Capitulo 13 - parte 3

Capitulo 13 - parte 3



CAPÍTULO 13 – PARTE 3


Muito, muito tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Vigésimo segundo dia


Observações Totais: 147


Eu fico pensando naquelas cartas e eu não sei por que.


Por que isso importa? Então ele iria me escrever algumas cartas e tudo mais? Então eu fui tão horrível com ele que ele estava com medo de escrever pra mim? Quem se importa? Não é como se fosse importante. Porque não é.


Mas…mas porque parece que é importante?


Eu não posso deixar isso me afetar. A questão do problema é que James gostava de mim. Ele gostava, não gosta mais, mas isso não significa que eu posso simplesmente ignorar e esquecer isso.


Apesar de eu querer.


Mas eu não sei por que.


E...


É só que...


Ah, Merlin, eu não sei. Eu não sei de mais nada.


Eu não preciso disso agora.




Muito, muito tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Vigésimo segundo dia


Observações Totais: 147


Talvez eu…


Não.


Não.


Deixa pra lá.




Muito, muito tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Vigésimo segundo dia


Observações Totais: 147


Amos.


... Amos.


...


Tudo bem.


Eu precisava disso.


Estou bem agora.




Muito, muito, muito mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Vigésimo segundo dia


Observações Totais: 147


Querida mamãe,


Oi, sou eu. Me desculpe por não ter escrito por tanto tempo, mas as coisas têm sido um tanto agitadas aqui em Hogwarts e eu realmente não tive tempo. Mas tudo está bem agora e eu espero que aí também esteja.


Na verdade, eu estou escrevendo por uma razão específica. Você se lembra daqueles bombons que você me mandou no ínicio do ano letivo? Os restos do piquenique da tia Marta, aqueles que tio Davy não conseguiu estragar com vodka? Você por acaso não fez mais algum, fez? Porque, sabe, meu amigo James – o monitor te contei sobre ele, não contei? – está tendo uma semana muito estressada e ele insiste que a única coisa que vai deixá-lo melhor são os seus bombons. Ele está fissurado por eles. Mas você conhece os garotos e seus estômagos e tudo mais. Então, você pode me mandar um pouco? Seria ótimo.


Te amo e estou com saudades,


Lily





Quarta-feira, 8 de outubro, café da manhã no Salão Principal


Lily Observadora: Vigésimo terceiro dia


Observações Totais: 147


Fui até o escritório de McGonagall esta amanhã para lhe dizer dos meus planos para a aula particular de hoje à noite. Ela me assegurou que falaria com o Sr. Maurice John para me encontrar na biblioteca às sete horas. E apesar de saber que James vai estar lá para identificar o meu corpo depois que o Sr. Maurice John acabar comigo, eu não posso dizer que estou conformada com a idéia.


Quero dizer, eu vou estar morta.


Droga.


Tempo restante: dez horas até a morte.





Mais tarde, aula dupla de Feitiços


Lily Observadora: Vigésimo terceiro dia


Observações Totais: 148


Vocês acham que tem algum tipo de significado simbólico e sobrenatural por trás do fato de que minhas penas vivem se quebrando?


Sério. Tem que ser um sinal. Tem que ser. Porque não foi só uma, ou duas, ou três penas que se quebraram sem nenhuma explicação naturalmente razoável. Foram quatro. QUATRO PENAS. E, sinceramente, quem anda por aí com mais de quatro penas? Eu certamente que não. Mas talvez seja melhor assim, já que eu acho que as outras que eu poderia ter trazido comigo não poderiam sobreviver por muito tempo de qualquer jeito. Até o final do dia, eu vou acabar com todo o meu estoque.


Hunf. Que sorte.


Então, agora eu sou forçada a pegar emprestada uma das penas de Grace – o que, por sinal, é bastante nojento, já que Grace morde constantemente a ponta de suas penas como se elas fossem penas de açúcar. Mas Emma não tinha nenhuma extra e aí eu não tive escolha. E a pena de Grace é horrível. Eu não sei como ela consegue escrever com elas todos os dias. Provavelmente porque ela não conhece nenhuma melhor.


É um sinal. Eu não sei o que significa, mas é um sinal. Alguma coisa horrível, sem dúvida, já que eu conheço minha vida e meu carma. Eu provavelmente vou estar morta até o final do dia.


Mas, eu já sabia disso, não sabia?


Cadê a droga do livro de Adivinhação quando a gente precisa dele?


Tempo restante: oito horas para a morte.





Mais tarde, ainda na aula dupla de Feitiços


Lily Observadora: Vigésimo terceiro dia


Observações totais: 148


Só porque o livro idiota não fala nada sobre penas quebradas, não significa que isso não é significante.


Eu vou ter que perguntar pra Freeman durante a aula de Adivinhação. Mesmo com toda a sua idade, a sua segunda-visão deve perceber algum tipo de catástrofe como essa. Tenho certeza.


Principalmente depois de eu ter acabado de quebrar a pena da Grace também.


Droga.


Tempo restante: Sete horas e quarenta e cinco minutos até a morte.





Ainda mais tarde, Adivinhação


Lily Observadora: Vigésimo terceiro dia


Observações totais 148:


De alguma forma, eu não acho que o fato de eu estar constantemente quebrando as minhas penas tenha alguma coisa a ver com o pagamento de uma dívida ou com a fazenda de hipogrifos que eu vou fundar quando eu for mais velha.


Realmente é necessário despedir essa velha. Ela já está ficando senil.


Francamente, eu nem mesmo gosto de hipogrifos.


Hunf.


Tempo restante: seis horas até a morte.





Ainda mais tarde, História da Magia


Lily Observadora: Vigésimo terceiro dia


Observações Totais: 149


A última vontade e o testamento da Senhorita Lily Christine Evans: Devido a sua morte iminente


8 de outubro de 1977


Eu, Lily Christine Evans, residente de Surrey, Inglaterra, com plena consciência, venho por meio deste, publicar e declarar e aprovar a divisão apropriada dos meus bens, propriedades e últimas mensagens abaixo como sendo minha última vontade e testamento.


Para minha mãe, meu pai e minha irmã horrível: Eu deixo todo o meu patrimônio monetário, que é até bastante, já que eu sou uma pessoa um tanto econômica. Tal patrimônio monetário provavelmente teria se reduzido significantemente se eu tivesse tido o tempo para substituir as milhares de penas destruídas, que são resultado da minha terrível vida no dia de hoje (8 de outubro de 1977), mas eu infelizmente não vivi o suficiente para comprar novos estoques. Para mamãe e papai: Vocês foram ótimos pais. Obrigada por não me doarem para a adoção quando vocês perceberam que eu era completamente inútil e governada por um carma ruim. Eu amei muito vocês. Para Pet: Talvez você consiga encontrar no seu coração vontade para colocar flores no meu túmulo de tempos em tempos. Eu espero que você consiga se esquecer do seu ódio por mim e aprender a deixar as coisas do passado, no passado. Quero dizer, eu estou morta, afinal de contas. Não é como se eu pudesse fazer mais alguma coisa para te irritar agora.


Para Tia Marta e Tio Davy: Como vocês são os meus únicos outros parentes vivos, eu lhes deixo meu quarto em minha casa, com a esperança de que quando vocês se sentirem desesperadamente sozinhos sem mim, vocês possam ficar lá e se sentirem bem de novo. Para tia Marta: eu te perdôo por gritar comigo toda a hora para eu sair dos seus sofás. Você foi uma boa tia e eu te amei muito. Para tio Davy: Eu era a única que te entendia. Para você, eu também deixo aquela garrafa de rum que você me deu no meu aniversário de 16 anos e disse para eu esconder debaixo da minha cama e apreciá-lo. Eu nunca realmente o apreciei, mas eu sei que você vai.


Para minha amiga louca e genial, Grace Reynolds: Eu lhe deixo todas as minhas calças e/ou saias e/ou roupas da minha região baixa. Te deixaria também as roupas da região de cima, mas vamos ser francas, Grace, seus peitos são bem maiores que os meus e nenhuma das minhas blusas te serviria. Eu também lhe deixo a minha fiel coruja, Winnie, e espero que você tome conta dela como se fosse sua. Apenas não tente dar a ela aqueles doces horríveis que você comprou no Beco Diagonal. Ela não gosta deles. Além disso, eu também lhe deixo todos os meus rabiscos inúteis. Eu sabia que você gostava deles. Por favor, os envie para a Galeria Nacional e deixe-os expostos em minha homenagem. Para Grace: Você foi a melhor amiga que uma garota poderia querer. Obrigada por me aturar por tanto tempo. Eu sei que foi bem difícil algumas vezes.


Para minha amiga teimosa e genial, Emmeline Vance: Eu lhe deixo todas as minha blusas e/ou casacos e/ou roupas da região de cima, porque seus peitos são bem mais próximos do tamanho do meu do que os de Grace e, portanto, elas irão te servir. Também te deixo meus livros e anotações, o que eu tenho certeza que você vai achar muito mais útil do que Grace, porque Grace só lê coisas que incluam cenas picantes e eu não tenho nenhum livro desse tipo. Eu também lhe deixo todos os meus discos, que estão não minha casa no momento, que eu sei que você gostava. Apenas não os quebre. Eles eram importantes pra mim. Para Emma: De novo, a melhor amiga que uma garota poderia querer. Nós somos idiotas às vezes, mas tudo bem. E, por favor, a fim de cumprir com o último desejo de sua melhor amiga, volte com o Mac. Ele te ama muito e quero sentir como se minha intromissão fosse bem sucedida, mesmo na morte.


Para o amor da minha vida, o marido-que-nunca-foi, Amos Diggory: para você, Amos, eu lhe deixo meu coração – esfarrapado e quebrado porque não pôde passar toda a eternidade com você. Também lhe deixo minhas anotações de Runas Antigas, que eu acho que poderia usar, e aquele livro de Quadribol que Grace me deu no natal alguns anos atrás. Eu nunca o li, mas tenho certeza que é bom e que você vai gostar. Para Amos: Eu te amei muito. Eu sinto muito por não ter conseguido viver tempo o bastante para ir ao nosso encontro. Tenho certeza que teria sido maravilhoso. Tenho certeza que ninguém te culpará por sofrer, usar preto e lamentar pela perda de seu amor por alguns...anos. E eu te dou, claro, minha permissão para se apaixonar de novo e se casar depois do período de luto ter passado. Eu diria uns 20 anos mais ou menos. (Também lhe peço que não leia a segunda parte do parágrafo de James Potter abaixo. Eu estou morta e isso é necessário).


Para meu amigo, James Potter: Para você eu te deixo os bombons que minha mãe, sem dúvida, vai mandar, apesar de que eu não vou receber porque eu estou morta. Eu espero que, quando você comê-los, que você pense em mim. E não se sinta culpado por não chegar em mim a tempo de me salvar. Não é sua culpa. Para James: Eu acho que só na morte é justo deixar você saber que ontem à noite (7 de outubro de 1977), eu não sabia o que dizer quando você disse aquela coisa de saber meu endereço e me escrever cartas. Provavelmente porque foi muito fofo, mas também porque você me fez sentir horrível por ter te tratado como lixo. Eu pensei sobre isso, enquanto eu tentava dormir e iria ignorar isso até que eu percebi que eu vou estar morta em poucas horas e você tem o direito de saber. E queria que você soubesse...bem, quero dizer...se você, por conta do destino, ainda gostar de mim agora, agora, neste exato momento, e se eu não estivesse assim tão apaixonada por Amos Diggory...eu...


Eu provavelmente teria respondido suas cartas.


Se você entende o que eu estou falando.


Para meu aluno e assassino, Maurice John Rosier: Muito obrigada. Para você. Eu te deixo minhas anotações de Feitiços, porque nós nem sequer chegamos na parte de ensinar e aprender, chegamos?


Tempo restante: quatro horas até a morte.





Ainda mais tarde, jantar no Salão Principal


Lily Observadora: Vigésimo terceiro dia


Observações totais: 149


Eu estou bem deprimida com a vida neste momento, já que agora eu tenho um testamento sólido e tudo mais e se isso não foi um sinal de que o final está próximo, eu não tenho certeza então do que é. Eu teria que ter testemunhas para assiná-lo, mas eu não posso deixar que alguém leia, então isso vai ter que ser adiado até que eu esteja morta. Acho que já está dentro da lei dessa forma. Eu acho.


Eu também não estou pronta para discutir o que está escrito lá, então eu vou proceder como a Lily Evans de sempre e evitar e ignorar.


Eu tenho um peixão pra fritar agora.


Tempo restante: Duas horas até a morte.





Ainda mais tarde, Salão Comunal


Lily Observadora: Vigésimo terceiro dia


Observações Totais: 151


Observação # 150) Se eu morrer de derrame cerebral antes da aula particular, Sr. Maurice John não me matará. Eu já estarei morta.


Observação # 151) É muito triste quando suas únicas opções são suicídio por meio de um derrame cerebral ou assassinato.


Tempo restante: Uma hora até a morte (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)





Ainda mais tarde, Salão Comunal


Lily Observadora: Vigésimo Terceiro dia


Observações Totais: 151


Aqui vamos nós.


Ugh.


Eu definitivamente acho que vou vomitar.


Tempo restante: ZERO HORAS até a morte (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)





Muito mais tarde, biblioteca


Lily Observadora: Vigésimo terceiro dia


Observações Totais: 151


Se lembra quando eu disse que as pessoas realmente tinham que aprender a mentir pra mim? Se lembra?


Eu quis dizer mentiras inofensivas.


Sério. Foi isso o que eu quis dizer. Como aquelas que servem para me fazer sentir melhor em relação a minha vida horrível, sabe? Umas que me façam pensar, “Hum, talvez não seja tão ruim assim, né?”. Esse tipo de coisa.


Foi isso que eu quis dizer.


Eu não quis dizer que as pessoas precisavam mentir para mim sobre tudo. Para fazer as coisas ficarem piores. Qual o objetivo desse tipo de mentira, eu lhe pergunto? Pra que ela serve? Por que alguém se importaria em contar esse tipo de mentira?


Eu estou começando a achar que as pessoas gostam de me ver sofrer.


Tem que ser isso.


Hunf.


Eu fui até a biblioteca como eu imagino que Maria Antonieta foi até o Centro da Revolução, antes de ter sua cabeça arrancada e todo mundo comemorar. Ao caminhar, eu pensei como era muito injusta essa minha vida. Quero dizer, não era inesperado, já que todo mundo sabe como é meu carma, mas mesmo assim, ainda parecia completamente injusto. Principalmente porque eu tenho outras coisas com que me preocupar (a maioria relacionada com um certo alguém que está sentado bem na minha frente agora, falando alguma coisa sobre Transfiguração, mas eu não tenho certeza porque eu não estou realmente prestando atenção. Mas considerando que eu ainda não estou pronta para lidar com esse alguém e a loucura que está se recontorcendo dentro de mim relacionada a ele, vamos prosseguir).


Quando eu cheguei na biblioteca e me sentei em uma mesa bem na frente (onde muitas pessoas, eu me assegurei, poderiam ter uma perfeita vista de mim), era bastante aparente que eu tinha alcançado um novo nível de patético, sentada ali na minha cadeira, suando como um atleta de triatlon, entrando em pânico como uma mulher em um prédio em chamas, incomodada como uma criança em uma missa de domingo, rezando como uma pessoa em seu leito de morte, e tudo por causa de um garotinho de treze anos de idade – na verdade, um garotinho potencialmente perigoso de treze anos de idade, mas mesmo assim.


Cadê a minha coragem grifinória?


E apesar de que isso provavelmente teria arruinado o meu estado mental já extremamente delicado em relação a ele, eu queria ter pedido que James chegasse um pouquinho mais cedo do que o usual, quando eu falei com ele antes.


Tipo, uma hora antes.


Ou algo assim.


Mas o que tiver de ser, será, e não tinha mais nada que eu pudesse fazer em relação a isso.


Adeus, mundo cruel. Você foi bom comigo.


Às vezes.


Eu não sei quanto tempo eu fiquei lá esperando pela minha morte, mas não deve ter sido muito tempo, apesar de ter parecido que foram séculos. No entanto, eu estava tão perdida nos meus próprios ataques de pânico diante daquela situação difícil, que eu quase não notei quando alguém chegou por trás de mim. Na verdade, eu duvido que eu teria notado se ele não tivesse começado a tossir excessivamente ou se ele não tivesse murmurado um rápido, “Com licença?”.


Foi o “com licença” que me fez notá-lo, eu acho.


Eu congelei imediatamente ao som daquela voz, reconhecendo que era uma voz masculina e em pé bem atrás de mim. Meu coração começou a bater forte dentro de meu peito. Era isso. Ele estava aqui. Em questão de minutos, minha vida poderia acabar e seria o fim.


Foi tudo tão dramático.


Eu me virei rapidamente...


...e encontrei uma criança bem idiota em pé ali.


É.


Como se a situação já não estivesse tensa o bastante.


Ele parecia um pouco perdido e totalmente solene para um garoto que não poderia ser muito mais velho do que o meu aluno particular. Ele ficou parado ali, incomodado tanto quanto eu, com um monte de livros e pergaminhos em suas mãos, piscando para mim debaixo de sua espessa e negra franja. O garoto precisava seriamente de um corte de cabelo decente.


“Er, oi”, eu comecei lentamente, sorrindo de forma incerta. O garoto definitivamente perdeu seu momento de falar. Eu tentei não mostrar meu desconforto, mas eu esperava que eu conseguisse me livrar desse garoto antes que o meu verdadeiro aluno chegasse e o Garoto Cabeludo Solene se machucasse na confusão.


Ele parecia ser um garoto legal. Ele não merecia morrer.


Eu esperei que ele dissesse alguma coisa, mas o Garoto Cabeludo Solene continuou parado ali, me olhando de uma forma muito estranha. Quando eu ia perguntar pra ele se havia algo que eu pudesse fazer, repentinamente ele falou.


Ou tagarelou, na verdade.


“Se você empilhasse todos os livros da Biblioteca Nacional, um em cima do outro”, ele disse rapidamente, com um aceno de cabeça bastante resoluto, “a pilha teria trinta vezes o tamanho do Monte Everest. Você sabia disso?”.


Er...


O quê?


Por causa de meu olhar inexpressivo, o garoto abaixou sua cabeça e corou. “Desculpe”, ele murmurou.


“Er, nada para se desculpar”, eu respondi no que eu esperava ser um tom bastante reconfortante. Eu já passei por fases de tagarelice e comentários constrangedores muitas vezes para torturar esse pobre garoto dizendo algo condescendente, ou pior, algo completamente inútil. Mas apesar de se sentir consolado pelas minhas palavras amigáveis, o garoto simplesmente corou ainda mais. Eu fiquei com dó dele. Ele era igualzinho a mim. Um esquisitão tagarela e tímido. Eu gostei dele. “Posso fazer alguma coisa por você?”, eu perguntei, descobrindo que já que eu não podia acabar com seu constrangimento, pelo menos eu poderia tirá-lo dessa situação o mais rápido possível.


“Ela disse para eu vir aqui”, ele murmurou.


“Ela?”.


Mas ao invés de me contar quem ‘ela’ era, ele começou a remexer em seus papéis, aparentemente procurando por alguma coisa. Eu não sabia como isso iria me ajudar a entender o que ele queria comigo, ou quem ‘ela’ era que tinha dito a ele para aparecer ali, mas ele começou a vasculhar por suas coisas assim mesmo, até que ele finalmente puxou um pedaço de pergaminho dobrado do meio da pilha de papéis.


“Não importa o tamanho”, ele falou calmamente, estendendo o pergaminho pra mim, “só é possível dobrar um pedaço de pergaminho oito vezes. Você sabia disso?”.


Eu me importava com isso?


Não.


Não particularmente.


Mas eu não tinha coragem de dizer isso pra ele.


Eu neguei com a cabeça lentamente e peguei o pedaço de pergaminho dobrado da sua mão com um pequeno sorriso. Olhando rapidamente pra ele e depois para o pergaminho, eu dei uma rápida olhadela no papel antes de abri-lo lentamente.


Era um bilhete.


Prezado Sr. Rosier,


As suas aulas particulares vão começar amanhã à noite às sete horas em ponto. Caso esse horário seja inaceitável, me avise assim que puder. Caso contrário, por favor leve os livros e materiais apropriados para começar suas lições. A monitora chefe vai te encontrar na biblioteca no horário mencionado acima. Eu espero que se comporte.


Professora McGonagall


Aula particular…monitora chefe…


ROSIER?


Eu quase engasguei com essa.


“Espera...você é Maurice John Rosier?”.


Piscando para mim novamente, parecendo bastante inabalado com o meu espanto e olhares esquisitos, Maurice John Rosier pegou sua carta de volta e assentiu com a cabeça.


Bem, merda.


Merda, merda, merda.


“Mas você é...quero dizer, você não é...”.


Intimidador.


Assustador.


E nem está com uma varinha apontada para mim com um desejo mortal.


Eu nem terminei minha frase. Como eu poderia, já que tal completa babaquice nem poderia ser posta em palavras? Me sentindo como se eu simplesmente devesse começar a bater minha cabeça na mesa e nunca parar, eu simplesmente fiquei olhando pro nada e comecei a pensar sobre as milhares de vezes que eu agi como uma idiota nas últimas horas.


Eu não podia acreditar.


Esse garoto – esse garotinho inofensivo, desesperadamente precisando de um corte de cabelo, sabedor de fatos inúteis – é aquele que estava me estressando. Ele! O Garoto Cabeludo Solene! O esquisitão tímido e muito parecido comigo!


Como isso era possível?


Eu sei como isso era possível. É por causa dos meus amigos que mentem sobre coisas idiotas! Quero dizer, eu não teria me importado se eles não tivessem se desesperado e falado “Oh, Rosier! É o fim da Lily!”?


Não, não. Eu não acho que teria me importado.


Mas porque eles agiram como idiotas e me disseram mentiras que realmente não eram necessárias e certamente não eram verdade, eles foram uma causa direta para o colapso mental.


Eles não prestam.


Não prestam mesmo.


Eu olhei de novo para Maurice e segurei um longo suspiro. De alguma forma, eu simplesmente não conseguia ver esse garoto como aqueles idiotas me falaram que ele era. Dá pra ver na cara de Evan Rosier seu nojo pelo mundo – dá pra ver na cara de todos aqueles idiotas amantes de puro sangue – e se Maurice fosse desse jeito, eu conseguiria ver em seu rosto, não conseguiria? E, na verdade, não é como se eu pudesse julgar o verdadeiro caráter de alguém só olhando na sua cara (e, como eu recentemente descobri, eu sou uma péssima julgadora de caráter de qualquer forma, até mesmo quando eu conheço a pessoa), mas mesmo assim...


Não.


Não, eu não conseguia acreditar que esse garoto fosse mau.


Ele era inocente. É isso que eu vejo em seu rosto.


Eu suspirei longamente, olhando de novo para Maurice (ele! Maurice!) e fiz uma anotação mental de dar um grande e doloroso chute naquele lugar que dói bastante na próxima vez que eu ver Sirius Black. Ele merece. “Bem-vindo a sua aula particular”, eu finalmente consegui dizer com um sorriso seco. “Sente-se”.


Obviamente sem saber da minha loucura, Sr. Rosier ignorou o que deve ter sido um momento bem estranho de sua parte (com sua professora estupefata por ainda estar viva e tudo mais) e se sentou ao meu lado, colocando seus livros (livros e anotações de Feitiços, eu percebi) na mesa. Ele me olhou de novo de forma solene. Ele tinha os olhos bem azuis, assim como os de seu irmão.


Eu esperava que estivesse certa e que essa fosse sua única semelhança com ele.


“Eu sou a Lily”, eu disse, oferecendo minha mão pra ele. Ele me encarou por um momento e depois pegou minha mão.


“Maurice John”, ele disse, e depois acrescentou. “Mais de um milhão de pessoas se encontram pela primeira vez a cada segundo do dia. É uma estatística comprovada. Você sabia disso?”.


Eu ri e neguei com a cabeça. “Não. Não, eu não sabia”, eu o olhei por um momento e depois perguntei, “Então, como você quer que eu o chame? Maurice John? O nome completo?”.


Ele deu de ombros. “Tanto faz”, ele disse.


“Bem, do que seus amigos o chamam?”.


Maurice olhou para a mesa por um momento e deu de ombros de novo. Eu achei que isso era uma resposta bastante esquisita, mas não queria me meter. Então eu me lembrei do que o pessoal tinha dito. Um recluso. Chamaram-no de recluso. Será que era verdade? Será que ele não tinha nenhum amigo? Eu me senti horrível por tocar no assunto. Mas eles estavam tão completamente errados sobre ele antes que eu simplesmente pensei que eles também estariam errados sobre isso. Mas talvez não. Merlin, eu conseguia ser detestável às vezes. “Bem”, eu comecei, limpando a garganta de forma um pouquinho estranha. “Er...bem, que tal se eu te chamar de MJ? É bem mais fácil, não é? E ainda é tecnicamente o seu nome, certo? Maurice John. MJ. Certo?”.


Se Maurice John precisava de amigos, eu lhe arranjaria alguns.


E nada grita mais “amigos” do que um apelido.


Aparentemente uma reação muito natural pra ele, MJ deu de ombros de novo. “Tudo bem”. Ele finalmente retirou seu olhar da mesa e olhou pra mim. E talvez eu estivesse errada, mas eu acho que ele estava sorrindo um pouquinho. Um ponto para a Lily que vai arranjar mais amigos pro MJ. “John foi o quinto nome masculino mais popular em 1964”, ele me disse depois. “Mas Maurice não estava na lista. Você sabia disso?”.


Eu estava começando a achar que tinha muitas coisas das quais eu não sabia.


“Na realidade, eu não sabia”, eu respondi com uma risada, tentando parecer impressionada para seu próprio bem, apesar de não achar que eu nunca precisaria, e nem queria, saber quantos Johns ou Maurices nasceram em 1964. “Você sabe muita coisa sobre...muita coisa”, eu disse com um sorriso.


“Eu gosto de fatos”, ele respondeu com mais um dar de ombros. “Eu gosto de aprender”.


“Isso não é uma coisa ruim”.


“Mas eu sou horrível em Feitiços”.


“Todo mundo é ruim em alguma coisa. Eu não consigo fazer Transfiguração nem pra sobreviver. Eu também tenho um professor particular”.


Você?”, ele pareceu tão espantado que eu quase ri de novo porque, sério, eu devo ser uma atriz melhor do que eu pensava pra todas essas pessoas não saberem como eu sou uma desastrada no meu dia-a-dia. “Mas...você é monitora chefe!”.


“Isso não quer dizer que eu sou perfeita”, eu disse a ele. E depois acrescentei secamente. “Acredite”.


Mas MJ pareceu não acreditar em mim, mesmo quando eu lhe pedi que acreditasse. Ele simplesmente me lançou um daqueles olhares ‘é, e porcos voam’ antes de olhar para seus livros de Feitiços com um suspiro triste. Eu sacudi minha cabeça por causa da imbecilidade disso tudo. O garoto não machucaria nem uma mosca. “Eu não sei de nada”, ele me disse suavemente, e depois começou a ficar vermelho de novo.


Eu lhe lancei um grande sorriso, o que ele não retribuiu, mas eu não deixei que isso me intimidasse. “Bem, vamos consertar isso então, certo?”.


E foi isso que fizemos.


Ou tentamos, de qualquer forma.


Ele realmente não estava mentindo quando ele disse que era ruim. MJ é em Feitiços o que eu sou em Transfiguração...vezes dez. Ou vezes doze. Ou algum outro número bem alto e que eu não me sinto confortável em escrever porque não seria justo com MJ, já que ele tenta. Não é como eu, uma mistura de falta de habilidade com preguiça. Ele sabe todos os fatos (surpresa, surpresa!), ele simplesmente não consegue executá-los por alguma razão. Eu tentei dizer a ele o que James me disse no primeiro dia de aulas particulares – sobre se concentrar tanto em não estragar tudo que você acaba estragando tudo de qualquer jeito – e, por alguns, minutos parecia que MJ realmente estava entendendo tudo, mas depois ele voltou a ficar horrível.


Mas tudo bem. Eu não vou julgá-lo. Eu sei como é ser horrível em alguma coisa.


Mas sua ruindade parecia não intimidar MJ como teria me intimidado. Eu tomei como bom sinal que durante a aula, ele sorriu às vezes, o que parecia não ser uma ocorrência muito comum. Ele realmente é solene. Eu realmente acho que não é saudável para um garoto de treze anos de idade ser assim tão sério, mas eu acho que deve ser só um resultado de sua...eu não sei, vida disfuncional? Mas eu fiquei bem orgulhosa em ter conseguido fazer com que ele risse, mesmo que isso o tenha levado quase a derrubar a seção de Feitiços inteira com uma de suas Wingardium Leviosas um tanto desajeitadas, que acabou deixando Madame Pince bastante irritada. Ele parecia que tinha acabado de morrer e ido pro céu quando isso aconteceu. Eu nunca vi ninguém ficar tão animado por levar uma bronca de Madame Pince.


É, mas cada um é cada um.


“Você acha que ela vai nos expulsar se eu fizer isso de novo?”, foi sua pergunta depois que Pince voltou para sua mesa e MJ acalmou sua diversão um pouquinho. “Eu nunca fui expulso da biblioteca antes”.


Ai, Merlin. Não importa o quanto um garoto é solene ou sério, eu acho que nunca dá pra remover aquele espírito masculino de aprontar alguma.


Hunf.


Que pena.


“Ser expulso da biblioteca não é uma coisa boa, MJ”, eu tentei raciocinar com ele, mas eu acho que ele não estava escutando. “A última coisa que alguém quer é ter Pince te odiando”.


“Mas ela odeia todo mundo”.


“Sim, mas em graus diferentes”.


“O símbolo de graus era originalmente uma figura que representava o sol”, foi a resposta de MJ. “Você sabia disso?”.


Eu estava ficando cansada dessas palavras.


“O que você acha?”, eu respondi secamente, porque eu não sabia nenhum daqueles milhões de fatos que ele tinha falado durante a noite inteira e, sério, por que nós deveríamos mudar isso agora? Outro sorriso pequeno apareceu nos lábios de MJ e eu me parabenizei de novo por ter conseguido tão brilhantemente retirado esse suposto recluso de sua casca. Ele era de um tipo bem amigável. Só um pouquinho….tímido, eu acho. Mas isso não é uma coisa ruim. Ele só precisa sair de lá mais vezes.


Eu posso ajudá-lo com isso.


Quero dizer, é o mínimo que eu posso fazer. Eu realmente pensei que o garoto iria me matar, afinal de contas.


É justo depois de difamar seu caráter.


“Bem, eu acho que foi o suficiente por hoje”, eu suspirei, olhando para o relógio na parede, vendo que o ponteiro já estava se aproximando do número doze. “Você acha que entendeu essa última parte? Apenas pare de sacudir tanto. Você não vai conseguir controle nenhum se continuar fazendo isso”.


“Eu não consigo evitar”, MJ insistiu. “Minha varinha gosta de se sacudir”.


Eu revirei os olhos. “Não é sua varinha, MJ, é sua mão. E da última vez que eu chequei, você tinha completo controle sobre ela, certo?”.


Ele murmurou alguma coisa, lançando um olhar repugnante para o órgão em questão e eu lhe de um tapinha reconfortante em seu braço. “Não se preocupe”, eu lhe assegurei. “Você vai entender. Mas vai levar um pouquinho de tempo…o que, infelizmente, nós não temos essa noite. Eu também tenho minha aula particular para freqüentar e sofrer um pouquinho agora, sabe”, eu acrescentei com um sorriso implicante.


“Eu não estava sofrendo”, MJ imediatamente me corrigiu, sacudindo sua cabeça.


“Só quando Pince veio e teve seu ataque de raiva”, eu respondi sem rodeios, lhe olhando. MJ começou a negar com a cabeça com muita vontade.


“Não, não, não”, ele insistiu de novo. “Eu gostei de tudo – quero dizer, a parte da Pince foi particularmente genial – mas o resto também não foi ruim. Mesmo que seja Feitiços”. Ele repentinamente começou a ficar vermelho, enquanto ele me olhava mais uma vez e acrescentava, “Talvez seu professor não seja tão bom quanto a minha, se você está sofrendo tanto assim”.


Talvez seu professor não seja tão bom quanto a minha, se você está sofrendo tanto assim.


Ah.


Eu já mencionei o quanto eu adoro esse garoto?


Esse garoto de ilusão, mas lisonjeador?


“Bem, obrigada”, eu gaguejei, também ficando um pouquinho vermelha. “Mas não é o meu professor que é um saco – é Transfiguração. Ele é muito bom, na verdade. Muito bom no que ele faz”.


“Ele?”.


Eu assenti com a cabeça. “James Potter”, eu disse a ele. “O monitor chefe. Você o conhece?”.


“Ele é capitão do time de quadribol”, MJ respondeu dando de ombros, como se de todas as conquistas de James, essa fosse a mais importante.


Hunf.


Garotos e seu esporte.


Merlin ajude todos eles.


“Ele é bem talentoso em Transfiguração também”, eu acrescentei sarcasticamente, segurando mais um virar de olhos. MJ deu de ombros de novo, parecendo como se estivesse pensando muito em uma coisa. Considerando que a aula tinha acabado de terminar, eu achei isso meio questionável. “Qual o problema?”.


“Nada”, ele respondeu rapidamente, mas até ele parecia estar questionando a coisa toda. “Não é nada”.


Então, como se alguma força obscura tivesse entrado em ação, todo o divertimento escapou do rosto de MJ e ele começou a juntar suas coisas de forma inexpressiva. “É melhor eu ir”, ele me disse. “Eu ainda tenho que terminar a tarefa de Poções”.


“Você precisa de alguma ajuda?”, eu perguntei, porque ele estava agindo muito estranhamente e eu não sabia mais o que dizer. Ele negou com a cabeça, sem dizer nada. Então, com o mesmo tipo de comunicação, ele me deu um rápido e sério aceno antes de sair correndo da biblioteca.


Desse jeito.


Ele foi embora em questão de segundos.


E tudo o que eu conseguia pensar era: bem, isso foi estranho.


Mas, de novo, a aula inteira não foi uma situação estranha?


Sim, foi sim.


E, sério, só ficou mais estranho depois disso.


Mas não pelo mesmo motivo.


E talvez tenha ficado só pra mim.


James quase cruzou com MJ, já que ele entrou na biblioteca apenas dois minutos após meu aluno ter saído. Ele parecia um pouquinho ansioso enquanto ele fazia o caminho até a mesa, e eu acho que o fato de eu estar o olhando furiosamente não ajudou muito.


Mas, sério, ele merecia.


“Eu vou matar o seu amigo”, foi a primeira coisa que eu disse antes mesmo de James conseguir chegar até a mesa, muito menos abrir a boca para dizer alguma coisa.


“O quê?”, ele perguntou, se sentando na cadeira antes ocupada por MJ, ao meu lado. “O que aconteceu? Qual é o problema? O que tem os meus amigos?”.


“Você não gosta muito dele, gosta?”, eu perguntei maldosamente, ignorando suas perguntas, meu rosto quase tão sério quanto o de MJ. “Quero dizer, em uma escala de necessidade que vai de um até dez, ele fica só no cinco, certo?”.


“Quem?”.


“O cadáver formalmente conhecido como Sirius Black”.


James deixou escapar um gemido de frustração. “O que ele fez agora?”, ele murmurou.


“Ah, não foi só ele”, eu o corrigi rapidamente, olhando ainda mais furiosa. “Foram todos vocês; Black foi apenas o líder. Eu receio que todos vocês vão ter que morrer. De forma muito lenta e dolorosa!”.


“Do que você está falando, Lily? E o que aconteceu com sua aula particular? Cadê o pequeno canalha?”.


“É disso que eu estou falando!”, eu praticamente gritei (ou, sabe, na medida em que é possível gritar em uma biblioteca nazista com um monte de curiosos ansiosos simplesmente prontos para bisbilhotar (o que acaba nem sendo um grito, mas tons muito raivosos)). “Ele não é um pequeno canalha! O garoto é legal, calmo e um tanto inteligente, talvez um pouquinho maluco, de apenas treze anos de idade!!!E ELE NÃO QUERIA ME MATAR!”.


James pareceu um pouquinho mais do que estupefato com o meu ataque. “O quê?”, ele resmungou.


“É isso mesmo”, eu continuei, ainda um tanto histérica. “Todos vocês, loucos e idiotas, me deixaram aqui praticamente chorando de desespero, pensando que minha vida estaria chegando ao fim. Tudo por causa de suas besteiras: “o irmão do Evan Rosier” e “a maçã não cai muito longe da árvore”. E parece que vocês não sabem de nada!”.


“O que você está dizendo?”, James perguntou, repentinamente se animando. “Rosier não tentou nada?”.


“A não ser que você conte o fato dele tentar executar um Feitiço para Animar bem-sucedido”, eu respondi sem rodeios, “então, não. Não, ele não tentou nada”.


James ficou sentado lá, bem imóvel, enquanto ele digeria a informação, e eu também fiquei sentada lá, bem imóvel, tentando me acalmar. Mas, sério, me senti bem ao repreendê-lo – ao repreender todo mundo. Porque eles todos são uns idiotas que merecem uma boa censurada, sabe. Eles são todos uns estúpidos com idéias idiotas sobre pessoas não-idiotas e, às vezes eu acho que seria melhor se eles aprendessem a guardar suas idéias idiotas sobre pessoas não-idiotas em suas mentes idiotas.


Se você entende o que eu quis dizer.


Eu fiquei lá, com o meu eu nervoso, enquanto James continuava a tentar entrar em um acordo com as minhas revelações sobre Maurice John Rosier. E, então – porque eu não tenho certeza quem é mais idiota agora, ele ou seu amigo imbecil que começou tudo isso – James olhou para mim e meu rosto nervoso e disse em uma voz muito calma e fria, “Eu não confio nisso”.


É.


Assim mesmo.


Eu não confio nisso.


“Não confia no quê?”, eu respondi com raiva.


“Não confio nele”, James respondeu, mas por algum motivo ou outro, ele não ficou com raiva por eu estar com raiva. Ele continuava calmo como um pepino. “Tem alguma coisa errada nisso, Lily. Eu não sei o que você pensa que sabe sobre esse garoto – “.


“O que eu penso? O QUE EU PENSO?”.


“É, o que você pensa”, James respondeu, perdendo sua calma por um momento. “Existe uma história que você nem pode começar a entender! Não é – “, mas ele se interrompeu bem aí, talvez vendo que eu estava começando a ficar um pouquinho mais nervosa com o fato de que ele ainda estava tentando fazer com que MJ parecesse algum tipo de descendente do diabo. Ao invés de continuar, ele suspirou longamente, inclinado seus braços para a mesa e esfregando sua testa gentilmente, enquanto ele olhava pra mim de forma esquisita. “Vamos esquecer isso por enquanto”, foi o que ele disse. “Vamos simplesmente esquecer isso. O garoto é ótimo. Que maravilha. Nós não precisamos nos preocupar mais com isso. Òtimo. Excelente. Vamos começar, ok?”.


“Mas – “.


“Vamos começar”, ele interrompeu. “Vamos começar”.


Mas eu não queria começar. Eu queria provar a ele – a todo mundo, mas por alguma razão, principalmente a ele – que MJ não era aquilo que ele dizia. Ele era um bom garoto. Apesar de sua família, apesar de sua hereditariedade, apesar dos boatos, de sua timidez e de sua falta de amigos, ele era um bom garoto.


Porque quando James disse que não confiava nisso...


...bem, meio que significava que ele não confiava em mim.


E, talvez, vendo de sua perspectiva, eu também não confiaria em mim. Eu não sou exatamente uma ótima julgadora de caráter que eu pensava que era. Mas mesmo assim...


Ele não confiava em mim.


“Você o conheceria?”, eu perguntei baixinho, enquanto James abria seus livros e ficava pronto para começar. “Você não precisa acreditar em mim, você não precisava confiar em mim, mas você poderia conhecê-lo e me dizer que eu não estou maluca? Ele é um bom garoto, James. Ele é”.


Por um segundo, eu pensei que ele não iria concordar. Ele ficou lá, com uma expressão severa em seu rosto, me olhando como se ele estivesse tentando descobrir algum tipo de charada grande e complexa. Então, ele assentiu com a cabeça. “Sim”, ele disse. “Eu vou conhecê-lo”. E, então, alguns segundos depois, “Eu confio em você, Lily. Não pense que eu não confio em você”.


O que meio que me fez sentir melhor, apesar de eu achar que ele realmente não confia em mim.


Então, agora eu estou sentada aqui, escrevendo nisso aqui, o que eu presumo que James deve achar que é algum tipo de anotação detalhada, olhando para ele de vez em quando para manter a farsa, não exatamente escutando, enquanto ele fala e fala sobre alguma coisa que eu não dou a mínima. Eu provavelmente vou ter que pedir pra ele re-explicar tudo que ele está falando agora amanhã, e ele provavelmente vai me olhar daquele jeito – aquele olhar meio fofo que diz ‘Por que você está me perguntando isso? Nós já FIZEMOS isso, você não estava escutando?’ – mas ele vai me explicar de novo de qualquer jeito, porque esse é o tipo de garoto que James Potter é. Ele te explica a mesma coisa duas vezes se você precisar. Ele vai te olhar daquele jeito dele, mas não importa o quão bravo ele fique, você sabe que ele provavelmente já vai ter esquecido isso na manhã seguinte, porque eu acho que talvez ele seja um pouquinho bipolar. Ele vai conhecer o seu aluno, mesmo que ele não confie em você. Ele vai pegar arroz pra você e vai te encontrar na Torre Norte e usar camisetas confortáveis, sabe, só caso você precise de uma. Ele –


Er.


É.


Já chega disso.


Já chega disso mesmo.


Droga.


Amos, Amos, Amos, Amos, Amos.




Mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Vigésimo terceiro dia


Observações Totais: 151


Voltei para a sala comunal com James e vi Sirius deitado no sofá. Eu, então, bati na sua cabeça com o meu livro de Transfiguração. Ele gritou e esperneou e se enfureceu com o insulto, mas eu realmente não me importei com sua reclamação porque ele merecia.


A vida é bem melhor quando os seus alunos não estão tentando te matar.

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