Segunda-A Visinha



Segunda-feira

- Sirius! O que você está fazendo?

- Shiii! O que você tem na cabeça no lugar do cérebro, James? Eu já te disse pra não gritar quando eu estiver na janela! E não ouse ascender as luzes!

- Mas estamos no escuro! E eu quero ascender as luzes do meu quarto!

- Mas assim ela vai nos ver, James, porra, fica quieto!

- Ela quer ser vista!

- Ah, cara, vai...

Revirando os olhos, James ajoelhou-se ao lado do amigo, em frente à janela do seu quarto, e olhou para onde Sirius fitava abobado: a janela da casa que se localizava em frente a sua, a janela de um quarto que ficava exatamente de frente para a sua janela, por onde podia se ver uma garota.

- Caralho, ela é muito gostosa!

James limitou-se a rir do comentário sincero do amigo e parou para observar melhor sua vizinha. Ela era morena, tinha o cabelo bem comprido e cheio, com certos cachos que ela jogava pra cima e pra baixo enquanto dançava. Sim, ela estava dançando, essa era a melhor parte do dia para Sirius, quando, por volta das cinco horas da tarde, ela ligava algum tipo de aparelho de som bem alto e começava a dançar com as janelas e cortinas abertas, bem no meio do quarto. James não gostava de admitir, mas ele também adorava ficar lá vendo sua vizinha dançar, contudo sem babar tanto quanto o amigo. Talvez isso se devesse ao fato dele saber que a qualquer hora poderia ir lá e simplesmente convidá-la para sair que teria um sim garantido. Bastava querer. Talvez fosse isso. Talvez não.

- Ah, cara, vê se não suja meu quarto, tá!

E com esse comentário James levantou-se e deixou o quarto. Não tinha gostado muito do pensamento que havia tido. Não gostava de pensar isso, mas quando pensava, ia para a varanda da casa. Não que conseguisse ficar sozinho ali, não àquela hora da tarde, sempre tinha gente indo e vindo pela rua, falavam com ele, ou o cumprimentavam, ou o sacaneavam, ou jogavam feitiços, ou, ainda, paravam pra conversar. Mas gostava de sentar-se no sofá-balanço que havia na varanda. Era um bom lugar para se pensar pela noite a fora, pela madrugada à dentro, só não àquela hora. E era exatamente por isso que estava lá agora.

- Potter! – James ouviu alguém gritar – Vamos jogar Shuntbumps agora, tá afim?

- Claro! – respondeu já de pé - Vou chamar o Sirius e logo estaremos lá no campo!

Shuntbumps era um jogo muito popular, surgido na Inglaterra, mas atualmente não era jogado oficialmente, sendo apenas um divertimento para os jovens. Consistia em desmontar o maior número de jogadores de suas vassouras, ganhando aquele jogador que permanecesse montado.

James entrou em casa e subiu a escada pulando de dois em dois degraus. Logo que entrou no quarto foi repreendido pelo barulho. Ainda que bufando, ajoelhou-se novamente ao lado do amigo.

- O que ela está fazendo agora? – perguntou, pois notara que não havia mais música.

- Entrou no banheiro, provavelmente pra tomar banho. – disse Sirius com um enorme sorriso safado estampado no rosto – E não levou roupa pra lá.

James sabia o que isso significava: que ela sairia do banheiro enrolada na toalha, parando bem de frente pra eles para fechar as cortinas da janela.

- Anda, pega a capa! – ordenou Sirius.

- Você não pode ficar usando minha capa pra fins libidinosos!

- Palavra difícil, aprendeu aonde? – zoou Sirius.

- Lendo. – respondeu James, revirando os olhos. Em momentos como este ele simplesmente não tinha paciência com Sirius.

- Legal, parabéns, agora você já pode conversar com o Remus. Mas antes disso, será que dá pra pegar a droga da capa de invisibilidade?

- Tá. Mas assim que ela fechar essa cortina vamos pro campo jogar Shuntbumps. – impôs.

- Fechado, Pontas.

Foi precisamente o tempo certo. James abriu seu armário, pegou a capa, retornou ao lado de Sirius e a jogou sobre os dois, e então a garota saiu da porta à direita para o quarto, caminhando lentamente em direção ao armário, que se localizava na outra extremidade do ambiente. Após abrir a porta do armário, ela pareceu se lembrar de que a janela estava aberta. Dirigiu-se até a janela e, antes de fechá-la, parou olhando para o quarto em frente ao seu. O quarto de James. Escuro e vazio, ela o encarou por alguns segundos, enrolada na toalha branca, com seus cabelos pretos molhados de tal forma que os cachos ficavam apenas em leves ondas. Então puxou a cortina.

- Caralho! Foi por pouco! Ainda bem que a gente tava embaixo da capa! – disse Sirius, fechando a cortina do quarto também.

- Um dia desses, ela vai pegar você olhando – censurou James.

- Eu? Ela vai pegar a gente olhando! Ou vai dizer que você só fica aqui pra me fazer companhia? Pra cima de mim? Não ferra, né?

- Que seja! Vamos ou não vamos pro campo jogar?

E com um “vamos” de Sirius, os dois pegaram suas vassouras e desceram aos pulos a escada. A Sra. Potter ainda reclamou deles jogaram algo tão perigoso, assim, durante a noite, mas ouviu um “Sempre usamos feitiços protetores!” de seu filho e os dois saíram em direção ao campo, que se situava no final da rua, perto da pracinha local. E lá ficaram jogando até de madrugada.

xxx

- Lily, meu anjo, tem certeza de que você vai? – perguntou uma triste Sra. Evans.

- Mãe, em uma semana eu já iria pra Hogwarts de qualquer jeito! – respondeu a garota com seu doce sorriso – Além do que é o Festival do Surgimento da Varinha! É um evento no mundo bruxo, eu preciso ir, vai ser bem legal!

- Claro que vai. – disse a Sra. Evans sorrindo em retorno – Divirta-se.

E após abraçar e beijar sua mãe, Lily dirigiu-se até o carro no qual seu pai colocava sua mala. Antes de entrar, contudo, ela ainda gritou adeus para Petúnia, mesmo que esta estivesse dando pulinhos de felicidade no quarto.

Após andarem por meia hora, eles chegaram a uma movimentada loja, onde uma garota de cabelos negros cacheados esperava por Lily. Depois de se abraçarem, e de Lily se despedir do pai, as duas entraram na loja. Nos fundos havia uma porta pela qual entrava e saía bastante gente. Ela dava para uma sala com várias lareiras. A loja funcionava como estação de embarque e desembarque para aquele meio de transporte bruxo. As duas então, através das lareiras, logo estavam na sala de estar da casa dos Nawell.

Lily cumprimentou os pais de Marianne na sala, bem como seu irmãozinho, Bernard, e, antes mesmo que pudesse falar mais alguma coisa, foi puxada pela amiga em direção às escadas, levando sua mala magicamente mais leve consigo.

- Deixe suas coisas aqui e vamos dar uma volta pela rua! – disse uma agitada Marianne.

- Claro. – respondeu sorrindo – Eu vou dormir aqui?

- Tem o quarto de hóspedes, que é em frente, mas eu achei que seria mais divertido se ficássemos juntas.

- Apoiado. – disse Lily – Então, aonde vamos?

Marianne apenas sorriu. Não um sorriso apenas feliz, mas um que escondia algo por trás da diversão, algo sarcástico.

Ao sair na varanda Lily pensou, a princípio, estar num bairro trouxa, pois se deparou com uma casa simples com a fachada pintada de um discreto azul, tinha dois andares, varanda, bem como era a casa de Marianne, conforme reparou em seguida. Assim também eram várias outras casas. Mas, andando pela rua, Lily notou que, apesar de terem a mesma base, tinham acabamentos totalmente diferentes. Formatos de janelas, telhados, portas e varandas bem singulares. O que mais chamou a atenção da ruiva foi que algumas tinham outra casa inteira em cima da casa base.

Ao final da rua havia uma grande praça, porém não foi em direção à praça que sua amiga a levou. Foi para um campo que havia ao lado, uma grande área a céu aberto, cercada de longas árvores que encobriam os jogos bruxos. Elas não foram para as arquibancadas, porém. Marianne, parando entre algumas árvores, olhou Lily profundamente.

- Lilyzinha, querida, não me bata, nem faça escândalo, apenas olhe.

Na direção em que Marianne apontava, Lily viu alguns garotos voando em vassouras. Estranhamente pareciam voar uns em direção aos outros, trombando e derrubando. Assustou-se ao ver um deles caindo, mas logo viu que de sua roupa surgia um pára-quedas e ele chegou facilmente ao chão. Viram vários deles caírem.

- Ele não é lindo? – suspirou Marianne.

Foi então que Lily percebeu que o último garoto que observara cair era James Potter. Seus olhos se arregalaram de tal maneira que Marianne desfez o sorriso imediatamente. Lily respirou fundo, como que tentando se acalmar. Já tinha discutido com aquele garoto o suficiente durante seu sexto ano em Hogwarts, não precisava reencontrá-lo mais cedo logo no seu último ano. Mas talvez nem precisasse ser assim, talvez ele morasse naquele povoado, mas nem se encontrariam muito, ou ainda ele nem morasse por lá, tivesse ido apenas jogar uma partida de... Daquele jogo estranho, e depois voltaria magicamente para sua casa do outro lado do país.

- Era isso que eu precisava te contar. Mas você tem de manter sua promessa de que mesmo depois de eu contar você não irá desistir de ficar aqui comigo pro festival, certo? – perguntou Marianne.

Aquilo lhe soou extremamente mal. Lily sentiu um frio na boca do estômago, um mau pressentimento.

- Oh, Merlin, não diga que ele mora por aqui – pediu ela.

- É meu vizinho.

- Marianne! Por que você não me disse que ele era seu vizinho?

- Porque se eu tivesse dito você não teria vindo! E, na verdade, eu já te disse isso antes, só que você não lembrava, não tinha se ligado nisso quando te convidei pro Festival, mas você já até tinha dito que era ridículo eu ficar “babando” pelo Potter no verão, além de já fazer isso o ano inteiro!

- É verdade. – reconheceu Lily, batendo a mão na testa – Como eu pude esquecer isso?

- Você prometeu que não ia mudar de idéia – disse a amiga num tom de imposição.

- Claro, ou você acha mesmo que eu iria perder um Festival bruxo de dois dias por causa de um cara que eu já aturo o ano inteiro? Uma semana a mais não vai me matar. – respondeu sorrindo – Agora vamos embora antes que ele me veja.

- Uma hora ele vai te ver. E vai ser logo. Você não vai ter como fugir. – Marianne parecia agora se divertir com a situação.

- O quão perto de você ele mora? – perguntou Lily, um tanto quanto receosa.

- Mais perto impossível. – sorriu Marianne.

Lily fechou os olhos, respirando fundo. Não podia acreditar naquilo.

- Mas vamos deixar pra pensar nisso depois. Agora vem, quero te apresentar a umas amigas.

E novamente saiu puxando a ruiva pelo braço.

xxx

Terça-feira

- James, você precisa ver isso. – ouviu uma voz zunir em seu ouvido.

Ainda jogado de bruços na cama, o lençol já no chão, James colocou o travesseiro sobre a cabeça enfiada na cama.

- Sirius, vá pro seu quarto! – disse com a voz abafada.

- Cara, você vai gostar de ver isso. Acredita no teu amigo aqui! – a voz de Sirius soava divertida.

- Eu não acredito que você tá me acordando pra ver a Marianne. Eu não preciso disso, é só sair com ela! – James virou-se e sentou-se, apenas para jogar o travesseiro no outro – Se não for algo realmente bom eu vou te atirar da janela!

- Pode atirar, mas você sabe muito bem que toda janela tem feitiço antiqueda – Sirius devolveu o travesseiro.

James então foi até a janela. A visão embaçada e o sono lhe deixaram confuso. Parecia haver duas garotas no quarto. Ele piscou algumas vezes e forçou a visão. Marianne parecia estar acompanhada de uma amiga... Ruiva... Não podia ser... Olhou para Sirius, que sorria abertamente.

- É ela? – perguntou incrédulo.

- Sim. – respondeu Sirius.

Desajeitamente, James jogou-se sobre a cama para poder alcançar seus óculos sobre a cabeceira e logo estava de volta à janela. Ajeitou os óculos no rosto e olhou novamente para o quarto da casa em frente. Por Merlin, Lily Evans estava a poucos metros dali! Sentada numa cama conversando com Marianne, vestindo um pijama que demonstrava que dormira lá.

- Ali. – apontou Sirius para um canto do quarto onde havia uma grande mala e uma mochila – Pelo visto ela vai ficar lá até irmos pra Hogwarts.

James abriu a boca, mas estava sem palavras. Depois tudo o que conseguiu fazer foi sorrir.

- Há! Desse verão ela não me escapa! – finalmente conseguiu dizer.

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