Por favor, não



“Dia em que o Harry foi embora, nem quero saber que ano,

Querido Diário...

Sei que deveria ser a primeira pessoa a não escrever mais diários. Depois dos acontecimentos com o diário de Tom, eu deveria ter medo deles. Mas estou aqui novamente, olhando esse caderno rosa, que ao menos não se parece em nada com aquele caderno de capa preta que tanto me causou problemas.

Por Merlin, quando vou dormir direito? Quando é que vou ter uma noite em que eu seja capaz de deitar a cabeça no travesseiro e dormir mesmo? Quando raramente consigo dormir, tenho esses pesadelos estranhos. Não me lembro das coisas. Será que é normal uma bruxa tão jovem quanto eu ter esses acessos repentinos de esquecimento?

São tantas dúvidas, e agora mais essa. Por que Dumbledore teve que levar Harry para longe de mim? Ele não me explicou nada. Não sei o que está acontecendo e tenho medo. Medo de que agora, aqui sozinha, Voldemort possa tentar alguma coisa comigo. Sim, eu escrevo e digo o nome dele. Dumbledore disse que o medo de um nome só faz aumentar o medo da coisa em si, e eu concordo.

Voldemort... ele sabe que pode me usar para atingir Harry. Ele sabe que amo seu inimigo mais do que tudo na vida, mais até do que a mim mesma. Como fui ingênua...como eu pude simplesmente escrever meus segredos, abrir meus sentimentos para aquele maldito diário... e estou fazendo isso de novo. Droga!

Não, eu não posso conversar com a Mione. Ela está preocupada demais com o próprio umbigo, sempre que converso com ela só consegue falar do meu irmão. Não que eu não goste dele, mas a Mione não combina com o Ron. Ela combinava muito mais com o Viktor Krum, isso sim. Meu irmão é tapado demais para ela. Tudo bem, ele é meu irmão e essas coisas são normais entre membros da mesma família. Mas quem sou eu para dizer algo, nós não escolhemos quem amar. Eu definitivamente não escolhi. Mas acredito que, mesmo que eu pudesse escolher, optaria pelo Harry. Ele sou eu mesma em versão masculina. Ele tem uma força, uma coragem, um quê de rebeldia que me enlouquece!

Ah, Harry, o que você fez? Ou melhor, o que fizeram com você? Na verdade, acho que em momento algum você teve escolha em relação aos acontecimentos de sua vida. Sempre havia alguém para decidir no seu lugar. E os acontecimentos, no geral, foram sempre baseados em jogos de sorte ou azar. Bruxos acreditam em destino. Eu também acredito. Levaram você para viver com seus tios trouxas depois da morte de Lilian e Thiago Potter. Trouxeram você para Hogwarts quando chegou à idade certa. O chapéu seletor te colocou na Grifinória. O amor de sua mãe protegeu você quando enfrentou pela primeira vez o Lord das Trevas. A fênix de Dumbledore te ajudou a me salvar na Câmara Secreta. Sirius, afinal, não era seu inimigo, mas seu padrinho. Cedrico morreu no seu lugar no Torneio Tribruxo. E você tem a Ordem da Fênix e a Armada de Dumbledore para te defender sempre. E mesmo assim não desmereço em nenhum momento tudo o que você fez até hoje. Por cada momento de coragem é que eu admiro a cada dia mais o homem que aprendi a conhecer e que amo desde que me conheço por gente em Hogwarts.

Mas Tom Riddle sabe disso. Voldemort sabe disso. Sabe que Harry é importante para mim. E agora que me deixei envolver, sabe que eu também lhe sou cara. Eu me lembro perfeitamente do dia em que meu pai foi atacado por Nagini no Ministério da Magia. Eu estava lá também. Você era Nagini e eu era Nagini. Tudo o que aquela cobra maldita sentia, eu também sentia. Achei que tudo não passasse de um sonho estranho. Harry foi além e avisou a todos. Enquanto eu fiquei quieta, com medo, menina boba Gina esperando seu pai ser devorado por uma cobra peçonhenta. Eu compartilho dos pensamentos do Lord das Trevas. Eu sinto o ódio mortal que ele sente a cada encontro com Harry. E tenho medo.

Meus amigos perceberam. Eu não sei o que acontece comigo. Sei que ando esquecendo as coisas, acordando em lugares onde eu não me lembro de ter estado. Geralmente, Ernesto me encontra nesses momentos. Ele acha que ando bebendo demais. Lembro-me da festa do Slughorn. Eu não tinha tomado muito hidromel. Estava bem. Mas acordei suando frio no meio do corredor do quinto andar, com Ernesto me sacudindo. Depois foi a Hermione. Após o jogo de Quadribol em que a Grifinória foi campeã, depois do beijo de Harry e de toda a comemoração, lembro-me de ter ido para o meu quarto. Mas Hermione me encontrou, horas depois, no banheiro da Murta que Geme. Desde então ela me vigia, mas como pode descobrir algo se nem eu sei o que está acontecendo? Mas desconfio. Era assim quando eu abria a Câmara. Era assim quando eu tinha o diário de Riddle. Mas que coisa! Agora eu não tenho mais. Eu não conto mais os meus segredos! Mas é como se ainda existisse um elo que me prende a Voldemort de algum jeito.

E se isso prejudicar Harry? E se isso puder piorar ainda mais a missão que ele tem pela frente? Preciso me afastar para protegê-lo. Mas é impossível! Meu amor por ele não me deixa ficar longe...”

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