Réquiem Para um Vivo
CAPÍTULO 17
RÉQUIEM PARA UM VIVO
Gina havia acabado de atender o último paciente de sua agenda matinal, no Ambulatório Pediátrico do St. Mungus e iria almoçar em casa, pois naquela tarde não teria agenda no seu consultório, tendo tempo livre para descansar, antes de ir buscar as crianças na escola e ir com elas para a Toca. Resolveu ir à cafeteria para tomar um chá e, ao chegar, foi praticamente puxada por Martinette Thomas, a especialista em Reformatação Facial Mágica.
_Gi, você ainda não está sabendo?! _ perguntou a amiga, desesperada.
_Sabendo do que, Martinette? Passei a manhã inteira entocada no consultório, atendendo. Só saí agora, para tomar um chá antes de ir para casa.
_Está dando em todos os canais bruxos, Dra. Potter. _ disse a enfermeira Milena Kersey, aproximando-se com uma expressão triste no rosto e os olhos vermelhos _ Vejam, vai dar agora, no plantão de notícias da WBC.
Na tela da TV, o rosto de Pansy expressava, assim como o de Diana, uma grande tristeza, quase beirando o desespero. A tela apresentava uma tarja preta no canto superior direito e uma foto de Harry aparecia ao fundo.
_Infelizmente, parece que as notícias eram verdadeiras, Diana.
_Sim, Pansy. Com imagens ao vivo de Amsterdam, diretamente para o plantão da WBC, Arianne Skeeter-Creevey. É com você, Arianne. _ disse Diana Jordan, com os olhos vermelhos e lacrimosos.
_Obrigada, Diana. _ respondeu Arianne, em Amsterdam _ Hoje é um dia extremamente triste para a Bruxidade, minha gente. Acabamos de receber a confirmação de que o corpo que estava no interior de uma BMW 750i, que caiu no Rio Amstel, realmente pertencia a Harry Tiago Potter, o Coordenador de Operações dos Aurores para Londres e Região Metropolitana, que também era elemento de ligação e agente do serviço de segurança trouxa InterSec, Segurança Internacional, na Divisão de Combate ao Terrorismo e que, a fim de colaborar nas investigações sobre a acusação contra Draco Malfoy, estava atuando na Divisão de Repressão ao Tráfico. Mesmo estando em um cargo de chefia, Harry executava missões de campo e parece que estava em uma investigação, quando o pneu do carro que dirigia estourou e o carro caiu no rio. Acredita-se que deve ter batido a cabeça e perdido a consciência pois, do contrário, teria conseguido fazer algum feitiço para escapar. Aqui está o Sr. Nikolas Pieterzoon, colega de Harry Potter na InterSec. O Sr. Pieterzoon é trouxa, com acesso Nível 4 e está coordenando as investigações da acusação que pesa sobre Draco Malfoy. Sr. Pieterzoon, o que o senhor acha que houve?
_Creio que, durante alguma perseguição, devem ter atingido o pneu do carro e o agente Potter perdeu o controle do veículo. Sei que ele é um bruxo de alto nível de poder, portanto concordo com você quando diz que ele devia estar inconsciente. Ele estava na Turquia, investigando uma pista que o trouxe à Holanda, onde iríamos nos encontrar. Infelizmente acabou sendo nestas circunstâncias.
_E o senhor acha que tem a ver com os fatos envolvendo Draco Malfoy?
_Acho que pode haver alguma relação, Arianne. O agente Potter deveria estar chegando perto de algo importante mas, agora, quaisquer informações perderam-se com ele. Chega a soar irônico, o bruxo que venceu Lord Voldemort morrer dessa maneira tão... trouxa. O mundo da magia perde um de seus maiores nomes e nós, agentes da InterSec, perdemos um grande companheiro.
_Obrigada, Sr. Pieterzoon. Temos aqui também a nossa amiga Miep Van de Vries, bruxa Vidente que colabora com a polícia trouxa da Holanda. O que você acha, Miep?
_Acho que o Sr. Pieterzoon esclareceu tudo, Arianne. Concordo que Harry devia estar perseguindo algum elemento do Círculo, quando houve essa fatalidade. Tínhamos feito contato há cerca de um mês, antes de ele vir para a Holanda e depois não soube de mais nada. A morte de Harry representa uma grande perda, não só de um bruxo poderoso e corretíssimo, mas também de um grande amigo.
_Obrigada, Miep. Harry Tiago Potter estava prestes a completar seus trinta anos. Era casado com a Dra. Virgínia Ginevra Molly Weasley Potter, Medi-Bruxa Pediatra do St. Mungus e filha do Ministro da Magia, Arthur Sinclair Weasley e de Molly Prewett Weasley. Além da viúva, deixa dois filhos gêmeos, Tiago Weasley Potter e Lílian Weasley Potter, de nove anos. Seus parentes trouxas são a família Dursley, composta por seu tio, Valter, sua tia, Petúnia e seu primo, Dudley, o Duda, conhecido atleta e autor de livros sobre boa forma, famosos entre trouxas e bruxos e casado com Lavender “Lilá” Brown Dursley, colega de Harry nos tempos de Hogwarts. Além deles, deixa saudosos vários amigos trouxas e bruxos, entre os quais eu mesma me incluo. _ e uma lágrima desceu pelo rosto da repórter _ Com imagens de Dennis Creevey, aqui falou Arianne Skeeter-Creevey, para o plantão da WBC.
_GINA!!! _ Martinette amparou a ruiva, que acabara de desmaiar nos braços da amiga. Levou-a até uma mesa e tratou de reanimá-la. Assim que Gina voltou a si, olhou para Martinette.
_Mas n-não pode ser! Isso... isso não p-pode ter acontecido c-com Harry! Ele... ele não iria m-morrer assim! _ e Gina rompeu em um choro convulso. Dali a pouco, Molly e Rony aparataram no St. Mungus e foram à cafeteria, acompanhados de Fred e Jorge, todos com os olhos pesados, vermelhos e úmidos.
_Minha filha! Então você já soube? _ perguntou Molly Weasley.
_Já, mamãe. Acabei de ver pela WBC. Como é possível?
_Ninguém pode prever essas coisas, mana. _ disse Jorge.
_Você quer algo? _ perguntou Fred.
_Sim, eu ia t-tomar um chá, antes de ir para casa. Depois iria buscar as... Grande Merlin! As crianças estão na escola! Se a notícia está em todos os canais, Marilise já deve estar sabendo e avisando nossos filhos! _ exclamou Gina.
_Eu irei à escola, buscar as crianças, Gina. Acho melhor pegá-las mais cedo, inclusive Mafalda. Vou levá-los para a Toca. _ e, ato contínuo, Rony desaparatou.
_Vamos para a Toca, também, minha filha. Acho que será melhor para você.
_Tem razão, mamãe. _ disse Gina, terminando o chá, no qual sua mãe havia adicionado, disfarçadamente, uma pequena dose de Poção de Sono. A ruiva desaparatou com sua mãe, já meio adormecida e chegando à Toca desabou no sofá, sendo levada para o quarto por Gui, que correra para lá com Fleur, assim que soubera.
Logo em seguida, Rony chegara, acompanhado por Tiago, Lílian e Mafalda, todos com lágrimas nos olhos.
_Mas como é que foi isso, Tio Rony? _ perguntou Lílian.
_Parece que o pneu do carro dele estourou e ele bateu a cabeça, ficando inconsciente e impossibilitado de executar um Feitiço Cabeça-de-Bolha para não se afogar. Ele estava em uma missão, na Holanda e devia estar em uma perseguição a um veículo trouxa, agindo como eles, para não dar na vista. Eu vou a Amsterdam, para me encontrar com Miep e providenciar a liberação e traslado do corpo para a Inglaterra. Logo mais deverei estar de volta. _ e Rony desaparatou para cumprir aquela triste tarefa.
_Eu não acredito, vovó Molly! _ exclamou Tiago _ Papai não iria morrer desse jeito! Sendo um Auror e um Mestre Ninja ele não cometeria esse tipo de engano!
_Sei, Tiago, mas isso é algo que não tem explicação. Quando a nossa hora chega, não há o que fazer.
_E quem garante que era mesmo a hora dele, vovó? _ Lílian perguntou, com as lágrimas descendo pelo seu rosto.
_Não sei como dizer, querida. É algo que nem a magia explica.
As chamas da lareira ficaram verdes e o rosto de Draco surgiu.
_Acabei de saber, gente. Há algo que eu possa fazer?
_Obrigada, Draco. _ disse Molly _ Rony foi a Amsterdam encontrar-se com Miep, para identificar o corpo e providenciar seu traslado. Como você está impedido de deixar o país...
_... Sei, Sra. Weasley. Bem, estarei aí assim que puder. Como está Gina?
_Dormindo, Draco. Dei a ela uma Poção de Sono, adicionada ao seu chá. Quando acordar estará menos tensa. Creio que tudo será realizado em Godric’s Hollow.
_Então irei direto para lá. Jan acabou de me ligar, dizendo que Hogwarts está preparando uma comitiva para o velório e o enterro. Até mais. _ e a cabeça de Draco desapareceu da lareira, logo substituída pela de Dumbledore.
_Molly, nós já estamos sabendo e Minerva está tomando as providências. As aulas foram suspensas e o pessoal que irá para aí já foi liberado. Janine já foi para Wiltshire e Hermione deve estar chegando daqui a pouco.
Como que sublinhando as palavras de Alvo Dumbledore, Hermione aparatou na varanda, juntamente com Cliff. Adentrou a sala, sem tentar enxugar as lágrimas que desciam de seus olhos, vermelhos e inchados. Logo em seguida, chegaram Sirius, Ayesha e Soraya.
_Mas como é que pode? _ perguntou Hermione, entre soluços, com Cliff e Mafalda abraçados a ela.
_Pelo que sabemos, Mione, parece que o pneu do carro em que ele estava estourou e ele deve ter ficado inconsciente.
_Sim, caso contrário ele teria executado algum feitiço para sair do carro. E onde está Rony?
_Foi a Amsterdam. Deverá estar de volta com Miep, para trazerem o corpo.
Ouviram-se dois estalidos na varanda e logo Luna e Neville estavam chegando. Logo em seguida foi a vez de Fred, com Alícia e Jorge, com Angelina. Percy e Penélope vieram pela lareira, com Whitney e Daryl. Após a chegada deles, Arthur Weasley aparatou.
Uma coruja chegou e pousou na mesa da sala, deixando uma carta e levantando vôo em seguida. Percy pegou a carta e leu.
_É de Rony. Ele foi direto para Godric’s Hollow, com Miep Van de Vries. Já trouxeram o corpo e estão preparando tudo para o velório na propriedade Potter. Dobby, Draco e Jan estão com eles.
_Então é só irmos para lá. Alguém deverá ficar com Gina e levá-la, depois que o efeito da Poção de Sono passar. _ disse Molly.
_Eu ficarei com ela, Sra. Weasley. _ disse Hermione.
_Muito bem, então. Caso alguém mais entre em contato, avise que estaremos na propriedade Potter, em Godric’s Hollow.
_Pode deixar. Eu avisarei.
O grupo todo desaparatou para Godric’s Hollow, enquanto Hermione ficou para avisar a quem quer que aparecesse pela lareira.
Algumas horas depois, um pouco já menos tensa, Gina aparatou com a cunhada para Godric’s Hollow, já em vestes negras de luto. Lá chegando, viu que o caixão encontrava-se lacrado.
_Por que isso, Mi? _ perguntou Gina.
_Demoraram dois dias para localizar o carro, Gi. O corpo de Harry estava lá dentro e já estava começando a sofrer os efeitos da permanência debaixo dágua.
_Não foi uma coisa nada bonita de se ver, mana. _ disse Rony, lembrando-se do que vira no IML em Amsterdam _ Logo após identificarmos o corpo pela cicatriz e pelos objetos, ele já foi colocado em um caixão lacrado e viemos para cá. Aqui estão as coisas dele.
Gina pegou a sacola e viu o que ela continha: A jaqueta Yachtsman, ganha no último Natal. Seus óculos de armação redonda, uma de suas marcas registradas. A carteira de Harry, com seus documentos e dinheiro. A bainha mágica,contendo a varinha de liga de Mirtheil. O relógio de pulso Casio G-Shock que, na verdade, era a jóia de comunicação disfarçada em sua forma de relógio esportivo (Harry a havia desligado para a missão). A aliança de casamento. O anel da Grifinória. O telefone celular enfeitiçado. Sua pistola Glock .380 no coldre. Os dardos “Boo-Shuriken”. A caneta-tinteiro Montblanc que ela havia dado a ele no seu último aniversário. A ruiva olhava para aqueles objetos, cada um deles um pedacinho, uma recordação do seu amado, as lágrimas caindo livremente de seus olhos verdes e rolando pelo seu rosto.
Os amigos e conhecidos vieram de todos os lugares, quer fossem bruxos ou trouxas com acesso ao mundo mágico. A comitiva de Hogwarts veio, composta por Alvo Dumbledore, Minerva McGonnagall, Derek Mason, Severo Snape, Rubeo Hagrid, Pomona Sprout e Papoula Pomfrey. Hermione, Janine, Sirius e Ayesha já estavam lá. Nereida, Adriano, Soraya e Cliff não se largavam, assim como Tiago, Lílian, Narcisa, Mafalda, Larissa e Vicenzo, os dois últimos com Milly e Blaise, que haviam vindo com Daniel e Marino. Francine estava ali também, junto a seus pais, Gui e Fleur.
Uma Chave de Portal trouxe Valter e Petúnia Dursley, aos quais logo juntaram-se Duda, Lilá e Simone. Pansy e Fabian Sheldrake chegaram a seguir, com Fernanda. Elisabeta e Viktor Krum aparataram, em companhia de seu filho, Mikhail. Blasius Zabini e Lauren chegaram e logo foram cumprimentar Gina e os outros, seguidos por Shanna e Justin Finch-Fletchley, acompanhados de Liam O’Rourke. Lupin e Tonks chegaram com Randolph, que logo juntou-se aos amigos. Ted e Andrômeda também chegaram logo em seguida, juntamente com Derek, Marilise e Sabrina, que juntou-se às crianças, depois de abraçar Gina.
Moody e Shacklebolt logo chegaram, acompanhados de mais três pessoas: Já bem idosa, porém lúcida e com um olhar firme, Augusta Longbottom aproximou-se, com Frank e Alice. De várias partes do mundo as pessoas chegavam, logo que haviam tomado conhecimento da notícia. Tetsuken e Camille haviam acabado de chegar de Nova York, com seu filho, Shiro, de seis anos. Heiko e Stuart aparataram do Japão com sua filha, Yuki, de seis anos e Jemail chegara há pouco com Amanda e seu filho de seis anos, Khaled, vindos de Strathisla, na Escócia, onde visitavam uma destilaria, pertencente a um bruxo que era freguês dos logros do grupo. Cho e Luke chegaram, acompanhados de Sun-Li. Cho abraçou Gina, ficando ao seu lado (apenas as duas podiam dizer que haviam tido um passado com Harry) e Sun-Li juntou-se a Tiago e Lílian. Por mais que o caixão no meio da sala fosse real e tangível, todos tinham dificuldade para acreditar que dentro dele estivesse o corpo de um dos maiores e mais modestos bruxos da atualidade, Harry Potter.
O brilho de uma Chave de Portal chamou a atenção de todos, que viram quem havia chegado. René Malfoy viera de sua propriedade no Vale do Loire, prestar homenagem ao jovem que tanto fizera para que Valérie obtivesse uma redução de pena em Azkaban, com direito a condicional. E não vinha só, pois os outros Malfoy acompanhavam-no. De Marselha, Danielle e seu esposo, Lucien, vinham com Remy e Nadine e Jacques viera de Portugal, com sua esposa, Ísis e seus filhos, Ferdinand e Anne-Marie. Todos desfrutavam de grande prestígio na Bruxidade, depois de terem rompido com as Trevas. Aproximaram-se e prestaram seus respeitos à família.
Todos os velhos amigos e antigos desafetos que depois tornaram-se aliados apareceram. Mafalda viera da Austrália, representando a Escola de Magia Ayers Rock. Linus Jordan e Diana, Anna Abbott, Susan Bones, com sua tia Amélia, a Vice-Ministra da Magia. Colin e Paula Creevey, Dennis e Arianne, Anthony e Romilda Goldstein com seus filhos, Vincent e Demelza, Gregory e Heloísa, Baddock, Pritchard, McMillan, Seamus e Parvati, Theo e Padma, Michael Corner e Roger Davies, Dedalus Diggle, Eliphas Doge, Dóris Crockford, Madame Marsh, enfim, praticamente todos os que haviam conhecido Harry e a família estavam presentes. A WBC fazia uma cobertura discreta, com outra equipe. Arianne e Dennis acharam que seria desrespeitoso à memória de seu amigo que eles assumissem a cobertura do fato e Pansy concordou, escalando outros profissionais. Ela mesma não se sentia muito bem em ter de expor a tristeza da família e amigos de Harry a toda a Bruxidade, mas dada a importância do bruxo, a imprensa não poderia furtar-se de suas atribuições, por mais triste que isso pudesse parecer.
Por todo o dia, pessoas chegavam e cumprimentavam a família, corujas deixavam mensagens, outros mandavam seus pêsames pela lareira, como Ricardo Lugoma, Ministro da Magia de Angola, Leonardo Mafra, Ministro da Magia do Brasil, Wang-Kai Chung, Chefe da Seção de Aurores do Ministério da Magia da China, Ali Karin Bey, com dois de seus filhos, Mustafá e Haradja e vários outros. Então chegou a hora do sepultamento.
No cemitério de Godric’s Hollow, localizava-se o jazigo da família Potter. Uma cripta muito bem cuidada, tendo uma placa de mármore, onde lia-se a inscrição em relevo: “POTTER”. Era possível, para olhos bruxos, enxergarem um monumento aos mortos, referente à derrota de Voldemort em sua Primeira Ascenção, os Dias Negros. Consistia de um pedestal e um conjunto de estátuas representando Tiago e Lílian, com Harry no colo.
Um parlatório estava em frente ao jazigo, a fim de que pudesse ser proferida a elegia. Alvo Dumbledore subiu a ele e olhou para a assistência.
_Creio não haver aqui uma só pessoa que não tenha algo a dizer sobre Harry Tiago Potter. _ disse Dumbledore _ Se cada um deles fosse fazer um comentário, todo o tempo do mundo não seria suficiente. Porém, seria muita pretensão da minha parte assumir sozinho a honra de ser o responsável pela elegia a esse jovem que deixa uma lacuna na Bruxidade, dificílima de ser preenchida, portanto essa honra será dividida com outros que tiveram o privilégio de conviver com ele. Tive a felicidade e o privilégio de tê-lo nos meus braços, ainda com um ano de idade, recém-chegado da casa de seus pais, após o confronto com Voldemort. Depois daquilo, eu fui revê-lo em Hogwarts, aos onze anos, como aluno e já enfrentando perigos para proteger do mal o mundo da magia. Harry Potter foi um verdadeiro herói, principalmente porque jamais procurou por esse papel mas, quando o manto dessa responsabilidade lhe foi apresentado, não se furtou a colocá-lo sobre seus ombros e cumprir com o seu dever. Despedimo-nos, portanto, desse valoroso jovem que, sem dúvida posso dizer, seria o filho ou neto que eu gostaria de ter tido.
Dumbledore desceu do parlatório e Draco Malfoy subiu.
_Falar sobre Harry Potter me remete aos meus onze anos de idade e ao nosso primeiro encontro, na loja de Madame Malkin, onde experimentávamos nossos uniformes para o primeiro ano em Hogwarts. Naquele tempo, eu ainda era meio seduzido pelas Trevas, embora já sentisse os primeiros impulsos para abandoná-las. Invejei sua humildade e grandeza pessoal, além de sua inocência, algo que eu julgava perdido para mim. No trem, minha arrogante oferta de cumplicidade foi galhardamente repelida e iniciou uma inimizade que durou por cerca de cinco anos, até que criei coragem para me retratar com ele, após romper definitivamente com o lado negro da magia. Por isso posso afirmar, com certeza, que se eu não vim a tornar-me um Death Eater e hoje estou aqui, em vez de estar morto ou em Azkaban, devo tal fato a duas pessoas: Minha esposa, Janine, “A-Trouxa-Que-Virou-Bruxa”, cujo amor me deu a coragem necessária para aderir à Luz e cortar quaisquer laços com a Magia Negra e a Harry Tiago Potter, que acreditou em mim e que soube transformar nossa inimizade de cinco anos em uma sólida amizade. Jamais o esquecerei. _ e Draco desceu do parlatório, com lágrimas nos olhos cinza-azulados.
Rony assumiu a posição.
_Harry sempre foi sincero e correto em todos os momentos de sua vida. Ele sempre me considerou seu primeiro e melhor amigo, desde os onze anos de idade, quando conhecemo-nos no Expresso de Hogwarts. Jamais importou-se com minha origem humilde e nem com o fato de minha família ter sido considerada por muito tempo como traidores do sangue, quando tal fato tinha importância para certos segmentos da Bruxidade. Não estou contando vantagem quando digo que sempre fomos os melhores amigos que se pode imaginar, mesmo quando houve aquele nosso desentendimento do quarto ano, naquela ocasião em que Crouch passou-se por Moody, durante o Torneio Tribruxo. Sempre considerei Harry como um irmão honorário e, quando vi que ele e Gina estavam namorando e depois noivaram e casaram-se, fiquei ainda mais contente, pois tínhamos na família não o famoso Harry Potter, mas Harry, meu amigo e cunhado. Sua morte não ficará impune, eu prometo.
Hermione ocupou o parlatório, assim que Rony desceu.
_Harry, Rony e eu conhecemo-nos no Expresso de Hogwarts, indo para o nosso primeiro ano. No princípio, impliquei com eles por achá-los pouco preocupados com os estudos. Na verdade eu e que era estressada e cobrava demais de mim mesma. Com o passar do tempo fomos nos aproximando cada vez mais e, depois que eles enfrentaram o trasgo de Quirrell para me salvar, não havia outro jeito senão tornarmo-nos os melhores amigos que se possa imaginar, originando o apelido “Os Inseparáveis”, que carregaremos por toda a vida. Éramos três. A partir do quinto ano, passamos a ser seis, quando enfrentamos Voldemort e os Death Eaters no Ministério. Tornamo-nos oito, depois que Draco rompeu com as Trevas e, juntamente com Janine, passou a integrar o grupo. Agora perdemos Harry, mas apenas fisicamente. Ele sempre estará em nossos corações e memórias. Até um dia, meu amigo.
Foi a vez de Sirius Black.
_Em virtude da traição de Pettigrew, perdi doze anos de convivência que poderia ter tido com meu afilhado, tempo esse que jamais poderei recuperar. Devo a Harry a reabilitação do meu nome perante a Bruxidade e o fato da verdade acabar vindo à tona. Tive a felicidade de conviver com ele durante cerca de um ano, antes que tivesse havido meu desaparecimento e minha passagem pelo outro lado. Depois do meu retorno, pudemos novamente ter um relacionamento de padrinho e afilhado, reforçado depois do fim de Voldemort. Perdi sua infância, mas pude acompanhar sua adolescência e idade adulta, vendo-o tornar-se um homem do qual Lílian e Tiago iriam orgulhar-se, caso ainda estivessem entre nós. Dumbledore disse que aqueles a quem amamos e de quem nos lembramos jamais morrem de verdade. Então, Harry, você viverá para sempre. Nós te amamos.
Sirius desceu e Severo Snape subiu ao parlatório.
_Pode parecer estranho eu estar aqui para falar de Harry Potter, sendo que fui o maior desafeto de seu pai em Hogwarts e que não fui exatamente um modelo de cortesia com ele, durante cinco dos seus sete anos de escola. É certo que eu não gostava de Tiago, mas o respeitava. Além disso, havia Lílian, uma bruxa da qual não havia quem não gostasse. Durante anos trabalhei para Dumbledore e a Ordem da Fênix, infiltrado entre os Death Eaters e descobri sobre o plano de Voldemort para matar Harry, avisando Dumbledore em seguida. Quando Harry Potter foi para Hogwarts, me foi dada a missão de protegê-lo de forma velada e foi o que tentei fazer, superando o fato de que parecia haver um Tiago redivivo à minha frente, aproveitando-me da confiança que Voldemort depositava em mim, acreditando que eu era seu espião em Hogwarts, quando era exatamente o contrário. Quando ele estava no seu sexto ano, tivemos uma conversa que me fez rever vários conceitos e reaprender a viver. O resultado foi que pude reconstruir minha vida com alguém que sempre me amou, Rosmerta McTaggert, hoje Snape, com quem tenho uma filha maravilhosa, da qual me orgulho muito, Nereida. Por mais que não nos déssemos muito bem, isso não me impediu de admirar seu progresso, principalmente nos dois últimos anos de escola. Acabamos por ter uma reconciliação e uma boa convivência desde então. Creio que não houve uma vida aqui que não tivesse sido tocada por ele. Sua ausência será muito sentida.
Depois de Snape, foi a vez de Janine.
_Aos dezesseis anos de idade, tomei conhecimento do mundo da magia e meus poderes manifestaram-se. Foi o ano em que conheci e comecei a namorar Draco Malfoy e fui o alvo de Voldemort em um plano. Há várias pessoas aqui às quais devo minha vida, especialmente sete delas. Hermione, Rony, Gina, Luna, Neville e principalmente os dois que foram mentores do plano de resgate junto com o Prof. Mason. Falo de Draco e Harry, que trocaram de lugar para que pudessem me libertar dos Death Eaters. Eles saltaram de pára-quedas em Azkaban, para o meu resgate e conseguiram, em uma operação que deu certo mas que, no final, acabou tendo o sacrifício de Narcisa Malfoy. Quero dizer que, desde que tornei-me “A-Trouxa-Que-Virou-Bruxa”, meus horizontes abriram-se de uma maneira indescritível e isso não seria possível sem o amor de Draco e sem a amizade dos demais Inseparáveis, principalmente Harry Potter. Ele era o padrinho de Narcisa e um grande amigo... _ e Janine teve de descer do parlatório, pois não conseguia mais falar, apenas chorar.
Cho subiu e falou.
_Devo a Harry e Gina o fato de haver superado uma fixação por ele e também haver vencido o alcoolismo. Não seria contar vantagem dizer que de todos aqui somente eu e Gina podemos dizer que tivemos um passado com Harry. Amigo, carinhoso, direito, honesto, poderoso, gentil, bravo, dono de um coração puro e cheio de amor, sendo que isso o ajudou a vencer Voldemort. Hoje, mesmo casada com Luke e mãe de minha linda e querida filha, Sun-Li, as lembranças de meu breve namoro com Harry estão entre as mais importantes e ternas. Disso resultou minha sólida amizade com Gina e todos os Inseparáveis. Ponho-me à sua inteira disposição no que for preciso. _ e desceu do parlatório, chorando, em direção aos braços de Luke.
Luna subiu ao parlatório e falou:
_Harry foi uma das poucas pessoas que nunca me tratou como uma débil mental ou louca, mesmo sabendo que meu pai era o dono do “Pasquim” e que eu era conhecida por várias excentricidades e por acreditar em coisas que são consideradas impossíveis, mesmo para bruxos. Graças aos fatos que fizeram com que a Bruxidade finalmente se convencesse de que Voldemort havia retornado, acabei por me aproximar de Neville, o que resultou em nosso namoro e casamento. Harry foi um dos primeiros amigos de verdade que eu tive e sentirei demais a sua falta. _ e a loira desceu, com lágrimas nos olhos. Foi seguida por Neville.
_Harry fez com que eu acreditasse mais em mim mesmo e deixasse de pensar que era um incompetente. Quando muitos apenas me gozavam, ele sempre esteve do meu lado. Não sei se eu estaria à altura do desafio caso Voldemort tivesse resolvido vir atrás de mim em vez de tentar matar Harry, mas o fato é que nossa amizade, juntamente com o amor de Luna, foi a grande responsável por minha transformação. Você estará para sempre conosco, meu amigo.
Valter Dursley, já de cabelos brancos mas com o olhar bem firme, cofiou o bigode e falou:
_Durante um longo tempo não demos a Harry o carinho familiar que ele merecia, tratando-o como se ele fosse uma aberração, por puro medo de algo que não compreendíamos. Graças a Deus tivemos tempo para que nos retratássemos com ele, ainda que para nos incentivar tivesse sido necessário um grande susto dado pelo Sr. Moody. Pudemos, então, ter uma boa convivência que, embora não apague os anos de maus tratos, serviu para que víssemos que o mundo da magia não difere tanto do trouxa, tendo gente boa e gente má. Despedimo-nos de um dos seus melhores indivíduos. Adeus, Harry e sinto muito.
Foi a vez de Petúnia.
_A partir dos dezesseis anos de Harry, ele e Duda tornaram-se mais unidos do que jamais haviam sido até então. Isso me fez ver o quanto fui preconceituosa contra a magia, chegando à conclusão de que eu, na verdade, sentia mesmo era inveja de Lílian, pelo fato de apenas ela haver sido agraciada com a manifestação dos dons mágicos. Severo Snape deve lembrar-se, pois conhecemo-nos quando crianças, quando morávamos em Londres, logo que Lílian manifestou magia e ele vivia com seus pais em Spinner’s End. Gostaria de ter sido menos intolerante, mas pude pedir desculpas a Harry e, indiretamente, pedir perdão à minha falecida irmã.
Petúnia desceu e Duda subiu ao parlatório.
_Devo a Harry mais do que a minha vida, pois ele impediu que dois dementadores sugassem minha alma, quando ele tinha quinze anos. Ao início do ano letivo seguinte, quando a atividade física nos uniu, pude compreender mais sobre o seu mundo e hoje estou contente por fazer parte dele, casado com Lilá e pai de Simone que, tenho certeza, será motivo de orgulho para nós, quando for para Hogwarts. Mesmo assim eu acho que muita coisa não pôde ser dita e agora eu queria, em público, pedir desculpas por várias coisas que fiz contra Harry, pelas quais posso não tê-las pedido pessoalmente. Adeus, meu primo. Você, realmente, fez a diferença.
Outros subiram ao parlatório e fizeram suas declarações. Minerva McGonnagall, Derek Mason, Ayesha Zaidan-Black e outros mais, até que a elegia foi encerrada.
Após o término da elegia, Gina subiu ao parlatório.
_Agradeço pelas palavras e pela presença de todos vocês nessa despedida a Harry Potter. Essa é a prova do quanto meu esposo era querido pela Bruxidade. Eu também tenho coisas a dizer. Desde criança eu ouvira falar do “Menino-Que-Sobreviveu”, o garoto destinado a vencer o Lorde das Trevas, um ano mais velho do que eu e criado em local ignorado, até que pudesse retornar ao convívio da Bruxidade. E acabei vendo-o pela primeira vez, na Plataforma 9 ½, quando ele estava indo para o seu primeiro ano em Hogwarts, dividindo a cabine do trem com meu irmão Rony. Lembro-me de ter desejado boa sorte a ele e me apaixonado por aquele garoto de olhos verde-esmeralda, mesmo sem saber quem ele era. Foram Fred e Jorge que disseram a mim e à minha mãe, depois de tê-lo ajudado com a bagagem. No ano seguinte fui para Hogwarts e Harry me salvou do domínio de Voldemort, resolvendo o mistério da Câmara Secreta de Slytherin. Depois houveram os fatos envolvendo a falsa acusação sobre Sirius, o Torneio Tribruxo e o retorno de Voldemort, que o Ministério ignorou durante todo o ano seguinte, até que nós o confrontamos e Sirius desapareceu. No ano letivo seguinte, criamos coragem para declararmo-nos um ao outro e iniciamos um relacionamento que somente sua morte interrompeu. Mas meu amor por ele jamais desaparecerá. Novamente agradeço pelas palavras e pela presença de vocês. Isso significa muito para todos nós e prova que não houve uma vida que não tivesse sido ao menos um pouco tocada por Harry Potter. Obrigada.
Gina desceu do parlatório e um homem vestindo um terno preto Armani e com óculos Ray-Ban cumprimentou-a.
_Dra. Potter, sou Nikolas Pieterzoon. Harry Potter era meu colega na InterSec e estávamos conduzindo juntos as investigações sobre a acusação contra Draco Malfoy. Quero dizer que sinto muito sobre o que aconteceu. Ele ficou quase um mês sem fazer contato, creio que para não prejudicar o sigilo das investigações. Trago, em nome da Direção Geral, os pêsames de toda a InterSec.
_Obrigada, Sr. Pieterzoon. Harry já havia falado do senhor. Junte-se a nós para as homenagens finais e o sepultamento. _ Gina indicou um assento e Pieterzoon o ocupou.
A bandeira da Grã-Bretanha, oferecida pela Rainha e entregue por Liam O’Rourke e a bandeira do Ministério da Magia, trazida por Arthur Weasley, foram retiradas de cima do caixão, dobradas e entregues a Gina. Arthur proferiu as últimas homenagens.
_A Bruxidade despede-se de um jovem herói, daquele que destruiu Lord Voldemort e que dedicou toda a sua vida à causa da Luz e da Justiça, sem jamais descuidar-se da família ou dos amigos. Mas eu, pessoalmente, despeço-me do meu genro e de um grande amigo. Descanse em paz, Harry Tiago Potter, com a certeza de que tudo aquilo que você fez na sua vida foi bem feito. Que seu espírito prossiga e evolua, cada vez mais iluminado. Adeus, meu genro e amigo.
O caixão desceu à cripta e foi colocado na gaveta ao lado das de Tiago e Lílian, que logo foi selada. O portão da cripta foi fechado e a cerimônia fúnebre foi encerrada. Os convidados seguiram seus destinos e Miep aproximou-se de Gina.
_Para onde você vai agora, Gi?
_Eu preciso ficar um pouco sozinha, Mi. Mamãe vai levar as crianças para a Toca e eu vou passar esta noite aqui, em Godric’s Hollow. Mas por que?
_Acho que não seria bom que você ficasse totalmente só, Gina. Gostaria de passar esta noite aqui, com você. Tive um pressentimento de que seria bom que eu fizesse isso.
_Obrigada, Mi, mas não precisa.
_Faço questão, Gi. Além disso, não seria bom deixar de levar a sério o pressentimento de uma Vidente. A mansão é grande e eu prometo que não irei incomodá-la.
Ayesha, que passava por ali com Sirius, juntou-se às duas.
_Concordo com Miep, Gina. Eu também tive um pressentimento de que seria bom que você tivesse a companhia de alguém hoje.
_Bem, não vou desprezar as palavras de duas Videntes. Me faça companhia esta noite, Mi. Vamos indo. _ e as duas desaparataram para a Mansão Potter.
Na Mansão Potter, depois de um bom banho e uma xícara de chá, Gina e Miep conversavam na sala de estar. De repente, Gina colocou a mão em concha na orelha.
_Mi, você não está ouvindo?
_Ouvindo o que, Gi?
_Parece música. _ disse Gina.
_É mesmo. _ Miep concordou _ Mas de onde está vindo?
_Parece que da biblioteca. Era um dos cômodos preferidos de Harry.
_Dá para identificar?
_Parece “Brothers In Arms”, do Dire Straits. _ respondeu Gina.
_Algo de especial nessa música?
_Era a preferida de Harry para reflexões. Ele sempre a ouvia, quando tinha algo de muito importante para pensar e decisões importantes para tomar. Costumava dizer que o ritmo da música e a voz de Mark Knopfler ajudavam-no a chegar à conclusão e às decisões mais acertadas.
_E por que essa música estaria tocando exatamente aqui e agora?
_Não sei, Mi. É bem estranho.
_Se está vindo da biblioteca, vamos conferir o que é?
_Vamos, Mi. É melhor ficarmos com as varinhas prontas, por segurança.
_OK. _ disse Miep, também sacando a sua.
Fazendo quase nenhum ruído, as duas dirigiram-se à biblioteca da Mansão Potter e entraram. O cômodo encontrava-se iluminado apenas pela luz proveniente da lareira e o Microsystem enfeitiçado rodava o CD do Dire Straits, exatamente com a canção “Brothers In Arms”.
_Há alguém em uma das poltronas. _ Gina sussurrou para Miep.
_E está tomando uma taça de vinho. Dá para vê-la em sua mão. Mas quem poderia ser? _ perguntou Miep, no mesmo tom.
As bruxas atravessaram silenciosamente a biblioteca e deram a volta na poltrona, a fim de surpreender quem quer que estivesse sentado nela. Mas ele foi mais rápido, dizendo:
_Não adianta aproximar-se em silêncio, mas com o Ki elevado desse jeito. Até quem não possui treinamento Ninja poderia pressentir sua chegada. _ disse ele, levantando-se e expondo seu rosto a uma espantada ruiva.
_Mas... mas q-quem é você? _ perguntou Gina, sem acreditar no que via, em quem estava ali, bem à sua frente.
_ “Se os seus olhos não são suficientes, tente sentir meu Ki, minha pequena leoa”. _ disse ele, telepaticamente.
_ “Não é possível! É você mesmo, minha vassourinha despenteada? Como pode ser”? _ respondeu Gina, também telepaticamente, após identificar o Ki do homem à sua frente.
_Sou eu mesmo, Gina. Pode acreditar em mim. _ disse ele.
_SCHLAPT!!! _ o som estalado ecoou na biblioteca.
_PATIFE! TOMA!! _ disse Gina, dando-lhe um sonoro tapa no rosto.
_AI!! Essa doeu! Para que isso, Gina? _ perguntou Harry.
_Para você nunca mais me assustar desse jeito, seu coisa-ruim! Celebramos o seu funeral, com toda a pompa e circunstância e agora você está aqui na biblioteca saboreando um vinho, como se nada tivesse acontecido! Quando é que você vai ser menos desalmado, Harry? _ e Gina aninhou-se nos braços do marido, chorando de felicidade e beijando-o, apaixonadamente.
"OK, OK. Acho que esse eu mereci!"
_Bem, acho que eu estou sobrando. Com licença. _ disse Miep, sorrindo e fazendo menção de sair.
_Nem pensar, Srta. Miep Van de Vries. Pode ir ficando por aqui mesmo e preparando-se para me dar algumas explicações, pois eu acho que a senhorita estava sabendo de tudo. Harry, que idéia foi essa?
_Precisei fingir ser um prisioneiro indefeso do Círculo para obter as informações de que eu precisava e tive de forjar a minha morte para poder sair de lá.
_Eles não te drogaram?
_Tentaram me viciar, mas a cada vez em que os idiotas pensavam estar injetando heroína em mim estavam, na realidade, injetando vitaminas e deixando-me mais forte. Passei este último mês fingindo ser um viciado e fazendo “Sombra & Escuridão” de palhaços.
_Mas o que você fez?
_Não me pergunte como, Gina, mas eu não dependo mais da varinha para executar magia. Eu transubstanciava o conteúdo da seringa e enganava a todos.
_E alguém mais sabe disso?
_Somente “π”, Miep e agora, você.
_E você sabia de tudo, Mi? Sabia e não me contou nada?
_Sabia, Gi. E não podia lhe dizer nada, pois quanto menos gente soubesse, maiores as chances de dar certo. Eu e Harry planejamos isso há cerca de um ano e, depois que ele desenvolveu essas novas habilidades de Magid, pudemos dar os contornos finais no plano.
_Eu dava a “Escuridão” informações falsas e aproveitava enquanto ele contava vantagem, contando sobre as rotas e rede de tráfico e distribuição de drogas na Europa e sua expansão para a América. Gravava tudo em Cristais de Armazenagem e mandava-os para meu cofre, no Centro de Treinamento Subterrâneo.
_Mas e o corpo que Rony foi reconhecer, no IML de Amsterdam?
_Um corpo falso, conjurado a partir de um tronco de árvore, com a aparência de um afogado de alguns dias. Com um aspecto assim, deram graças a Deus quando alguém o reconheceu e eles puderam logo lacrar o caixão.
_Quando a BMW de Harry caiu no rio, eu a estava seguindo de vassoura, sob Feitiço de Desilusão. Assim que o carro afundou, desci e convoquei o saco com o corpo falso, que estava ali perto. Mudei minhas roupas para um neoprene e nadadeiras, fiz um Feitiço Cabeça-de-Bolha e mergulhei. Lá no fundo, Harry e eu vestimos o corpo com as roupas que ele havia deixado separadas, antes de também vestir um neoprene. Colocamos o corpo com as roupas e objetos pessoais no assento do motorista e saímos de lá nadando.
_Saímos em outro ponto do Rio Amstel e eu fiquei escondido uns dois dias na casa da Mi, transfigurado como se fosse uma prima dela, que vive em Haia. Um pouco de Essência de Murtisco foi o bastante para dar um jeito na flebite e nas marcas das picadas. Olha só. Não se vê mais nada. _ e Harry mostrou o braço esquerdo, sem uma marca sequer.
_Mas qual a finalidade desse plano maluco e arriscado, Harry?
_Eu precisava descobrir, além das rotas e redes de tráfico, a identidade do espião do Círculo dentro dos serviços de segurança trouxas, o tal “Mantis”.
_E descobriu quem é ele? O maldito que viciou Anya e a matou?
_Sim, ele descobriu, Gi. _ disse Miep, vendo que o olhar de Harry endurecera _ E o maldito teve a cara-de-pau de aparecer no funeral, hoje.
_E quem era? _ perguntou Gina.
_Nikolas Pieterzoon. _ disse Harry, como se estivesse cuspindo o nome do espião.
_Filho de uma Górgona! E ainda teve o desplante de me dar os pêsames, como se estivesse muito sentido.
_Calma, meu amor. O dele está guardado. Só preciso me certificar de umas coisas em Paris. Brevemente vou desmascará-lo em público.
_Quando e onde?
_No julgamento de Draco. Para quando está marcado?
_Para daqui a dois meses. E o que você vai fazer?
_Estando oficialmente morto, poderei transitar com mais facilidade por todos os lugares. Pretendo passar esses dois meses desfechando o maior número de golpes contra o Círculo de que já se teve notícia. Irei simplesmente aleijá-los, cortar suas conexões de tráfico de drogas. Se isso tudo não for suficiente para tirá-los do negócio, ao menos irá deixá-los inativos por um bom tempo lambendo as feridas, o que irá deixá-los mais vulneráveis aos Aurores.
_E já tem idéia de por onde irá começar? _ perguntou Gina.
_Aquele campo de papoulas perto de Mandalay será um bom lugar. Além disso, notei que aquela precipitação de Pieterzoon, atirando no guarda, não foi por acaso. Acho que havia alguma coisa lá que era importante para “Sombra & Escuridão” e ele não queria que eu chegasse perto.
_Algum segredo de operações do Círculo? _ sugeriu Miep.
_Ou algo mais... místico. Senti uma pequena emanação de energia no local e arrisco-me a dizer que, naquela noite, um dos volumes do Necronomicon devia estar lá. Como eles não desconfiam que tenho essa suspeita e pensam que estou morto, o livro não deve ter sido removido. Retomá-lo será mais um golpe bem fundo naqueles bandidos.
_Tem razão, Harry. Bem, como eu dizia, acho que estou sobrando. Vou para o quarto de hóspedes. Boa noite, Harry. Boa noite, Gi.
_Boa noite, Miep. _ disseram os dois. A bruxa recolheu-se.
_Creio que também devemos ir, Harry. _ disse Gina _ Você passou por muita coisa e precisa descansar de verdade. Um banho de ofurô e uma boa noite de sono irão operar maravilhas.
_Então vamos subir. _ disse Harry, levantando-se e abraçando a esposa.
Um relaxante banho de ofurô a dois, durante o qual Gina massageou Harry, relaxando os pontos onde a musculatura estava tensa, deixou o bruxo mais tranqüilo. Ele vestiu um pijama e deitou-se, com ela ao seu lado. Dali a pouco...
_Harry, você não estava dormindo?
_Quase. Mas você sabe muito bem que não resisto ao seu perfume.
_Você precisaria descansar, Harry. Há uma tarefa árdua à sua espera pelos próximos dias.
_Não se preocupe, minha pequena leoa. Os mortos não se cansam.
_Por outro lado, há outras coisas que os mortos não fazem.
_Está a fim de confirmar?
_Você não tem jeito mesmo, minha vassourinha despenteada.
_Estou oficialmente morto para a Bruxidade. Para você eu estou bem vivo. Vamos nos permitir simplesmente celebrar a vida. _ disse Harry, abraçando Gina e acariciando-a como só ele sabia. Logo estavam atingindo alturas indescritíveis, seu amor um pelo outro servindo para comemorar o simples fato de estarem vivos.
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