Quarta



Quarta-feira
Na manhã do dia seguinte James acordou, foi ao banheiro lavar o rosto, viu que Sirius ainda dormia, voltou ao seu quarto, olhou pela janela, olhou pro seu armário, visualizando a capa da invisibilidade lá dentro, olhou de novo pra janela, pensou que não poderia fazer aquilo e jogou-se de volta na cama.
Encarou o teto.
Depois seus olhos percorreram novamente o caminho armário-janela.
- Pro diabo com princípios! – disse pra si mesmo, ao mesmo tempo em que levantava de um pulo, em direção ao armário.
Rapidamente pegou a capa e, já invisível, aproximou-se da janela. A cortina de Marianne estava apenas entreaberta, porém na exata medida que possibilitava ver a garota, trajando uma calça justa e um top. Sirius tinha razão, James sempre soube disso, ela era gostosa. Mas não era ela quem James queria ver. Foram alguns minutos de espera, inclusive vendo apenas parte vazia do quarto, até que, finalmente, Lily ficou visível para James. Vestia uma daquelas calças que os trouxas adoram, jeans, e uma blusa simples e escura, não dava pra ver direito àquela distância. Sirius nunca tinha pensado em fazer algum feitiço que aproximasse a visão?
Isso, entretanto, não foi necessário. Marianne apareceu na janela, abrindo largamente as cortinas, e aquele volumoso top parecia ter ficado na cara de James. Ele engoliu seco. Por mais que já tivesse usado sua capa inúmeras vezes, ainda não estava imune a sensação de ser pego em flagrante, mesmo que a pessoa não pudesse vê-lo. E por Merlin, que top era aquele?
xxx
Sem ver nada, ou ninguém, Marianne fechou decepcionada a janela e as cortinas, afinal fora pra isso que tinha ido até a janela, e então se voltou para o quarto e vestiu uma blusa que estava em cima de sua cama para que as duas pudessem descer para o almoço. Começava a achar estranho o fato de sempre olhar para o quarto de James e nunca ver ninguém lá. Bom, talvez ele já tivesse se levantado, talvez estivesse no outro quarto com Sirius. Não importava. Estava feliz porque tinha um plano para aquela tarde. E seria muito fácil para Lily. Tudo o que ela teria de fazer era a coisa que melhor sabia fazer com James: brigar. Discutir com ele durante a separação dos grupos na praça e, assim, os dois não ficariam juntos, pois ninguém obrigaria a trabalhar em união duas pessoas que já chegaram brigando.
Acontece que eles discutiram tanto que quando olharam ao seu redor na pracinha só havia os dois.
- Bom. – disse a Sra. Potter – Só restou vocês. E o que tenho pra vocês é algo meio chato. Preciso que consigam o maior número de galhos de árvores possíveis, e que eles se pareçam com varinhas, pois elas serão penduradas amanhã por todo o local. Mas não se preocupem, vocês não são os únicos responsáveis por isso, já mandei outras pessoas procurarem ao longo do campo de quadribol. Vocês podem ir pra lá também, ou ficar pelas árvores da pracinha mesmo. Agora eu preciso ir. Vejo vocês no final da tarde.
E com um doce sorriso ela deixou os dois sozinhos naquela enorme praça onde corriam apenas algumas crianças. Lily olhou para James desejando que nada daquilo fosse verdade. Que não fosse obrigada a passar outra tarde de trabalho forçado com Potter, pois sentia-se sem forças para discutir mais.
- É minha ruiva, seu destino é ficar comigo. – disse ele, sorrindo e piscando o olho.
‘Nossa’, pensou Lily, ‘ele consegue fazer as duas coisas ao mesmo tempo! Falta só passar a mão no cabelo’. E ele o fez. Logo antes de começar a subir em uma árvore.
- O que você está fazendo? – perguntou Lily aproximando-se da árvore.
- O que parece? – perguntou ele – Vou pegar galhos! Ou você prefere subir você mesma?
- Pra sua informação, eu sei subir em árvores. E em segundo lugar, talvez essa árvore não agüente o peso de você e do seu ego juntos, aí em cima.
- Ah, ruivinha, tenho certeza de que se eu caísse você conjuraria algo pra eu não me machucar.
- Pára de me chamar assim, Potter! – reclamou ela.
Porém ele ignorou seu apelo. Afinal, ela não negara a segunda parte. Quebrou alguns galhos e pulou no chão, ao lado dela.
- Será que a senhorita poderia conjurar uma sacola pelo menos? Onde a gente possa colocar os galhos?
Lily revirou os olhos, mas ele tinha razão, então foi o que fez. Ele jogou os galhos recém colhidos lá dentro e ambos foram para a próxima árvore.
Já na quinta árvore Lily resolveu tentar conversar com ele, por sua amiga.
- Há quanto tempo você e Marianne são vizinhos?
- Desde crianças, eu acho. Eu sempre morei aqui, conheço todo mundo – ele sorriu orgulhoso de si mesmo, enquanto Lily discretamente revirou os olhos – e acho que ela veio pra cá ainda bem pequena. Mas nunca fomos muito amigos. Nos falamos, é claro, mas nada demais. Por quê?
‘Porque ela é super a fim de você e eu quero saber se é recíproco’, pensou Lily.
- Por nada, só curiosidade. – ela disfarçou – Mas... É verdade que o Black é a fim dela?
- Por que você acha isso? – perguntou James, depois de voltar ao chão de um pulo e ficar em frente a Lily – Ela falou alguma coisa?
- Ah, não exatamente, mas... Sei lá, ele é ou não?
- Totalmente! – respondeu James rindo – Mas eu acho que não é com ele que ela gostaria de sair. – complementou com seu sorriso galanteador.
Lily riu da cara dele. Antes de conhecer James Potter não imaginava que fosse possível alguém ter tanto orgulho de si mesmo.
- O que foi? – perguntou ele, sem deixar inteiramente o sorriso de lado.
- Você... É inacreditável – respondeu Lily.
- Obrigado. – o sorriso galanteador voltou com força total ao rosto de James, bem como a mão em seus cabelos.
- Não foi um elogio. – advertiu ela.
- Não, eu sei que você não vai me elogiar assim tão fácil, deve doer muito pra você admitir qualquer coisa boa a meu respeito. Mas eu sei que no fundo você não me odeia tanto assim, muito pelo contrário, sua vida é muito chata quando eu não estou por perto!
Lily o encarou, boquiaberta.
- Você não faz idéia do quanto sua pretensão me irrita!
James sorriu. Adorava quando ela perdia o controle. Adorava aquele brilho nos olhos verdes dela, mesmo que fosse causado por raiva. Gostava da intensidade daquele brilho.
- Pode até ser, – começou ele, mesmo sabendo que o que estava para dizer só iria irritá-la mais ainda – mas vai dizer que você não sente falta disso nas férias? Das nossas discussões, de ter um cara como eu lhe convidando pra sair, de ouvir tamanha pretensão numa simples conversa?
- Como alguém pode sentir falta disso? – perguntou uma atônita Lily.
Sem esperar resposta, ela pegou a sacola e dirigiu-se à próxima árvore. Apontou sua varinha e desferiu o primeiro feitiço que lhe veio à cabeça. Não só galhos foram ao chão, como também todas as folhas da árvore. Notou que James rira e seu sangue ferveu.
- Pode falar a verdade, – o ouviu dizer baixinho bem perto de seu ouvido esquerdo – eu deixo você desconcertada.
A ruiva fechou os olhos, respirou fundo, contendo a raiva, e não respondeu nada. Apenas sacudiu a cabeça para que os galhos e as folhas saíssem de seus cabelos.
xxx
- E então? Como foi hoje? – perguntou uma ansiosa Marianne.
- Péssimo! Como eu odeio cada minuto que passo perto daquele garoto! – desabafou Lily.
- Nossa, foi tão ruim assim?
- Sim! E olha, Mari, eu acho que ele sabe que você é a fim dele. E ele confirmou que o Sirius é “totalmente” – Lily imitou o jeito de falar de James – afim de você.
- Eu sei. Sei que ele sabe e sei que o Sirius baba por mim. Não me importo. Isso ainda vai mudar. Você vai ver. – respondeu uma segura Marianne.
- E o seu dia com Black, como foi?
- Ah, não foi como eu esperava, né? Mas até que o Sirius é divertido. E faz muito bem pro ego ter alguém dando em cima de você o tempo todo, né? – Marianne então percebeu o que havia falado – Exceto por você, que é uma criatura muito estranha e não gosta de ter James Potter rastejando por você dia e noite.
- Ele não rasteja! É orgulhoso demais pra isso. Aliás, o ego dele é tão grande que ele nem se abala com os meus foras, parece que isso só o fortalece... Ele deve ter a idéia doentia de que vai conseguir sair comigo um dia e aí meus foras vão fazer da saída um grande prêmio conquistado.
- Lily! – gritou a outra, tirando a ruiva de suas análises psicológicas sobre James Potter – Acabei de ter uma grande idéia!
- Oh, Merlin... – disse Lily.
- Ele vai desistir de você quando você estiver com outro cara!
- Faz sentido – começou Lily, até se dar conta de um detalhe – Mas não me diga que esse cara vai ter de ser Sirius Black?
- Não é perfeito?
- Claro que não! Você ficou maluca? Tanto faz qual deles, eu os detesto igualmente! É claro que com o Potter é pior, mas o Black é outro presunçoso infantil e irritante!
- Mas é melhor do que aturar o Potter dizendo que no fundo você gosta dele, não é mesmo?
- Ele realmente acha isso, né? Ele sempre fala isso! – comentou Lily – Mas não! Black não! Não posso sair com qualquer outro cara no festival?
- Não! Porque assim o Sirius vai querer sair comigo e o James não vai me convidar por causa disso! – argumentou Marianne – Se o amigo já tiver par, e se você já tiver par, James não vai querer ir sozinho ao festival, então eu vou estar lá esperando por ele!
- Você e todo o povoado! Como pode ter certeza de que ele vai sair com você?
- Não posso ter, Lilyzinha, mas preciso arriscar! Tirar você do caminho é o primeiro passo. E é necessário.
- Então, por que raios você me chamou pra cá? – Lily gritou tão alto que teve certeza de que Potter e Black poderiam ter ouvido se estivessem no quarto em frente.
- Porque você é minha amiga e está acima da minha vontade de sair com o Potter. – respondeu Marianne, percebendo que havia colocado a amiga numa difícil situação.
- É claro – desabou Lily, indo abraçar a outra – Me desculpa.
xxx
- Você ouviu isso? – perguntou James.
Ele e Sirius haviam acabado de chegar em casa e, ainda na varanda, ouviram Lily gritar algo.
- Briga de garotas! – disse Sirius antes de começar a correr em direção ao quarto.
James tentou passar por seus pais sem correr, mas ao chegar nas escadas subiu aos pulos também. Já no quarto, Sirius olhava intrigado para o outro quarto.
- Elas estão se abraçando! – disse para James.
Sirius parou alguns minutos pensativo, encarando aquela cena, até que sua expressão se iluminou e seus olhos se arregalaram.
- Você acha que a Lily pode ser lésbica? Seria uma explicação e tanto pra ela não querer sair contigo!
James não sabia se considerava aquilo um devaneio insano do amigo ou uma possibilidade plausível.
xxx
Insônia é algo que perturba as pessoas que estão com a mente cheia, com vários pensamentos, conexos ou não, passando a toda velocidade. E assim estava Lily naquela noite. Simplesmente não conseguia dormir. Por algum motivo que desconhecia, ou que fingia desconhecer, acabou levantando-se e indo parar na janela. O quarto de James parecia estar vazio. Era possível ver a cama dele, que estava intocada. Era possível também ver a Lua, crescente.
Leves risos chamaram sua atenção para a rua, e Lily pôde ver, não tão longe, um casal vindo em sua direção.
A essa altura Lily já se encontrava sentada no parapeito da janela, era um hábito que adquirira em sua casa, mesmo que lá não houvesse um feitiço antiqueda. Permaneceu observando o divertido casal até perceber que se tratava de James Potter e uma garota qualquer, que conhecia de vista, mas não sabia o nome. Pôde ver quando ele parou em frente a uma casa, apenas para pegar, na verdade furtar, algumas flores do jardim, para logo em seguida as entregar a tal garota, que agradeceu com um demorado beijo.
Lily nem mesmo precisou se esconder, uma vez que eles passaram direto, e continuaram a caminhar pela rua, provavelmente em direção à casa da garota.
Após revirar os olhos e dar de ombros, pensando em como Marianne ainda poderia gostar de um cara como ele, ficou a encarar as estrelas. Ele nem era tão bonito assim! Nem tão inteligente, vivia copiando lição do Remus. Só sabia voar bem em cima de uma vassoura, oras, grande coisa! Sirius Black pelo menos era um cara muito atraente, mas com os mesmos defeitos de Potter, o que os fazia perder qualquer encanto que por ventura tivessem. Lily não conseguia entender, por que as garotas gostavam tanto dele? Sempre com aquele cabelo despenteado horrível, com aqueles óculos redondos no meio da cara, todo aquele ego, presunçoso, infiel, instável, e mesmo assim elas queriam ser apenas mais uma garota com quem ele sairia, sem a menor possibilidade de algo sério ou romântico, apenas mais uma na lista.
Quando sentiu que seus olhos começavam a se cansar, desceu da janela e virou para fechar as cortinas que antes tivera aberto. Entretanto, novos risos lhe chamaram a atenção. Novamente viu James Potter, agora parado, em frente a uma casa, umas três casas depois da dele, com uma garota. Acontece que não era a mesma garota.
Ela realmente não entendia o que Marianne e todas essas garotas tinham visto nele. Uma garota tinha de deixar, no mínimo, seu orgulho, sua honra e sua inteligência de lado para aceitar sair com James Potter.
Indignada, cerrou as cortinas do quarto com toda força.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.