Tudo Culpa da Altura
Capítulo 2 – Tudo Culpa da Altura
Decididamente, não gosto disso.
Não gosto de sentir esse medo me dominando, não por uma coisa banal como uma viagem de avião.
Desde quando decolamos, comecei a contar muito devagar com os olhos fechados, controlando a respiração. Isso me acalmou por um tempo, e me senti segura novamente. Mas me perdi mais ou menos no 567. Então fico só bebericando meu champanhe e vendo um filme, me esforçando para parecer uma profissional séria e calma. O que não está funcionando muito, qualquer sonsinho, qualquer mexidinha me assusta, cada tremor me faz prender o fôlego.
O inglês ao meu lado continua caladão, com a cara enfiada no livro. Eu até adoraria conversar nessas horas, pelo menos assim eu desligaria do fato de estar presa nessa caixa enorme, barulhenta e pesada, milhares e milhares metros acima do solo. A mulher uniformizada, ou melhor, a aeromoça (acabei de saber o nome dessas mulherzinhas, eu sabia que a Mione tinha me falado algo do tipo, só não me lembrava o que ela tinha me falado... Bem, isso não vem ao caso) que encontrei mais cedo passa pela minha poltrona, distribuindo balinhas, amendoins e bombons.
- Obrigada. – pego uma pequena porção da cesta e agradeço a ela. E então percebo algo que não me parece ser normal...
Porque estou ouvindo um som estranho?! Vem da asa...
- Aceita, senhor? – o homem ao meu lado levanta a cabeça, olha para a cesta, e faz um gesto negativo, para mim, um tanto mal-educado.
A mulher vai em frente com um sorriso feliz e distribuindo aos outros passageiros a cesta. Ela cambaleia um pouco quando o avião dá uma sacudida.
Por que o avião está sacudindo?!
Ah, meu Merlin. Um súbito jorro de medo me domina novamente, e eu começo a sentir falta de ar. Calma, Gina. Não foi nada demais. Só foi uma leve sacudida. Isso deve acontecer o tempo todo. Não é nada demais.
A mesma aeromoça cai quando o avião dá uma sacudida maior. Os amendoins, as balas e os bombons se esparramam pelo chão. Ela tenta se levantar, mas o avião está sacudindo cada vez mais. Está cada vez pior. Uma voz ecoa na minha mente “Fique calma. Não é nada demais”.
Respira, inspira, respira, inspira.
Estou voltando ao meu controle. Começo a me acalmar. Está meio que... Voltando ao normal. O avião parou de sacudir. Está tudo bem, não preciso entrar em pânico. Vou voltar a contar. Quinhentos e sessenta e oito. Quinhentos e sessenta e nova. Quinhentos e setenta. Quinhentos e...
Porra. Minha cabeça levanta bruscamente. O que foi essa sacudida? Alguma coisa bateu na gente? Por que estou ouvindo gritos?
E então ouço um estrondo forte no avião e solto um grito de terror. Tudo parece se fragmentar. Começo a ficar desesperada. O que está acontecendo com esse trambolho?! Levo mais um susto e grito novamente.
Não consigo suportar sozinha. Tenho a necessidade de falar com alguém. Alguém que me tranqüilize e me dê segurança. Preciso de alguém. Alguém que eu confie.
Mas como eu poderia falar com alguém agora?! A única coisa que eu tenho é um cartão telefônico e aqui não tem nenhuma cabine. Certo, eu sou uma adulta, consigo me cuidar, não preciso de nenhuma babá. Eu vou ficar bem. Eu só tenho que parar de imaginar besteir...
Uma onda de gritos ecoa novamente na minha cabeça. Ah, meu Merlin. Ah, meu Merlin. Ah, meu Merlin. Ah, meu Merlin. Ah... Não... Ah... NÃO. NÃO. NÃO. NÃO.
Estamos caindo. Estamos mergulhando. Um passageiro foi jogado para cima e bateu a cabeça no teto. Está sangrando. Agarro-me na poltrona e instintivamente coloco uma das mãos no cós da saia, segurando com força minha varinha. Minha mente começa a trabalhar rápido, tentando achar algum feitiço para isso.
O pior de tudo é que eu não sei nenhuma mágica para acabar com isso! Se ao menos eu soubesse o que está acontecendo, onde enfeitiçar... Pelo menos, se for o caso, posso transfigurar essas poltronas em pára-quedas. Aí ninguém morreria. E eu ficaria famosa no Ministério por...
Não, Gina!! Concentre-se! Vamos lá... Feitiços para aviões... Mas para isso, teria que estar fora do avião para faze-lo parar de pular, e não dentro! O único jeito é ir até o controle do avião...
Isso. O piloto. Entrarei na cabine de controle, e conseguirei fazer alguma coisa. Me levanto da poltrona tremendo, ainda com a mão no cós da saia e a outra me segurando fortemente no braço da poltrona para não ser levada com as sacudidas bruscas do avião, e, para meu espanto, consigo ficar em pé. O avião está parando. Está acalmando. Respiro aliviada, mas sigo meu caminho para a cabine de controle. Vai e volta tudo de novo?
- Senhoras e senhores passageiros. – ouço uma voz vinda do além que me faz parar. Tenho a mínima impressão que deve ser dessa caixinha que sai o som... Como é mesmo o nome? A Mione já me falou um dia. Conversante... dissante... falante... Como é mesmo? Auto-falante! – Aqui fala o capitão. Estamos enfrentando um pouco de turbulência e as coisas podem ficar um pouco agitadas durante um tempo. Voltem todos a seus assentos e obedeçam aos avisos de atar os cintos e fiquem calm...
Há um repelão enorme que me atira para o outro lado do avião. Dou um grito de susto, e sinto uma dor na cabeça pela batida. Uma aeromoça vem me ajudar, me leva até a poltrona e amarra meu cinto. Eu não sei o que significa turbulência, mas sei de uma coisa: estou apavorada e não gosto nada disso.
Estou começando a me sentir enjoada. Vou passar mal. Quero vomitar. Seguro com mais força ainda a varinha e a poltrona. Sinto-me ser levada para cima, é como se a gravidade tivesse se invertido. Malas voam, bebidas se derramam, algumas pessoas são jogadas contra o teto, aeromoças caem. O avião está sem controle, parece um cavalo saltitante e descontrolado. Olho para o homem ao meu lado, ele está agarrado na poltrona assim como eu, e com uma das mãos também no cós da calça. Será que ele pensa que isso é um tipo de ritual ou coisa assim?
Ouço-o balbuciando coisas como “por que raios eu inventei de viajar nesse troço”, e eu grito cada vez mais de pânico. Ao redor de mim vejo pessoas com terços na mão, fazendo rezas. É um pesadelo.
Um novo pânico me domina. É assim que tudo acaba. É meu fim. Vou morrer.
A gente vai morrer.
A gente vai morrer!
Não posso. Não agora. Eu só tenho vinte e cinco anos. Não fiz tudo que queria. Não estou pronta. Não realizei meus sonhos. Não pode acabar tudo assim. Eu ainda conheço tão pouco do mundo. Não posso morrer. Não aqui, nesse mundo a qual não pertenço, não nesse trambolho trouxa. Imagina, uma bruxa morrer dentro de um avião...
- Perdão? – o homem ao meu lado vira a cabeça bruscamente. Eu falei aquilo alto?
- A gente vai morrer. – digo com desespero na voz. Encaro ele. A última pessoa que verei viva. Observo as poucas rugas desenhadas em volta dos olhos claros, a expressão séria, o rosto pontudo e pálido, o queixo sombreado por uma barba clara. Seu rosto me lembra vagamente alguém...
O avião cai de novo e eu grito novamente.
- A gente não vai morrer. – afirma ele, porém ainda agarrado na poltrona. – Eles disseram que é só uma turbulência.
- É óbvio que disseram! – minha voz sai aguda e com histeria. – Eles não diriam: “Certo pessoal, digam adeus ao mundo, vocês todos vão pro beleléu!” – o avião dá outro salto, e eu me pego agarrando a mão do homem, fincando minhas unhas nele. – A gente não vai sobreviver. Tanta coisa que eu ainda tenho para fazer. Eu ainda não escalei, não aprendi a dirigir, não viajei por toda a Europa, não me casei, não tive filhos, eu nem sei se tenho um ponto G...
O homem me olha pasmo, mas eu ignoro.
- Minha carreira é uma piada completa. Eu não sou a profissional bem-sucedida que quero parecer. – e aponto lacrimosa para meu tailler. – Ninguém vê o esforço que faço para tudo, ninguém percebe minha capacidade. Sou apenas uma assistente de merda e acabei de ter uma razão para jogar na cara de todo mundo do trabalho que eu podia ser tão boa quando eles, e foi um desastre. Não entendo nada do que esses trouxas falam. Nunca vou ser promovida, nada, nada. E nem sei mais se ainda estou apaixonada.
Paro de repente, com um tremor. O inglês ainda me olha assustado.
- Desculpe. – falo, e solto sua mão, agora marcada com minhas unhas. Olho para baixo, envergonhada.
Cadê meu autocontrole? Meu Merlin, estou pirando de vez.
E o que acabo de dizer não é verdade. Eu amo o Harry. Sempre o amei. Desde os onze anos sonho com ele. É óbvio que ainda sou apaixonada por ele. Deve ser a altitude me confundindo.
Inspiro novamente, ainda ruborizada e tento me acalmar. Controle-se, Gina. Controle-se.
Ah, meu Merlin. NÃO. NÃO. POR FAVOR. NÃO. O avião inclina mais ainda. Está pulando de novo. Está mergulhando. Eu quero gritar. Eu preciso.
- Eu nunca fiz nada para que tivesse orgulho de mim mesma. E se algum dia já me orgulhei de alguma coisa, depois percebo que todo mundo ri daquilo, como se eu fosse uma palhaça. – as palavras saem da minha boca como se tivessem vida própria.
Não consigo para de falar. Toda vez que o avião treme ou dá um pulo, palavras desconexas saem da minha boca. É falar ou gritar.
- ...56 quilos, e achei mesmo que ia fazer uma dieta...
“...minha cunhada, a Fleuma. Tudo bem que ela seja casada com meu irmão, e na verdade é uma boa pessoa, até pensei que poderia aprender a suportá-la, assim como minha mãe. Mas o jeito que ela me trata há praticamente dez anos, vive me dando lições de vida e de moral, vive me corrigindo, é como se eu fosse uma criança muito desobediente...”
“...é esse o problema de ser a mais nova entre homens, eles vivem no meu pé, querendo saber o que eu faço, com quem eu estou, não percebem que eu já tenho 25 anos e não sou ingênua...”
“...vi ele uma vez com outra, traindo minha melhor amiga, e eu não sabia o que fazer, quer dizer, é meu irmão...”
“...todos os Natais sempre dá o mesmo blusão de crochê para toda família. Não é que seja feio, mas ela podia mudar um pouquinho...”
“...garota horrorosa, aquela Amelia, vive dizendo a todo mundo que eu sou a secretária dela...”
“...tentando fazer pose para cima do meu namorado, e ele sempre dá cada resposta que eu me emociono, fico rindo da cara dela...”
“...ás vezes molho aquela planta dela com suco de abóbora, para ver o que é bom...”
“...para mim é quase uma irmã mais velha, a Tonks, sempre me mata de rir quando manda memorandos zombando das pessoas no Ministério...”
“...a gente tem um código secreto. Ela vem e diz: ‘Posso revisar esse relatório com você?’, e na verdade significa: ‘Vamos dar um pulinho no Beco...’
“...mudei um pouco minhas notas para conseguir emprego. Sei que é desonesto, mas não foi realmente muita coisa...”
“...sempre esqueço de apagar. Uma vez pegou fogo, foi um estrago, não tive coragem de dizer que fui eu...”
“...Arnold, meu chefe, apelidei-o de ‘Mini-pufe’, e tenho que tomar cuidado para não rir na cara dele...”
“...nunca tinha ouvido falar na Defense e não tenho a mínima idéia do que seja a tal da Operação...”
Meu Merlin, o que está acontecendo comigo?!
Normalmente eu sou mesmo tagarela, mas costumo me controlar e só falar o que devo.
Mas parece que esse controle falhou, e tudo sai sem nem mesmo perceber.
- ...uso calcinhas fio-dental porque não marcam, mas é tão desconfortável...”
“...tamanho 38, eu não sabia o que falar, por isso abri um sorriso radiante e disse empolgada ‘Adorei!’...”
“...pimentão assado, minha comida favorita...”
“...adoro sorvete, tipo aquelas taças enormes, com tudo que é tipo de sabor e podendo misturar com pedaços de frutas, minha sobremesa favorita...”
"...meu café da manhã predileto é um copo de suco de abóbora com muffin ou brownie de chocolate..."
“...tive um estranho sonho lésbico com minha melhor amiga e colega de apartamento...”
“...manchei todas as roupas caríssimas da Charlotte. Ela mereceu, foi só uma pequena vingança...”
“...queria ter peitos maiores. Não tamanho Extra GGG, mas só um pouco maiores. Para saber como é...”
“...me chamavam de Foguinho, até hoje tenho trauma de ser ruiva, branquela desse jeito e com sardas...”
“...pintei meu cabelo, mas ficou uma bosta, estraguei todo e nem tinha como pintar por cima, para esconder o estrago acabei por usar peruca durante um bom tempo...”
“...é vergonhoso, eu sei, mas tenho sempre em casa uma garrafa de licor de xerez, sempre tomo antes de um encontro ou alguma coisa importante, para acalmar os nervos...”
“...deitar de lado, assim a fenda entre os seios parece maior...”
“...toda vez que escuto ‘Like a Virgin’ da Madonna me animo, me dá uma vontade de cantar e fazer as loucuras que todo mundo faz no banho...”
“...choro quando vejo aquele filme, ‘O Rei Leão’, é besteira, eu sei, mas é tão triste...”
“...foi depenada, mas puxa, a culpa não foi minha! Ela passou voando bem na hora que estava mandando um feit...”
“...roupas com etiquetas das melhores boutique, mas muitas são de brechó que eu mesma mudei com um pequeno toque de varin...”
“...fiquei bêbada numa festa do Ministério, e dancei na frente de todo mundo uma espécie de ‘Macarena’, rebolando até o chão. A foto da minha bunda apareceu no Profeta, e ninguém sabe que fui eu...”
“...gostava de ficar vendo meus irmãos semi-nus, só por curiosidade...”
“...eles tinham aprontado comigo, e sujei toda a casa com aquelas bombas...”
Não percebo nada em volta, ou o que está acontecendo. O mundo se reduziu a mim e a esse estranho. Mal sei o que estou dizendo agora, ou tudo o que já disse. Só sei que é muito bom.
-...um primo distante, no Natal, quando tinha nove anos, e meus pais nem sonham...
“...poucas vezes cozinho, não tenho a mínima paciência, e sempre sirvo em nossos jantares lá em casa comida pronta, pelo menos ele nunca pareceu perceber...”
“...adoro usar as roupas do meu namorado, não só as camisas como uma menina normal, mas também as cuecas...”
“...o nome dele era David Moore, durante minha formatura. Minha família estava tirando fotos, mas eu estava realmente precisando daquilo...”
“Meu namorado é maravilhoso. Tenho muita sorte. Todo mundo vive me elogiando por isso e vivem falando que somos o casal perfeito. Ele é tudo o que eu sempre quis, é gentil, bem-sucedido, romântico, inteligente, corajoso, verdadeiro, leal... Me parece até bom demais...”
E agora que cheguei ao assunto Harry, estou dizendo coisas que nem lembrava que tinham acontecido, coisas que nunca sonhei dizer para alguém.
- ...durante muito tempo ele sumiu. Sei que era para ‘salvar o mundo’, mas ficava com tanta raiva que fazia essas besteiras...
“...me leva para os jogos, e fica narrando tudo o que um jogador faz, comentando que o que está errado na partida, o que cada um deve fazer. Isso me deixa pirada...”
“...tem vezes que ele fica caladão, metido em um canto, pensando na morte da bezerra, e nunca quer me contar o que realmente está acontecendo, como se eu fosse ignorante a ponto de ser incapaz de entender...”
“...sempre tive uma vontade de fazer uma ceninha para meu namorado, sabe, usar aquelas roupas sexys, vestidos vermelhos provocantes, ligas, umas botas pretas brilhantes como da ‘mulher-gato’, coisas do tipo, no estilo ‘mulher poderosa’.
“...uma vez, sai com ele assim, preparada para dar um pique na ralação, mas ele ficou me olhando estranho, e ao contrário de dar um pique, pareceu que enfraqueceu tudo, fiquei tão deprimida...”
“...decididos a achar meu ponto G, por isso passamos uma semana inteira transando em posições diferentes e em lugares diferentes, e no fim estava acabada, só queria me atirar no sofá e assistir desenho animado comendo ‘sucrilhos’...”
“...dei um lindo óculos novo para ele no Natal, mas ele só usa aquele troço enorme e remendado, por uma razão idiota...”
"...falei que não gostava de receber flores. Mas é óbvio que eu gosto, toda mulher gosta, apesar de toda a mulher sempre falar que não gosta..."
"...o importante não é receber flores em um dia especial, aniversário de namoro ou coisa assim. O importante é quando o cara chega em casa em uma data qualquer, te entrega uma flor ou um buquê, qualquer coisa do tipo, e fala: "estava voltando do trabalho e me lembrei de você". Toda mulher adora saber que o namorado se preocupa e se lembra dela. Pode ser uma jóia, uma herança de família, ou uma flor. Isso, para a mulher, significa que o namorado demontra gostar dela. Eu com certeza me derreteria com isso..."
"...minha flor predileta é hortência, de preferência branca..."
“...às vezes me parece que ele não me entende e ainda não percebeu que eu mudei dos quinze anos para cá, ainda me trata do mesmo jeito e parece que o relacionamento não evoluiu...”
“...sempre o vi como meu príncipe encantado, e nunca sonhei em contar isso para ninguém, mas ele me parece com um, principalmente depois que ele me salvou quando eu tinha 11 anos. Uma coisa infantil, mas na minha imaginação ainda tenho o encontro perfeito com ele: ele vem em um cavalo branco, lindo de morrer e me leva com ele até seu castelo, como um cavaleiro de armadura...”
“...fui apaixonada por ele, mas não sei se essa paixão está durando depois de tanto tempo. Como dá para saber se a paixão virou um compromisso bom e de longo prazo ou uma merda do tipo ‘a gente não se gosta mais’...”
“...há ainda uma parte de mim que quer um romance gigantesco, espantoso. Quero paixão, quero ser atirada no chão, quero um terremoto, um redemoinho enorme, alguma coisa empolgante, o tipo de coisa que me faça viajar. Ás vezes parece que tem uma vida nova e cheia de aventura me esperando ali adiante, e se ao menos eu pudesse...”
“...sabe, eu sou uma brux...
- Com licença, senhorita?
- Hã... O quê? – olho para cima, atordoada. A mesma aeromoça simpática está sorrindo para mim – O que foi?
- Nós pousamos.
- Nós... Pousamos? – repito de um jeito estúpido.
Isso não faz sentido. Nós não podemos ter pousado. Há menos de um minuto o avião estava pulando. Como podemos ter pousado? Olho em volta e realmente o avião está parado. Está no chão. A maioria dos passageiros já saiu, só restamos eu e o inglês ao meu lado.
- Não estamos mais pulando. – novamente, murmuro estupidamente.
- Paramos de pular há um bom tempo. – fala o inglês ao meu lado com uma mistura de mau-humor e deboche na voz, como se a causa de tudo fosse minha.
- Nós... não vamos morrer?
- Não, não vamos morrer.
Olho-o como se fosse a primeira vez, e a coisa bate. Estive botando os bofes para fora há uma hora para um completo desconhecido. Só Merlin sabe o que eu falei. Acho que quero sair do avião agora mesmo. Nunca mais entro em outro transporte trouxa. Principalmente se for a mais de dois metros de altura. É sério, estou traumatizada.
- Desculpe. – falo sem jeito. – Estou tão sem graça! Você devia ter me parado...
- Ia ser difícil. Você estava empolgada. – diz ele ainda no mesmo tom. Eu mereço, ele poderia ao menos ser um pouco simpático e amável depois de tudo isso, não?!
Tento sorrir, mas sinto meu rosto ficando vermelho e não consigo encara-lo. Eu falei da minha calcinha. Falei do meu ponto G.
- Não se preocupe. – ele pega sua pasta e se levanta. Percebo que estou atrapalhando sua saída. Ainda totalmente envergonhada, levanto da minha poltrona e dou espaço para ele passar. – Você vai ficar bem?
- Sim. Tudo bem. – sem olhar-me novamente, ele vira-se para a saída. – Obrigada! – grito para suas costas, mas não acredito que ele tenha ouvido.
Lentamente, ainda atordoada, junto minhas coisas no avião e ajeito a roupa. Saio com as pernas um pouco bambas, como se nunca tivesse andando na vida. Estou suando, minha cabeça está latejando e meu coque perfeito está todo bagunçado. O aeroporto está luminoso, imóvel e calmo. O chão está tão firme! Sento-me numa cadeira de plástico tentando recuperar o controle, pensando em como pude fazer o que eu fiz.
Meu Merlin... Afinal, o que eu falei?! Eu devia ter mandado um obliviate nele, devia mesmo. Mas com certeza ele vai se esquecer de tudo, afinal, sou uma desconhecida. E ele com certeza é um trouxa, então para mim, é um desconhecido em dobro.
E pensando bem, isso até pode dar uma boa história. Quer dizer, ele irá se divertir contando para os amigos sobre a viagem em que encontrou uma louca e ela contou todos seus segredos. De repente até para sua mulher, e os dois irão rir durante horas dos meus segredos cabeludos. Então eles contarão a história para seus filhos, depois para seus netos durante um momento feliz como o Natal, e seus netos contarão aos amiguinhos... “Uma vez, meu vô...”. Eu serei a razão do elo sagrado e da diversão entre uma linda família. Não é emocionante?
Seria emocionante se eu conseguisse voltar a respirar, parasse de sentir minhas pernas frouxas e minha mente se conectasse em algum pensamento.
- Gina! – ouço uma voz gritando quando saio do portão de desembarque, mas não levanto os olhos. Tem tantas Ginas no mundo, e com certeza não seria comigo. Só conheço bruxos, e o que bruxos fariam em um aeroporto? (claro, eu sou uma exceção). – Gina! Aqui! – pensando bem, eu conheço essa voz.
Levanto a cabeça incrédula. Será...
É o Harry.
Ele está vindo correndo até a mim, lindo de morrer daquele seu jeito “não tive a intenção de ser gostoso”. Seus cabelos são preto-carvão, contrastando com a pele branquíssima, tão desarrumados quanto quando o conheci e apontando para tudo que é lado, o que para mim lhe dá um ar sexy. Seus olhos estão verdes como nunca, acho até que mais brilhantes que uma esmeralda.
Isso não faz sentido. O que ele está fazendo aqui? Por que ele não está trabalhando? Eu era a única pessoa em exceção a regra “Bruxos Não Andam Em Aeroportos”. Agora ele também?! Isso é um ultraje!
- Graças a Merlin. – quando nos encontramos ele me abraça com força. – Você está bem? – ele murmura no meu ouvido
- Harry... O que você está fazendo aqui?
- Mione me mandou uma carta preocupadíssima, dizendo que tinha falado com a companhia aérea e eles disseram que o avião encontrou uma turbulência horrível, não tinham idéia de quando pousariam. Na hora pensei... – ele pára. – Pensei... Nem sei o que eu pensei... Tive que vir aqui o mais rápido possível. E quando não te vi descendo, imaginei que... – novamente ele fica mudo.
- Eu estou bem. Só estava... me recuperando. Ah, Harry! Foi aterrorizante! – exclamo e me jogo nos braços dele. Ele me abraça com força, acariciando minhas costas. – Chegou uma hora que eu pensei que ia morrer...
- Eu... Eu também. – Harry pára e me encara profundamente durante alguns segundos. – Fiquei tão preocupado com você, Gina. Eu não suportaria perde-la novamente. Não suportaria viver sem você. Não de novo. Eu te amo tanto. – então ele me beija, um beijo doce e ao mesmo tempo necessitado. – Posso leva-la para jantar esta noite? – sussurra ele no meu ouvido, acariciando minha orelha.
- Você não tem nada importante? – olho no relógio, já são sete e meia da noite. É estranho. Os Inomináveis, e principalmente o Harry, mal tem tempo para respirar. Vivem fazendo várias coisas a trabalho, e praticamente toda noite o Harry está ocupado em missões secretas.
- Você é a única que para mim tem importância. – diz ele, sorrindo. As pernas mal me sustentam, só não sei se é por causa da viagem, da altura ou de amor.
- Adoraria jantar com você, Harry.
Sem nem mesmo perceber para onde estou indo, Harry entrelaça seus dedos na minha mão e me conduz para fora do aeroporto. Entramos em um carro preto que reconheço ser do Ministério. Bem, sei que prometi a mim mesma nunc amais andar em qualquer coisa trouxa, mas dessa vez estou acompanhada do Harry, nada de mal vai me acontecer.
Começamos a andar por Londres, a paisagem passando como um borrão pelo vidro. Meus pensamentos estão tão dispersos, minha mente tão distraída que não percebo nada em minha volta ou o que está acontecendo. Depois de um tempo o carro pára e reconheço o lugar. É um dos meus restaurantes preferidos da Londres bruxa. É muito elegante, mas não é o estilo “os clientes fazem desfile de moda e só entra aqui quem tem muita grana”, mas é um estilo elegante, confortável e romântico.
Harry dá nosso nome na entrada, e uma recepcionista nos leva até uma mesa em um lugar reservado e distante do resto do restaurante. Um garçom vem até a nós, afasta a cadeira para mim e nos entrega os cardápios.
- Desejam beber algo?
- Um champanhe, por favor. – diz Harry. Ele olha para mim e eu aceito, confirmando com a cabeça. O garçom faz uma reverência e faz surgir em nossa frente duas taças servidas e uma garrafa.
Não entendo, afinal, para que um champanhe em um restaurante como esse? Será que hoje é algum dia especial? Paro e começo a pensar. Não é meu aniversário, nem o de Harry. Não estamos comemorando nenhum aniversário de namoro, não é Natal, nem Ano-Novo. Por que, então?!
- Estamos comemorando alguma coisa? – não me agüento e pergunto. Harry me olha e sorri, depois abaixa a cabeça e percebo que ele está nervoso.
- Gina, - ele puxa o ar e me encara, segurando minha mão. – Enquanto ia para o aeroporto, pensei muito em nós. Em como tudo começou, a primeira vez que te vi, a primeira vez que te beijei ainda em Hogwarts. Quando eu tive que passar aqueles terríveis anos fora, você foi a única pessoa que me deu esperanças, só em pensar em você eu sentia que não podia desistir. – ele inspira novamente e engole em seco.
Suas mãos estão suando frio. Eu sinto uma vontade repentina de rir ao vê-lo tão nervoso, mas me seguro. Encaro-o, dando-lhe coragem para continuar.
- Hoje fiquei com tanto medo, que percebi que você ainda é a pessoa mais importante para mim. Estamos a tanto tempo juntos, que de repente isso me pareceu o mais certo. – uma voz na minha cabeça ecoa: “Isso o que?!”, mas não tenho coragem de falar. – Fico até me perguntando como pude não ter feito isso antes. – ele pára e inspira fundo novamente. Depois me encara e vejo o nervosismo em seu olhar, segura minhas mãos com mais força. – Gina, você aceita...
Ai meu Merlin. De repente uma coisa vem em minha cabeça, e meu coração pula de medo. Ele vai me pedir em casamento. Por isso o champanhe, o restaurante romântico e caro. O que eu vou dizer?! Não estou preparada para me casar, assim do nada. Mas se eu disser não, ele vai ficar super chateado, vai embora e é possível que o namoro até desande. O que eu vou falar é...
- ...se casar comigo?
Hum... CASAR?!
Casar, assim, de juntar as escovas e dividir o lençol?!
Ai, meu Merlin. E agora?!?!?!?!! Minha mente pára de funcionar, estou totalmente perplexa. O que eu vou dizer?
Ele está me encarando, esperando uma resposta.
- Eu... Estou surpresa. – consigo dizer, arranjando tempo para pensar.
- Imaginei. – ele sorri, ainda apreensivo – Você não precisa dar a resposta agora. A gente pode ficar noivos o tempo que você quiser. Eu sei que vai ser complicado dizer isso a todo mundo, principalmente à sua família, são tantas pessoas e imagino a festa que não fariam. – é verdade. É possível que minha mãe tenha um ataque cardíaco. – Comprei para você. – ele coloca a mão dentro do bolso e me entrega uma caixinha preta.
Um pouco assustada e com os dedos tremendo, abro e ali vejo uma aliança de ouro com pedras de brilhante. Linda, do jeito que sempre quis.
- Se você quiser, também podemos manter isso em segredo por enquanto. – continua ele, mas meus olhos estão pregados na aliança. – Depois resolvemos como diremos isso a todo mundo. – ele engole em seco. – E é claro, se você não quiser, eu irei entender. Eu espero o tempo que for necessário.
Agora eu penso, ele não é perfeito? Qual homem faria isso? Olho para a aliança na minha frente. Sinto que eu não esteja totalmente preparada para me casar. Mas não vai ser amanhã que vamos virar marido e mulher. É como ele disse, podemos ficar noivos. E como minha mãe diz, “Gina, para ter sorte no casamento, tem que ficar noiva durante um ano”. Não sei porque, mas ela sempre me diz isso. É um bom tempo para eu me acostumar com a idéia e me preparar para o casamento, contar tudo à família, ao trabalho, e é claro, aos jornalistas que ainda seguem o Harry. Noivar com o Harry. Meio que faz sentido. Tenho alguma razão para recusar?
Alguma coisa cutuca meu cérebro, mandando uma mensagem. E surgem na minha cabeça algumas coisas que falei no avião. Alguma coisa sobre a minha paixão pelo Harry não estar forte como antes, sobre eu não estar tão satisfeita assim com nosso amor, alguma coisa sobre ele não me entender realmente.
Mas aquilo não passou de papo furado. Pelo amor de Merlin, eu ia morrer! Não estava no meu melhor estado. Além do mais, desde meus onze anos sonho em ser a Sra. Potter. Por tanto tempo desejei tê-lo para mim, por tanto tempo sonhei com ele. Eu o amo desde quando ouvi falar dele, essa é a verdade. Aquilo que eu falei no avião foi o pânico. Foi culpa da altura que confundiu meus pensamentos. Não tem porque não aceitar. Isso é tão certo. É o destino dos meus sonhos. E o Harry tem razão, ele também é a pessoa mais importante para mim. Eu o amo, ele me ama, nós nos amamos, não é? É natural que fiquemos noivos, nos casamos e temos filhos. A lei do amor e da vida.
Ele ainda me olha apreensivo, suas mãos estão tremendo e suando mais frio ainda. Olha só para ele. Tão lindo, tão perfeito, acabou de fazer uma declaração, um pedido de casamento, comprou uma linda aliança, disse que espera o tempo necessário por mim, e ainda por cima foi me resgatar no aeroporto.
- Eu aceito me casar com você, Harry. – sussurro. Ele abre um lindo sorriso, me abraça e me dá um beijo delicado.
É amor. Tem de ser amor.
N/A:
Oie!
Aí está o capítulo! E olha que postei rápido dessa vez, normalmente demoro muito mais. E Então? Gostaram?
Espero não ter viajado muito nos segredos! Hihihihhi.
Adorei todos os comentários!! E não se esqueçam de comentarem também para esse capítulo!!
MF’s Syltherin: Oie!!
Aí está o capítulo! Não precisa enfartar!! Nem me mandar avadas!! Hauhahuahua
Obrigada pelo comentário, miga!!!
Estou adorando sua nova fic!! Não esquece de atualizar ela também, viu?!
Beijão!
Aridane Lasombra: Oie!!
Que bom que gostou!
Espero que goste também desse, da piração da Gina e agora dos lindos segredos que o Draquinho sabe! Huahuahauahauahauhua
Bem, com quem ela vai ficar só poderemos saber no final da fic (oh! Que mistério...), então terás que acompanhar... huhuhuhuhu
Beijos!!
Agatha C. Martin: Oiee!!!
Que bom que gostou!!
Eu? Tenho talento? *corada* Obrigada!
Sim! O inglês mal-educado é o Draco! Só podia, né? Huahuahuahuahua
Espero que goste também desse capítulo!
Beijos!
natinha weasley: Oiee!!
Que bom que gostou!!
Bem, não precisa gostar de D/G, só precisa gostar da fic! Huahauahuahauaua
Espero que também goste desse capítulo!
Beijos!
Alice Bottom: Oie!
Obrigada pelo comentário!
Pois é... Eu sempre acabo fazendo fics desse jeito! Hihihihi
Beijos! Espero que goste também desse capítulo!
♥ Daniela Malfoy♥: Oiie!!
Que bom que gostou do capítulo!
Aí está o segundo, espero que também goste!
Beijos!
Jéssica Evans Potter: Oiee!!
Sei como são esses exames infernais... Por sinal eu também estou cheia, devia estar estudando, mas tudo bem. Mas a gente sempre arranja um tempinho para vir para cá, né? Huahauahuauahua
Boa sorte para você!
Pode deixar que vou acompanhar sua fic!
Beijos!
E a minha chantagem barata do N/A passado continua em pé: quanto mais comentários, mais rápido o próximo capítulo! (se é que vocês querem continuação) =PPPPPP
Beijos,
Babi Black
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