Terça



Terça-feira

- Eles devem começar os preparativos hoje, e aí você precisa me ajudar a... – Marianne interrompeu o que dizia, pois notou que Lily olhava para a janela. Ainda não era uma boa hora de sua amiga conhecer os vizinhos. Achou melhor interceder. – Lily? Você está prestando atenção em mim ou não?

Não, Lily não estava. De fato ela pensava em algo estranho que tinha acontecido esta manhã. Ao acordar, Lily percebera a presença de duas pessoas, que a observaram da janela do quarto da casa em frente, ou pensara que vira, pois eles logo desapareceram e não havia ninguém lá. Podia ter sido ilusão decorrente daquele estado de estar ainda meio acordado – meio dormindo. Achara melhor não contar nada a Mari.

- Ãh? Sim, claro que estou, você está falando do Festival... – despistou – é que eu vi alguma movimentação ali na casa em frente e isso me distraiu.

As cortinas do quarto de Marianne se fecharam. A garota havia se levantado de um pulo e agora sorria de uma estranha forma, ainda segurando a barra das cortinas em suas costas.

- Não liga pra eles não, eles são um pouco... Agitados demais. Sabe como é, sempre querendo aparecer... Mas então, a arrumação da rua pro Festival é a oportunidade que eu estava esperando, você precisa me ajudar, eu não posso parecer muito atirada, e é justamente aí que você entra.

- Mari, como eu posso te ajudar em uma coisa sobre a qual eu sou totalmente contra?

- Lily, eu não quero casar com ele, nem mesmo namorar, é só uma saída, uma noite, e pronto!

- Eu sei, você quer entrar pro caderninho de anotações de garotas dele – disse a ruiva revirando os olhos.

- Pára de falar como se fosse uma coisa idiota de se fazer! Eu não sou como você, imune ao Sorriso-Potter, eu tenho vontade de sair com ele e vou sair!

- Certo. Se for isso que você quer, eu vou te ajudar.

- Ah! – Marianne se jogou na cama de Lily para abraçar a amiga – Eu sabia que você ia acabar concordando!

- Não exatamente – disse Lily entre risos – Mas diga, o que eu terei de fazer?

- Bom. Várias coisas, mas o mais importante é que depois você e o Sirius fiquem bem longe. Porque você é a tentação do James e o Sirius não sai do meu pé, então vocês dois atrapalhariam, mas antes...

Após discutirem alguns detalhes do mirabolante plano de Marianne, as duas desceram para o almoço. Logo que se sentaram à mesa, Bernard estava reclamando com sua mãe.

- Você é muito novo ainda, meu anjo, não poderia ajudar muito nos preparativos do povoado. – disse gentilmente a Sra. Nawell.

- Ele iria é atrapalhar muito! – disse Marianne, fazendo uma discreta careta pro irmão enquanto se servia.

- Marianne também não tem 17 anos! Também não pode fazer feitiços e vai participar da arrumação! – argumentou ele.

- Eu não, mas Lily tem. – contra-argumentou ela – Além do que, tem muita coisa que eu posso fazer sem magia.

- Crianças, chega dessa discussão. Você ouviu sua mãe, Bernard, mas não fique triste. Você poderá ir ao festival. – finalizou o Sr. Nawell.

xxx

Ao abrir a porta da frente da casa dos Nawell, Lily percebeu que não havia interpretação mais literal das palavras da amiga. Realmente, mais perto impossível. Na varanda da casa em frente, parecendo estar esperando por alguém ainda dentro casa, encontrava-se James Potter. Por um segundo, ambos ficaram paralisados ao se verem. Até que ele quebrou o gelo levando as mãos aos cabelos já despenteados.

- Olá, Evans! Que surpresa mais agradável! – disse ele sorrindo, aquele sorriso que fazia Marianne se desmanchar, mas Lily não conseguia entender o porquê.

- Olá, Potter. – respondeu sem muito entusiasmo, diferente de Marianne, que vinha logo atrás dela e, abrindo um largo sorriso, respondeu ao vizinho com muito ânimo.

Sirius então saiu de dentro da casa dos Potters e cumprimentou as duas.

- Indo ajudar nos preparativos do festival, Mari querida? – perguntou Sirius, com o mesmo sorriso galanteador que James ainda ostentava.

- Sim, nós duas. Vocês também? – ela respondeu, embora direcionada a James.

- Claro! Vamos lá! – disse James, causando uma rápida expressão de dúvida em Sirius, mas que não foi notada pelas garotas.

A verdade é que eles iriam apenas dar uma volta na rua, encontrar a galera e arranjar o que fazer. A Sra. Potter até havia insistido bastante com eles para que ajudassem na arrumação, mas James dissera que era coisa de quem não tinha o que fazer, de gente certinha que acha bonito ajudar os outros. Como ele não tinha pensado antes que Lily Evans se encaixava nesse perfil? Bom, a verdade quanto às garotas era que Marianne achava que os garotos gostariam de chamar a atenção do público feminino ao passearem pela rua ajudando os organizadores, principalmente se precisasse de músculos para tanto e, por isso, concluiu que James estaria lá e se antecipou, indo ajudar também e, quem sabe, conseguisse ficar a sós com ele.

Na praça havia alguns adultos aglomerando materiais para posteriormente distribuí-los entre os voluntários. Os quatro sentaram em bancos relativamente perto, e ficaram a espera. Lily controlava-se para não rir da situação. Não era exatamente um grupo de amigos. Não havia motivos para estarem próximos, ou mesmo se falarem. Ela passava dia após dia em Hogwarts brigando com eles e agora estava ali, sentada num banco ao lado deles, calada, e tentando não rir. Era visível que Sirius era motivado por Marianne, Mari por James, e James por ela, Lily. E ela não podia fazer nada por causa da amiga. Ai, pensava a ruiva, o que não se faz pela amizade? Iria até ter que tirar o Sirius de perto mais tarde... Agora, como diabos faria isso ela não tinha a menor idéia. E era inevitável perguntar-se o que raios estava fazendo ali.

Foi então que uma Sra. começou a falar no meio da praça, atraindo todo o pessoal que estava lá, mesmo quem não era voluntário. Os quatro se aproximaram também, bem em tempo de ouvir que a bruxos menores de idade não era permitido fazer uso de mágica, apenas trabalhos manuais, por isso ela iria separar os voluntários em grupos ou duplas em que ao menos um deles pudesse fazer feitiços. Nesse momento Lily reparou que Sirius se virara para James com uma careta de diversão, fazendo a ruiva entender que Sirius tinha 17 anos, mas James ainda não.

Eles ficaram no fundo propositalmente, para tentar ficar junto. Ou pelo menos essa era a intenção de três deles. Lily começava a se perguntar se não teria sido melhor passar o resto de suas férias em casa. Contudo, a mulher que designava os grupos olhou para Lily e perguntou sua idade.

- Ótimo, então, já que você pode fazer magia, vá com James espalhar essas faixas pelas ruas. – disse ela apontando para uma grande sacola ao seu lado – E Sirius vá com Marianne pregar os cartazes e panfletos – apontou para a sacola ao lado, menor que a primeira.

Lily notou a óbvia troca de olhares dos dois. Tanto ela quanto Marianne tiveram vontade de esganar os dois. Mas se controlaram como duas meninas refinadas fariam. Marianne teve tempo de sussurrar no ouvido de Lily que aquela senhora que estava fazendo a distribuição era a mãe de James, antes que fosse puxada por Sirius pelo braço. Então Lily se viu sozinha com Potter. Revirou os olhos, respirou fundo e tomou coragem.

- Vamos? – perguntou ela.

- Claro, minha ruiva, eu sempre soube que um dia você ia me perguntar isso. – disse ele sorrindo.

- Ficou maluco, Potter? Meu “vamos” não tem nada a ver com o que sua mente maliciosa e surreal possa ter entendido! É simples: vamos fazer logo isso, que quanto mais cedo começarmos, mais cedo terminamos. E vamos nos falar o menos possível, combinado?

- Totalmente discordado. – disse James chegando mais perto dela.

Tão perto que ela gelou. Ele não ia tentar nada, ele não seria louco. Ou seria? Estava próximo demais, passou o braço por ela como se fosse abraçá-la. Mas ela não sentiu a mão dele em suas costas. Ele havia pegado o saco com as faixas que estava atrás dela e voltava a se distanciar.

- Vamos fazer isso direito, e não é porque não posso fazer mágica que você vai fazer tudo sozinha. Eu estou aqui pra trabalhar, você querendo ou não. E na verdade não preciso da sua ajuda. Só da sua companhia. – finalizou piscando o olho para ela.

Os dois começaram a trabalhar, momentaneamente em silêncio, sendo este quebrado por James.

- Agora que estamos sozinhos – começou ele, enquanto pegava a segunda faixa na sacola – você não precisa negar só porque criou a imagem de “Evans não aceita sair com o Potter”, pode falar a verdade, ninguém vai ficar sabendo, você sempre quis sair comigo, não é mesmo?

Lily sentiu-se enojada, indignada, revoltada.

- Mas é muita pretensão mesmo! Acontece que eu não quero, nem nunca quis, sair com você, Potter.

- Hey, calma ruivinha, eu não te convidei pra nada, não precisa recusar o convite inexistente. – disse ele rindo.

- Não me chame de ruivinha! Quantas vezes eu vou ter de te pedir isso, Potter?

- Ah, não posso te chamar de “Lily”, nem de “ruivinha”, nem de “minha ruiva”, vou ter de ficar que nem você, cuspindo sobrenome como se fôssemos inimigos ou desconhecidos?

- Mas somos um pouco de ambos! – descontrolou-se ela.

- Não ruivinha, nós não somos. – começou James, tentando conter o sorriso por ter conseguido fazê-la perder o controle – Já discutimos tantas vezes que já passei muito mais tempo com você do que juntando o tempo que passei com metade das garotas de Hogwarts. E já até nos conhecemos muito bem. Eu sei o que te deixa furiosa e você sabe como me fazer parar de azarar o Seboso; olha pra mim no corredor, mesmo que seja pra ver se eu vou fazer algo que você considera errado.

- Isso não faz de nós amigos. – Lily estava impressionada com a naturalidade com que ele distorcia as coisas, deixando-a até de certa forma confusa.

- Não, nem eu quero ser seu amigo. Mas vai dizer que você não sente minha falta quando eu não estou em uma das vassouras que voam num jogo? Que seu dia não é muito entediante quanto não me pega pra discutir no corredor. Que o salão comunal não tem mais graça quando eu não estou lá?

- Dá onde tira essas loucuras, Potter? – perguntou Lily, tentando controlar tanto a vontade de rir de tamanha alucinação, quanto a revolta – Você só pode ser louco!

Então a faixa fixou-se como um arco na rua, prendendo-se nas casas à direita e à esquerda, magicamente.

- Pronto. Próxima. – disse Lily, que queria, agora mais do que nunca, acabar com aquilo o mais rápido possível.

Mas James não andou atrás dela, fazendo-a parar e olhar para trás.

- O que foi? – perguntou, olhando para um sorridente James.

- Lily, você quer sair comigo?

- Ah, Merlin, me dê paciência! Quantas vezes eu vou ter de dizer “não”, Potter?

- Eu não sei. Mas “sim” você só precisará dizer uma vez.

xxx

- E então? Como foi? Você falou de mim pra ele? E ele? Falou o quê? Ele não te convidou pra sair, né? – perguntava Marianne enquanto as duas se arrumavam pra dormir. As cortinas do quarto fechadas.

- Não, nada a ver ele me convidar aqui, ele deve ter visto logo que não rolou uma aproximação e ficou na dele. – mentiu descaradamente, vendo logo que precisava melhorar – É claro que ele não tirava aquele sorriso idiota da boca e se insinuou um pouco, mas eu sempre dava meus foras, até que ele cansou e trabalhamos em paz, em silêncio. Desculpe, eu não queria conversar com ele, acabei não falando de você. E a parada das duplas, eu sinto muito, eu-

- Não se preocupe – interrompeu Marianne – foi armação deles. Tenho certeza de que, antes, ele falou com a mãe dele que tava afim de uma ruiva amiga minha. Ou o Sirius falou né... Nunca se sabe, não viu a cara deles?

- Vi – concordou Lily.

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