Capítulo 13 - parte 2

Capítulo 13 - parte 2



Capítulo 13 parte 2


Um pouquinho mais tarde, ainda em Feitiços


Lily Observadora: Vigésimo Segundo dia


Observações Totais: 144


O que você fez agora, Evans? E o mais importante, por que eu não estava envolvida? – GR


Eu não fiz nada, eu juro! – LE


Bem, obviamente você fez, Lil. McGonagall não te chama para ir na sala dela simplesmente por nada, sabe. Você ta indo mal de novo em Transfiguração?


Tenho certeza que eu estou indo mal na minha vida. Isso conta?


Não tenho certeza. Provavelmente. Mas mesmo assim, o que McGonagall teria a declarar sobre isso? Não é como se ela pudesse fazer alguma coisa a respeito.


Ela poderia me mandar para Guam.


Ou te forçar a entrar pro Clube de Xadrez.


Eu acho que nenhum dos dois funcionaria.


Mas seria engraçado.


Pra você.


E para os garotos do Clube de Xadrez.


E as garotas do Clube de Xadrez?


Não há garotas no Clube de Xadrez.


Não é verdade, Gracie querida, não é verdade. E a Mia Bones?


Ah, sim, é verdade! Tinha me esquecido da Piranha do Bispo.


Piranha o quê?


Do Bispo. É como a chamam.


Bem, isso não é muito legal! Quem inventaria um nome assim tão horrível?


Mia.


Mia??


Aparentemente ela se orgulha do jeito piranha de ser e de jogar xadrez.


Aparentemente.


Bem, eu também me orgulharia! Você sabe quanto esforço é necessário para fazer com que aqueles garotos do Clube de Xadrez se afastem do tabuleiro por alguns minutos? Mia consegue afastá-los tempo suficiente para agarrá-los. Não que dure muito tempo, mas...


Ai, eca. Nós podemos não falar sobre isso?


Ei! Lil, você poderia ser a Piranha da Torre!


A o quê?


Se McGonagall te forçar a entrar no Clube de Xadrez. Você poderia ser a Piranha da Torre!


Mas eu não quero ser a Piranha da Torre.


Bem, como a sua vida não anda muito bem, você não tem outra alternativa, certo?


Mas isso não é culpa minha. Eu acho que é o resultado de alguma instabilidade química interna.


Não culpe a sua química interna por isso, Lily. Você deveria abraçar a sua posição como a Piranha da Torre. É um título e tanto.


Eu nem mesmo gosto de xadrez.


Você não precisa gostar de xadrez para ser a Piranha da Torre. Você só precisa gostar de agarrar os outros.


Bem, eu também não gosto disso!


Ah, sério? E como você sabe?


Bem, eu – ei!


Só estou declarando os fatos, Piranha da Torre. Só declarando os fatos.


Hunf!




Ainda mais tarde, Feitiços


Lily Observadora: Vigésimo segundo dia


Observações Totais: 144


Merda.


Merda, merda, merda.


O que será que ela quer? O que poderia ser? Ela não pode me expulsar da aula de Transfiguração agora. Não pode! Eu estou indo tão bem – ou, sabe, talvez não excelente, mas eu não estou mais indo mal. Não estou. Eu juro.


Mas o que mais poderia ser? Talvez não seja nada. Talvez eu só esteja exagerando (o que, como o meu passado me condena, é bastante improvável). Quero dizer, McGonagall não sai por aí chamando as monitoras-chefe –


Ai, Merlin.


Monitora-chefe.


Monitora-chefe!


Eu não vou mais ser monitora-chefe.




Ainda mais tarde, Runas Antigas


Lily Observadora: Vigésimo Segundo Dia


Observações Totais: 144


Eu estava quase tendo convulsões quando a aula de Feitiços terminou e eu comecei a ir para a sala de McGonagall. Mesmo com a as brincadeiras de Grace para me distrair, eu não consegui ignorar o fato de que eu tinha sido chamada pela McGonagall, e que eu tinha um pressentimento que eu sabia o motivo. Eu tinha plena certeza de que ela iria me informar que eu não seria mais monitora-chefe quando eu chegasse lá. Quero dizer, eu peguei detenção. Detenção! E eu sou intrometida! E eu minto! Eu sou um modelo totalmente terrível! Ela e o Professor Dumbledore e todo mundo no corpo docente da escola devem ter finalmente percebido que, ei, Lily Evans, ela não é boa para ser monitora-chefe. A monitoria ela conseguia agüentar, mas monitora-chefe? Não. Ela tentou, ela falhou. Agora eles vão desistir e dar minha posição para outra pessoa. Alguém que mereça ainda menos do que eu. Alguém que os monitores vão respeitar e adorar mais do que eu. Alguém com quem James provavelmente vai gostar de trabalhar mais do que comigo. Alguém como Elisabeth Saunders.


Eu desprezo minha vida.


Não importava que eu finalmente tinha aceitado o fato de que eu quero ser monitora-chefe, que eu gosto de ser monitora-chefe. Não importava que algumas crianças impressionáveis me admirassem como se eu fosse algum tipo de salvadora. Não. Ninguém se importava com elas. Afinal de contas, o que essas coisinhas sabem? Tanto quanto eu, parece.


Eles ainda assim iam me dar um chute no traseiro.


E, sinceramente, quem pode culpá-los?


Quando eu alcancei a porta de McGonagall, eu estava quase chorando.


Você nunca quer o que você tem até que você não possa mais tê-la.


Eu quero ser monitora-chefe. Agora eu não vou ser mais.


Com minha mão tremendo, eu bati na porta.


“Entre!”.


Eu respirei fundo, enquanto eu girava a maçaneta, dizendo para mim mesma que eu só estava piorando as coisas ao ficar assim tão emotiva. Talvez, se eu conseguisse ficar pelo menos um pouquinho mais racional, e conseguisse argumentar sobre o meu impeachment. Eu posso ser um fracasso como monitora-chefe, mas eu não sou nem um pouquinho ruim em debates. Não mesmo.


“Professora? Você queria me ver?”.


McGonagall estava sentada atrás de sua mesa quando eu entrei, seus óculos assentados com exatidão em seu nariz, assim como uma pena estava em sua mão. Eu engoli em seco, observando sua formidável posição. Isso não ia ser já podia dizer.


“Sim, claro, Senhorita Evans”. Ela sorriu de forma educada e acenou na direção da cadeira em frente a sua mesa. “Por favor, sente-se”. Fechando a porta atrás de mim, eu fiz como ela pediu e me sentei na cadeira, aliviada. “Você espera um minuto, enquanto eu termino isso aqui?”, ela perguntou. Eu concordei com a cabeça, me movendo agoniada. Só ela mesmo pra me fazer ficar sentada aqui e esperar como se fosse uma tortura. Ela realmente adora momentos como esse, não adora? Ela é quase tão má quanto o meu carma.


A sala estava silenciosa, exceto pelo rangido da pena de McGonagall no pergaminho. Eu tentei ignorar os estouros de pânico no meu estômago enquanto eu estava sentada lá, esperando pelo inevitável. Pareceu que demorou uma eternidade, quando McGonagall finalmente terminou de escrever, enquanto largava sua pena e olhava pra mim.


“Bem, agora, Senhorita Evans”, ela disse, enlaçando suas mãos sobre sua mesa. Minhas próprias mãos estavam suando muito, o que eu rapidamente tentei esconder quando eu esfreguei minhas mãos furtivamente na minha saia. Sempre um truque útil para garotas com tendências “transpiratórias” como eu. “Você está melhorando muito, fico feliz. Suas aulas particulares estão indo bem?”.


Aulas particulares?


Ah, Merlin. Ela queria me deixar chateada rapidamente.


“Eu...er, sim”, eu murmurei de um jeito esquisito. “Espetaculares. James é um professor maravilhoso”.


E um monitor-chefe maravilhoso. Diferente de mim, a pior monitora-chefe do mundo. E é precisamente por isso que eu estava sentada ali, em primeiro lugar.


Por que ela não podia acabar logo com isso?


Minhas mãos estavam criando o seu próprio sistema de água, pelo amor de Merlin.


“Sr. Potter tem seus talentos...quando ele se dedica”, McGonagall respondeu, sua voz um pouquinho desafinada quando ela disse essa última parte. Provavelmente se relembrando dos fogos Sr. Filibusteiro. Não que ela pudesse provar que foi ele, claro, mas McGonagall é tudo, menos estúpida. Os marotos são chamados de ‘marotos’ por um motivo, afinal de contas. “Fico feliz que você esteja indo bem. Em todo esse tempo em Hogwarts, eu dispensei poucos alunos da minha aula e eu estava esperando que isso continuasse assim”.


Eu assenti com a cabeça novamente, sem saber o que mais eu poderia fazer. Por que ela estava protelando? Será que ela pensava que isso me fazia sentir melhor? Será que ela pensava que eu ficaria menos magoada se ela comentasse sobre eu não estar sendo dispensada da aula dela antes que ela me dispensasse do meu cargo? Que lógica doida é essa?


“Mas não é por isso que eu te chamei aqui, claro”, ela disse, finalmente entrando no assunto. Ela começou a dar uma olhada na mesa dela, aparentemente procurando alguma coisa. Um bilhete do Diretor pedindo a minha dispensa, talvez? Uma lista de todas as coisas ilegais que eu fiz para merecer o meu impeachment? Uma grande foto minha que McGonagall iria simplesmente segurar e dizer, “Você está fora do cargo. Eu acho que isso é explicação suficiente”?


Eu tentei permanecer racional, sério, mas eu e meu jeito emocional demais não estavam fazendo um bom trabalho. Eu nunca quis chorar tanto em toda a minha vida.


“Professora – “.


“Ah, está aqui”, ela disse, pegando não um grande pedaço de pergaminho contendo alguma coisa incriminadora sobre mim como eu tinha esperado, mas um pedacinho todo dobrado que ela me entregou. O começo dos meus argumentos horríveis morreram nos meus lábios. Era isso. Era o fim. E eu nem era considerada importante o suficiente para um pedaço inteiro de um pergaminho. Hunf. Por que eu fiquei surpresa com isso? Com um coração extremamente pesado, eu peguei o pedacinho de pergaminho.


O final estava próximo.


“Agora, eu espero a mesma diligência de você assim como você está sendo mostrada em suas sessões, mas eu não acho que isso seja um problema pra você”, McGonagall disse, me tirando do meu momento de sofrimento. Por que ela ainda não me dispensou? Será que ela estava com medo de que se ela dissesse aquelas palavras eu iria atacá-la, com as minhas tendências violentas e tudo mais? Eu não faria isso...eu acho que não.


“Er, o quê?”, eu me forcei a dizer, tentando não parecer muito angustiada. Eu descobri que eu tinha uma chance maior de me defender se eu não ficasse ah-Merlin-minha-vida-está-acabada, apesar de ser assim que eu estava me sentindo. Me ignorando, McGonagall continuou falando, não fazendo sentido nenhum.


“Eu vou deixar você escolher a data e o horário”, ela disse. “Tenho certeza que o que estiver bom pra você, vai estar bom pra ele. Ele é mais novo, menos trabalho. Me disseram que ele só está precisando de ajuda nas coisas mais básicas, mas como não é minha aula, eu não posso estar inteiramente certa – “.


“Hum, Professora...?”.


“Ele é bem tímido, não fala muito a não ser que a gente lhe encare diretamente. Eu não ouvi quase nada dele quando ele esteve aqui mais cedo, esta manhã – “.


“Ele? Mais cedo? Er…”.


“ – eu não sei se ele vai ser difícil de se trabalhar, mas você parece se dar bem com a maioria dos alunos, então eu acho que vocês vão se dar bem. Você tem alguma pergunta?”.


“Hum, sim”, eu respondi lentamente, minha cabeça girando. “Com todo o respeito, Professora, do que diabos você está falando?”.


E por que você ainda não me deu um impeachment?


“O que você quer dizer com o que eu estou falando?”, McGonagall pareceu surpresa ao ouvir minha pergunta. “As aulas particulares, claro. O Professor Flitwick não falou com você?”.


Eu quase pulei da minha cadeira.


“Aulas particulares?”, eu exclamei. “Em feitiços? Professora, feitiços é a minha melhor matéria! Eu não preciso de aulas particulares em – “.


“Não pra você”, McGonagall me interrompeu, quase revirando os olhos, devido ao meu ataque. “Para outro aluno. Você vai ser a professora, Senhorita Evans”.


Ah.


Bem, isso faz sentido.


“É parte de suas tarefas como monitora-chefe”, McGonagall continuou. “Eu pensei que o Professor Flitwick tivesse tido tempo de comentar isso com você, mas eu acho que ele se esqueceu...”.


Eu parei de ouvir depois disso, quando eu percebi o que ela tinha falado.


É parte de suas tarefas como monitora-chefe.


Monitora-chefe.


MONITORA-CHEFE!


EU AINDA SOU MONITORA-CHEFE!!


McGonagall ainda estava falando alguma coisa sobre Flitwick esquecendo as coisas, quando eu a interrompi. “Espera um segundo”, eu disse. “É por isso que você queria me ver? Pra me dizer que eu vou dar aulas particulares para alguém?”.


“Bem, claro”, McGonagall respondeu, me olhando de forma estranha. “O que diabos você pensou que era?”.


Hum, me dispensar do cargo, é isso que eu pensei.


“Er, nada”, eu murmurei rapidamente, sorrindo para McGonagall. “Nada mesmo. Não tinha idéia, sério. Aulas particulares, sim, claro. Parece maravilhoso”.


Eu estava sorrindo com tanto esplendor, que eu devo ter parecido uma completa idiota, mas eu não me importava. Eu ainda era monitora-chefe! Eu não iria sofrer um impeachment! Os monitores não iriam ter outra pessoa para amar e respeitar e James não teria a chance de encontrar uma parceira melhor do que eu!


EU AINDA ERA MONITORA-CHEFE!!


EBA!!


“É só isso, então?”, eu perguntei, não querendo ficar por mais tempo que o necessário naquele escritório. Quero dizer, meu cargo pode estar salvo por agora, mas se eu desse um pouquinho mais de tempo para McGonagall pensar, ela provavelmente iria perceber seu erro em me manter como monitora-chefe. Eu realmente não podia agüentar uma epifania dessas.


“É, isso é tudo”, McGonagall respondeu. Ela ainda estava me olhando de maneira estranha. “Você tem certeza que está bem, Senhorita Evans?”.


“Perfeitamente ótima”, eu respondi com outro sorriso. “Nunca estive melhor. Te vejo amanhã, Professora!”.


Então, eu me mandei de lá o mais rápido que os meus pés podiam.


Só foi quando eu estava no meio do corredor que eu me lembrei do pedaço de pergaminho dobrado que ainda estava na minha mão esquerda. Lentamente, eu o desdobrei e vi cinco palavras escritas pela McGonagall em sua letra precisa:


Maurice John Rosier – terceiranista, Grifinório


Maurice John Rosier.


Meu aprendiz.




Ainda mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Vigésimo Segundo dia


Observações Totais: 144


Eu nunca vou entender porque as pessoas simplesmente não conseguem mentir pra mim.


Sério. Não é assim tão difícil. Eu faço isso com freqüência sob pretensões menores. Por que as pessoas não podem ter a mesma cortesia, em? Quero dizer, é assim tão difícil em simplesmente dizer, “Ei, não se preocupe, Lil. Dar aulas particulares vai ser ótimo”, ao invés de me dizerem a verdade nua e crua e falarem, “Uh, Lily, seu aluno é um Comensal da Morte solitário e em treinamento. Cuidado, ele provavelmente vai te matar”?


Não, eu acho que não é.


Essa não pode ser minha vida.


Assim que a aula de Runas Antigas acabou, eu fugi de lá imediatamente, muito ansiosa para sair de lá. Eu sabia pela sua conversa longa e não muito natural esta manhã que Grace e James estariam no treino de quadribol depois das aulas, mas eu queria tentar alcançá-los antes que eles fossem pra lá. Eu senti como se fosse minha responsabilidade pessoal deixar que Grace soubesse que suas esperanças e sonhos de ter uma piranha da torre como melhor amiga não iria acontecer tão cedo (ou, pelo menos eu esperava que não). E eu realmente pensei que James deveria ficar sabendo do fato de que, apesar de eu ser horrível, parecia que ele não ia conseguir uma parceira nova e melhor tão cedo. Apesar dele não saber que ele estava correndo o risco de me perder. Essa não é a questão. A questão é ele saber que ele não vai.


Conhecendo o time de Quadribol como eu conhecia, eu não estava com esperanças de que eu conseguiria alcançá-los antes do treino. Eles são grudados àquele campo, eu acho. E apesar de eu sentir que minhas notícias eram muito necessárias, eu não estava desesperada o suficiente para segui-los até lá. Merlin sabe que a minha cota de quadribol já atingiu o limite duas vezes essa semana,com as discussões loucas de Marley e James, com a minha visita ao Amos, e ainda tinha a partida no sábado. Mais alguma dose disso e eu sei que meu corpo vai simplesmente se revoltar de pleno desgosto. Não dá pra ter tanto quadribol assim em um período tão curto, sabe.


Emma ia dar conta do recado até que eu pudesse encontrar as pessoas certas.


É, ela iria servir.


Com este pensamento em mente, eu parei de me apressar tanto. Isso, e porque a última coisa de que eu precisava era escorregar e machucar meu tornozelo de novo. De alguma forma, eu acho que Pomfrey não vai se importar muito se foi alguém que me empurrou ou não da escada se eu voltar lá de novo. Na verdade, ela mesma provavelmente vai me empurrar. E, sabe, eu não a culparia.


E, talvez foi realmente melhor eu parar de me apressar, porque assim que eu estava prestes a subir a escada para chegar na sala comunal, quem eu não encontrei gritando atrás de mim, se não a Senhorita Plano B, Emma Vance.


“Lily! Espera!”, ela me chamou, e correu até onde eu estava no corredor, diante das escadas. Eu dei uma boa olhada ao redor e fiquei um pouquinho decepcionada porque James não tinha vindo junto com ela da aula de Aritimancia. Mas ele não poderia estar muito longe, poderia?


“Ei, Em”, eu disse. “Como foi a aula de Aritimancia?”.


“Boa, boa”, ela respondeu rapidamente, enquanto nós começávamos a andar. “Mas como foi? O que McGonagall disse? Você não se meteu em nenhuma enrascada, se meteu, Lil, porque você disse que não tinha feito nada – “.


“Eu não fiz”, eu respondi, sem mentir. “Eu não me meti em confusão. Eram coisas de monitora-chefe, só isso. Eu sou professora particular agora. Ei, James estava com você na aula?”.


“O quê? Bem, sim, claro que ele estava”, ela me olhou esquisito antes de continuar, “Professora particular? Sério? De quem? Em que matéria?”.


“Feitiços”, eu disse. “Algum terceiranista. Eu nunca nem ouvi falar dele. Mas e James? Ele saiu antes de você ou – “.


“Por que você está tão curiosa sobre James?”.


“Eu preciso falar com ele”.


“Sobre o quê?”.


Eu dei de ombros. “Só...falar com ele. Você acha que ele já está no treino?”.


“Provavelmente”, Emma disse, ainda me olhando esquisito. “Você quer ir até o campo, então?”.


Eu fiz uma cara. “Claro que não. Eu…falo com ele depois, eu acho”.


Mas, eu não deveria ter me preocupado sobre alcançar James mais tarde – ou Grace também, na verdade. Porque, surpreendentemente, eles estavam bem ali, no salão comunal, quando eu e Emma chegamos. Completamente equipados com uniformes, luvas, vassouras e com outras coisas que eu suponho sejam necessárias para um treino bem-sucedido de Quadribol. Eles estavam estirados no sofá, conversando baixinho. E eles também não estavam sozinhos.


O time inteiro de quadribol estava com eles.


Um time parecendo um tanto nervoso.


Agora, eu nunca me considerei uma pessoa que é facilmente intimidada, mas, sabe, eu não tenho certeza se alguém pode realmente entender um tipo meio inexplicável de choque, quando uma garota se vê encarada por um time de quadribol genuinamente assustador, grande e massivo, praticamente espumando de ódio.


Porque bem ali, estava Chris Lynch parecendo bem fora do normal, e uma garota que nem mesmo eu sabia o nome estava batendo de forma rítmica seu bastão em sua mão espalmada e parecendo pensar que uma viagem para Azkaban não seria uma má idéia, sem mencionar Sirius Black, sentado ali no sofá, olhando de forma misteriosa e chocante de tempos em tempos. Eu acho que é seguro dizer que pela primeira vez em toda a minha estadia em Hogwarts, eu comecei a entender porque todos aqueles outros times eram sempre intimidados por nós, grifinórios.


Aquele grupo é completamente maluco.


Sinceramente, eu mereço esse tipo de abuso?


“Ei, Piranha da Torre! Qual o veredito?”.


Ou isso? Eu realmente mereço isso?


“Do que ela está falando”, Emma murmurou pra mim, e depois se virou para olhar o resto do grupo maluco. Ela me olhou de forma acusadora. “O que você fez, Lily?”.


Eu estava prestes a explicar que eu não tinha feito absolutamente nada, que essas pessoas obviamente estavam completamente malucas, provando minha teoria de que Quadribol nada mais é do que perigoso, quando eu fui, repentinamente, interrompida por James Potter, que tinha pulado do sofá ao ouvir o ataque de Grace e estava andando em minha direção com um olhar bastante peculiar em seu rosto.


“O que ela disse?”, foi o que ele disse primeiro, e agora que ele estava perto, eu vi que ele parecia tão irritado quanto o grupo maluco atrás dele. O que estava acontecendo? “Grace disse alguma coisa maluca sobre clube de xadrez, mas eu te juro que se ela te expulsou da aula, eu vou até lá agora mesmo e explicar pra ela – “.


Oh.


Oh.


McGonagall. Ele estava falando de McGonagall. Não, ele estava endoidecido com McGonagall. Endoidecido pelo fato de que ele pensava que ela tinha me expulsado da turma de Transfiguração.


Ele estava me defendendo.


Ah.


Sério, existe alguém com melhores amigos do que eu?


Acho que não.


Pelo menos, na maior parte do tempo.


Eu tentei interrompê-lo, tentei dizer a ele que ela não tinha me expulsado da aula, mas era meio difícil falar com um James tão irritado. “James – “.


“Não!”, ele continuou, me ignorando quase que completamente. “Você tem se esforçado tantoeu tenho me esforçado tanto! Ela não pode simplesmente – “.


“Mas ela não – “.


“ – te expulsar e sair impune disso! Você está melhorando! Está sim! Tirando aquele negócio do relógio outro dia, mas ela nem mesmo viu aquilo. Eu me assegurei que ela não visse!”.


Er, claro. A coisa do relógio. Eu tinha me esquecido disso.


Mas sério, meu relógio não ficou bem melhor como uma lâmpada com um pêndulo do que simplesmente uma lâmpada?


Hum.


James! James, pare, se acalme!”, eu agarrei os seus braços para contê-lo, porque naquele momento, ele parecia como se estivesse falando sério sobre a coisa toda de ir até o escritório da McGonagall e lhe falar o que ele pensava. E considerando as circunstâncias, não seria nem um pouquinho inapropriado, certo? “Me escute! Ela não me expulsou da aula. Não me expulsou. Não era isso que ela queria comigo, ok? Você pode simplesmente – por que você está me olhando desse jeito? Eu não estou mentindo!”.


O que era novidade, mas eu não estava. Por que ele pensou que eu mentiria sobre uma coisa dessas, eu não sei, mas ele pensou. Ainda parecendo que não acreditava em mim, ele me perguntou de forma cética, “Então, o que ela queria com você? Porque McGonagall simplesmente não chama as pessoas até seu escritório por nada e – “.


“Aulas particulares!”, eu o interrompi mais uma vez, o sacudindo dessa vez. “Ela me pediu para dar aulas particulares para alguém em feitiços. Tarefas de monitora-chefe, se lembra? Entendeu agora? Tudo bem?”.


Eu esperava que sim, porque eu não sabia mais de quantas maneiras diferentes eu poderia dizer isso. James piscou seriamente para mim por algum tempo, antes de finalmente parecer compreender o que eu estava tentando lhe contar. Ele ficou com as bochechas um pouco coradas.


O que era uma mudança legal, considerando que a vermelha aqui geralmente sou eu.


“Eu...ah”, ele me olhou acanhado. “Bem, er, é, ok. Aulas particulares. Certo”.


“Espera um minuto”, Grace ergueu a cabeça atrás de James. “Sem Piranha da Torre? Sem clube de xadrez?”, eu neguei com a cabeça. Grace pareceu um pouquinho desapontada. “Bem, isso tira a graça da coisa toda, não é? Eu estava esperando algo. Toda essa espera por causa de uma aula particular...”.


“Sim, aula particular. Ótimo. Adorável. Mistério resolvido!”, isso veio de Chris Lynch, ainda no sofá, parecendo irritado. “Evans está aqui, ela já disse tudo – nós, por favor, podemos ir treinar agora?”.


“É, podem ir”, James respondeu. “Já estou indo”.


Isso pareceu animar todos. Depois que Marley me deu um sorriso e passou pelo buraco no retrato, todos a seguiram do salão comunal, restando apenas eu, Emma, James, Grace e, surpreendentemente, Sirius, que aparentemente decidiu ficar também.


“Espera um segundo”, eu disse, olhando para o buraco do retrato e depois para James. “Você adiou o treino por minha causa?”.


“Mais ou menos”, foi sua resposta, e ele voltou a parecer acanhado. “Foi Grace. Ela não queria ir até que soubesse o que estava acontecendo – “.


“Ah, não jogue isso tudo pra cima de mim”, Grace exclamou, indignada. “Você que deu um escândalo quando ficou sabendo que ela estava com McGonagall!”.


“Eu não – “.


“Sim, James. Você deu”.


“Grace – “.


“Isso realmente importa?”, Emma interferiu calmamente, lhes lançando um olhar profundo. Grace fez um barulho de insatisfação e James simplesmente deu de ombros.


“Bem, pra quem você vai dar aulas?”, Grace perguntou alguns segundos depois, ainda parecendo um pouquinho amargurada. “É melhor que seja alguém bom. É alguém bom?”.


“Eu não sei”, eu respondi sinceramente, também dando de ombros. “Eu nunca nem ouvi falar nele. Mas ele é grifinório. Um terceiranista. Maurice. Maurice John Rosier – “.


O QUÊ?!”.


Minha cabeça se virou ao ouvir a reação veemente de James, e talvez eu tivesse perguntado a ele o que diabos estava acontecendo naquele exato momento, se ele não tivesse decidido ter um ataque de gritos e Sirius não tivesse caído na gargalhada, rindo como um louco. Dos dois, a resposta de Sirius pareceu a mais peculiar. “O quê?”, eu o questionei, olhando para sua forma com os olhos estreitados. “O que é tão engraçado? Qual é o problema? Black, do que diabos você está rindo?”.


“Bem, eu serei amaldiçoado”, ele riu amargamente, mas ele não estava olhando pra mim, enquanto ele dizia isso. Ele estava olhando James. “Ouviu essa, Prongs? Ouviu essa? Evans tem que dar aulas pro meu irmão. Isso não é a coisa mais…”.


Seu o quê?


“Hum, Sirius”, eu comecei lentamente, lhe olhando. “Eu detesto dizer isso a você. Mas eu conheço seu irmão, e ele” – eu ergui o pedacinho de pergaminho que McGonagall tinha me dado – “não é ele”.


“Não literalmente, Evans”, foi a resposta seca de Sirius, sua risada finalmente chegando ao fim e uma emoção completamente diferente aparecendo. “Um cara com um coração parecido com o meu. Meu irmão de alma. Ou o último nome Rosier não te chamou atenção?”.


Eu não gostei do jeito que ele estava olhando pra mim. Eu também não gostei do jeito que ele estava falando comigo. Me sentindo mais do que um pouquinho desconfortável, eu cocei a minha cabeça, murmurando, “Bem, sim, Evan Rosier, eu sei, mas – “.


“Exatamente”, ele disse no mesmo tom fatal, e quando eu o olhei, ele estava com um olhar bastante furioso. “Quantos Rosiers você conhece que estejam na Grifinória?”, ele perguntou. Então, sua boca se virou em um sorriso amargo. “Tantos quanto os Blacks, eu suponho”.


Eu não sabia o que responder. Sirius Black e seus problemas de família não eram exatamente um assunto do qual eu sabia muito ou um muito fácil de se conversar. Mas eu não podia ignorar o significado por trás de suas palavras. Eu conhecia Evan Rosier. Ele era um setimanista da Sonserina, não exatamente um dos mais legais. E eu sabia dos rumores que o cercavam.


Comensal da Morte.


Dizem que ele é um Comensal da Morte.


“Então ele é...irmão do Evan?”, eu perguntei baixinho, engolindo em seco.


Sirius concordou com a cabeça de forma sinistra. “E a maçã nunca cai muito longe da árvore”.


Eu assenti com a cabeça, mas eu ainda não podia aceitar o conceito. O que exatamente eles estavam me falando? Que meu aluno é algum tipo de...Comensal da Morte em treinamento? Que eu deveria ficar de olho? Mas esse garoto – Maurice – ele tem treze anos! Quero dizer, o que ele poderia fazer?


Mas Evan só tem dezoito.


“O que você sabe sobre esse garoto?”, eu perguntei de repente, olhando com severidade para todos. “Maurice. O que vocês sabem sobre ele?”.


Primeiro, ninguém parecia querer me responder. Todos se olharam, trocando olhares furtivos que, por alguma razão, eles achavam que eu não podia ver. Eu engoli em seco e depois perguntei de novo. Levou mais alguns segundos, mas alguém finalmente considerou apropriado me responder.


Mas era um mal sinal.


Eu sabia que era um mal sinal.


“Ele não é do tipo sociável”, Grace finalmente respondeu em uma voz serena. “cara, o garoto é um recluso. Ele não tem amigos, Lily. Ele está sempre se escondendo nas sombras e tudo mais, observando como um gato ou algo assim. Eu nunca falei com ele, mas ele...ah, droga, eu não sei, Lil. O que McGonagall estava pensando, te pedir para dar aulas particulares...quero dizer, você é...você...”.


“Nascida trouxa. É, eu sei”, e nunca em minha vida eu fiquei tão chateada com este fato. “Mas ele é...quero dizer, Sirius até disse que ele é como você, não disse? E você não se parece em nada com sua família, certo? Como a gente vai saber se Maurice não é assim? Nós não sabemos, sabemos? Quero dizer, nenhum de vocês nunca falou com ele, certo? Certo?”.


Ninguém disse nada.


E tudo o que eu conseguia pensar era: as coisas não podem andar nos eixos pelo menos por um dia?


Não parecia justo.


“Você provavelmente está certa, lily”, Emma finalmente disse, quando mais ninguém parecia querer se manifestar. Mas eu sabia que ela estava mentindo, assim como todo mundo. Então, ela se virou para os outros. “É melhor vocês irem treinar”, ela disse. “Eles precisam de você”.


Grace e Sirius murmuraram em concordância, mas James – que não havia falado desde seu ataque inicial – simplesmente apertou ainda mais a sua boca já tensa e saiu do salão comunal.


Eu queria poder dizer que eu me importava, mas parecia que eu tinha mais problemas nas minhas mãos para me preocupar do que as mudanças de humor de James Potter.




Ainda mais tarde, Biblioteca


Lily Observadora: Vigésimo Segundo dia


Observações Totais: 146


Eu tentei esquecer o fato de que eu iria dar aulas particulares para um futuro Comensal da morte e deixei Emma me arrastar para a biblioteca para começar nossas tarefas, mas pessoas como Maurice John Rosier aparentemente não são fáceis de se esquecer.


Nem mesmo Transfiguração consegue me distrair da minha morte eminente.


Eu não entendo porque McGonagall faria uma coisa dessas. Quero dizer, sério, não é como se ela me odiasse e quisesse me ver morta. Eu sou Monitora chefe! Quem em plena consciência tenta eliminar a monitora-chefe? Eu acho que é contra lei.


Bem, quero dizer, assassinato sempre é contra lei, mas é ainda mais hediondo quando é a monitora chefe. É um fato comprovado. Ou algo assim.


Não, McGonagall não faria isso comigo – nem com ninguém. Apesar de todas suas ameaças, ela é um cão que mais ladra do que morde. Ela não é assim.


Será que ela pensa que eu vou, eu não sei, reformá-lo ou algo assim? É esse seu plano mestre? Será que ela acredita que depois de algumas sessões comigo, ele vai pensar, “Ah, trouxas, eles não são assim tão ruins?”. É isso que ela acha que vai acontecer? É isso que ela está aprontando?


Bem, é tudo diversão até que alguém saia machucado.


Ou, talvez, no meu caso, morta.


Droga.




Ainda mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Vigésimo segundo dia


Observações Totais: 147


Repentinamente, Mac apareceu na biblioteca. Então, Emmeline naturalmente insistiu que ela tinha que ir embora, dando uma desculpa horrível, falando que precisava falar não sei com quem, ao invés de simplesmente me falar a verdade. Eu estava absorvida demais pelo meu próprio sofrimento para me importar em me intrometer, então eu deixei passar essa (mas na próxima, eu pego ela. Os dois. Eles não vão perceber). Eu não me importava em ficar sozinha no meu tempo de necessidade. Eu acho que eu mal percebi.


Hum.


Eu não sei por quanto tempo eu fiquei ali sentada depois que ela saiu. Eu não senti vontade de ir embora também, então eu não fui. Mas eu acho que foi bastante tempo, porque James chegou para me encantar.


“Ei”, ele disse, se sentando na minha frente.


Eu olhei um pouquinho, ele ainda estava com seu uniforme de quadribol, mas seu cabelo estava molhado, o que me fez deduzir que ele tinha tomado banho. Eu não sabia se queria falar com ele – falar com qualquer um, na verdade. Eu tinha muito no que pensar. Mas no final das contas, eu acho que o ditado ‘duas cabeças pensam melhor do que duas’ meio que funcionou , então eu sorri e disse, “Ei. Como foi o treino?”.


Ignorando a minha pequena hesitação, James deu de ombros, pegou uma das minhas penas e um pedaço de pergaminho, e começou a rabiscá-lo. “Tudo bem, eu acho”, ele respondeu, apesar de que pelo seu tom de voz eu sabia que tinha sido tudo menos isso. “Marley continua perdendo suas jogadas e Lynch não consegue defender o gol do lado esquerdo. Sirius está meio mau-humorado então...”, ele hesitou, suspirando gentilmente, “e você está pouco se lixando pra isso, não é verdade?”.


É.


É verdade.


Mas eu sou uma boa amiga.


“É, é verdade”, eu disse sinceramente, sorrindo de novo. “Mas se te faz sentir melhor, fale o quanto quiser. Quero dizer, quem sabe? Essa pode ser a última vez que nos falamos antes que o mini-comensal da morte acabe comigo. Então, vamos fazer este encontro memorável, certo?”.


Eu queria que fosse uma piada, alguma coisa para fazê-lo sorrir já que ele parecia tão estressado, mas ao invés de rir, ele me olhou feio. “Não brinque com isso”, ele disse severamente. Então, ao invés de falar de quadribol, ele simplesmente começou a falar sobre o Sr. Maurice John. “Eu não faço a mínima idéia do que McGonagall estava pensando ao colocar ele junto com você”.


“Não é bem assim”, eu disse, tentando ser razoável. “Quero dizer, eu estive pensando sobre essa coisa toda, e você realmente acha que McGonagall iria me colocar em perigo deliberadamente? Quero dizer, esse garoto só tem treze anos de idade, pelo amor de Merlin! E eu só vou dar aulas pra ele, James. Não é como se eu estivesse o convidando para tomar um chá e comer bolinhos”.


Eu cheguei a essa conclusão depois de muitas horas, mas era óbvio que não poderia ser ignorada. James parecia que ia concordar, enquanto ele me olhava rapidamente e depois suspirava longamente. “É, eu sei”, ele disse.


Nós ficamos em silêncio por alguns minutos, James rabiscando, eu pensando. Eu não gostava do fato de James estar preocupado demais com a situação. Ele sabe muito mais sobre os Rosiers do que eu, e o que eu sei já é bastante incriminador. E se todo mundo estivesse certo? E se essa história toda não fosse assim tão inofensiva quanto eu pensava? Eu realmente não achava que algo pudesse acontecer ao dar aulas para um garoto de treze anos, mas isso não me deixava menos nervosa sobre a coisa toda.


“Mas sabe”, eu finalmente falei, quando eu não consegui mais me segurar, tentando não soar tão desesperada, apesar de eu estar. “Se isso for te fazer sentir melhor – sabe, para você ter certeza que eu estou viva e tudo mais – eu posso colocar minhas aulas com o Comensal da Morte antes das nossas. Mas se você se importar, eu posso marcar para outro dia e –“.


“Não”, James imediatamente me interrompeu, e eu senti meu coração se apertar. “Quero dizer, sim. Não, não marque para outro dia. Sim, marque para amanhã”. Então, ele sorriu. “Se você quiser”.


O que eu queria. Desesperadamente.


“Obrigada”, eu disse, porque parecia apropriado.


“Por nada”.


Então, nós ficamos em silêncio de novo.


“Você sabe o que eu adoraria nesse momento?”, James perguntou alguns minutos depois. Eu o olhei cuidadosamente. Havia muitas respostas possíveis para esta pergunta. “Bombom”, foi sua resposta inocente. “Eu adoraria alguns bombons”.


Eu revirei meus olhos e ri. “Você ainda está nessa, seu maluco?”.


James riu e deu umas pancadinhas em seu estômago. “Eu te disse, é um desejo forte”.


“É, é, eu sei”, eu falei, exasperada. “Dias, semanas, anos. Pode durar a vida toda. Mas quer saber de uma coisa?”, eu impliquei com ele, suspirando levemente. “Eu não estou com vontade de escrever nenhuma carta agora. Me desculpe”.


Li-ly”.


“Quando você não está com vontade, não dá”.


“Sim, mas tempos desesperadores exigem medidas desesperadas”, James deixou escapar um suspiro dramático. “Eu receio que se você não escrever, eu vou ter que fazer isso pessoalmente. Ah, e as coisas que eu poderia dizer a sua mãe...”.


Ele se achava muito inteligente, não é mesmo?


“Tenho certeza que você poderia”, eu respondi orgulhosamente. “No entanto, são apenas ameaças, meu amigo. Quero dizer, você pode até escrever quantas cartas você quiser...mas isso não significa que você saiba para onde mandá-las”.


“Claro que sei”.


“Ah, é? Onde? Eu aposto que você não tem a mínima idéia de onde eu moro”.


“Surrey”, James respondeu, e dessa vez ele era o único que parecia orgulhoso. Eu revirei os olhos.


“Tsc,tsc,tsc. Receio que Surrey seja um lugar bem amplo”, eu disse com falsa-pena. “Não vai funcionar”.


“Eu sei o resto”, ele insistiu, e eu ri.


“Não, não sabe”.


“Sim, eu sei”, ele insistiu de novo. Suas sobrancelhas se afundaram, como se estivesse pensando. “É...ah, droga, espera um segundo...”.


“Você não sabe – “.


Glytthingham!”, ele gritou, o triunfo em sua voz. “422 Glytthingham”.


Minha boca se abriu em espanto.


Ele sabia.


Merlin, ele sabia!


“Como você sabe isso?”, eu exclamei, gaguejando. “Isso...como...é...”.


“Eu sempre disse que te escreveria durante o verão”, ele confessou baixinho, e eu fiquei ainda mais chocada quando eu vi que ele estava ficando vermelho. O que foi isso, a segunda vez hoje? Deve ser algum tipo de recorde. “Eu devo ter escrito milhares de cartas, mas eu nunca as enviei. Eu quase fiz isso no quinto ano – depois daquela coisa toda depois do N.O.M’s de Defesa Contra as Artes das Trevas, lembra disso? – mas eu sempre amarelava. Achei que eu já tinha me envergonhado demais pessoalmente, não precisava fazer isso por escrito também”.


Oh.


Oh.


Ai, droga.


“Er...certo”, foi a minha resposta retardada, mas eu realmente não sabia o que responder depois de uma confissão como aquelas. O garoto sabia onde eu morava. Ele ia me escrever cartas durante o verão. Cartas. Ele ia escrever cartas para a garota da qual ele gostava em algum tipo de tentativa para...eu não sei, conquistá-la ou algo assim, mas ele teve medo.


Eu.


Ele ia escrever pra mim.


Eu não sei como eu me sinto quanto a isso.


Sentindo meu desconforto com a coisa toda, James limpou sua garganta de forma esquisita e, ainda um pouquinho vermelho, me perguntou com um sorriso implicante, “Então o que vai ser? Você ou eu? Porque eu te garanto que sua mãe vai se divertir muito mais com a minha carta”.


“Eu escrevo”, eu respondi, meio rouca. “Eu escrevo a carta”.


E foi isso.

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