali parado observando ela se afastar. Pensei em segui-la, mas logo desisti. Do jeito que essa garota é maluca, era provável que aceitasse o convite do lufa-lufa apenas pra me castigar se tivesse descoberto que eu estava atrás dela.

Sentei no chão e fiquei olhando o Mapa do Maroto. Ela foi até a Torre de Astronomia, Diggory já estava lá. Os nomes deles estavam muito próximos no Mapa e isso fez meu estômago dar uma volta completa. Eu devia parar de imaginar o que estava acontecendo por lá.

Foi com minha pior cara de enterro que cheguei no salão comunal e me joguei na poltrona em frente à lareira.

O salão comunal já estava vazio, Remus já devia estar no dormitório lendo e, pela hora que era, James e Lily provavelmente já teriam ido dormir.

Já passava da meia-noite quando Lucy voltou.

- Ainda acordado? – Ela sentou na poltrona ao meu lado e desviou os olhos para o Mapa do Maroto aberto no meu colo.

- Estava te esperando. – Falei bocejando.

- Cuidando da minha vida, isso sim.

- Isso aqui? – Perguntei balançando o Mapa – Era só pra confirmar se já estava todo mundo dormindo.

- Tudo bem, então. Eu já voltei sã e salva, o Diggory não me arrancou nenhum pedaço. Já podemos ir dormir.

Ela levantou do sofá e me deu um beijo no rosto.

- ‘Bonne Nuit’, Sirius.

Esperei mais um pouco por ali e depois subi para o dormitório cantarolando. Ela tinha falado ‘Diggory’... Nada de ‘Amus’. Isso significa que eu ainda tinha chances. Fui dormir com minhas esperanças renovadas.

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