Via flu



Via flu

E eles ouviram um barulho de explosão no fim da fala de Dumbledore. Era muito fácil dizer o que havia acontecido: como no segundo seguinte o diretor da escola de Hogwarts não estava mais no recinto, o barulho viera do ato dele ter aparatado para bem longe dali, evidentemente para a Inglaterra.

- Tiago, por que em vez de ter ficado reclamando pelo fato de ter vindo para cá durante um tempão, você simplesmente não dizia o que estava acontecendo?

- Sirius, pare de reclamar! Eu não tenho o direito de odiar alguma coisa sem falar para todo mundo por que odeio não? – Tiago olhou para o amigo e descobriu por sua expressão que não tinha este direito, nunca teve e jamais terá – Certo! ­­­­­­­Então agora eu tenho que falar tudo que penso?

Ninguém se deu ao trabalho de responder.

- Não entendo como Dumbledore nos manda para algum lugar que não esteja a pé de guerra. Por que eles não nos manda para algum lugar mais calmo, como o Japão, por exemplo. Não sei por que não pegamos um punhado de flu e nos mudamos para o Japão!

- Nós não temos nenhum lugar para ficar lá – interviu Lílian, já vendo que mesmo “amicíssima” de Tiago seria impossível parar com suas brigas por qualquer motivo. – Não temos nenhum dinheiro na moeda local deles. E ainda nem ao menos sabemos falar japonês!

- Ora, para o que é que serve o câmbio? É só convertemos um pouco de dinheiro na moeda deles e achar uma pensão, um hotel ou uma casa para alugar. E não é você a garotinha melhor aluna do ano em poções, a garotinha que conseguiria preparar uma poção de poliglotismo, a poção inglês-japonês?

Agora não era somente Lílian que percebia que seria impossível ela conviver com Tiago sem nenhuma briga. Todos percebiam que um foi feito para brigar com o outro. E como em toda briga deles, não houve nenhum espaço para se pensar em uma resposta: ela já estava na ponta da língua de Lílian.

- Para a sua informação Potter, aqui, queira ou não, estamos protegidos. E uma poção de poliglotismo de qualquer gênero demora de sete a nove dias para ficar pronta, de acordo com a semelhança das línguas traduzidas. E como o inglês e o japonês não tem nada de semelhante, eu não me surpreenderia se demorasse dez dias para ficar pronta.

E do mesmo modo que todas as brigas deles terminam quando um não tem um argumento para contrapor as idéias do outro, Tiago finalizou a briga ficando calado. E do mesmo modo do que acontece depois que a briga deles termina, alguém faz algum comentário ou pergunta sobre qualquer coisa que não tenha nada haver com a desavença. E este alguém foi Sirius.

- Mas por que será que Dumbledore mandou a gente aqui para o Brasil, sabendo que tem um você-sabe-quem brasileiro a solta aqui, mesmo que ele odeia a nossa versão dele e está disposto a proteger nós por talvez pura provocação? Eu não entendo este negócio de ética muito bem, mas não seria muito antiético mandar gente pedindo asilo político num país aonde acontece a mesma coisa que o nosso? – depois de falar tudo, o moço admirou-se, achando um pouco incrível ter falado de uma maneira tão adulta. Talvez se ele mesmo tiver se olhado neste discurso um ano atrás – ou até mesmo ter-se olhado antes de começar as férias, e antes de ter acontecido o Inferno Villenueve – não acreditaria que era ele mesmo. Era visível que aquele dias o tinham amadurecido, o medo o tinha amadurecido. E certamente seus amigos também estavam tão mais adultos que ele.

Todos falaram alguns “Sim, é”, “Bem, é” e “Acho que é” com a voz baixa. De repente, parecia que Sirius havia adquirido de novo uma certa capacidade das crianças, a de fazer pergunta extremamente inteligente, e muito difíceis de ser respondidas.

- Vamos mudar de assunto? – perguntou Mandy, vendo que ninguém se manifestaria com mais de três palavras, e alguém tinha que falar algo. E ao mesmo tempo, Lílian sem querer, pensou se este mudar de assunto seria o responsável por muitas coisas. O responsável de coisas sem serem ditas, de verdades a serem esclarecidas, mentiras a serem descobertas, amores a serem revelados... – Hum... que dia vamos comprar as nossas coisas? Deve ter coisas bem legais no “bequinho diagonal” deles.

- De preferência nunca – resmungou Tiago.

- Vamos hoje? – perguntou Lílian, já esquecendo de sua meditação talvez sem lógica. Mesmo sem perceber, estava ofendendo Tiago.

Todos (menos Tiago, que parecia emburrado por algum motivo) concordaram.

- Mas como vamos ir para lá? Eu sei que é por via flu, mas cadê a lareira?

A pergunta de Remo era de fato o que seria o grande desafio da viagem. Simplesmente não tinham uma lareira para viajar de flu. Mas qual seria a utilidade de uma lareira naquele lugar? Mesmo sendo Inverno, parecia que a temperatura de onde estavam se aproximava aos trinta graus.

Mas será que Dumbledore não havia percebido este pequeno detalhe ao dar um saquinho de pó de flu para eles?

Ele permaneceram em silêncio durante algum momento.

- Já sei – disse Sirius – Nós para usarmos o flu não temos que atirar no fogo?

- Sim...

- Então nós devemos fazer uma fogueira. E colocar o pó do flu nela!

Tiago se animou.

- Sirius, mas você é um gênio. Como ninguém pensou nisto antes!

O moço já ia se auto vangloriar quando Lílian resolveu se pronunciar antes dele:

- Mas a lareira, quero dizer, a lareira, deve estar ligada na rede de flu, que é controlada pelo ministério, e certamente o governo daqui deve controlar tão rigorosamente como lá no Reino Unido. E deve ser cheio de burocracia legalizar uma fogueira. E nem sabemos ao menos como fazer isto.

- Mas quem disse que tem tanta burocracia? – perguntou Tiago, com a cara de quem sabe a resposta da própria pergunta – E que também te disse que ninguém aqui sabe fazer isto, senhorita Evans?

- Você sabe? – perguntou ela desconfiada.

- Mas é claro. É só usar um feiticinho besta que eu aprendi. Não tão besta assim, afinal, eu conheço um mundo de gente que sabe do feitiço mas não consegue faze-lo. Mas o importante é que eu sei faze-lo. E automaticamente a lareira, a fogueira ou o quê que seja com eira é registrado.

Qualquer um deles percebia que estava tatuado na testa de Tiago “próximo passo para conquistar Lílian Evans, futura senhora Potter: impressionar ela bastante antes de perguntar se ela quer sair comigo”. Era fato sabido de todos que já fazia um bom tempo que ela não a convidava para sair. E todos sabem que estava esperando a hora correta para fazer a tal pergunta, já que tinha progredido bastante do posto de pior inimigo direto para o de talvez melhor amigo para desperdiçar.

E ele conseguiu o que queria. A moça arregalou os olhos por um segundo, impressionada. E foram segundos que separaram seus olhos arregalados de espanto do olhar doce de admiração. Não é necessário dizer que isto fez Tiago ficar definitivamente muito orgulhoso de si mesmo.

- Você consegue ativar uma lare, quero dizer, uma fogueira na rede de flu?

- Sim. É muito fácil. Lareiras ou fogueiras na rede de flu e chaves de portais são minhas especialidades – falou ele com uma falsa modéstia.

- Você sabe fazer uma...chave de portal?

- Ora, mas é cla...

- Então seria muito incomodo para você parar de ficar se mostrando para a Lils e fazer de uma vez este feitiço para que nós possamos ir lá para o Rio – retrucou Sirius, irritado.

- Certo, mas eu preciso de madeira, de fogo...

Remo suspirou, mostrando impaciência.

- Vocês são bruxos ou não são? Faça aparecer madeira e queime ela!

Todos fizeram cara de entendimento e alívio. Apesar daquilo não ser um desafia tão grande assim para eles, já que atrás da casa havia uma floresta, que até mesmo de fora era possível ver os galhos no chão. Entretanto, nem todos estavam exibindo esta cara aliviada: Lílian parecia preocupada:

- Mas agora pensando – disse ela – não podemos fazer isto! Nós somos proibidos de fazer magia fora da escola!

- Você não...

- ...mas nós sim! – Sirius terminou o fala de Tiago, como se tivessem combinado tudo antes.

Lílian inchou indignada.

- Nós estamos em um país estrangeiro – argumentou ela – não podemos desrespeitar as regras aqui. Se bem que no país natal vocês desrespeitam as regras mesmo. Mas aqui não podem. E ainda somos refugiados de guerra!

- Você é menor de idade e nós não – disse Remo. Atrás dele, Mandy bufava para esconder a risadinha.

- Ah, é verdade – Lílian murchou.

Mandy preparou a varinha para dizer o feitiço, mas não o disse. Remo e Sirius a impediram, dizendo que os mesmos fariam o feitiço para conjurar a lenha. Era um risco muito grande deixar Mandy fazer algum feitiço com algum grau de dificuldade sem algum professor, para salvar a todos, no recinto.

Eles também preparam a varinha para dizer o feitiço, mas ele novamente não foi realizado. Tiago lembrou para todos que ele conseguia de fato fazer a magica, ao contrário dos demais.

Antes dele levantar a varinha, Lílian o impediu, dizendo que não seria muito bom conjurar a madeira dentro da casa, já que era uma idéia muito idiota fazer uma fogueira dentro de casa e, alguém do mais, ela estaria certamente suja ou espalhando lascas e galhos pela casa.

Entretanto, antes de saírem, quando iriam abrir a porta de entrada, Mandy parecia ter-se lembrado de algo:

- Mas alguém tem que ficar vigiando a lareira!

Todos olharam para ela.

- Mas para que fazer isto – perguntou Sirius.

- Se a lareira se apagar, como é que vamos voltar. Sempre soube que devemos usar a rede de flu atirando e pó no fogo. Se não tiver algum fogo, não terá nenhuma maneira de voltarmos!

- É, isto é um problema...

- Não se preocupe! Eu fico – falou Lílian fazendo pouco caso. – A Mandy sabe de tudo que eu precisarei, já que só iria comprar mesmo os livros novos. E umas duas penas. E também três cargas para tinteiro. Aqui certamente não tem o nosso uniforme, já que nem o modelo têm. Os brasileiros usaram –af – camiseta e calças jeans de uniforme. O que você geralmente compra para você mesma.

Mandy fez um certo com a cabeça, e recebeu a bolsinha de dinheiro que Lílian iria usar para o material.

Eles novamente iriam abrir a porta, mas novamente foram interrompidos.

- Lilly, eu vou ficar aqui com você – declarou Tiago, voltando e indo em direção da moça, que parecia querer assentar-se no sofá.

- Não precisa, Tiago! – ela parecia encabulada. Suas bochecha tornaram-se rosa.

- Mas eu vou ficar. Com um bando de comensais a solta por aí não seira educado deixar uma dama desprotegida e sozinha em casa! Sirius – ele parou de seguir Lílian e virou-se para Sirius. – O de sempre – não é muito seguro falar os itens que se encaixariam no que ele sempre compre parara voltar para a escola perto de um monitor. – E compra um buquet de rosas vermelhas e esconde! – acrescentou sem ninguém perceber, ao dar o dinheiro dele para Sirius.

E todos foram para fora – o casalzinho também foi para se despedir e ver se relamente daria certo o feitiço. E é claro, Tiago foi para realizar o feitiço - e não realizaram o feitiço.

Isto porque estava em frente a casa deles, por mais incrível que pareça, uma lareira com um bilhete pregado.

Isto mesmo. Em cima do chão de pedras perfeitamente encaixadas, no meio daquele corredor havia uma lareira, sem nenhuma parede para sustentar.

- O que é isto?

Todos olhavam a lareira. Aquela lareira não deveria estar lá!

- Tem um bilhete nela

Remo tirou o bilhete e começou a lê-lo:

“Caros senhores e senhoritas,

Tomei o conhecimento de sua situação no nosso país, por meio de Alvo Dumbledore. Vocês serão bem recebidos em todo território brasileiras como refugiados de guerra, estariam protegidos em qualquer lugar, assim não correndo nenhum dos quaisquer riscos que passariam na Inglaterra.

Pelo fato de ainda estarem cursando alguma escola, eu os convido para passar este ano letivo na escola de magia brasileira, o Colégio de artes mágicas Bandeirantes. Entretanto, devo acrescentar que a menção disto em uma conversa que tive com o senhor Alvo, ele fez menção de voltarem a escola que atualmente estudam. Mas esta decisão deve ser tomada por vocês.

Estou conjurando junto com esta carta uma lareira para melhor atender o costume de seu país na rede de flu. Os bruxos brasileiros usualmente preferem viajar em fornos com a abertura larga.

Atenciosamente...”

Remo parou de ler. Todos sabiam o nome que viria seguir. Era o você-sabe-quem brasileiro

- É melhor você pular este nome, Remo. E também, a carta terminou aqui mesmo...

- Não Sirius, tem um P.S. Ouça “Para facilitar para os senhores, o nome do nosso centro de comércio bruxo é Avenida Beira Praia”. Mas Dumbledore já tinha dito isto para a gente mesmo...

- Mas espere um minuto. Vocês acham seguro viajar nesta lareira? – perguntou Lílian.

Eles pararam um minuto para pensar na própria segurança. Não era seguro viajar em qualquer coisa que tenha vindo de algum Você-Sabe-Quem, disto não tinham dúvida. Mas o diretor tinha falado com ele...

- Acho que é – disse Sirius finalmente. – Se ele fizer alguma coisa ruim que não proteja a gente, ele iria prejudicar a si mesmo, ferindo o próprio ego de tentar se mostrar que é melhor que a nossa versão. Ele quer mostrar para o mundo inteiro que ele é o mais poderoso, e desta maneira também vai acabar fazendo publicidade positiva do Brasil lá para fora.

- É...

- Então vamos?

E foram. Mandy foi a primeira a pegar o pó e atirar no fogo – a madeira veio de brinde com a lareira, e o fogo foi conjurado – e dizer o nome do local que queria chegar. Depois disto sumiu do local. Foi acompanhada de Remo. Sirius deveria ser o próximo.

Este, vendo que Tiago nem se mexia para ir, cochichou:

- Agora ninguém mais precisa ficar vigiando nada não.

Tiago deu uma risada e cochichou a resposta.

- Eu sei disto, mas parece que a Lílian não se lembra. E não seria certo deixar uma moça tão bonita sozinha por aí.

Sirius riu, pegou o pó, jogou na lareira e depois de dizer o destino sumiu.

Neste momento, percebendo que estavam sozinhos, os dois simultaneamente olharem nos olhos um do outro. Nenhum deles era legitimante, mas esta habilidade foi dispensada naquela hora. Eles eram perfeitamente capazes de ler o que os olhos diziam naquele momento. Pareciam hipnotizados.

- Vamos entrar?

Lílian havia percebido que se não falasse nada, acabariam cometendo uma besteira. E sabia muito bem que tipo de besteira cometeriam.

- Vamos –respondeu ele, não querendo verdadeiramente entrar na casa.

E então eles foram juntos em direção da casa, Tiago agora já conformado por perder uma oportunidade de ter um segundo romântico com Lílian. Afinal, teria um dia quase inteiro sozinho com ela, como já foi dito, desprotegida.

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