Uma Felina Irritante



Harry não tinha visto que quem estava puxando suas cobertas era a gata do zelador. Quando sentiu alguém puxando seus cobertores, disse:
__Pare, não quero acordar, hoje é domingo.
Mas, ao invés de receber alguma advertência, ouviu um miado. Estranhou aquele som logo de manhã. Mas, não deu muita importância, pensou que aquele miado fosse de Bichento.
__Bichento, pare. Deixe-me dormir!
O miado ficou mais forte. Harry achou perturbador ouvir aquele som irritante, sucessivas vezes. O garoto dizia para o animal parar, mas este não o obedecia. Harry se cansou de mandar o animal se calar, quando o mesmo não parava com o barulho. Decidiu se levantar para mandar Bichento ao dormitório das meninas. Quando se levantou, tomou um grande susto ao ver madame Nora olhando-o com os olhos de quem estava esperando muito, alguém se decidir se iria sair da cama ou não. Harry ficou imaginando o que dizer para a gata de Filch. Nenhum aluno gostava dela, muito menos ele. Ele ficou pensando o que aquela gata queria. Como ela só procurava os alunos quando seu dono mandava ou quando estava vigiando algo ou alguém, era de se estranhar que ela estivesse esperando algum aluno, até mesmo Harry. O garoto, sem saber o que dizer, falou:
__O que está fazendo aqui? O que você quer? Eu não fiz nada. – falou Harry, um pouco aturdido.
Mas, em resposta só ouviu um miado bem irritante. Harry tentava expulsá-la do dormitório aos berros.
__Vai, vai embora sua gata! Sai daqui agora! Vai, sai! O que está esperando? Anda, vai embora! – porém, a gata nem se mexia. Só ficava parada, fitando o garoto com seus olhos avermelhados. – Sinceramente, é cada uma que acontece comigo!
Krum, ainda um pouco sonolento, perguntou a Harry:
__O que foi Harry? O que está acontecendo? De quem é essa gatinha?
__Madame Nora!? O que ela está fazendo aqui? Passa ela pra fora Harry. – dizia Rony, que tinha acabado de acordar. Seus cabelos, que agora estavam quase tão grandes e rebeldes quanto os de Harry, estavam em pé e todo embaraçado. Rony, também começou a gritar. – Anda sua gata nojenta, sai daqui! Vai, xô!
Uns minutinhos depois, todos do dormitório estavam tentando expulsar a gata de Filch do lugar. Mas, ela não movia nem um músculo de seu corpo. Rony arriscou um chute bem forte que, por sorte, não a acertou. Todos os meninos foram se cansando ao ver que madame Nora só os olhava e ficava parada. Uma a um foram desistindo, primeiro Simas, depois Dino e os outros foram saindo às pressas. Krum, que não tinha nada contra a gata, também saiu, mas sem pressa alguma. Rony, que tinha acabado de trocar seu pijama, foi o penúltimo a sair. Queria arrumar seu cabelo, para ver se conseguia abaixá-lo. Madame Nora ainda não saíra do dormitório, parecia estar esperando Harry. O garoto trocou de roupa e começou a descer as escadas. Ela o acompanhou. Ele estranhou que a gata o estivesse acompanhando, ela só acompanhava Filch. Quando Harry chegou à sala, se sentou. Madame Nora o imitou, sentando-se no carpete. Ela o olhava com uns olhos bem estranhos. A gata parecia assustadora fitando Harry com seu olhar vermelho. O garoto não se importou, desde que ela não fizesse nada com ele, tudo bem. Harry se sentou na poltrona e esperou Hermione e Gina descerem. Passaram-se uns segundos e as duas apareceram. Elas estavam correndo, e um pouco apressadas. Gina, puxando Harry pelos braços, disse:
__Vamos! Antes que a Fleuma acorde e descubra que não estamos mais no dormitório!
Harry, Gina e Hermione saíram correndo e madame Nora, não ficou parada, foi atrás deles três. Quando se sentaram no salão principal para tomar café, madame Nora os acompanhou e só parou para se sentar quando os três começaram a comer. Hermione perguntou por curiosidade:
__O que ela está fazendo aqui, Harry?
__Madame Nora?
__É. – disse a garota balançando a cabeça.
__Sei lá. – respondeu ele sem interesse no assunto.
__Eu hein. Ela nunca fez isso. – falou Gina.
__Quem sabe agora decidiu ficar maluca igual ao dono? – disse Rony, que acabara de aparecer. A tentativa de abaixar seu cabelo não surtiu muito efeito. Na verdade, seu cabelo estava do mesmo jeito, grande e atrapalhado. Os cabelos de Harry tinham certa elegância em sua rebeldia, mas os de Rony, definitivamente, não possuíam esse ou qualquer outro charme.
Os três começaram a rir de tamanha tolice. Mas suspenderam o riso ao verem Filch parado do lado de Gina. Ele, com sua voz asmática, disse em tom raivoso:
__O que vocês estão fazendo com minha gatinha?
__Nada. – falou Hermione.
__Não mintam pra mim!
__A gente não está fazendo nada com ela, ela é quem está nos importunando. – disse Rony.
__Madame Nora não importuna ninguém. Vocês, alunos nojentos e medíocres, que fazem maldades com minha gatinha.
__Ah, e você acha certo, uma felina metida à esperta ficar nos vigiando, sendo que não estamos fazendo nada? Ah me poupe e depois nós quem somos nojentos e medíocres. – falou Rony, já meio aborrecido.
__Veja bem, Sr. Wesley, se o senhor não se lembra, eu tenho direito de aplicar detenções nos alunos, então se não quiser passar duas semanas ajudando os elfos de Hogwarts nas cozinhas, cale a boca!
__Mas, o que está acontecendo aqui Sr. Filch? – perguntou a professora McGonagall, aparecendo de repente, atrás do zelador.
__Nada, professora. Nada. – disse Filch pegando madame Nora nos braços e a levando para sua sala.
__O que aconteceu? – perguntou McGonagall novamente, mas agora se dirigindo aos quatro sentados à mesa.
__Rony e Filch tiveram uma pequena discussão por causa da madame Nora, professora. – explicou Hermione.
__Ah, Filch e sua gata. Vocês não imaginam quantos problemas já trouxeram para Hogwarts. Poderíamos trancá-la em uma sala ou só deixá-la sair durante a noite para patrulhar o castelo. Mas, não sei o motivo ao certo, Dumbledore sempre gostou dela e pediu que nunca a tirássemos do castelo. Tentem ficar o mais longe possível da gata de Filch, se ele os virem apenas conversando com ela, virará uma fera e pode acabar lhes dando alguma detenção. E tenham um bom dia.
Quando os três voltaram a comer, ouviram um barulho parecido com o de abelhas. Demoraram um pouco para perceberem que aquele som vinha do quadro de avisos gerais. Eles se levantaram e foram ver o que havia mudado em Hogwarts. Quando chegaram lá, ouviram muitos alunos suspirando, não um suspiro de alívio, mas um suspiro de reprovação. Harry ficou curioso em saber o que tinha no quadro de avisos que os alunos não tinham gostado. Quando viu, entendeu o porquê da reprovação dos alunos. No quadro de avisos estava escrito: “A partir do dia 09/08, todos os alunos terão aula nos dias de domingo, um domingo sim, outro domingo não. E assim se seguirá até o fim do ano letivo. Essas aulas serão contadas no currículo, como aulas extras. Atenciosamente: Minerva McGonagall. Diretora e Professora da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.” O dia em que os alunos teriam aulas era exatamente naquele domingo. Abaixo do aviso, os horários de aulas de todos os alunos, estavam visíveis. Harry, Rony, Hermione e Krum teriam aula de herbologia, poções, defesa contra as artes das trevas e transfiguração. Harry, que planejara passar o dia inteiro com Gina, ficara desapontado. Eles tinham que ter avisado isso antes, pensava Harry. Depois do café, Harry e Hermione decidiram procurar Krum. Rony não quis ir, preferiu ficar esperando-os no salão principal. Quando Harry e Hermione estavam quase chegando à sala comunal encontraram Krum, um pouco perdido.
__Ufa, até que enfim vocês me encontraram. Por favor, Harry, quando você e o Rony forem sair da sala comunal, me chamem ou me avisem onde vocês estarão e como chegar até o lugar. Vocês fazem isso por mim?
__Sim. – falou Harry.
__Mas, agora vamos para a aula se não quisermos chegar atrasados. – disse Hermione.
__Mas, hoje é domingo. Não tem aula. Ou tem? – disse Krum, um pouco confuso.
__É que a partir de hoje, iremos ter aula um domingo sim, outro domingo não. – explicou Hermione.
__Então, vamos. Qual será nossa primeira aula? - perguntou Krum.
__Herbologia. – respondeu Hermione.
Os três desceram as escadas às pressas. Passaram pelo salão principal para chamarem Rony e depois foram para as estufas que tinham sido transferidas para uma sala bem grande, ampliada magicamente, aonde cabiam todas as estufas de herbologia. Naquela aula eles iriam aprender sobre as espécies de salgueiros lutadores. Os quatro estavam dispostos de modo que Krum e Rony ficaram perto de Hermione. A profa. Sprout estava falando com um tom muito diferente do que Harry estava costumado a ouvir. Sua voz estava com um ar extremamente monótono. Harry estava com a cabeça baixa ouvindo, somente ouvindo, prestando atenção não, a explicação da profª. Sprout. Foi quando ele viu um relapso de um animal baixo e meio amarronzado. O garoto achou que fosse alguma terra viva e por isso nem ligou. Mas, quando ouviu um miado alto e irritante, percebeu que, quem estava ali, era a gata de Filch. Ela ficou rondando o garoto a aula inteira. Resultando assim em um dever, que Harry não sabia como iria fazer, pois perdera o tempo inteiro da aula olhando madame Nora, sobre os tipos de salgueiros lutadores, qual a maneira de tentar manuseia-los, quanto eles medem, onde se encontram, qual o perigo de se aproximar de um e os nomes dos bruxos que já conseguiram derrotar algum salgueiro, isso tudo com algumas anotações de rodapé fundamentais para a compreensão do dever. Nas outras aulas não foi diferente. Madame Nora estava perseguindo Harry para onde quer que ele fosse. Na aula de poções, a poção de Harry tinha ficado preta, quando deveria ter ficado verde grama claro. Na aula de defesa contra as artes das trevas, Harry não tinha conjurado um feitiço escudo e por isso foi petrificado por Rony e atingido, ao mesmo tempo, por um feitiço das pernas bambas de onde não sabia nem de onde tinha saído. Porém, a aula de transfiguração foi a pior. Os alunos estavam prestes a aprenderem a se transfigurarem. No ano passado tinham começado pelas sobrancelhas e iriam começar a transfigurar as orelhas, mas com os imprevistos ocorridos... Os alunos tinham que transfigurar as próprias orelhas. Fazerem com que elas mudassem de cor e fizessem crescer cabelos no ouvido da cor que a orelha estivesse. Cada pessoa recebia a cor que sua orelha deveria ficar. Hermione recebeu a cor roxa, Rony recebeu a cor amarela, Krum recebeu a cor verde clara e Harry recebeu a cor azul claro. Hermione foi perfeita em sua transformação. Sua orelha ficou roxa e os cabelos do ouvido também ficaram. Rony fez sua orelha ficar laranja e os cabelos ficarem amarelos. Krum fez sua orelha ficar verde clara e os cabelos também, porém com dois ou três fios verdes escuros e Harry fez sua orelha ficar dourada com os cabelos pratas. A professora McGonagall começou a falar para a turma:
__Vocês precisam se concentrar mais quando forem fazer a transformação. Somente a srta. Granger conseguiu realizar a tarefa sem nenhum dano. Por isso, para dever eu quero o modo como se deve segurar a varinha na hora de realizar o feitiço, a pronúncia das sílabas, o movimento... – e disse várias outras coisas.
Harry não se surpreendeu com o tanto de deveres que já tinham. Sabia que isso iria piorar por causa dos NIEM’s. As horas se passaram e a hora do jantar chegou, os alunos tinham que estar em suas salas comunais no máximo, até as sete horas, mas podiam descer para o salão principal as oito horas para jantarem e depois tinham que subir novamente para suas salas comunais. Madame Nora tinha parado de perseguir Harry quando o garoto estava quase entrando na sala comunal da Grinfinória. Mas, quando o garoto saiu da sala comunal sozinho para jantar, ele encontrou madame Nora do lado de fora do quadro esperando-o sair. Quando ele começou a andar ela começou acompanhá-lo outra vez. Harry já não estava gostando mais daquela história da gata de Filch ficar perseguindo-o. Até ele mesmo achou que estava louco ao perguntar para madame Nora:
__O que você quer?
Mas, ao invés de receber um miado irritante como retorno, como tinha recebido da primeira vez que perguntou isso a ela, a gata simplesmente começou a descer as escadas. Harry, sem saber o que fazer, perguntou:
__É para eu te seguir?
E em resposta recebeu um olhar de quem pensa: “Óbvio, não é seu palerma!” e o menino começou descer as escadas também. Madame Nora não parava mais de andar. Harry, que estava cansado, indagou:
__Já estamos chegando ou ainda vai demorar muito?
A gata deu um miado longo e alto como resposta. Então, Harry disse:
__Olha aqui, se nós não estivermos quase chegando eu vou embora. Estou morrendo de fome e...
De repente Harry se deu conta para onde madame Nora o estava levando. Para a sala do zelador Argo Filch.
__Ah, mas aí eu não entro mesmo! Para que você me trouxe aqui? Pro Filch aplicar em mim a detenção que ele ia aplicar no Rony? Tô fora, sua gata maluca! Quem te mandou fazer isso? Claro, o Filch. Quem mais poderia ser? Ninguém, ora essa.
Quando Harry foi se virar para ir embora deu de cara com o dono rabugento daquela gata doida. Filch, com a cara mais feia do que era de costume, perguntou:
__O que você está fazendo aqui, seu moleque encrenqueiro e abusado? O que você quer aqui? O que você quer fazer com a minha gatinha linda? Ande, explique-se!
__Eu não quis, não quero e não vou querer nada com a sua gata. Foi ela quem me trouxe aqui. Ela andou me perseguindo o dia inteiro. Ela está querendo alguma coisa comigo. Se alguém te deve explicações aqui, é ela!
__Agora você joga a culpa em cima dela só por que ela não sabe falar, não é? Mas você é muito atrevido mesmo garoto. Você acha que eu não posso fazer nada com você, só porque sou um aborto. Mas, está muitíssimo enganado.
Filch enfiou a mão no bolso da calça pegou uma varinha longa, fina e cheia de ramos, apontou-a para Harry e disse:
__Expelliarmus!
No mesmo momento Harry pegou a sua e disse mais forte e mais confiante do que Filch:
__Protego!
O feitiço de Filch voou longe, acertando a porta de sua sala.
__Ah, seu moleque impertinente. Um dia você ainda me paga por me fazer pagar esse vexame. Você ainda me paga! – disse Filch, correndo para sua sala. – Venha madame Nora, vamos! – madame Nora deu um miado para Harry. Um miado que mais parecia um aviso de que ainda um dia ele iria descobrir o que ela tanto queria lhe mostrar. Harry, um pouco aborrecido com o episódio, foi para o salão principal, se bem que sua fome já tinha se extraviada há muito tempo.

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