Você é chocolate, você é caram

Você é chocolate, você é caram



Capítulo 2 – Você é chocolate, você é caramelo


You're the only thing that I love
It scares me more every day
(Chocolate, Snow Patrol)


Duas semanas haviam passado desde o pedido de casamento e, agora, só faltavam mais duas para o grande dia. Harry não conseguia deixar de pensar que sempre que entrava n’ A Toca, em vez de entrar na casa que antes conhecera quase como sua, ingressava sim numa viagem alucinada de discussões, planos e alegria estonteante.


Mrs. Weasley era quem mais o preocupava. Ela parecia constantemente à beira de um ataque de nervos, andando de um lado para o outro enquanto resmungava entredentes sobre a loucura de marcar o casamento da sua única filha com tão pouco tempo de antecedência.


Os rapazes Weasley oscilavam entre o entusiasmo pela despedida de solteiro de Harry, que seria naquela mesma noite, e manobras de intimidação para com o futuro cunhado. Actualmente, era comum ver todos alinhados no sofá, presenteando o moreno com olhares carregados de sentido e histórias obscuras sobre o trágico destino dos maridos de ruivas infelizes, com seis irmãos homens.


A sua maior preocupação, no momento, era aquilo que os gémeos teriam preparado para aquela noite. Não podia negar que vê-los trocar olhares divertidos e sussurros conspiratórios fazia o seu estômago encolher até ao tamanho de uma ervilha. Marcara a despedida para duas semanas antes do casamento precisamente para garantir que todo o mundo teria tempo de ter alta do hospital…não que ele estivesse ansioso por isso.


À medida que a data da boda se aproximava, Alfie começava a adoptar comportamentos estranhos. Ora rugia sem parar no seu peito, nas horas que ele passava antes de adormecer, imaginando como seria ter Ginny ao seu lado, todas as noites da sua vida; ora ficava quieto e congelado, nos momentos em que ele duvidava da sua capacidade de a fazer feliz.


Esse era o seu maior medo. Havia tanta coisa em que ele tinha falhado na sua vida…tanta coisa que ele se arrependia de ter feito de dado modo. Mas como muito bem sabia, nem sempre temos a oportunidade de mudar o passado. Essas são chances muito raras, que não vêm sempre, e muito menos do modo que nós esperamos.


Mais do que qualquer outra coisa, ele queria fazer aquela ruiva muito feliz. Queria amá-la e protegê-la, formar uma família com ela. Queria poder ter finalmente algo que nunca tivera, nem quando era apenas uma criança...


Ela era tão perfeita. Mesmos os seus piores defeitos eram perfeitos. Simplesmente porque eram dela, faziam parte da garota que ele aprendera a admirar e amar. E acima de tudo ela tinha uma estranha capacidade de o surpreender, fazendo com que cada dia ao seu lado fosse diferente do anterior. Existia sempre algo novo e admirável para descobrir nela e ele mal podia esperar para passar o resto da sua vida em permanente descoberta.


Ginny merecia ser feliz, ter o conto-de-fadas. E tudo o que ele queria era poder ser o príncipe, ainda que a sua vida estivesse mais para filme de terror. A simples perspectiva de ser incapaz de lhe dar tudo o que ela merecia, tudo o que ela podia esperar dele, era aterradora.


Entrou pela porta da cozinha. Sabia que só Ginny deveria estar em casa, pois os restantes Weasley tinham os seus trabalhos e ocupações diversas. Mrs. Weasley, por exemplo, deveria estar imersa em alguma loja, procurando rendas e fitas para decorar o jardim. Tinham decidido que o casamento se iria realizar ali mesmo, num altar preparado no terreno d’ A Toca.


A lista de convidados não era demasiado extensa, embora fosse um pouco maior do que Harry gostaria…mas os Weasley eram uma família importante na comunidade feiticeira. Contudo, ele garantiria que a segurança daquele dia, um dos mais importantes da sua vida, seria preservada. Os repórteres do Profeta Diário não eram, decididamente, bem vindos.


Olhou em volta e viu uma figura feminina, de cabelos ruivos, debruçada sobre a mesa da cozinha, de costas para si.


- Estudando? – perguntou com um sorriso. Ginny trabalhava no Ministério da Magia, no Esquadrão de Reforço da Lei Mágica, especialização em casos envolvendo Feitiços. Ela era extremamente dedicada e insistia em estudar constantemente para se manter a par das novas descobertas e tácticas. Harry, como Auror, sabia perfeitamente reconhecer um profissional quando o via…e a sua garota era uma profissional de alto nível.


- Mais ou menos – ela respondeu, ainda sem se virar, com a voz meio abafada – Embora tenha tirado essas férias, não posso ser passada para trás.


- Hm, estava capaz de comer um Hipogrifo – lamentou o moreno, percorrendo com os olhos os armários.


- Será que o Ron está bem? – a ruiva questionou subitamente, erguendo um pouco a cabeça.


- Porquê? – sobressaltou-se Harry.


- É que você acabou de o encarnar, então… – Harry riu, enquanto continuava a sua demanda por comida.


- Você viu, por acaso, uma fatia de bolo de chocolate que a sua mãe tinha deixado aqui para mim? – desesperou-se, passado uns momentos.


- Ah, eu vi sim – Ginny respondeu calmamente – Eu também estava com fome – virou-se para olhá-lo e Harry, com um estremecimento, viu a boca dela levemente suja de chocolate e o prato, com metade da sua fatia, diante dela.


- Não… - gemeu ele – Você comeu praticamente o bolo inteiro ontem e eu só tinha essa fatia – aproximou-se dela que, com um sorriso traquina, pegou no garfo, partiu uma generosa porção de bolo e, olhando para Harry de forma sensual e divertida, enfiou-o inteiro na boca.


- Eu quero o meu bolo, me dá… – inclinou-se ao lado dela para agarrar o prato, mas ela desviou-o no último momento – Gi…por favor – ela ria cada vez mais, enquanto Harry andava de um lado para o outro tentando agarrar o bolo.


- Eu ainda não terminei, depois eu deixo você ficar com as migalhas – levantou-se da mesa de um salto, escapando a mais uma investida do namorado, e começou a recuar segurando o prato com a guloseima.


- Tudo o que eu quero eu consigo… – ameaçou Harry, caminhando lenta e perigosamente, enquanto ela recuava, sorrindo sempre – Consegui você e conseguirei comer essa fatia de bolo de chocolate.


- A diferença é que eu também quero esse bolo, Harry – a ruiva passou o indicador por um pedaço da cobertura e lambeu displicentemente. O moreno já não tinha bem a certeza daquilo que queria mais, se ela ou o lanche – Eu não te dei luta para me conquistar, mas para ter isso aqui você vai ser que se esforçar um pouquinho mais.


Com uma arrancada, Harry começou a correr seguindo-a pela casa, enquanto ela se esquivava e fugia, carregando sempre o prato com o bolo. Quando chegaram junto às escadas que subiam para os andares superiores, ele conseguiu agarrá-la pela cintura, fazendo com que ela se desequilibrasse e caísse sobre os degraus, segurando o prato acima da cabeça, e que ele caísse junto com ela.


- Parece que eu vou conseguir aquilo que eu quero – ele tinha o corpo contra o dela, numa posição superior, e sorriu de forma vitoriosa.


- Ah, é? – Ginny presenteou-o com um sorriso rasgado e angelical, antes de agarrar com uma mão o pedaço de bolo de chocolate e espalhá-lo contra a boca de Harry. Ele arregalou os olhos, enquanto ela gargalhava – Espero que esteja bom, Harry.


- Você me paga, Ginny Weasley – Harry suspirou e, enquanto ela se contorcia debaixo dele com o riso, ele inclinou-se e colou a boca na dela. Quando se separaram, ambos estavam completamente lambuzados – Suponho que agora ambos teremos chocolate – e voltou a mergulhar na boca da sua noiva que, para ele, saberia sempre a chocolate.


No fundo, quando estava com ela, ele sentia a mesma sensação reconfortante que uma enorme barra do melhor chocolate do Dedos de Mel lhe proporcionava após um confronto com Dementores. Uma sensação de que tudo daria certo, de que a felicidade sempre volta. Junto dela…ele estaria sempre bem.




- Eu ainda não acredito que aceitei isso – lamentava-se Ginny pela milésima vez, enquanto se arrastava pelo Beco Diagonal, seguindo Fleur, Hermione e Molly. Tivera a triste ideia de revelar que aproveitaria aquela tarde para comprar o vestido de noiva e aquelas três tinham feito questão de a acompanhar.


- Ora, certamente você vai apreciar ter alguém para dar uma segunda opinião – assegurou Hermione, com um sorriso confiante.


- Uma segunda, uma terceira, uma quarta… – retorquiu a ruiva, entredentes.


- Eu sou sua mãe, é meu dever acompanhar você nesse momento tão importante da sua vida, o momento em que está se tornando uma mulher adulta… –o rosto de Molly brilhava de emoção. Ginny revirou os olhos.


- E eu sou aquela que perrrcebe mais de moda, Ginny querrida! – Fleur exclamou, olhando para as montras com verdadeira adoração – Eu que vivi na capital da moda!


-…E podia ter ficado lá, Fleuma – Ginny sussurrou entredentes, enquanto Hermione lhe deitava um olhar compreensivo.


- Vamos entrar nessa! Foi aqui que eu comprei o meu vestido de noiva – Molly praticamente arrastou as três garotas para uma lojinha cuja vitrine exibia tecidos cor-de-rosa e enormes rendas.


- Boa tarde – cumprimentou delicadamente a ruiva. A dona da loja, uma senhora de meia-idade com um longo manto rosa e enormes anéis coloridos nos dedos, apressou-se a vir atendê-las.


- Em que posso ajudar, senhora? – dirigiu-se a Molly – Tenho um modelo que ficaria soberbo, em tons de rosa e roxo. Eu própria usei um semelhante no meio quinto casamento…


- Eu me pergunto como ela terá conseguido casar uma vez, quanto mais cinco… – Ginny disse para Hermione, que a presenteou com um olhar entre o divertimento e a censura.


- Não, não, é a minha filha quem vai casar – Molly apontou para Ginny. A dona da loja mirou-a durante uns instantes e depois acenou com a varinha, pequena e atarracada. Vários vestidos voaram dos cabides e levitaram à volta dela.


- Experimente esse, vai ficar lindo! Uma combinação rosa forte e rosa pálido…


- Ficaria realmente óptimo se eu fosse casar com o dono de uma confeitaria e quisesse ser um dos bolos em exposição – Ginny retorquiu secamente, observando o vestido volumoso, cheios de camadas, fitas e rendas.


- E que tal esse aqui? O rosa carmim e dourado ficariam belíssimos em você… – tentou a mulher, para logo retirar a opção ao reparar no olhar mortífero da ruiva.


- Esse aqui até que é bem bonitinho, Arry iria gostar… – Fleur mostrou-lhe um em tons de preto e branco – O brranco e o preto ficam divinamente juntos e as tendências no Semanárrio das Brrruxas…


- Harry apreciaria se eu estivesse indo a um funeral e não ao nosso casamento! – Ginny estava certa de que aquela seria uma tarde muito longa.


- Olha esse, Gi! É bem simples, tem uma aparência clássica e relembra as grandes bruxas da História Mágica – Hermione apontou um longo vestido em tons creme, que se prendia com um cinto enlaçado em forma de corda.


- Seria perfeito se eu estivesse sendo condenada a uma fogueira trouxa, Hermione – exasperou-se a noiva. Definitivamente nenhuma daquelas mulheres tinha um gosto minimamente semelhante ao seu e não seria ali que encontraria o vestido dos seus sonhos.


Continuaram procurando por horas. Mas todos os modelos que lhe eram apresentados, ou que as suas damas-de-companhia insistiam em fazê-la provar, eram demasiado coloridos, demasiado rendados, demasiado exuberantes, demasiado discretos, demasiado diferentes daquilo que sonhara para si. Ora achava que parecia um bombom embrulhado em papel de enfeite, ora se sentia praticamente desnuda de tão inexistente que era o encanto do traje.


Lentamente a tristeza e apreensão iam inundando os seus pensamentos. E se nunca encontrasse um vestido que lhe agradasse? E se Harry odiasse a sua escolha? E se percorresse todas as lojas e nada fosse suficientemente bom?


As suas companheiras procuravam animá-la, mas não perdiam oportunidade para mostrar que já haviam visto dezenas de vestidos e certamente um daqueles teria servido se ela fosse uma pessoa normal.


Olhou para o anel de noivado e fixou a borboleta encastoada. Harry conhecia-a quase tão bem quanto ela própria, fora capaz de escolher o anel perfeito. Simples, invulgar, com um brilho que não feria o olhar mas que se distinguia dos outros. Tinha certeza que se ele estivesse ali a ajudaria a encontrar o vestido ideal, mas infelizmente a tradição não lho permitia.


Enquanto as três ajudantes tagarelavam animadamente, tentando impor a sua opinião sobre aquilo que Ginny realmente precisava, ela reparou numa loja extremamente pequena que nunca antes vira. Uma pequena tabuleta pendia, oscilando ao vento frio de final de tarde, e lia-se Caramelo.


Deixando a companhia para trás, a garota aproximou-se da pequeníssima montra e observou um vestido elegante. “Que nome estranho para uma loja de roupa de cerimónia.”, pensou divertida.


Empurrou a porta e entrou, olhando em volta. Uma jovem, mais ou menos da sua idade, saiu de trás do balcão para a receber. Era baixa e magra, com cabelos negros e olhos de um tom entre o castanho e o amarelo…parecia caramelo.


- Em que posso ajudá-la? – a jovem sorriu brandamente e Ginny sentiu-se, pela primeira vez na tarde, reconfortada e à vontade.


- Eu procuro um vestido de noiva…eu queria algo especial. Discreto mas não tão simples, eu nem sei direito explicar… – Ginny corou levemente, mas a jovem sorriu.


- Parabéns pelo casamento, o Sr.Potter deve estar radiante.


- Mas…como…


- Você é Ginny Weasley, a noiva de Harry Potter. Reconheci-a, andámos em Hogwarts na mesma época.


- Verdade? Não me lembro de você… – Ginny tentava desesperadamente recordar-se daquele rosto.


- Ah, acho que nem nunca nos falámos. Eu era uma Hufflepuff, andava no mesmo ano que você. Sou Amanda Lively – estendeu-lhe a mão de forma educada e Ginny apertou-a – Vamos então encontrar o vestido…penso ter aquilo que procura.


Amanda deixou-a na loja, vendo vários vestidos de noite, todos de tecidos belíssimos e cores elegantes, e foi até aos fundos da loja. Quando regressou trazia um vestido nos braços e Ginny soube, ao olhá-lo, que era sem dúvida aquilo que queria, aquilo que precisava.


Um corpete com atilhos delicados, que no centro tinham botões em forma de pequenas rosas. As mangas eram longas e abertas, fazendo lembrar os vestidos medievais. A saia era longa e tinha um pouco de volume, com uma pequena cauda. O tecido era leve e de um branco puro, parecia feito da própria luz.


Ginny fez um enorme sorriso e foi até ao gabinete de prova para o vestir. Quando saiu e se olhou no grande espelho, constatou com agrado que parecia um misto de guerreira lendária com princesa, cheia de força e suavidade simultaneamente.


Ao levantar os olhos e ver as expressões maravilhadas de Hermione, Fleur e Molly, que a tinham seguido até à loja, soube que encontrara o seu vestido de noiva.


Amanda aproximou-se e sorriu para o espelho, onde Ginny admirava cada porção daquela peça.


- Esse vestido tem um segredo – murmurou para que só a ruiva a ouvisse – Ele se modifica para a pessoa que o deve usar, reflecte os detalhes mais marcantes da sua personalidade. Por isso ele é perfeito em você, porque toda a beleza dele apenas demonstra aquela que é a sua. Harry é um homem sortudo, Ginny. Muito sortudo.






- Desce daí Ron, por favor – Harry pediu desesperado, observando o amigo dançar em cima da mesa do Três Vassouras.


Fred e George tinham aparecido e conduziram-nos ao bar de Hogsmead, onde eram esperados por inúmeros homens. Antigos colegas de Hogwarts, como Neville, Dean e Seamus, membros da Ordem (Moody, Lupin, Kingsley) e colegas do departamento de Aurors. Todos os homens Weasley estavam lá também e a animação reinava mesmo antes da chegada do noivo.


Madame Rosmerta parecia ser a única mulher num raio de quilómetros, observara Harry, enquanto admirava as explosões de fogos de artifício e as faixas com desenhos animados. A mais próxima representava uma figurinha de grandes óculos e cicatriz que subia a um altar, onde era esperado por uma figura com a cabeça em chamas, que lhe colocava uma corda à volta do pescoço enquanto todos batiam palmas e desejavam felicidades. Decididamente, aquele era o espírito dos gémeos.


A bebida corria rápida. A empregada do bar andava de um lado para o outro, distribuindo Mead, Whisky de Fogo e Cerveja de Manteiga. Algumas doses depois, enquanto era cumprimentado efusivamente por toda aquela vaga de testosterona, Harry apercebeu-se de que era o único que preservava uma gota de lucidez.


Ron subira para cima de uma mesa e dançava alegremente ao som de uma música das Weird Sisters, enquanto ele tentava convencê-lo a descer. Moody fazia o seu olho vítreo saltar e ria que nem um doido, voltando a colocá-lo no lugar para repetir a manobra. Lupin, cuja união com Tonks apenas fizera dele um homem mais feliz, ria alegremente na companhia dos outros membros da Ordem, relembrando momentos em que as suas vidas haviam corrido perigo, mas que agora, à distância, pareciam bem engraçados.


Os gémeos tinham os braços dados e rodopiavam e saltavam numa dança estranha, apenas parando quando Neville causou um leve efeito ao transformar-se num grande Canário Amarelo. Era incrível como ele ainda caía naqueles truques.


Dois dos seus colegas de trabalho, Peter e Alfred, discutiam aos berros qualquer coisa sobre uma garota e uma salamandra. Harry achou prudente ir até lá acalmar os ânimos, conseguindo apenas que ambos caíssem no riso e fizessem um brinde a ele, dançando depois de braço dado.


Olhou em volta, procurando Ron, e encontrou-o a falar com Madame Rosmerta. Ao contrário do que acontecia quando eram apenas adolescentes, ela parecia gostar da atenção dele e debruçava-se sobre o balcão, expondo o seu avantajado decote. Suspirou e desejou que Hermione não viesse a aprender, subitamente, Legilemancia, ou Ron estaria em grandes apuros no futuro.


Ron inclinava-se cada vez mais na direcção da mulher, quase encostando o seu nariz na cara dela e Harry, alarmado, decidiu que era a melhor altura para intervir.


- Ron, podemos falar um instante? – pediu urgentemente, enquanto o amigo sorria de forma preguiçosa para a empregada – Agora!


- Você sabe que é como um irmão para mim, não sabe? – Ron respondeu, a voz arrastada – Mas não é tão bonito que eu prefira ficar olhando para você.


- Ron – murmurou urgentemente, ao ouvido do amigo – Hermione vai te matar se souber disso. Quer colocar tudo a perder agora?


- Ela não precisa saber, Harry… – o ruivo fez um gesto enrolado com a mão – É só ficar caladinho, shhhh – e fez um gesto de silêncio, antes de gargalhar.


O moreno pensou seriamente deixar Ron ficar lá e aprender a beber menos da próxima, mas sabia que Hermione também não lhe perdoaria se deixasse o amigo naquela situação sem fazer nada para impedir.


Sabendo que a razão não ia adiantar de nada, recuou para um canto abrigado atrás do balcão e tirou a varinha do bolso, pensando “Stupefy!”. Ouviu o baque de algo caindo e viu Ron profundamente adormecido no chão.


- Harry! – Charlie chamou-o – Vem cá!


Ele foi até ao local onde estavam os Weasley, excepto Ron, todos rodeando um enorme bolo por camadas, parecido a um bolo de casamento. Harry franziu o sobrolho, enquanto todos riam à sua volta. Subitamente, do meio do bolo irrompeu uma mulher jovem, com um manto curtíssimo e um chapéu de feiticeira com grandes lábios vermelhos desenhados.


Ela saltou para o chão, perante o aplauso geral e vários assobios, e aproximou-se de Harry, fazendo um gesto com o dedo para que ele se aproximasse.


Agora estava verdadeiramente em pânico. Mas que raio de ideia era aquela? Olhou para os gémeos.


- Vocês ficam me enchendo com histórias sobre maridos traidores e sobre o que me farão se eu magoar a vossa irmã e agora me trazem…hum… isso, para a festa? – notou, completamente atónito.


- Ora, Harry! É uma Feiticeira do Amor, elas servem para dar um colorido a esse tipo de festinha – discorreu alegremente Fred – Até porque não precisa ser necessariamente para você se divertir….


Ok, isso estavam indo longe demais.


Enquanto George disputava com Fred a companhia da feiticeira, Harry teve um vislumbre da sala e compreendeu que era urgente dar os festejos por terminados. Brigas em algumas mesas, que resultavam em murros fracos e desequilibrados, copos quebrados, danças extravagantes, explosões de luz e cor em todos os cantos. E ele parecia ser o único sóbrio naquela multidão, o único capaz de solucionar aquele caos. Decididamente, se aquilo era a vida de solteiro, ele preferia estar casado.


Lentamente foi encaminhando todos para as suas casas. Bill e Charlie saíram apoiados um no outro e Harry pensou que, provavelmente, acabariam por conseguir chegar a casa em segurança. No final restava apenas ele, Ron ainda adormecido e estatelado no chão, Fred e George que dormitavam com os braços apoiados numa mesa, de tal forma que nem deram conta quando Harry mandou a Feiticeira para casa, cobrindo-a gentilmente com a sua capa.


Antes de sair ela sorrira e dissera que tinha pena que ele fosse tão fiel à sua noiva, mas que ele era um dos poucos homens decentes que encontrara. Ele sorrira de volta, envergonhado, e dedicou-se a carregar Ron para casa. Fred e George bem que podiam (e mereciam) dormir ali.


Suspirou e fez um gesto com a varinha, despertando o amigo. Ergueu-o a custo e pôs um dos braços do ruivo em volta do seu pescoço, apoiando-o com o braço.


- Anda, Ron. Vamos para casa – fez força para começarem a andar, apesar da colaboração diminuta que o ruivo lhe dava.


- Casa? Hermione… – grunhiu.


- Agora você se lembra dela! – resmungou Harry – Ela está na casa dela e nós vamos para A Toca.


- Toca? Nós somos coelhos?! Eu quero saltar, me deixa saltar! – Ron ria estupidamente e Harry ponderou seriamente deixá-lo a saltar pelas ruas de Hogsmead, até que recuperasse algum juízo. Lamentavelmente, a sua amizade não lhe permitia observar um espectáculo assim.


- Claro, Ron. Mas agora não é hora de saltar, é hora de dormir – percebeu, finalmente, como devia ser quando se era pai de alguém muito travesso. Uma espécie de paciência infinita, aliada a uma grande dose de desespero.


Harry procurou concentrar-se para conseguir aparatar com Ron. A sensação que tanto lhe desagradara ao início, e que agora apenas o incomodava ligeiramente, tomou conta de si. Quando abriu os olhos estava no relvado iluminado pelo luar, em frente d’ A Toca.


Procurou no bolso de Ron pela chave de casa, enquanto ele resmungava algo sobre não serem assim tão amigos. Revirou os olhos e encontrou-a. Arrastou o amigo até à porta e abriu-a, dedicando-se agora a convencê-lo a subir as escadas.


Quando finalmente conseguira que ele se deitasse na sua cama, abraçando a almofada e chamando por Hermione, saiu silenciosamente e fechou a porta.


Olhou para a porta ao fundo e pensou se Ginny estaria a dormir e se teria encontrado o vestido de noiva. Ela ia ficar linda de noiva. Ela era linda de qualquer jeito.


Avançou pelo corredor para descer as escadas quando a porta do quarto de Ginny se abriu e uma mão o puxou lá para dentro. Sentiu uma boca explodir na sua, procurando-o com sofreguidão. A sua língua pediu passagem para aqueles lábios e, lentamente, massageou a dela. Ficaram ali, abraçados e saboreando o que sentiam pelo outro na forma de um beijo.


Quando se soltaram, ele viu-a sorrir à luz suave do luar que escorria pela janela aberta.


- Espero que tenha me reconhecido. Odiava pensar que você beijaria assim qualquer uma – murmurou no ouvido dele, enquanto ele colocava as mãos na sua cintura fina e delicada.


- Só você sabe a chocolate, meu amor – sussurrou de volta, enquanto acariciava a nuca dela, sentindo a pele arrepiar-se sob o seu toque.


- E você sabe a caramelo, sabia? – ela passou as mãos pelos cabelos revoltos dele, sorrindo – Como foi a festa?


- Foi…inesquecível, sem dúvida – riu e ela fez uma expressão curiosa – Mas não foi propriamente divertida.


- Talvez a gente possa resolver esse problema, não? – murmurou perigosamente, aproximando-se sensualmente da boca dele – A noite ainda não acabou, afinal… - roçou os lábios no pescoço dele, que não conseguiu evitar um leve gemido.


- É, ainda podemos salvar a noite – e sem esperar resposta, pegou-a ao colo e levou-a até à cama dela, iluminada pela luz das estrelas.


Aquela sim era a forma correcta de se despedir da vida de solteiro: saudando a vida de casado, aquilo que ganharia. Ela nunca o faria perder liberdade, diversão ou magia. Acordar com ela nos seus braços…era ganhar o mundo.


N/A – A cena inicial, do bolo de chocolate, foi inspirada num filme com o Nicholas Cage que eu já nem lembro direito…mas essa cena ficou na minha cabeça, então eu adaptei e utilizei. Ela terá mais uns dois capítulos, se tudo correr como eu planeio. No próximo teremos um presente especial de casamento para o Harry e uma conversa entre ele e a Gi. Espero que tenham gostado desse aqui, aguardo ansiosamente as vossas opiniões :)


Mari =*Evans – Que bom que gostou. Beijo!


Jaline – Agradeço também aqui todo o carinho. Espero que continue gostando, um beijo!


Tonks & Lupin – Actualizada! Ahauhua. Muito obrigada pelos elogios. Beijos!


Paula Potter e Babi Weasley – Pode deixar, vou passar lá agorinha mesmo. Beijoooo :)

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