O conto da abelha assassina



O conto da abelha assassina

- Potter, o que é que você está olhando? –perguntou Lílian inquieta.

Os dois, sozinhos, em uma sala – ela desprotegida, frágil como um botão de rosa – sem ninguém para os interromper em nada. Talvez isto tornasse o clima um tanto quanto romântico. E ainda se a loirinha parecesse, e ela tentasse fazer algo, ele seria capaz de derrotar ela. E então sua ruivinha ficaria eternamente grata, e o clima seria de fato verdadeiramente romântico... seria apenas ele, Tiago, e sua ruivinha, sua amada Lilly...

Só que a loira não apareceu.

E Lílian tinha escolhido justo aquele dia para lembrar-se que tinha esquecido de fazer seu dever de verão de poções. E, como boa aluna, deveria fazer corretamente entregar no preso determinado.

- Para quê? O Slughorn vai continuar gostando da boa aluna, aplicada, atenta, obediente e inteligente. Na verdade ele nem deve ligar com o que você faz ou deixa de fazer. Vai ver que ele nem lê o que você escrever e dá sempre um Ótimo! – argumentou Tiago, tentando convencer Lílian a passar um dia agradável ao seu lado, e não com a cara enfiada nos livros.

- Se eu deixar de fazer o dever, não vou ser nada disso. E além do mais, o professor Slughorn lê sim os meus trabalhos e sempre os avalia corretamente. Ele fala comigo sobre alguma coisa que eu escrevo no trabalho antes de me importunar como sempre. E se eu esquecer de fazer o dever de novo? – Lílian respondeu, mostrando claramente que não deixaria nada para depois.

‘Maldito Slughorn, maldito dever dele’ pensava Tiago com raiva ‘Até nas férias este cara consegue me atrapalhar!’

E ele decidiu fazer este dever junto com Lílian, já que não tinha feito antes. Afinal, ele não queria entregar coisa alguma para o professor, não era humano ter deveres de casa nas férias. Mas ao menos daquele jeito ficaria perto de Lílian. O que não significava que deveria o fazer direito...

O moço fazia tudo em um círculo vicioso: escrevia umas linhas, olhava para Lílian, esperava ela olhar para ele, sorria para ele, esperava ela ficar vermelha, abaixava a cabeça e escrevia outras linhas, olhava para Lílian, esperava ela olhar para ele, sorria para ele, esperava ela ficar vermelha, abaixava a cabeça e assim em diante. Ou até irritar Lílian.

- Potter, o que é que você está olhando? – havia perguntado Lílian inquieta, depois de perceber que ela já tinha sido observada umas seis vezes, e já estava ficando um pouco irritadiça.

- Nada – ele havia mentido. Ela já havia percebido que ele a olhava, ninguém simplesmente olha nada.

- Você estava me observando? Potter. – a garota agora parecia só chamá-lo de Potter quando estava querendo demostrar que estava irritada correlação a ele. E fazia efeito.

- Não, não estava te observando.

- Potter...

- Tá bom! – respondeu Tiago irritado – Eu estava te observando. Por quê?

E ela riu.

Lílian simplesmente riu da irritação de Tiago.

- Você está com raiva por que estamos estudando. Eu sei o quanto gosta de estudar. Nem seu como você consegue tirar aquelas notas perfeitas sem ao menos pegar em algum livro. Tudo bem! Eu faço tudo isto mais tarde. E o que é que você quer fazer?

‘Lilly, queria. Eu sou um garoto, e você é uma garota. Eu gosto de você e você parece que está também gostando de mim. Eu tenho dezessete anos e você dezesseis, e daqui a uma semana faz a mesma idade que eu. Nós estamos sozinhos em uma casa isolada do mundo civilizado. Você está muito perto de mim, e eu e você. Os outros vão demorar uma década para chegar e você ainda pergunta ou que eu quero fazer? Não é um pouco obvio demais?’ James pensou mas não falou, não era burro a ponto de falar isto para Lílian Evans. Mas seu pensamento era alto em sua cabeça. Será que ele tinha sonhado alto?

- Não é obvio o quê? – para o horror de Tiago, ele havia sonhado alto.

- Ãhm? – fez ele, não acreditando e jurando que iria parar de pensar.

- Você disse que não era um pouco obvio demais, e eu não sei o que é tão obvio assim.

Ao menos só tinha falado a ultima parte. Tiago estaria perdido se tivesse falado tudo. Mas ainda tinha que inventar alguma coisa obvia. E decidiu não parar de pensar, e sim pensar a mil por segundo.

- Não é obvio que eu quero sair daqui – mentiu ele rápido. – Olhe só o sol, a praia, e nós enterrados nesta casa. Não é um tanto obvio que devemos sair daqui e ir para a praia?

- É... então vamos?

- Vamos.

E eles caminharam até a praia, Tiago se perguntando se seria seguro pegar na mão da moça.

A resposta foi não, mas isto não impediria de andar colado a ela. Com dois paços conseguiu fazer seus braços ficaram juntos. Lílian nem se incomodou, continuou a andar descalça sobre a areia, nem ligando com a proximidade. E isto parecia encorajá-lo.

Se aproximou mais, e mais.

- Tiago, você está querendo me derrubar?

- Não – respondeu ele sem graça.

- Então pare de tentar, se bem que aqui parece um lugar muito bom para ficarmos. Se chegarmos adiante, as ondas irão me molhar!

E eles se assentaram na areia – somente Tiago assentou-se, Lílian havia pegado uma toalha de praia antes de sair de casa. – e ficaram em silêncio, olhando para o mar.

Talvez muito diriam que isto era a mesma coisa que ficar dentro de casa fazendo dever, mas ele sabia que não. Os dois estavam sim novamente em silêncio, longe um do outro, não estavam recitando versos e nem so menos se abraçando. Mas ele sentia um clima levemente romântico no ar salgado.

Ele olhou para Lílian: ela estava sentada em sua toalha, toda relaxada, olhando o mar. Ela levou uma mão para a barriga, onde parecia coçar. E como coçando a barriga ela era linda. Tiago pensou que poderia a convidar para dar uma volta na praia, com as ondas batendo de leve nos pés. E ele então se arriscaria a pegar na mão da moça...

... e no momento Lílian fez uma cara de espanto, acordando Tiago.

- O que foi, Lílian?

- Nada, nata, nada! – ela fava rapidamente, com uma cara assuntada.

Ela inclinou seu tronco para baixo, ele viu que a blusa que usava estava mais folgada, dando um pequeno decote – o que deixava de ser um decote. Ele, como todo ‘bom’ garoto, tenta olhar para o decote recém formado. Se inclina um pouco e ela grita.

- Lilly, pelamordeDeus, o que houve?

Ela arregalou os olhos em direção do rapaz. Ela ofegava.

- Tem algum bicho na minha blusa.

Tiago riu. Então ela tinha berrado só por causa de um bichinho que encostou não nela, mas na blusa dela! Era só dar um peteleco que ele saia. Mas... e se ele desse o tal peteleco. Ele sabia que a moça morria de medo de insetos, e ele salvaria ela. Não seria tão emocionante como enfrentar uma loirinha malvada que está louca para matar a todos, mas mesmo assim ele continuaria na categoria de herói.

- Lílian, onde ele está. Deixe que eu te salvo! – ele falou, todo galante, se aproximando dela como ela imaginava um herói se aproximando da mocinha para a salvar de um mostro sanguinário. Sendo apenas que neste caso o mostro tinha certamente pouco mais de um centímetro.

- NÃO! - ela berrou, vendo que ele se aproximava para tirar o inseto nojento de perto dela. –Não tem nenhum inseto não. – ela falava e ficava cada vez mais longe dele. E parecia que queria ficar longe do própria corpo.

E continuou e se afastar, sem se justificar. E correu em direção da casa.

- LILLY, me espere! – gritava Tiago atrás dela, já a alcançando, pois seu corpo era mais bem treinado que o da moça. Ele de repente havia se tornado um inseto desagradável?

- Não vem! – grita ela!

Tarde demais. Tiago alcançou ela e a faz parar.

- Lils, o que é que te deu?

Ela arregalou os olhos, fazendo sem perceber cara de suspenso.

- Tem um bicho na minha blusa – sussurra ela de novo.

- Disso eu sei – respondeu ele- mas o que é que te fez correr de mim. Por acaso eu sou o bicho?

Ela o olhou com medo, como se não quisesse falar. Mas, por fim, falou.

- Ela-tá-dentro-da-minha-blusa... – ela falou bem baixinho, quase não consegui escutar-se direito. Mas como a curiosidade era enorme, Tiago conseguiu capturar cada palavra muda e rápida.

- Mas como é que ela foi parara aí?

- Não sei... - ela parecia preocupada. – Ai! – gritou ela de novo – a coisa se mecheu.

‘Nem em sonho, Tiago, mas nem em sonho ela vai fazer isto. Não sugira, não perca tudo aquilo que você conquistou , e ainda o que irá conquistar.’ Pensava o moço. Mas ele tinha que ser o herói do dia. Ele tinha que salvar sua donzela indefesa.

- Aí, meu Merlim! – gritou ela, novamente.

- O que foi? O bicho te mordeu?

- Ele está num lugar onde não deveria estar mesmo.

Tiago naquela hora queria ser o bicho. Lílian podia estar sim o odiando, mas estaria em um lugar melhor que está agora.

Ele só conseguiu naquele momento, além de sentir inveja do bicho, tentar imaginar como tirar o bicho de lá. Será que ele voava?

- Lils, tem uma barata subindo na sua perna. –berrou ele.

- Onde? – ela se abaixou, para ver se era verdade, mas não antes de dar um pulo de susto, afinal é muito azar atrair dois bichos nojentos para perto de si. E isto fez a blusa folgar-se novamente, fazendo o mesmo bendito decote.

E de lá saí voando o que parecia ser uma feliz abelinha. E voava rápido, longe do alcance dos dois garotos, assim preservando sua vida.

Lílian gelou. Parecia sem fala. Mas ao recuperar, as palavras que saíram de sua boca - juntamente com uma caminhada até a casa – foram:

- Quer saber? Vou ficar estudando. Assim estou mais segura.

E, a alguns metros da cena, a abelinha voava alegrinha, harmoniosamente para sua colmeia.

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