Homem-Névoa

CAPÍTULO 18

HOMEM-NÉVOA







Na manhã seguinte, Gina virou-se na cama e, por um momento, assustou-se ao não sentir o corpo de Harry junto ao seu, pensando que talvez aquela noite de ardente paixão tivesse sido apenas um sonho. Mas tranqüilizou-se ao sentir a impressão que sua cabeça deixara no travesseiro, impregnado com o aroma de seu perfume, 212 Men, de Carolina Herrera, que ele começara a usar antes de ir para a Turquia.
Haviam passado a noite anterior se amando como dois adolescentes, cheios de saudades um do outro. A noite começara com Harry pedindo desculpas à ruiva por quase tê-la matado de susto. Ela sequer deixou que ele terminasse de falar e colocou os dedos nos lábios do esposo.
_Calma, minha vassourinha despenteada. Não precisa mais ficar se desculpando, pois eu entendo suas razões. Agora não diga mais nada e apenas me beije, me abrace e me faça voar sem vassoura. _ e ao final da noite, o chão da suíte principal da Mansão Potter estava coalhado de perfumadas pétalas de rosas azuis, idênticas às do Baile de Inverno de quando Harry formara-se e ela estava no sexto ano.
Ela abriu lentamente os olhos e examinou o quarto, vendo que Harry não estava ali. Sua preocupação durou menos do que uma fração de segundo, pois logo em seguida ele entrava, empurrando um carrinho com uma bandeja, sobre a qual era visível um pequeno jarro, com uma rosa azul.
_Café na cama para minha rainha. Dormiu bem, minha pequena leoa?
_As partes da noite em que não estava acordada com você? Claro que sim, Harry, pois dormi sonhando com você. _ e Gina levantou-se, indo até a mesa onde Harry colocava o conteúdo da bandeja: frutas, sucos, café, leite, mel, torradas, geléia, peito de peru, queijo, iogurte e granola. _ Caprichou, hein, Harry?
_Imaginei que você iria querer um desjejum mais substancioso, querida. Suco?
_Sim, obrigada. Harry, então esse será o seu plano? Atacar o Círculo de surpresa em vários pontos?
_Exato, Gina. E começarei por Myanmar, antes que eles pensem em tirar de lá aquele livro.
_Tem certeza de que é um volume do Necronomicon?
_Aquela energia é inconfundível. Eu vou ter de verificar se ele ainda está lá. E, se estiver, eu terei de pegá-lo. _ disse Harry, servindo-se de granola com iogurte.
_E como você vai circular por aí?
_Eu já lhe expliquei. Estando oficialmente morto, poderei ir e vir com muito mais tranqüilidade. Não utilizarei minha verdadeira aparência e ninguém estará preparado para detectar meu Ki. Desfecharei meus ataques ao Círculo onde eles menos esperarem. Serei não mais do que névoa, um “Homem-Névoa”, difícil de ver e impossível de agarrar.
_E é certo que os seus novos poderes de Magid ajudarão bastante.
_Com certeza. Eles pensarão que foram metralhados pelo Rambo (e Harry transfigurou-se em Sylvester Stallone), emboscados por “Rooster” Cogburn (passou para a de John Wayne) ou que são alvo de todos os 007 (e transfigurou-se, um após o outro, em Sean Connery, Roger Moore, George Lazenby, Timothy Dalton, Pierce Brosnan e Daniel Craig, ante o olhar espantado de Gina).
_Uau! Transfigurações impecáveis, querido!
_E se ainda não for suficiente, eles terão a certeza de que Elvis não morreu (e de Daniel Craig passou para a aparência do Rei do Rock).
_Você não tem jeito mesmo, Harry. _ disse Gina, beijando-o assim que voltou à verdadeira aparência _ Sempre uma brincadeira pronta.
_Ajuda a quebrar o gelo. Bem, como eu dizia, circularei pelo mundo, mas minha base de operações será o Centro de Treinamento Subterrâneo. Tudo o que eu preciso está no cofre de segurança. Bem, terminei. Vamos descer? Logo a Mi deverá voltar para Amsterdam e temos de nos despedir dela.
_Harry, prometa para mim que depois de concluir essa operação contra o Círculo você vai procurar algo menos arriscado. Não lhe peço para sair da ativa dos Aurores, pois sei que isso é a sua vida...
_... Depois de você, Tiago e Lílian, minha querida.
_Obrigada. O que eu quero dizer é que seria bom reduzir um pouco as suas operações de campo.
_Prometo que farei isso, Gina. Mas, primeiro, temos que provar a inocência de Draco e ferrar com toda a operação de tráfico do Círculo na Europa e América do Norte, antes que eles completem sua expansão para a América do Sul, com os campos de coca da Bolívia e Colômbia e com os campos de Cannabis que estão plantando no Brasil. Bem, acho que um banho está na ordem do dia, você não concorda?
_Só se for com você. _ disse a ruiva, abraçando o marido, com um olhar cheio de segundas intenções.
Depois de um bom banho, trajaram vestes de casa, bem confortáveis e desceram. Miep também já havia terminado de tomar seu café e estava pronta para retornar para a Holanda.
_Vai manter contato, Harry? _ perguntou Miep Van de Vries.
_Com certeza. Você saberá onde mandar o pessoal da Interpol e da InterSec. Só cuide para que Pieterzoon seja o último a saber das coisas, que só saiba quando não houver mais tempo de avisar “Sombra & Escuridão”.
_OK, “Homem-Névoa”. Cuide-se. _ e deu um beijo no rosto de Harry.
_Aprendeu rapidinho o meu codinome, hein? Lembre-se, aquele desgraçado deverá estar no julgamento de Draco. Ele precisará ser arrolado como testemunha da acusação.
_Isso é algo que “Escuridão” certamente mandará que ele faça. Bem, até a próxima. _ e Miep jogou um punhado de pó de Flu na lareira, indo embora para Amsterdam.
_Agora somos só nós dois, meu amor. _ disse Gina.
_Sim. Lembre-se, sigilo total. Como eu sei que você aprendeu bem a Oclumência quando precisou controlar o elo telepático, não haverá qualquer problema.
_Está indo a Paris?
_Sim. E de lá vou direto para Mandalay. Assista os telejornais de amanhã. A fogueira vai ser bem bonita. Tchau, meu amor. _ disse Harry Potter, beijando a esposa.
_Cuide-se, meu querido. _ respondeu a ruiva, beijando-o novamente. Em seguida ele desaparatou (“Mas por que ele foi primeiro a Paris?”, pensou a bruxa).

_Entendeu, então? _ perguntou Harry.
_Oui, Harry. Mas tu as certeza de que é ele mesmo?
_Praticamente cem por cento. Algumas coisas que fiquei sabendo conferem com o que Draco me disse.
_C’est la verité, Harry. Eu contei a ele e à família. Quando será?
_No julgamento de Draco. Estou certo de que você poderá ir.
_Trés bien, je m’en vais, com certeza. Esta é minha função, mas não significa que estou preso aqui o tempo todo. Pode deixar que estarei lá.
_Conto com você.
_Merci beaucoup, Harry. Au revoir.
_Au revoir. _ e Harry desaparatou, diretamente para Mandalay. Seus novos poderes permitiam a ele executar uma desaparatação de longa distância sem um veículo enfeitiçado.

Mandalay, Myanmar. Manhã do dia seguinte.
Na entrada do campo de papoulas, ficavam os alojamentos dos empregados malaios. Com bastante cuidado, Harry viu que um deles estava saindo do alojamento e indo em direção aos banheiros (“Um madrugador. Ótimo, pois isso facilita as coisas para mim”, pensou o bruxo).
_ “Imperio”! _ disse Harry, após aproximar-se do malaio, sob Feitiço de Desilusão. A Maldição Imperius funcionou perfeitamente e o empregado logo estava sob o domínio do Auror. O malaio foi conduzido até um depósito e, após posicionar-se atrás de uma pilha de caixotes, foi posto para dormir com um Feitiço Morpheus e amarrado com cordas conjuradas.
_ “Desilusionis”! _ Harry tornou invisível o malaio, com um Feitiço de Desilusão (“Com sorte, ninguém o descobrirá até a noite”, pensou Harry). Através de Legilimência ele já descobrira tudo o que era necessário saber sobre a vida do homem cujo lugar estava preparando-se para tomar por um dia, inclusive que ele era primo do guarda que Pieterzoon matara, na outra noite em que lá estiveram (“Mais uma vida que você está devendo, maldito traidor”, foi o seu pensamento).

Harry Potter juntou-se aos outros plantadores e, munido de uma faca, fazia incisões no bulbo das flores de papoula (Papaver somniferum). A seiva leitosa escorria e secava. Outros empregados recolhiam-na dos bulbos, quando ela secava e ficava pastosa, transferindo-a para os sacos que carregavam. Dali a seiva ia para a refinaria, passar pelo primeiro refino, cujo resultado era o ópio. Este possuía uso medicinal, como antiespasmódico, sob a forma de elixir paregórico, medicamento conhecido desde a Antigüidade. De lá, ia para o segundo refino, cujo produto era a morfina, que ainda tinha aplicação medicinal, como um potente analgésico. Porém, o que interessava ao Círculo Sombrio era o resultado do terceiro refino, o veneno branco apelidado “Ouro Thai”. A droga chamada heroína.
Harry realizava os cortes nos bulbos de papoula e, disfarçadamente, deixava cair ao pé das plantas pequenas esferas conjuradas, que ficavam ocultas pela sombra das folhas. No intervalo do almoço, aproveitou para verificar se haviam reforçado a segurança do galpão que ocultava a sala de operações subterrânea, constatando com satisfação que não havia mais nada além do cadeado ligado ao alarme, que ele já havia desativado uma outra vez. Expandindo a sensibilidade do seu Ki, captou a energia do livro, bem como a dos Feitiços Defensivos que o cercavam (“Nada que eu não possa neutralizar com facilidade”, pensou Harry). Após o almoço, houve uma mudança de funções. Os que haviam passado a manhã fazendo incisões nas papoulas, agora recolhiam e ensacavam a seiva seca, para envio à refinaria. Ao final do turno, Harry foi até o depósito no qual havia escondido o malaio cuja aparência havia assumido. Reanimou-o e lançou nele um Feitiço de Memória, implantando a falsa lembrança de que ele havia trabalhado normalmente naquele dia. Em seguida, saiu do campo sob Feitiço de Desilusão, verificando que os guardas andavam aos pares, um bruxo e um trouxa, portando Sensores de Atividade Mágica portáteis, facilmente embaralhados pelas suas habilidades de Magid.
Enquanto anoitecia, Harry observava o campo à distância, acampado nas encostas próximas, utilizando um potente binóculo enfeitiçado, conjurado por ele. Teria de dar a impressão de que o campo havia sido invadido por agentes trouxas, portanto a penetração teria de ser através de um buraco na cerca, como já havia feito anteriormente, em companhia do traidor Pieterzoon, o maldito “Mantis”. À noite, aproximou-se da cerca. Constatou que ela estava eletrificada e tratou de desviar a corrente, cortando o arame no ponto que havia isolado. Rastejou para dentro do campo e, oculto pelas sombras, chegou até o galpão. Neutralizou o alarme do cadeado e entrou no galpão, logo descendo pelo acesso ao subterrâneo. Lá em baixo, na mesma sala de operações, procurou seguir a trilha de energia mística emanada pelo volume do Necronomicon. Localizou a fonte dentro de um cofre, também sentindo a presença dos Feitiços Defensivos. Após neutralizá-los, apontou a varinha para o cofre.
_ “Alorromora”! _ o cofre abriu-se e Harry viu o livro, bem como uma pilha de envelopes e pastas de documentos, além de maços de dólares. Colocou tudo em uma mochila com Feitiço de Ampliação Interna (“Será bom que eles pensem que o ‘Homem-Névoa’ faz parte de algum bando rival ou de alguma agência de segurança trouxa”, pensou ele). Então ele viu um alarme oculto, mas não conseguiu neutralizá-lo a tempo. Uma campainha começou a tocar e Harry ouviu passos pela escada (“Eu não podia esperar que tudo saísse perfeito. Agora terei de fazer o meu espetáculo. E já sei qual a aparência mais apropriada para esta ‘Ação de Comandos’, a de um especialista no assunto”, pensou Harry). Transfigurou-se na aparência de Mack Bolan, que lembrava-se de ter visto na capa de um livro de aventuras (“Coronel John Phoenix. Tudo a ver”) e colocou-se atrás da porta. O primeiro guarda a entrar foi recebido com um shuto no pescoço, que lhe esmagou a traquéia. O bandido caiu ao solo e Harry reparou a lesão com um feitiço não-verbal, colocando-o para dormir. O segundo, um trouxa, engatilhou sua arma, uma submetralhadora compacta Skorpion, de origem tcheca, em calibre 7.65. Uma arma devastadora em ambientes fechados. Só que Harry não lhe deu tempo de apertar o gatilho.
_ “Reducto”! _ a Skorpion pulverizou-se na mão do guarda, que olhava para aquilo, abestalhado _ “Estupefaça”!
Harry saltou por cima dos guardas caídos e atacou os outros quatro, em uma fulminante demonstração de Ninjutsu-Bruxo. Em instantes, os guardas estavam neutralizados, sem perda de vidas. Ele deixou uma Bolha de Mensagem no cofre e saiu dali, subindo as escadas e alcançando o exterior do galpão... para dar de cara com vinte guardas, com as armas apontadas para ele. O capataz do campo olhou para ele e disse:
_Escute aqui, estranho! Você pode ser um bruxo muito bom, mas não é mais rápido do que balas. E nós temos muitas. Renda-se.
_Será mesmo que eu não sou (“Só se eu não tivese como distraí-los”, pensou Harry)? Talvez sim, talvez não. “Ignitio”! _ ao seu comando, as esferas que ele havia deixado cair junto aos pés de papoula abriram-se e, em contato com o ar, seu conteúdo inflamou-se, incendiando as dezenas de milhares de plantas produtoras de veneno. Fósforo puro, magicamente aditivado para aumentar sua potência. Em instantes todo o campo ardia em chamas, lançando grossos rolos de fumaça em direção ao céu noturno. O capataz e os guardas viraram-se para olhar o incêndio e apenas tiveram tempo de ouvir uma risada e um estalido. Harry havia desaparatado e já estava a milhas dali.
Praguejando obscenamente, o bruxo capataz desceu até a sala de operações, não conseguindo conter um palavrão ao ver os seis guardas incapacitados e o cofre aberto. Viu a bolha de mensagem e tocou-a, para ver o que ela dizia. A bolha cristalina rompeu-se e o bandido viu a figura diáfana, com a aparência de Mack Bolan a sorrir para ele, dizendo:
_ “Lembranças do Homem-Névoa”!!

Logo no dia seguinte, “Escuridão” deslocara-se até Myanmar e fora conferir de perto o estrago nos campos. O solo estava inutilizado por anos para o cultivo de papoulas, envenenado pelo feitiço seletivo que Harry havia associado ao Fósforo das esferas e os pés de papoula estavam carbonizados. Furioso, o co-líder do Círculo entrou no galpão e desceu as escadas. Ao ver o cofre aberto e vazio, sua indignação chegou ao limite.
_Pelas maldições de Voldemort! O que houve aqui? Quem conseguiu abrir esse cofre?
_Um homem, chefe. Apenas um homem. Incapacitou seis guardas, roubou o que quer que houvese no cofre e incendiou os campos. Não sobrou um pé de papoula utilizável. _ ambos subiram para o exterior.
_Praga! Há poucos bruxos no mundo capazes disso e eu, pessoalmente, vi um deles morrer na minha frente. A perda dos campos é desastrosa, mas temos ópio estocado em quantidade suficiente para suprir as conexões por cerca de seis meses...
Uma explosão no depósito de ópio interrompeu as palavras de “Escuridão”.
_... Parece que não temos mais. _ disse o bruxo, crispando o rosto de raiva _ Dhuang, acho que teremos de recorrer a um expediente que não me agrada muito. Ligue-me com Choo-Pak, em Bangkok. Precisaremos comprar matéria prima dos campos dele, na Tailândia.
_Olhe, “Escuridão”, espero que não me leve a mal, mas não vai dar. Já entrei em contato com ele e com vários outros proprietários de campos de papoulas e eles negaram, pois o tal “Homem-Névoa” já havia entrado em contato com eles e disse que qualquer um que nos ajudasse teria seus campos de papoulas arrasados da mesma forma ou pior.
_Tudo de bom! _ disse “Escuridão” _ Como se não bastasse esse prejuízo, ainda tenho de agüentar a covardia dos colegas. Isso é concorrência desleal! Aposto que Choo-Pak, Kim-Yong e vários outros devem estar babando para nos verem fora do mercado.
_Mas a perda não é total, chefe. _ disse Dhuang _ Estamos por pouco para estabelecer a conexão sul-americana, com os campos de coca da Bolívia e Colômbia e com os de Cannabis do Brasil.
_Isso é verdade, Dhuang. E além disso ainda há uma boa quantidade do nosso produto circulando na Europa e temos os campos de papoulas da Turquia. Ainda não estamos fora do circuito. _ disse “Escuridão”, rindo.

Os acontecimentos dos próximos dias e semanas iriam tirar qualquer sorriso do rosto do bruxo mau.

Viena, Áustria. Uma semana depois.
O rapaz circulava por entre os turistas, todos entretidos com as comemorações do Mozarteum daquele ano. De repente, ele ouve uma voz cantando, em Português, uma canção que nada tinha a ver com a música clássica que ouvia-se por toda a parte:
_ “Mina/Teus cabelo é da hora/Teu corpo é um violão/Meu docinho de côco/Tá me deixando louco”.
Ao que Harry prontamente respondeu:
_ “Minha Brasília amarela/Tá de portas abertas/Pra mode a gente se amar/Pelados em Santos”. _ e depois de cantar _ Os Mamonas Assassinas. Essa foi do fundo do baú, hein, “π”. Por isso você me pediu para usar a aparência do Dinho.
A informante, com a aparência de Bento Hinoto, sorriu para Harry.
_Eles teriam sido uma das maiores e mais famosas bandas do Brasil...
_... Não tivesse sido pelo acidente com o avião, em 2 de março de 1996.
_Realmente. Cara, “Escuridão” ficou possesso com a perda dos campos de papoulas de Mandalay. Até mesmo “Sombra” teve de sair de perto. Só não distribuiu maldições para quem estava à volta porque ainda há uma grande quantidade de produtos circulando pela Europa e ele conta com os campos da Turquia e com a expansão para a América do Sul.
_Bem, com os campos da Turquia ele não vai poder mais contar.
_???
_Neste exato momento, devem estar fazendo uma belíssima fogueira, por conta da InterSec.
_Denúncia “anônima”?
_Sim. Eu e Mi. E aquele traidor do Pieterzoon deve ter ficado com cara de idiota, pois não teve tempo para avisar o Círculo.
_E isso contribui cada vez mais para baixar o conceito dele junto à cúpula da organização. “Escuridão” chegou a dizer que ele seria o único trouxa na cúpula.
_Isso porque ele não é trouxa e sim um bruxo abortado. Mas vai ficar cada vez mais difícil para ele explicar por qual razão o Círculo está tendo tantos prejuízos.
_Pois é, vai ficar difícil, mesmo. Mas, Harry, não é meio politicamente incorreta essa ação da InterSec?
_Não, “π”. A InterSec possui carta branca para quaisquer ações, em qualquer parte do mundo, desde que hajam provas.
_Como é possível?
_Devido a uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, quando a InterSec foi criada, há cerca de vinte anos. O terrorismo e o tráfico de drogas estavam tomando proporções alarmantes e então a ONU tomou essa decisão. Lógico que muitos países não gostaram, principalmente aqueles que patrocinavam essas atividades. Outros, que não faziam parte da ONU, também não gostaram. Mas o fato é que a coisa seria bem pior se não fosse assim.
_Mas há mais de um escalão, não é?
_Sim, há o pessoal que cuida da parte de investigação, do qual eu faço parte. Mas, quando é preciso agir em operações mais... “efetivas”, há o pessoal que possui o treinamento específico para isso. É o escalão de assalto, chamado “Força Nêmesis”. E são eles que devem estar queimando agora os campos de papoulas dos planaltos da Anatólia, com Napalm e desfolhante. Bem, acho que minha próxima escala será na América do Sul.
_Vai acabar com as plantações de coca do Círculo na Bolívia e Colômbia?
_E com as de Cannabis que eles têm no Nordeste do Brasil. Com isso pretendo tirar o Círculo Sombrio do circuito do tráfico. Vamos acabar com seus estoques, com suas fontes de matéria-prima e fazer isso de tal modo que outros traficantes terão medo de negociar com eles, para não terem o mesmo destino. Sem contar que eles não iriam importar-se muito se um concorrente cair fora, além do que já têm muitos problemas com a Interpol, a InterSec e o DEA.
_Ótimo, Harry. Será muito bom termos o Círculo Sombrio fora do tráfico de drogas. E o próximo alvo serão os traficantes de órgãos. Vou encontrar Rony para dar a ele um recado.
_Qual?
_Para que avise Dumbledore e peça a ele para liberar algum material que Rita Skeeter deixou para Arianne e que sei estar no cofre de Dumbledore.
_Como você sabe, “π”? _ perguntou Harry.
_Eu estava perto de vocês no Gringotes e na Fortescue. Na verdade, eu também era informante de “Scarab”. E sei que “Escuridão” matou Rita, pessoalmente.
_Isso confirma nossas suspeitas. Era ele, transfigurado na enfermeira Milena Kersey. O material é sobre a rede de tráfico de órgãos, “π”?
_Sim, Harry. E com isso vai acabar outra fonte de lucros do Círculo.
_Então eu já vou indo, “π”. Até a próxima. _ e Harry despediu-se, indo até um lugar discreto, do qual poderia desaparatar para seu destino.

Enquanto Harry Potter prepara sua viagem para a América do Sul, voltaremos nossas atenções para Hogsmeade, mais especificamente para uma residência na qual, no meio da madrugada, um homem desperta de um pesadelo, suando e dando um grito:
_NEREIDA!!! _ e Severo Snape sentou-se na cama, com os olhos arregalados. Ao seu lado, Rosmerta também acordou, assustada e abraçando o marido.
_Calma, Severo. Nossa filha está segura sob a responsabilidade de Minerva, logo ali, em Hogwarts.
_Não foi com nossa filha que eu tive o pesadelo, Rosmerta. Foi com...
_... Sua irmã? Lembro-me dela, dos tempos de aluna. Era da turma de Ayesha e as duas eram bastante amigas. Ela tornou-se Auror e morreu em combate, segundo eu soube. Nunca descobriram quem foi que a matou.
_Esse é um dos segredos mais bem guardados da Bruxidade, minha querida. Pouquíssimas pessoas sabem o que realmente aconteceu e que quem matou Nereida... f-fui eu. _ e Snape começou a chorar, lembrando-se do que havia feito.
_Você, Severo? _ Rosmerta perguntou, assustada _ Mas c-como isso pôde acontecer?
_Lembra-se do que Dumbledore disse no nosso casamento, sobre “os horrores do meu passado”? Pois alguns deles não são conhecidos pela maior parte das pessoas. Principalmente esse. _ e Severo pegou sua varinha na mesa de cabeceira, conjurou uma jarra com água e dois copos.Serviu-se de um, tomou alguns goles e deu início à sua narrativa _ Primeiro você deve saber de fatos que ocorreram antes do nosso nascimento.
_Sim, querido. Pode contar.
_Os Snape viviam em Yorkshire. Meu avô, Christopher e minha avó, Pandora. Quando Merope, a mãe de Tom Riddle, morreu no Orfanato Stockwell após dar à luz, minha avó adotou o bebê e o criou, como se fosse seu próprio filho. Ela estava grávida e, meses depois, nasceu Arkanius, meu pai. Os dois só não foram juntos para Hogwarts por terem nascido em semestres diferentes.
_Grande Merlin! Então, quer dizer que Lord Voldemort e seu pai foram criados como irmãos?
_Sim. E ainda havia o filho que meu avô teve com outra mulher, com a qual foi viver depois de separar-se de minha avó.
_Quem era? _ perguntou Rosmerta.
_Tobias Prince.
_O filho da cantora e atriz trouxa, Melina Prince?
_Sim. Meu avô já tinha um caso com ela e Tobias nasceu na mesma época que meu pai. Os dois tornaram-se grandes amigos na escola, mesmo com aquelas circunstâncias. Bem, mesmo depois que Tom Riddle tornou-se Lord Voldemort, ele sempre conservou grande estima pelos Snape, ao ponto de não consentir que meu pai se tornasse um Death Eater para que não tivesse de fazer os sacrifícios aos quais estaria obrigado, caso recebesse a Marca Negra.
_Mas você a recebeu.
_Sim. E foi um dia que mudou a minha vida. Alguns dias antes, Lílian dissera estar apaixonada por Tiago Potter.
_Eu me lembro. Pouco depois daquilo eu procurei por você e disse que o amava e que esperaria por você...
_... Para sempre e mais um dia. E eu disse que não valia isso tudo.
_Mas vale, Severo. Sempre valeu. Você conhecia Lílian desde que eram crianças, não é?
_Sim, Rosmerta. Minha avó mudou-se para Londres, instalando-se em uma pequena casa em Spinner’s End, a qual mandei reformar, há algum tempo atrás. Meu pai casou-se com Selene Drake e continuaram morando lá, depois que minha avó morreu. Às vezes tinham discussões horríveis porque ela não concordava com a fidelidade dele a Voldemort. Bem, quando eu tinha dez anos e Nereida oito, conheci Lílian e Petúnia Evans. Petúnia jamais conformou-se com o fato de que apenas Lílian havia manifestado magia e chegou até mesmo a escrever a Dumbledore, para saber se não haveria uma possibilidade, por mais remota que fosse, de Hogwarts aceitá-la. Dumbledore respondeu, com a maior educação possível, mas cortando quaisquer esperanças de Petúnia. Acho que aquilo deve ter contribuído para que ela desenvolvesse preconceitos contra os bruxos, o que ainda piorou, depois do seu casamento com Valter Dursley. Como eu já possuía um certo controle sobre os meus dons, procurava ajudar Lílian com os dela. Algumas vezes, Nereida juntava-se a nós e éramos três bruxinhos descobrindo um mundo totalmente novo. Petúnia afastou-se de nós definitivamente, passando a nos considerar três esquisitos. Fomos para Hogwarts e o nosso elo de amizade manteve-se, mesmo depois de termos sido selecionados para Casas diferentes, ela para a Grifinória e eu para a Sonserina. E ela sempre me alertava para tomar cuidado com certos colegas, sabidamente adeptos da Magia Negra, tipo Lucius, Mulciber, os Lestrange e outros mais.
_Mas lembro-me de que houve uma vez na qual a amizade de vocês ficou meio abalada.
_Sim, foi quando os Marotos me pregaram uma peça e ela veio me defender. Eu estava com a cabeça tão quente que perdi o controle e, num momento de fúria, chamei Lílian de “Sangue-ruim”. Ela ficou mais de um ano sem falar comigo, até que aceitou minhas desculpas, em parte. Eu via que Tiago era completamente apaixonado por ela e, quando me declarei, soube que ela correspondia ao amor dele. Aquilo foi logo antes de você chegar e falar comigo. Nos feriados seguintes, participei de uma reunião em Londres, a convite de Lucius, que era Monitor da Sonserina. Ali ocorreu minha iniciação nos Death Eaters, pois fomos apresentados a Voldemort, em pessoa. Ele estava disfarçado sob Feitiço de Transfiguração, aparentando uns quarenta e poucos anos, embora já tivesse mais. A partir dali, tornamo-nos seus informantes em Hogwarts e um dia Derek viu minha Marca Negra. Em honra de nossa amizade, juramos evitar ao máximo que tivéssemos de nos confrontar, pois sabíamos que ele iria tornar-se Auror.
_Mas o que foi que o levou a aderir aos Death Eaters, Severo?
_Acho que foi um momento de desespero, julgando que minha vida havia perdido o sentido e que não me restasse mais nada a fazer. Se eu soubesse o que o futuro me reservaria... bem, depois de formado, tornei-me um dos conselheiros de Voldemort e o seu Mestre-Envenenador. Viajei pelo mundo, desempenhando missões para a Ordem das Trevas e perdi quase que totalmente o contato com a família. Quase que não consegui chegar para os funerais de minha mãe. Foi a última vez em que vi Nereida, antes daquela maldita noite.
_O que aconteceu?
_Eu e Lucius liderávamos um esquadrão de assalto durante uma missão na Suíça. De repente, vimo-nos cercados por um pelotão de Aurores, vestidos como nós, para nos confundir. Eu combatia contra a líder, uma “Camaleoa-Fantasma” cujo codinome era “Mariposa de Titânio”, uma lenda entre os Aurores, ainda que fosse bastante jovem, pupila de Moody e uma das melhores alunas de Derek em Ninjutsu-Bruxo. De repente, Lucius tropeçou e derrubou minha máscara. Ela hesitou ao ver meu rosto e Lucius gritou para que eu atacasse, pois não teria outra chance.
_E você atacou?
_Sim. Instintivamente eu disparei uma Avada Kedavra e ela caiu morta aos meus pés. Removendo sua máscara, descobri que era Nereida pois, mesmo que ela estivesse transfigurada, com a morte sua aparência voltou ao normal.
_Por Merlin! Aquilo deve ter arrasado você!
_Totalmente, Rosmerta. Mas foi depois disso que minha vida mudou, novamente.
_O que aconteceu?
_Depois de passar dias tomado pelo desespero, bebendo doses e mais doses de uísque de fogo, encerrado no quarto de um hotel bruxo vagabundo, tive uma idéia e decidi colocá-la em prática: vir para Hogwarts e tentar matar Dumbledore, na esperança de que ele me matasse em combate, pois ele é muito mais poderoso do que eu.
_E se você o tivesse matado?
_Tiraria minha própria vida a seguir, pois não conseguiria sobreviver com tal vergonha. Tomei uma dose de Poção Para Curar Bebedeiras, tomei um banho e mudei de roupa. Em seguida desaparatei e cheguei à estação de King’s Cross, ainda a tempo de comprar uma passagem para o Expresso de Hogwarts daquele mesmo dia, desembarquei em Hogsmeade, debaixo de uma chuva torrencial e fui para a Casa dos Gritos.
_Espere, eu me lembro de uma noite de muita chuva, na qual me pareceu ter visto um vulto de capa e guarda-chuva, indo na direção da Casa dos Gritos. Era você?
_Sim, era eu. Existe uma passagem de lá até as raízes do Salgueiro Lutador. De lá eu entrei no castelo, usando uma porta de elfos domésticos e fui até os aposentos de Dumbledore. Tentei surpreendê-lo na cama, mas fui imobilizado. Era Derek quem estava deitado no lugar de Dumbledore, atendendo a uma denúncia “anônima”, que descobrimos ter partido de Lucius. Eu havia deixado um bilhete para ele, explicando o que iria fazer.
_E depois daquilo Dumbledore perdoou você?
_Não só me perdoou como me ofereceu o cargo de professor de Poções. Passei os anos seguintes como espião da Ordem da Fênix, infiltrado entre os Death Eaters embora, para Voldemort, eu parecesse ser seu espião em Hogwarts. Quando Wormtail descobriu sobre a Profecia e contou a Voldemort, eu estava presente. Avisei Dumbledore o mais rápido que eu pude e assim os Potter e os Longbottom puderam fugir. Eu também estava presente, com Karkaroff, quando ele traiu os Potter, revelando o esconderijo de Lílian e Tiago, pois ele era o Fiel do Segredo dos Potter. Infelizmente não pude avisá-los a tempo, pois Igor me reteve ali, creio que deliberadamente. Quando pude avisar Dumbledore, ele não teve tempo de evitar a tragédia em Godric’s Hollow.
_A mansão chegou a explodir, quando a maldição de Voldemort voltou para ele. Os trouxas pensam que houve uma explosão de gás. Mas Lucius sempre teve inveja de sua posição e da estima de Voldemort por sua família, não é?
_Parece que sim, Rosmerta. Eu e Derek descobrimos que o tropeção dele foi intencional. De algum modo, ele havia descoberto a identidade de Nereida junto aos Aurores e fez aquilo para que eu a matasse. Sabe como é, em combate a gente não pára muito para pensar, pois pode ser o fim. Lucius aproveitou-se daquilo e fez com que eu, instintivamente, m-matasse... minha própria irmã. _ e Severo chorou, nos braços da esposa.
_Calma, meu querido. Não dá para remendar o passado nem trazer de volta as vidas que você tirou, mas vejo que você já sofreu demais com isso.
_E esses fantasmas irão me acompanhar pelo resto de minha vida, Rosmerta. Tomei a decisão de fazer o que estivesse ao meu alcance para evitar que outras vidas se perdessem, o que tenho conseguido. Venci o sentimento negativo que tinha contra Tiago e velei, disfarçadamente, pela segurança de Harry Potter, fingindo não gostar dele, o que era fácil de demonstrar, já que ele era a imagem de seu pai, mas com os olhos de Lílian. Então fui duro e muitas vezes desagradável para com ele, do primeiro ao quinto ano, até que tivemos uma conversa no Expresso de Hogwarts, quando ele me aconselhou a tentar reaprender a ser feliz, com o que me reaproximei de você e pude recuperar um pouco do tempo que desperdicei por não dizer antes o quanto te amava, julgando não mais merecer o seu amor.
_Só não entendo por que você nunca me disse nada disso, Severo.
_Eu tinha medo, Rosmerta. Medo de que você me julgasse um monstro e que não quisesse mais saber de mim.
_De maneira alguma, Severo! Mas nem por brincadeira eu o abandonaria! Muito pelo contrário, o que você mais precisa é ter ao seu lado uma pessoa que te ame e eu sou essa pessoa. Eu sempre estarei com você, em quaisquer momentos. O fato de você ter rompido com as Trevas e ser leal a Dumbledore é o bastante para que eu o considere um homem de verdade, honrado e bom em sua essência, capaz de reconhecer seus erros, arrepender-se e assumir a responsabilidade por eles e, enfim, fazer de tudo para repará-los e evitar que outras pessoas cometam erros semelhantes, como você procurou fazer com Draco Malfoy, aconselhando-o desde a infância a não iludir-se com as Trevas, no que foi bem sucedido. Lembre-se, Severo, eu te amo. _ e Rosmerta abraçou o esposo.
Severo Snape abraçou a esposa e ambos permaneceram assim, até adormecerem.

Bariloche, Argentina. No dia seguinte.
A bela cidade situava-se às margens do Lago Nahuel Huapi que, no idioma indígena da região, significava “Ilha do Tigre”. Famosa pelas pistas de esqui do Cerro Catedral e pela Ilha Victoria, cuja paisagem inspirou Walt Disney para a criação de “Bambi”, também possuía uma forte estrutura comercial com várias belas lojas, grande parte delas localizadas na Calle Bartolomé Mitre e uma vida noturna agitada durante o inverno, quando as danceterias bombavam, principalmente a Cerebro e a Grisu. Em um camarote da Cerebro vamos encontrar Rony Weasley, com a aparência de Michael J. Fox, tendo à sua frente um copo com o coquetel que levava o nome da casa: um copo long drink com gelo até quase a metade, uma dose de vermute Martini seco, suco de laranja e um pouco de Grenadine. As bebidas ficavam em camadas no copo e iam misturando-se, gradativamente. O sabor era traiçoeiramente agradável, não sendo conveniente exagerar. De repente, um senhor de meia-idade e cabelos brancos sentou-se e pediu um Dry-Martini.
_Olá, Marty. _ disse ele.
_Olá, Emmett. _ respondeu Rony.
_Pode me passar a chave 5/8, por favor? _ perguntou a pessoa com a aparência de Christopher Lloyd, mandando a senha.
_Sim, posso. É alguma experiência com o tempo, não é? _ Rony enviou a contra-senha _ Que bom que você veio, “π”. Eu precisava falar com você.
_Eu tinha algo a lhe pedir, mas acho que você tem novidades. O que houve, Rony?
_Você primeiro.
_OK. O material que Rita Skeeter deixou com Arianne está no cofre de Dumbledore, em Gringotes. Seria interessante que alguma coisa vazasse para o Profeta, discretamente. Algo sobre tráfico de órgãos, de preferência.
_Mais uma cipoada no Círculo, hein? Pode deixar, “π”. Avisarei Dumbledore.
_Agora você, Rony.
_Bem, aconteceu uma coisa muito estranha, na Gemialidades Weasley. Fui lá para fazer uma visita e lembrei que estava precisando de um Chiclete de Fuga. Pedi um a Fred e Jorge, mas não havia nenhum nas prateleiras e Jorge foi pegar uma caixa no depósito. Quando a abrimos, ela estava cheia de papelotes, em vez de embalagens de chiclete. Levei aos Aurores e Moody usou um Identificador de Substâncias. Você não vai acreditar no que havia ali.
_Drogas?
_Não apenas isso, “π”. Cocaína puríssima. Eu e Moody voltamos às Gemialidades e verificamos todo o estoque. Aquela caixa era a única com drogas e ela possuía uma particularidade: havia sido dos lotes dos EUA. Os Aurores rastrearam as caixas dos EUA e descobriram que várias delas estavam com cocaína, sendo enviadas para destinatários específicos. Agora uma vigilância discreta está sendo feita sobre a Divisão Americana e parece que alguém está aproveitando para contrabandear drogas no meio dos logros.
_Tetsuken Musashi ainda é o responsável pela Divisão Americana da Organização “Gemialidades Weasley/Honra & Amizade”?
_Sim, ele e Camille. Aliás, há um fato interessante. Camille não é vista desde o funeral de Harry e Tetsuken desconversa quando alguém pergunta algo a respeito.
_Você acha que ela pode estar em perigo?
_Ou que possa estar sendo usada para, de algum modo, pressionar Tetsuken. _ respondeu Rony.
_Há uma grande lógica no que você está dizendo, Rony. _ disse “π”, tomando um gole de seu Dry-Martini e apoiando o queixo nas mãos _ A sociedade dos logros possui abrangência mundial na Bruxidade e, se houvesse uma maneira de pressionar o Diretor de uma das Divisões, as drogas do Círculo poderiam ser distribuídas, disfarçadamente, em caixas dos produtos normais.
_E você pode averiguar isso, “π”? Ver se Tetsuken está sendo, de alguma forma, pressionado pelo Círculo? _ perguntou Rony.
_Posso, embora talvez seja meio difícil. Depois dos últimos acontecimentos, “Escuridão” parece estar desconfiando de tudo e de todos. Também, depois do que aconteceu em Mandalay, tem por onde.
_O campo de papoulas? O tal “Homem-Névoa”? Os Aurores me contaram alguma coisa. Ser filho do Ministro ajuda um pouco. _ disse Rony, com um sorriso moleque no rosto, que o tornava parecido com os tempos de aluno, na época das aventuras dos Inseparáveis _ Então parece que temos peça nova nesse jogo de Go. Esse cara tem todo o perfil de um Shicho Atari.
_E você vai procurar por Tetsuken, Rony?
_Sim, logo que você me der a certeza de que Tetsuken deve estar sendo pressionado. Se bem que isso deve ser garantido.
_Está bem, Rony. A gente se vê.
_OK, “π”. Até mais.

Dois dias depois, Rony desembarcava no Aeroporto JFK, em Nova York. De vez em quando era bom viajar por meios trouxas. Logo que pegou sua bagagem na esteira, colocou-a em um carrinho e saiu para o saguão, onde uma mulher de cabelos negros logo o abordou.
_Rony! Rony Weasley!
_ Evelyn Wigder? Mas há quanto tempo, garota!
_Eu mesma. Primo Derek disse que alguém do Ministério da Magia da Inglaterra viria aos EUA, mas não disse que seria você. Você está auxiliando os Aurores em alguma investigação, não está? E deve ser sobre o fato de terem sido encontradas drogas em algumas caixas de logros da Divisão Americana do Grupo “Gemialidades Weasley/Honra & Amizade”, não é?
_Sim, estou ajudando nessa investigação. Eu faço isso, às vezes, para não despertar suspeitas. No momento, por exemplo, estou à procura de novos talentos que queiram jogar Quadribol na Inglaterra. E você é filha de Timothy, um dos primos de Derek, não é?
_Sim. Sou filha de Timothy Wigder. Cresci ouvindo falar da mãe de Derek, Renata, irmã de meu avô. Ela foi uma excelente jogadora de Quadribol, pelo que eu soube.
_Ela foi criada no Japão e o irmão dela em NovaYork.
_Sim. Meu avô me contou que ela manifestou magia aos dez anos e tornou-se uma Mestra Ninja, treinada por Ryusaku Komori.
_Exatamente. E você trabalha como detetive?
_Sim, Rony. Minha agência presta apoio ao Ministério da Magia dos EUA, em situações nas quais os bruxos não têm muita experiência. _ disse Evelyn, enquanto transferiam a bagagem de Rony para uma Hyunday Santa Fé preta _ E eu soube que Tetsuken anda meio diferente.
_Sem contar que ninguém vê Camille há algum tempo...
_... Depois do funeral de Harry, eu soube.
_Isso. E você sabe onde está Tetsuken? _ perguntou Rony.
_Sei. Está aqui, em Nova York, no escritório do Grupo.
_Ótimo. Vou falar com ele.
_Sabia que você iria querer isso. O escritório fica naquele edifício, logo ali em frente. _ disse Evelyn, estacionando. Rony desceu e atravessou a rua. Entrou no edifício e localizou o andar do escritório. Dirigiu-se ao elevador e prestou atenção na maneira como comportavam-se as várias pessoas que estavam no saguão. Um homem em um terno cinza correu e tomou o elevador, junto com ele. Subiram apenas os dois. No andar do escritório, apenas o outro sujeito saiu, com uma expressão leve no rosto. Os outros que estavam esperando, com as varinhas apontadas, perguntaram:
_Ei, Ralph, cadê o Weasley?
_Que Weasley? _ perguntou Ralph.
_O cara estava no elevador com você... ei, espere! Ruivo desgraçado! Deve ter desconfiado de algo e usado um Feitiço de Memória em você, desaparatando em seguida.
_Vocês acertaram em parte. Só que eu não desaparatei. _ disse Rony, desfazendo o Feitiço de Desilusão _ “Obliviate”!
Os bruxos, atingidos pelo Feitiço de Memória, ficaram desorientados e suscetíveis às falsas lembranças que Rony implantou neles. Em seguida, saíram dali e foram para um bar, seguindo as ordens do bruxo ruivo. Rony entrou no escritório.
_E aí, Tetsuken? Como está? _ Rony cumprimentou o amigo.
_Estou bem, Rony. _ disse Tetsuken, sorrindo, mas com uma expressão meio preocupada _ Um café? Srta. Elwood, poderia providenciar um café para nós?
Logo a secretária estava chegando com as xícaras. Tetsuken pegou a sua e perguntou:
_E aí, Rony? O que faz em NY?
_Vim atrás de novos talentos para o Quadribol britânico, Tetsuken. E aí aproveitei para ver um velho amigo. _ Com a varinha oculta, Rony Weasley fez um pequeno gesto e executou um feitiço não-verbal.
_E já tem algum nome em vista? _ Tetsuken perguntou e olhou para sua xícara. Em seguida, pegou disfarçadamente a varinha e executou o mesmo feitiço que Rony. Seguiram conversando amenidades, mas o verdadeiro diálogo era travado nas xícaras, onde as palavras mentalizadas pelos bruxos apareciam na superfície do café. Um pequeno truque inventado por Fred e Jorge.
_Sim. Há uma jogadora do New York Thunders e dois outros, um do Chicago Windrunners e o outro do Boston Shooting Stars. _ enquanto isso, as xícaras mostravam o que realmente conversavam, o diálogo de suas mentes.
_ “Por que você está aqui, Rony?” _ perguntou Tetsuken.
_ “Sei que Camille deve estar correndo algum tipo de perigo, Tetsuken. Diga-me o que houve.” _ respondeu Rony.
_ “Ela desapareceu, durante uma viagem ao Brasil, logo depois do funeral de Harry. Estava inspecionando o escritório do Grupo, em São Paulo, quando simplesmente deixou de dar notícias, como se tivesse virado fumaça. Uma semana depois, recebi um vídeo trouxa, no qual ela aparecia amarrada e dizendo que era prisioneira do Círculo. Para provar, mandaram um pedaço de pano com um pouco de sangue. Foi feito um teste de DNA e confirmou-se que era de Camille. Isso nem mesmo a magia pode fraudar.”
_ “E estão obrigando você a contrabandear drogas dentro de algumas das caixas de logros, com destinatários específicos?”
_ “Exatamente, Rony. Disseram que se eu tentasse qualquer coisa ou se avisasse aos Aurores eles iriam matá-la. Mas, como não sou nenhum idiota, consegui fazer com que um daqueles malditos ‘se enganasse’ e uma das caixas fosse parar na loja do Beco Diagonal. Fred e Jorge logo iriam sacar que havia algo errado.”
_ “Na verdade fui eu. Ao comprar um Chiclete de Fuga, vi que as caixas estavam cheias de papelotes de cocaína. Os Aurores estão investigando, discretamente. Mas só irão agir quando Camille estiver a salvo.”
_ “Ela ainda deve estar no Brasil, Rony. Só não se sabe em que parte do país. Não sei o que fazer.”
_ “Não se preocupe, Tetsuken. Sempre haverá alguém que poderá fazer alguma coisa. Eu avisarei se souber de algo.” _ e Rony levantou-se _ Bem, acho que já vou indo, Tetsuken. Qualquer hora dessas temos de sair para jantar e relembrar os velhos tempos.
Apertaram as mãos e Rony Weasley retirou-se. Assim que ele saiu da sala, um painel deslizou em uma parede e de lá saiu... “Mantis”.
_Muito inteligente, Sr. Musashi. Se você tivesse dado qualquer pista para o Sr. Weasley, sua esposa seria morta imediatamente.
_Não sou nenhum idiota, “Mantis”, assim como sei que não está usando sua verdadeira aparência. Ainda que o senhor seja trouxa, nada o impede de ter sido transfigurado por alguém ou tomado Poção Polissuco.
_Bom, muito bom. Continue colaborando, Sr. Musashi ou sua esposa terá o mesmo destino de vários outros, incluindo Rita Skeeter e... Harry Potter (Tetsuken percebeu uma nota de satisfação na voz de “Mantis” ao dizer isso). E “Mantis” saiu da sala. Tetsuken permaneceu sentado e conjurou uma xícara de chá verde, começando a saboreá-la e sentindo um novo alento de esperança (“Tolo convencido e pomposo. Mal sabe ele que o primeiro passo já foi dado e que, se existem pessoas capazes de agir de forma imperceptível, são os Ninjas de Togakure, dos quais vários Aurores fazem parte”, pensou o bruxo, enquanto degustava seu chá, com um leve sorriso nos lábios. Sabia que agora havia mais esperança de rever e ter sua querida Camille de volta a seus braços).

Saindo dali, Rony seguiu pela avenida movimentada, identificando o Ki de três elementos do Círculo que seguiam-no (“Grande Merlin, mas esses caras não aprendem nunca”, pensou ele). Ao virar em uma esquina, transfigurou-se em uma velhinha chinesa, tão rapidamente que nenhum dos transeuntes percebeu. Os bandidos viraram logo em seguida e passaram por ele, que caminhava apoiado em uma bengala. Passando em frente a um beco, Rony cutucou a perna de um deles com a bengala e o sedativo na agulha oculta na ponta da bengala fez efeito na hora e o bruxo caiu, estatelado. Rony correu para dentro do beco e os outros dois foram logo atrás.
_O maldito ruivo estava transfigurado! _ disse um deles.
_Sim, mas não escapa! É um beco sem saída! _ disse o outro.
_E quem disse que eu quero? _ perguntou Rony, usando a “Voz-Que-Vem-De-Todos-Os-Lados”, uma antiga técnica Ninja. _ “Estupefaça! Incarcerous”! Ora, ora. Vocês não valem muito esforço de minha parte.
Os dois bandidos restantes ficaram no beco, inconscientes e amarrados como provolones. Rony saiu do beco e prosseguiu pela avenida, encontrando Evelyn logo adiante. Ela levou-o até o hotel e aguardou no saguão, até que ele se instalasse e tomasse um banho. Assim que ele desceu, vestindo jeans, uma camisa polo cinza, jaqueta de couro preta e calçando mocassins pretos, estilo “Pennyloafer”, foram para o restaurante, pois já era hora do jantar. Após jantarem, Rony executou um Feitiço de Privacidade por debaixo da mesa e pôde conversar com Evelyn, sem medo de serem ouvidos.
_Tetsuken confirmou, Evelyn. Camille é refém do Círculo e está sendo usada para pressioná-lo a usar o Grupo para contrabandear drogas, disfarçadas em algumas das caixas de logros. _ naquele momento, Rony viu uma garçonete, trazendo seus cafés. Ele notou algo de especial nela: tinha o rosto de Reneé Zellweger. Assim que ela entrou no campo de ação do Feitiço de Privacidade, ele cantou: “Fly me to the Moon/Let me play among the stars/Let me see what Spring/Is like on Jupiter and Mars/ In other words, hold my hand/In other words, kiss me.”, ao que a garçonete logo respondeu: “Fill my heart with song/And let me sing forever more/You are all I long for/All I worship and adore/In other words, please be true/In other words, I love you”.
_Falou com Tetsuken, Rony? _ perguntou a garçonete.
_Sim, “π”. Ele confirmou tudo. Pode descobrir o local?
_Vou tentar. Onde ela desapareceu?
_São Paulo, Brasil. Ele acredita que ela não tenha saído daquele país.
_Assim que souber, entro em contato. Como sabia que era eu e mandou a senha?
_Instinto. Quando te vi com a cara da Reneé Zellweger, logo pensei em “Abaixo o Amor” Tive vontade de me transfigurar no Ewan McGregor, mas seria muita bandeira.
_Você cuidou bem dos panacas que o seguiram.
_Só uma amostra.
_Bem, já vou indo. Preciso descobrir o paradeiro de Camille. Tchau, Rony.
_Tchau, “π”.
A informante saiu e Evelyn perguntou:
_É algum informante do Círculo?
_Sim, é.
_E você confia nele ou nela?
_Nela. E confio sim. Ela passava informações para Harry e ele confiava nela.
_O que vai fazer agora, Rony?
_Dormir cedo e manter meu disfarce. Tenho de ir ver os jogadores que poderão ser contratados por times ingleses aqui, em Boston e em Chicago.
_Pensei que tivesse outros planos em mente. _ disse Evelyn, com um olhar que não disfarçava suas intenções.
_Como assim? _ Rony se fez de desentendido, para ver até onde a bela morena chegaria.
_Não finja que não está me entendendo, Sr. Ronald Weasley. Eu estava te secando desde que você chegou ao aeroporto.
_Você é direta, hein?
_Quando quero algo eu sou, sim.
_Vocês, americanos...
_E vocês, britânicos, tão puritanos.
_Nem todos, Evelyn. Mas eu acho melhor abrir o jogo, para que não hajam mal-entendidos e não fiquem ressentimentos. Não tente insinuar-se para mim, pois será uma perda de tempo.
_Não sou atraente? _ perguntou Evelyn, fingindo-se ofendida.
_Você é sim. E muito, devo dizer. Mas as circunstâncias não te favorecem. Sou casado, temos dois filhos lindos e não jogaria fora a vida que tenho com a única mulher que amei de verdade desde os onze anos, por uma aventura, ainda que com uma mulher linda e legal como você.
_Hermione é uma mulher de sorte. _ disse Evelyn.
_ “Sou mesmo, Evelyn. Vou fazer de conta que não vi o que você estava tentando e continuaremos amigas, OK?” _ ouviu-se a voz de Hermione, vinda do pulso esquerdo de Rony.
_Jóia de comunicação, Evelyn. Camuflada em um relógio esportivo. Eu percebi como você me olhava, desde o aeroporto e falei com Hermione através dela, enquanto estava no banho. Eu deixei a jóia ligada, para que ela visse e ouvisse nossa conversa. Como eu disse, desde os onze anos de idade que não há outra mulher para mim a não ser Hermione Jane Granger Weasley.
_Tá, essa eu mereci. _ disse Evelyn. E olhando para a imagem de Hermione, na jóia de comunicação _ Desculpe, Hermione. Fiz uma besteira colossal, mas prometo que foi a última.
_ “Tudo bem, desta vez vou relevar. Principalmente porque confio em Rony. Mas procure não se insinuar para um cara casado, pois só dá dor de cabeça. Tchau, amiga.” _ e a imagem de Hermione desapareceu da jóia.
Terminados os espressos, Evelyn despediu-se, após novamente pedir desculpas a Rony. Este foi recolher-se, pois teria uma semana movimentada, com as novas contratações para o Quadribol britânico.
_ “Você estava certo, querido. Ela realmente estava insinuando-se para você. Agora diga-me, Rony, você não se sentiu tentado?”
_Sim...
_ “Ora, seu...”
_... Durante cerca de 0,000000000001 nanossegundo o que, para um cara que te ama desde a primeira vez que te viu, no Expresso de Hogwarts, é uma eternidade.
_ “Eu te amo, Ronald Bilius Weasley. Boa noite.”
_E eu também te amo, Hermione Jane Granger Weasley. Boa noite.

Altiplanos da Bolívia, três dias mais tarde.
Escondido na mata, perto do campo de coca pertencente ao Círculo, Harry observava o movimento do local, através de um potente binóculo Tasco enfeitiçado. Devido aos ataques aos outros campos de coca na Colômbia, o Círculo aumentara as medidas de segurança, triplicando o número de Sensores de Atividade Mágica fixos e ampliando o perímetro de ação das patrulhas, com Sensores portáteis. Por essa razão, Harry estava evitando o uso de magia e montara um acampamento tipo bivaque, nos moldes das instruções do CIGS, o Centro de Instrução de Guerra na Selva do Exército Brasileiro. Uma rede de selva, com um eficiente mosquiteiro. Uma mochila impermeável, contendo roupas de muda, equipamentos e pacotes de ração militar liofilizada, tudo “emprestado” do 8º BISlv (Batalhão de Infantaria de Selva), aquartelado em Tabatinga, estado do Amazonas, no Brasil. Vestia uma farda camuflada, coturnos de lona e couro e tinha o rosto e os braços pintados com pasta de camuflagem verde e preta. Os mosquitos eram espantados com o uso de drágeas de Complexo B, tomadas uma por dia. Após estabelecer o padrão das patrulhas do Círculo, traçou sua estratégia. Iria agir como fizera dois dias antes, na Colômbia, onde usara o que obtivera com um entomologista bruxo que vivia em Tabatinga. Só que, novamente, teria de aproximar-se do campo, para soltar as mariposas.
Alguns dias antes de ir para a Turquia, Harry e Hagrid haviam conversado sobre um entomologista bruxo, especialista em cruzamento de espécies e que criara uma curiosa espécie de mariposas cujas lagartas tinham, como alimento preferencial, as folhas de arbustos de coca. Porém o desenvolvimento das lagartas em pupas gerava um gás que desfolhava totalmente os arbustos, matando-os, inutilizando o solo para o plantio de coca e constituindo-se em um veneno biológico ecologicamente correto. O problema era que só dava para utilizá-las uma única vez, pois a espécie somente gerava espécimes estéreis, quando a fecundação não era “in vitro”. Portanto, as crias resultantes da postura de ovos das mariposas que estavam com Harry não iriam gerar descendência. O bruxo de óculos encontrara o entomologista e, disfarçado, adquirira dois lotes de mariposas prontas para a postura. Em seguida, viajara para a Colômbia e soltara as mariposas nos campos de coca do Círculo. Devido ao ciclo de desenvolvimento acelerado, as pupas desfolharam o campo todo em questão de horas, com os gases desprendidos dos casulos.
Altas horas da noite, Harry retocou a pasta de camuflagem, dando ênfase ao preto e rastejou até perto do limite do campo, evitando as patrulhas e utilizando vegetação da área à volta de sua farda camuflada. Abriu o pote e soltou as mariposas que, imediatamente, pousaram nos arbustos e depositaram seus ovos. Harry rastejou de volta para seu bivaque e pegou o binóculo, enfeitiçado com um “Infrarubra Thermosensora”. Apontando-o para o campo, pôde ver que s arbustos estavam coalhados de pontinhos luminosos, em conseqüência da emissão de calor dos ovos eclodindo e das lagartas devorando as folhas de coca no ar noturno. Assim que as lagartas entraram em fase de muda e passaram a tecer seus casulos, a emissão de gases tratou de terminar com o que não havia sido devorado. Em pouco tempo o enorme campo de arbustos não passava de um monte de talos ressequidos sobre um solo que não mais aceitaria o plantio de Eritroxhylum coca. Satisfeito com aquilo, Harry deixou um canudo de Fogos de Artifício com Texto Programado, fabricados pelas Gemialidades Weasley e desaparatou. Àquela altura já não era mais necessário ocultar a atividade mágica e Harry queria que os bandidos detectassem o ponto de onde desaparatara.
A patrulha do Círculo Sombrio chegou ao local do bivaque de Harry, encontrando o equipamento militar deixado para trás.
_Mas por que um bruxo estaria usando equipamento militar trouxa?
_Só se ele estivesse querendo...
_... Evitar os Sensores! _ disse o comandante da patrulha.
_Olhem só os campos!
Mesmo à noite era possível ver que não restara um só pé de coca intacto.
_Vejam! Há um canudo de fogos de artifício Weasley ainda não aceso aqui. Vou acendê-lo e ver o que aparece.
_Cuidado, cara. Pode ser uma armadilha.
_Fica frio, Ortiz. Não deve ser nada de perigoso.
O bruxo acendeu o canudo e um cometa de fogo dourado e vermelho subiu aos céus, formando uma frase.
_Algo me diz que “Escuridão” não vai gostar nadinha do que aconteceu aqui, Menendez. _ disse Ortiz, o comandante da patrulha.
_Concordo com você, Ortiz.
No céu via-se, em letras luminosas, a seguinte frase:
“O HOMEM-NÉVOA ESTEVE AQUI”

Caruaru, estado de Pernambuco, Brasil. Dois dias depois.
A cidade, distante cerca de 130 Km de Recife, é conhecida como “Capital do Agreste” porque concentra serviços e recursos similares aos de uma. Sua feira é famosíssima e considerada como Patrimônio Imaterial do Brasil. Localizada no Parque 18 de Maio, com funcionamento nas quartas e sábados, compreende um complexo de 40.000 m², no qual era possível encontrar de tudo o que há no mundo, como já havia cantado Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”. Em uma lanchonete, Harry estava sentado a tomar uma Antarctica gelada, em companhia de “π”, ambos com trajes leves, ele loiro e com olhos castanhos e ela com a aparência de Vanessa Hudgens, o bruxo permitindo-se um instante de relaxamento, depois de ter destruído o campo de Cannabis, com uma inundação.
_E com isso eles estarão fora do mercado das drogas, “π”. Os Aurores, a Interpol e a InterSec cuidarão do que está circulando na Europa e na América. E quanto ao outro assunto que você mencionou, “π”? Quando entrou em contato comigo deu a entender que era algo de muito importante.
_E realmente é, Harry. Você ficou circulando pelo mundo, mas deve saber que Camille Musashi estava desaparecida, desde pouco tempo depois do seu funeral, não é?
_Sim. Ela deve estar correndo algum perigo.
_Com certeza, Harry. Rony descobriu que ela é refém do Círculo, para pressionar Tetsuken.
_Como é?
_Rony encontrou drogas em uma caixa de logros da Divisão Americana do Grupo. Avisou aos Aurores e eles começaram a investigar, mas não poderão fazer nada até que saibam com certeza onde ela está e como resgatá-la sem colocar sua vida em perigo. Eu prometi a Rony que tentaria descobrir, mesmo agora, que “Escuridão” está relutando em dividir informações. Há coisas que ele não está contando nem a “Sombra” e o trabalho do “Homem-Névoa” não está contribuindo nada para melhorar o humor dele.
_E você descobriu algo sobre o paradeiro de Camille?
_Sim e já avisei Rony. Ela não saiu do Brasil. Só que não está mais em São Paulo.
_E onde ela está?
_Em Porto Alegre.

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