Capítulo 13 - parte 1

Capítulo 13 - parte 1



Capítulo 13 – parte 1 – Guia de mentiras da Piranha da Torre


Segunda-feira. 6 de outubro, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Vigésimo primeiro dia


Observações Totais: 136


Coisas a fazer:


Sair da cama...em algum momento.


Me vestir...em algum momento.


Ir tomar café da manhã...em algum momento.


Me preparar fisicamente, emocionalmente, espiritualmente etc, para a apresentação de Runas Antigas que será em menos de três horas.


Me preparar fisicamente, emocionalmente, espiritualmente, etc para me encontrar de novo com o meu futuro marido que está atualmente muito irritado, Amos Diggory, por causa da apresentação de Runas Antigas.


Tentar convencer o meu futuro marido a não ficar mais irritado.


Tentar descobrir porque o futuro marido está irritado como se, aparentemente, fosse ele quem foi ignorado e maltratado quando estava morrendo de dor ontem.


Respirar.




Mais tarde, café da manhã no Salão Principal


Lily Observadora: Vigésimo Primeiro dia


Observações totais: 137


Quando eu finalmente consegui descer para o café – mentalmente passando a apresentação de Runas Antigas pelo que devia ser a milionésima vez aquela manhã, apesar de eu ter certeza de que já sabia de tudo. Eu não estou muito preocupada nem nada assim. Quero dizer, Amos e eu formamos um time espetacular. Perfeito. Imbatível. Nós sabemos de tudo. Tudo mesmo. Eu só estou…me ê nunca consegue ficar preparada demais – Marley estava sentada sozinha na mesa da Grifinória, mastigando uma torrada e lendo o Profeta, como sempre.


“Oi”, eu disse, por trás dela. Ela pulou quase dez metros no ar.


“Lily”, ela exclamou, sua mão voando para seu peito. “Pelas barbas de Merlin, por que você está se esgueirando assim atrás de mim?”.


“Eu não estava me esgueirando”, eu insisti, me sentando do seu lado, colocando minha mochila no chão. Eu lhe lancei um meio-sorriso. “É óbvio que você está meio nervosa esta manhã”.


Eu disse aquilo com intenção de ser uma piada, claro – a parte dela estar nervosa, quero dizer – então, eu fiquei bastante surpresa quando, ao invés de rir, Marley se inclinou para mais perto de mim, com sua voz baixinha e seus olhos relampejando para o outro lado do salão. “Está vendo aquele cara ali?”, ela murmurou, sacudindo sua cabeça na direção da mesa da Sonserina. Meus olhos se ergueram, imediatamente pegando um olhar perfurante de um garoto bem bonito que estava sentado lá. Assim que nossos olhares se encontraram, ele desviou o olhar. “Ele tem feito isso toda a manhã”, Marley confessou, suspirando levemente. “Está me dando nos nervos”.


“Talvez ele goste de você”, eu sugeri com um sorriso.


“De alguma forma, eu duvido disso”, Marley respondeu sem rodeios, seus olhos mais uma vez perdidos na mesa do outro lado. “Ele é um Sonserino. Além disso, ele está na minha turma de Transfiguração e apesar do fato de eu ser perfeitamente cordial, ele é sempre rude comigo. Tem alguma coisa no meu rosto da qual eu não estou sabendo? Talvez seja isso”.


Eu olhei e depois neguei com a cabeça. “Não”, eu disse, dando de ombros. “Não tem nada”.


“Droga”, ela disse, erguendo sua cabeça. “Eu estava esperando que fosse isso. Ele provavelmente está lá, planejando o meu assassinato ou algo assim”, eu ri e sacudi minha cabeça. Marley me olhou com uma careta. “De qualquer forma, por que você desceu tão tarde?”, ela perguntou, depois se corrigiu rapidamente, “Bem, ainda está cedo, mas você desceu mais tarde que o usual”.


“Não estava com vontade de me levantar esta manhã”.


“Por quê? Vai ser um dia estressante?”.


“Er, não, na verdade, não”, eu respondi, apesar de minha mente ainda estar recitando as mesmas seis falas da apresentação de Runas Antigas que eu parecia não acertar, e se isso não for um sinal de stress, eu não sei o que é. “Eu tenho uma apresentação de Runas Antigas, mas não é nada de mais. Onde James está?”.


“Não sei”, Marley disse, dando de ombros. “Também ainda não desceu. Estranho. O que aconteceu?”.


Eu dei de ombros também, apesar de que eu não ficaria surpresa se ele ainda estivesse na cama, vomitando em uma bacia do lado de sua cama, com seu estômago ruim depois de devorar toda aquela quantidade de comida (e a maioria nem era do tipo saudável) quando ele desceu lá na cozinha ontem à noite. Ele mereceria. Eu disse a ele que aqueles bolinhos recheados não eram uma boa idéia. Ele não ouviu, simplesmente foi lá e os devorou também.


Garotos são tão porcos às vezes.


“Por falar em James”, Marley disse, mordendo sua torrada, “Eu tive uma conversa muito interessante ontem”.


“Com James?”, eu perguntei.


“Não, com Elisabeth Saunders”.


Ai, merda.


Merda, merda, merda.


“O que ela disse?”, eu perguntei, tentando não parecer tão assustada, apesar de eu estar.


Marley sorriu. “Bem, para ser perfeitamente honesta, ela não disse muita coisa, ela mais me interrogou – não precisa ficar enjoada! Foi bem engraçado, na verdade”, Marley continuou a passar manteiga em sua torrada, como se essa conversa não tivesse grande importância na minha vida muito delicada. “Ela perguntou sobre você e James”, ela continuou. “Ela estava bem interessada na maneira que vocês dois tomam o café da manhã”. Ela ergueu suas sobrancelhas de forma sugestiva. “Agora, por que será que ela estava assim tão interessada?”.


Eu gemi alto, abaixando minha cabeça na mesa. A garota não podia deixar essa história pra lá? Ela tinha que ficar trazendo isso à tona, interrogando as pessoas?Ela já ganhou, será que ela não percebe? Ela não pode simplesmente pegar a vitória dela e deixar os meus delicados sentimentos em paz? Eu queria que ela simplesmente esquecesse o fato de que eu disse a ela que eu estava namorando James.


Qual é a pena para alterar a memória das pessoas sem autorização?


Eu não tenho medo de ir para cadeia.


Pode valer a pena.


“Vamos lá, Marley”, eu disse com um suspiro gigante. “Você sabe que era tudo besteira. O que ela perguntou? O que você contou pra ela?”.


“Bem, naturalmente, ela perguntou se você e James estavam namorando”, Marley respondeu sorrindo levemente. “Eu realmente não soube o que dizer em um primeiro momento. Mas depois, eu pensei comigo mesma, o que Lily faria?”.


Er...chutar a perna de Saunders e depois sair correndo?


É.


Isso soa muito bem.


“Então, o que você fez..ou, er, o que eu faria?”.


“Ué, irritá-la ao máximo!”, Marley exclamou jovialmente, e eu não consegui evitar rir por causa de sua alegria e sua dedução do meu caráter. “Bem, sem dizer exatamente que você e James estavam namorando, claro”, ela acrescentou rapidamente, um pequeno sorriso aparecendo em seus lábios. Ela parecia tão orgulhosa de si mesma, que eu sabia que ela tinha irritado Saunders. E, quer saber de uma coisa? Eu não consegui me sentir mal por isso. Ainda rindo, eu sacudi minha cabeça e perguntei, “Ai, Marley, o que você fez?”.


“Na verdade, nada”, ela sorriu de maneira muito boba. “Eu só disse que até onde eu sabia, não tinha nada oficial, mas que se ela quisesse a minha opinião, que eu achava muito fofo o jeito que vocês comem do prato um do outro...e mencionei que eu nunca vi a mão de vocês em nenhum outro lugar a não ser debaixo da mesa”.


Eu não consegui evitar. Eu comecei a gritar como uma louca.


Talvez, só talvez – com uma ajudinha dos meus amigos – Saunders não vá sair dessa como a vitoriosa ainda.




Mais tarde, Runas Antigas


Lily Observadora: Vigésimo primeiro dia


Observações Totais: 137


Mais cartas escritas por Lily Evans a Amos Diggory durante a aula de Runas Antigas que ela nunca vai mandar, mas gosta de escrevê-las assim mesmo, porque ela não tem nada melhor a fazer com o seu tempo (e ela precisa se distrair de sua grande e nunca-contestada apresentação com o já mencionado Amos Diggory).


Querido Ainda-um-pouquinho-bravo-mas-ainda-lindo-Amos,


Bem, aqui estamos, amor. O dia finalmente chegou: nossa apresentação. Todo aquele trabalho duro, todo aquele tempo que nós passamos juntos, resultou nisso. Sabe, se eu já não tivesse certeza que nós vamos a Hogsmeade semana que vem, eu provavelmente estaria muito arrasada por causa causa da apresentação, quero dizer. Porque, então, eu não teria nenhuma boa desculpa para falar com você ou passar um tempo junto com você. Mas agora eu tenho. Hogsmeade. Lugar brilhante, essa Hogsmeade.


Você está muito nervoso, amor?Não parece. Não mesmo. Na verdade, você parece perfeitamente maravilhoso. Mas caso você esteja se sentindo um pouquinho nervoso e seja bom em esconder isso, não se preocupe. Nós sabemos tudo. Nós vamos arrasar.


E se a gente não for muito bem, lembre-se que Timmy, o Garoto-Hiena e Penny-O’Jene-Mãos-Sujas estão brigados de novo. Nós não seremos pior que eles.


Sempre sua,


Lily


Amor –


Ai, droga, eu acabei de perceber uma coisa.


Nós também estamos brigados, não estamos?


Merda.


Sua Amante-um-pouquinho-preocupada


Querido Sexy,


Nós não estamos exatamente brigados, estamos? Quero dizer, eu sei que você está um pouquinho chateado com aquela coisa toda do James, mas você sabe que não foi exatamente minha culpa, certo? Foi culpa da Elisabeth Saunders. Ela me provocou. Provocou sim. E só porque eu me diverti muito com as coisas que Marley disse a ela ontem não significa que eu realmente quero que a escola inteira acredite que eu estou namorando James. Sabe, só a Elisabeth. Você entende isso, não entende, Amos?


Verdadeiramente sua,


Esposa


A-


Ai, meu deus. Nós estamos brigados. NÓS ESTAMOS BRIGADOS!


Nós vamos nos dar tão mal.


L.


NÃO LEVANTE SUA MÃO! NÃO LEVANTE –


Merda, merda. Você levantou a sua droga de mão.


Ainda-batendo-no-meu-coração,


Eu sabia que nós não estávamos brigados. Eu sabia.


Nós somos tão bons.


Sempre,


Seu coração


P.S.: Você viu o Hiena e as Mãos-sujas? Eles estão brigados.. Eu morri de rir quando ela começou a falar sobre cuecas rosas. Clássica. Diversão pura e sem adulteração.




Mais tarde, feitiços


Lily Observadora: Décimo primeiro dia


Observações Totais: 137


Então, como foi? GR


Como foi o quê? – LE


A sua apresentação, sua boba. Você estava murmurando ontem à noite enquanto dormia – EV


Não estava não.


Como você sabe? Você estava dormindo.


Porque eu sei.


Isso não é uma boa defesa, conselheira. Se importa em continuar?


Não, obrigada.


Então?


Então?


Foi assim tão ruim?


Não, na verdade, foi perfeito. Por um segundo, eu tive minhas dúvidas, mas tudo correu bem no final. Não que Lundi fosse me dar uma nota ruim, de qualquer jeito. Ele me adora.


Quem não te adora?


Er, no momento? Algumas pessoas. Incluindo o meu futuro marido. E isso não é nada bom para a felicidade matrimonial. Ou para as crianças.


Ele disse alguma coisa pra você?


Crianças?


Não. Ele não fala comigo desde sexta feira. Ele até que sorriu uma ou duas vezes para mim esta manhã, mas isso deve ser porque eu salvei a pele dele durante a apresentação algumas vezes. O garoto é horrível em Runas. E sim, Grace, minhas crianças. Elas são mentes pequenas que não saberiam lidar com pais brigados.


Talvez você devesse ir falar com ele.


Você não tem filhos.


Eu não sei. Eu não saberia o que dizer. Qualquer coisa que eu disser vai fazer com que, ou eu, ou James pareçamos os maiores idiotas do planeta. Eu sou egoísta o suficiente para não querer isso pra mim e eu não posso fazer isso com o James. Olhe pra ele ali atrás. Ele é tão inocente...ou, sabe, ele seria se não estivesse balançando sua varinha daquele jeito. O que diabos ele está fazendo? – mas eu quis dizer nessa história. Ele é inocente nessa história toda. E Gracie, não fale dos meus bebês dessa forma, ok?


Bem, quais são suas outras opções, Lil? Quero dizer, você não pode continuar evitando o problema. Não será resolvido dessa forma. E, acredite ou não, daqui uma semana eu não acho que as pessoas ainda vão se importar com o fato de que você mentiu sobre estar namorando James. A maioria da população feminina já fez isso uma ou duas vezes antes.


Bem, onde eles estão? Seus bebês ou crianças? Tem diferença, sabia?


Elisabeth Saunders vai se importar! Como é que eu vou dormir no mesmo quarto que ela se ela descobrir? Ela ficará intolerável. Eu nunca vou sobreviver a isso. E do que você está falando? Quem mais diz que está namorando James?


Merlin, Lil, não é como se você já não tivesse mentido pra garota antes. Lembra daquela vez no terceiro ano quando você disse a ela que conhecia aquela modelo internacional? Você sobreviveu a isso, não foi?


Mais ou menos, Em. Mais ou menos.


Ela esqueceu disso uma semana depois!


É, mas foi só porque ela estava ocupada demais agarrando o James. E por falar em James, quem mais diz que está namorando ele? Quero dizer, ele não é...bem, eu acho que ele é, mas...quem?


Um monte de gente, na verdade. Não é como se você tivesse iniciado a moda.


Quem?


Eu sinto que estou sendo ignorada aqui.


Então diga algo inteligente que você não será ignorada.


Algo inteligente. Há. Ha. Ha.


Ai, Merlin.


Por favor, Gracie.Vá sentar na esquina antes que você machuque alguém.


De que lado eu tenho que mover o meu pulso?


Direita.


Não, comece da esquerda e depois mova para a direita. Assim é mais fácil.


Ah, brilhante. Você, sua gênia dos feitiços.


Eu tento.


Você consegue.


É, muito freqüentemente.


Quanta arrogância, Lil.


Só é arrogância se eu estou errada. E eu não estou.


Ah, sua – ai, droga. Flitwick não parece nada feliz.


Droga. Rápido, finja-se de inocente.


Feito.




Mais tarde, Almoço no Salão Principal


Lily Observadora: Vigésimo primeiro dia


Observações Totais: 139


Eu disse à Emma que eu falaria com Amos se ela falasse com Mac. Ela fingiu que não tinha me escutado.


Madura. Muito, muito madura




Mais tarde, Adivinhação


Lily Observadora: Vigésimo primeiro dia


Observações Totais: 139


Talvez eu devesse ir falar com Amos.


Quero dizer, contanto que James não esteja lá, agindo como um idiota e incentivando os instintos masculinos de Amos, não deve ser assim tão ruim. Se eu continuar a ignorá-lo, eu vou estar sendo tão idiota quanto Emma e Mac (e isso é uma quantidade inconcebível de idiotice). Eu vou encontrá-lo, começar algum tipo de conversa leve e, subitamente, eu começo a falar do fato de que ele não tem o direito de estar zangado comigo porque a história toda com o James era só um boato bobo (que eu acidentalmente comecei, mas não há necessidade de contar isso a ele) e se ele realmente se importa comigo (claro que ele se importa), ele simplesmente vai esquecer dessa história toda e aceitar os meus amigos como amigos e somente como amigos para que nós possamos seguir em frente com a vida e começar a nos reproduzir.


Ou, sabe, não com todas essas palavras, mas é a mesma coisa.


E Elisabeth Saunders pode ir pular de um penhasco que eu não me importo. Emma está certa. Ela vai esquecer dessa história toda quando aparecer a próxima oportunidade de torturar alguma garota inocente. E se ela não esquecer, se ela continuar sendo um incômodo insuportável, eu simplesmente vou lembrá-la que, por um bom tempo, ela acreditou totalmente nas minhas mentiras. Isso vai reprimi-la, certo?


Ou, se isso não funcionar, eu mando James atrás dela. Ele vai fazê-la parar. Ele gosta mais de mim.


Eu acho.


Apesar dele ter namorado ela.


Um pequeno lapso de discernimento da parte dele. Ele tem amigos mais legais agora.


Isso. Brilhante. Plano sensacional. Agora eu só tenho que encontrar meu amor...humm.




Mais tarde, Vagando pelos corredores


Lily Observadora: Vigésimo primeiro dia


Observações Totais: 140


A fim de que este plano dê certo, eu não sei, mas eu estou relativamente certa de que Amos precisa estar presente.


Droga, onde diabos está esse homem?




Mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Vigésimo primeiro dia


Observações Totais: 142


Ele estava no campo de Quadribol.


Por que eu não estou nem um pouquinho surpresa?


Eu estou é chocada por não ter pensado nisso antes. Deveria ter sido o primeiro lugar onde eu deveria ter ido procurá-lo. O campo de quadribol é para o gênero masculino o que a biblioteca é pra mim – casa longe de casa. Eles estão constantemente lá. Constantemente. Sempre. Deveria ter sido o primeiro lugar a passar pela minha cabeça.


Quando eu finalmente descobri onde Amos estava (quando eu estava perto do Salão Comunal, eu ouvi um grupo de garotas da Lufa-Lufa cogitando a possibilidade de ir até o campo de quadribol para observar os garotos e dar aquelas risadinhas e tudo mais. E já que eu não queria que parecesse que eu estava ouvindo a conversa alheia sem permissão, eu não pude ir até o campo logo após elas. Eu tive que esperar uns bons minutos antes de segui-las, me assegurando que elas já estavam distantes), o treino já estava acabando. Não que eu estivesse reclamando disso ou algo assim. Quero dizer, se não tivesse acabado, eu teria que ficar e provavelmente assistir e tudo mais.


E por mais que eu ame Amos, eu acho que eu não mereço esse tipo de tortura.


Quando eu cheguei, Amos estava voando junto com o resto do time da Lufa-Lufa, balançando em sua vassoura com seus pés e movimentando freneticamente as suas mãos. O time estava assentindo com a cabeça, parecendo muito ferozes e “quadribolescos” com seus olhares severos e aqueles uniformes acolchoados (como eles conseguem andar com aquelas roupas? Se Quadribol não fosse um jogo assim tão louco, eles não precisariam daquelas cotoveleiras e joelheiras e luvas especiais e outras coisas mais. Só uma idéia). Eu fiquei no canto do campo e observei enquanto o time gritava um último “rah” selvagem e descia voando direto para o vestiário.


Loucos, todos eles.


Eu tinha aprendido minha lição com James que talvez fosse melhor esperar o garoto ter um bom banho depois de um jogo de Quadribol másculo, antes que você vá lá falar com ele. Principalmente quando o tal garoto não está muito feliz com você. E sim, apesar de Amos não estar tão nervoso quanto James – afinal de contas, ele não estava matando aulas ou pisando forte pelos corredores – eu ainda achei melhor me posicionar perto do vestiário e esperar pacientemente um Amos muito mais limpo e fresquinho.


Por amor a ele e tudo mais, quero dizer.


Eu sou preocupada desse jeito.


Então, eu me encostei na parede do vestiário, ignorando os olhares estranhos que eu estava recebendo dos outros jogadores do time da Lufa-Lufa, enquanto eles saíam do vestiário. Eles tinham que saber porque eu estava ali – meu encontro com o Amos já era de conhecimento comum – mas pelas suas...bem, eu acho que eles estavam com umas expressões bem hostis no rosto. Na verdade, eles pareciam achar muito estranho e talvez um pouquinho de intromissão eu estar ali. Apesar de não saber por que. Não é como se eu fosse algum tipo de ameaça para eles ou algo assim. Quero dizer, por favor. Nem em sonho.


Alguém levou muitos balaços na cabeça, eu acho.


No entanto, Amos parecia ter tomado banho muito rápido, porque ele saiu do chuveiro antes que o tédio pudesse entrar no controle ou que os olhares estranhos me deixassem louca (apesar de ter uma grande quantidade deles. No time de quadribol tem sete jogadores, certo? Definitivamente eu recebi bem mais que sete olhares estranhos. Definitivamente. Ou, sabe, pelo menos pareciam muito mais). Ele pareceu bem assustado ao me ver ali, mas foi o primeiro olhar nem-estranho-nem-hostil que eu recebia há um bom tempo, então eu considerei isso como um bom sinal.


“Amos, oi”, eu lhe lancei o meu melhor sorriso e fiquei surpresa ao ver que ele sorria de volta. Ah, sim. O banho foi definitivamente uma boa idéia. Principalmente porque, sabe, seu cabelo estava todo molhado e parecia tão fresquinho e limpo que eu podia imaginá-lo tomando banho alguns minutos atrás...


“Lily! O que você está fazendo aqui?”.


Sonhando acordada com você pelado.


Há.


“Eu só queria conversar com você”, eu respondi com um sorriso, com a minha boca um pouquinho seca. Mas o que eu posso dizer? Amos pelado tem esse feito sobre mim às vezes. “Você tem um minuto?”.


Se ele dissesse não agora, eu sei que eu iria desistir e me trancar no meu dormitório e chorar muito porque meu pobre coração ficaria arrasado. E eu saberia também que ele nunca iria aceitar minhas mentiras horríveis e a presença-sempre-constante do meu carma. Mas ao invés de partir meu coração em mil pedacinhos, Amos simplesmente me lançou um daqueles seus sorrisos de arrasar o coração e disse, “Sim, claro”.


Elas eram as duas melhores palavras no vocabulário inglês, tenho certeza.


Nós começamos a andar pelo campo e (graças a Merlin!) Amos não parecia mais estar com raiva. Eu estava quase relutante em tocar no assunto sempre controverso que era James Potter, mas eu sabia que mesmo que Amos não se importasse mais com nada, eu ficaria preocupada constantemente e Merlin sabe que eu já tenho o suficiente com o que me preocupar, com todas essas confusões onde eu sempre pareço me meter e tudo mais.


“Então, sobre o que você quer conversar?”, Amos perguntou, e ele parecia tão calmo que eu cogitei de novo em não tocar no assunto. Mas eu deixei esse pensamento de lado e comecei a falar antes que eu desistisse.


“Na verdade, eu queria te pedir desculpas”, eu disse, esperando por algum tipo de reação, mas o rosto de Amos estava inexpressivo. “Pelo que aconteceu na sexta-feira”, eu continuei, “com James”.


Se eu estava esperando algum tipo de reação veemente ao mencionar sexta-feira ou principalmente James Potter, eu fiquei muito decepcionada. Mas, considerando que eu queria que Amos não se importasse, que não ficasse mais zangado comigo (apesar de que, naquele momento, eu não tenho certeza se ele ainda estava com raiva), eu fiquei mais do que aliviada quando Amos simplesmente deu de ombros ao ouvir meu pedido de desculpas.


“Não se preocupe com isso”, ele disse. “Você não fez nada de errado. Sou eu quem deveria estar se desculpando. Eu agi como um completo idiota”.


Sem objeções quanto a isso, amor.


Eu cocei minha cabeça vagarosamente, me encolhendo um pouco. “Er, talvez, mas –“.


“Sem mas”, Amos interrompeu, me olhando. “Eu fui um idiota e eu peço desculpas por isso. Eu não estava tendo um dos meus melhores dias e...bem, eu sei que você sabe que Potter e eu não somos exatamente melhores amigos. Mas eu não deveria ter contrariado James daquela forma. Eu sinto muito”.


“E James também sente muito”, eu respondi rapidamente, mentindo. Amos riu, sabendo que era mentira.


“Ah, ele sente, é?”, ele sacudiu a cabeça. “De alguma forma, eu não acredito muito nisso”.


“Ele sente”, eu insisti de novo. “Ele só não sabe disso ainda. Mas ele sente. Verdadeiramente. Profundamente. Bem no fundo do coração dele”.


Amos riu de novo e eu achei que isso era um bom sinal, considerando tudo. Afinal de contas, rir não é o caminho para a felicidade?


Sim, é sim.


“A propósito, como está o seu tornozelo?”, Amos perguntou depois dele finalmente parar de rir. “Está se sentindo melhor?”.


Ainda doía muito, mas eu estava tão empolgada com o fato de Amos não estar com raiva de mim e, além disso, estar bem ali, sorrindo, pedindo desculpas, e me perguntando sobre o meu tornozelo que não cura nunca!! Parecia tudo perfeito demais para uma garota como eu. “Bem”, eu murmurei, ao escondendo a verdade. “Está tudo bem. Novinho em folha”.


“Que bom”, Amos disse com outro sorriso lindo. “Fico feliz. Afinal de contas, nós não podemos ter você mancando por Hogsmeade, não é mesmo?”.


Eu não tive coragem de dizer a ele que isso é exatamente o que nós teremos, então eu simplesmente concordei com a cabeça, ri e conversei alegremente com o meu futuro marido até que nós chegássemos no castelo, onde nós nos separamos muito bem. E, durante todo aquele tempo, tudo o que se passava na minha cabeça era: Ele não me odeia. Ele não me odeia. ELE NÃO ME ODEIA!!


Observação #141) Minha vida está finalmente – finalmente – começando a melhorar.


Observação #142) Hunf. Quanto tempo isso vai durar?




Ainda mais tarde, Jantar no Salão Principal


Lily Observadora: Vigésimo primeiro dia


Observações Totais: 142


Eu contei pra Emma que eu tinha falado com Amos e que agora era a vez dela. Dessa vez, ela fingiu não saber do que eu estava falando, depois pulou da mesa e fugiu antes que a palavra “Mac” pudesse sair dos meus lábios.


Um dia eu ainda pego ela. Ela não pode me evitar para sempre.


Eu já aceitei minha maneira intrometida de ser agora. Morte a todos que se intrometerem a ficar no meu caminho.


Há-Há-Há-Há.




Ainda mais tarde, Salão Comunal da Grifinória


Lily Observadora: Vigésimo Primeiro dia


Observações Totais: 142


Talvez eu realmente devesse ir ver Madame Pomfrey, que se dane a amputação. Eu realmente não estava mentindo quando eu disse que meu tornozelo ainda dói muito, e agora está começando a me enlouquecer. Eu tenho tentado ignorar isso, mas parece não estar funcionando. Está simplesmente doendo e doendo e doendo...ugh.


Não. Eu não vou até a Ala Hospitalar. Não vou. Vai ficar tudo bem. Vai passar em algum momento. Eu vou fazer minhas tarefas. Isso vai me distrair. Merlin sabe que Transfiguração toma uma boa parte da minha concentração.


É, é isso. Distração.


Aiiiii.




Ainda mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Vigésimo Primeiro Dia


Observações Totais: 143


Eu estava sentada em um dos sofás do salão comunal, tentando ignorar o meu tornozelo pulsante ao tentar compreender a minha tarefa de Transfiguração, quando James tropeçou e passou pelo buraco do retrato.


“Oi”. Ele caiu no sofá do meu lado, parecendo mais do que um pouquinho acabado.


“Oi”, eu sorri de volta, observando, enquanto ele obviamente expirava. “Onde você esteve? Você parece muito cansado”.


Ele murmurou alguma coisa, enquanto ele inclinava seu rosto na direção das costas do sofá e fechava seus olhos. Só deu pra entender algo como “primeiranistas” e “lá fora” e alguns palavrões antes que ele parasse de falar. Eu sacudi minha cabeça e ri.


“Noite difícil, então?”, eu impliquei com ele.


Ele abriu um dos olhos para me olhar furiosamente, e depois o fechou de novo.


E porque eu sou uma amiga muito solícita (além disso, com o meu tornozelo ainda se sentindo como se estivesse sendo cortado por uma faca, eu achava que não estaria disposta para os meus padrões de conversa delicada), eu deixei um James bem cansado em paz, provavelmente já cochilando, e continuei a fazer minha tarefa de Transfiguração, fingindo que eu tinha alguma idéia do que eu estava fazendo, ao invés de simplesmente ficar sentada lá e tentar não chorar. Eu já mencionei antes a minha baixa tolerância à dor? Bem, eu tenho. Uma extremamente baixa tolerância à dor, quero dizer. Extremamente, extremamente baixa tolerância.


Aiiiii.


“Está errado, sabe”.


Eu não sei quanto tempo nós ficamos sentados ali – minutos, horas, milênios – tudo o que eu sei é que em um momento nós não estávamos falando, e depois nós estávamos, e meu tornozelo ainda estava doendo.


“O quê?”, foi a minha resposta idiota, mas considerando que eu estava no meio de uma batalha para não começar a chorar bem ali e naquele momento (o que, sinceramente, quem teria se importado? Não é como se James não tivesse me visto chorando, ah, bilhões de vezes), eu acho que foi pura sorte eu ter conseguido dizer alguma coisa.


“Essa última questão”, James elaborou, e quando eu me virei para olhá-lo, seus olhos estavam abertos e ele estava apontando para o meu pergaminho. “Muito errado, na verdade. E – espera um segundo, todas estão er...Lily, nós estudamos isso semana passada! Você sabe a matéria. O que diabos você está escrevendo?”.


Meu testamento.


“Eu acho que vou morrer”.


“Transfiguração não vai te matar, Infalível”.


“Não, mas Pomfrey vai!”, eu exclamei, e isso parece que foi o suficiente para minha minha represa verbal de dor se liberar. Repentinamente, eu senti muita vontade de chorar e eu não conseguiria parar minhas reclamações infinitas nem que você tivesse me pagado. “Depois que ela amputar este tornozelo idiota – e, sabe, eu acho que nem me importaria mais com isso, porque eu estou começando a achar que é uma porcaria e não uma vantagem – mas ela vai amputá-lo e vai sangrar e sangrar até que eu sangre até a morte, mas mesmo assim eu acho que não me importaria porque aí pelo menos não ia doer tanto assim!”.


James pareceu um pouquinho assustado com o meu ataque e com a minha pessoa um tanto histérica. Mas por sorte, ele não perdeu sua calma. Seus olhos simplesmente se estreitaram um pouco e ele perguntou, “Seu tornozelo ainda está doendo?”.


E, sério, eu meio que tive vontade de bater nele bem naquela hora.


Porque, francamente – o seu tornozelo ainda está doendo? – que pergunta idiota.


Não. Eu estou mentindo.


Hunf.


Eu suspirei com raiva, segurando os meus impulsos violentos, já que eu descobri que simplesmente iria doer mais se eu me mexesse. “Já passou de uma mera dor agora”, eu respondi seriamente. “Eu te disse. Eu estou morrendo. Mor-ren-do.”.


“Deixe-me ver”, James disse.


“Não, não toque nele. Vai – ai! Que merda! James, isso dói!”.


“Desculpe”


Mas ele não queria. Ele simplesmente não queria pedir desculpas, porque ele continuou mexendo no meu tornozelo como se eu nem estivesse sentada ali, gritando e esperneando como uma louca para que ele parasse com isso. Ele simplesmente continuou a examiná-lo, sem nem prestar atenção em mim. Para você ver como eu sou insignificante neste mundo. Eu não consigo nem controlar meus membros quebrados.


Quando James finalmente ficou satisfeito com seu exame, ele cuidadosamente colocou meu tornozelo de volta no chão antes de se levantar do sofá, completamente indiferente, como se ele não tivesse acabado de infligir muita dor em mim. Então, para piorar as coisas, ele ofereceu sua mão pra mim. Eu não entendi nada, mas não importava. Como se eu fosse tocá-lo de novo. Hunf. Eu lhe lancei um grande e longo olhar raivoso.


“Vamos lá”, ele disse, mexendo sua mão e me oferecendo ela de novo.


“Vamos lá aonde?”, eu perguntei.


“Para a Ala Hospitalar para que você possa morrer. Vamos lá”.


“O quê? Não! Eu não vou a lugar nenhum!”.


Ele teve a audácia de se irritar tanto quanto eu, apesar dele não ter direito nenhum, já que era eu quem tinha um tornozelo que tinha acabado de sofrer um abuso e estava sendo convidada para dar um último passeio antes da minha morte fora de hora.


“Sim, você vai”, ele me disse, parecendo bastante determinado, mas eu estava ainda mais. “Eu não tenho a mínima idéia do que diabos você fica fazendo com esse tornozelo, Lily, mas está muito inchado e se você não fizer nada, vai ficar ainda pior. Agora, vamos lá”.


“Não. Você está cansado, se esqueceu? Sente-se”.


“Você está machucada, se esqueceu? Levante-se”.


Nós podíamos ficar horas e horas daquele jeito, e eu acho que nós dois sabíamos disso. Eu podia ver no rosto de James que ele não iria desistir. Mas eu não queria ir para a Ala Hospitalar. Eu realmente, realmente não queria ir. Eu tinha coisas a fazer, pessoas para ver, membros a continuarem ligados ao meu corpo...será que nada disso significa alguma coisa?


Mas, talvez, eu fosse a que estava cansada – ou talvez, simplesmente a mais inteligente, sabendo que eu perderia essa briga – porque depois de mais um bom ataque de olhares furiosos, eu suspirei e desisti, gemendo, “Ela vai me matar”.


Porque ela ia. Ela ia sim.


Mas James se importava com isso?


Não.


“Nós vamos dizer a ela que eu te empurrei das escadas”, ele disse, sorrindo pela sua vitória e agarrando minha mão para que eu pudesse me levantar. “Você precisa se apoiar em mim?”.


“Não”, eu respondi teimosamente, e depois derrotei meu propósito ao tropeçar nos meu próprio pé. James revirou os olhos.


“Vamos”, ele disse, me puxando por trás, porque eu ainda recusava sua ajuda e insistia em mancar sozinha.


“Você é um amigo muito irritante, James Potter”.


“E você é uma amiga muito cansativa, Infalível”.


“Nós provavelmente não deveríamos mais sermos amigos”.


“Você provavelmente está certa, mas você vai pra Ala Hospitalar assim mesmo”.


Aiiii”.


Eu fui mesmo assim, apesar de não querer. E James realmente disse com um sorriso para a Ala Hospitalar inteira que ele tinha me empurrado das escadas assim que nós entramos pela porta. Depois disso, Pomfrey ficou ocupada demais expulsando James para se lembrar de me ameaçar. Eu não sangrei até a morte. Eu não morri. E meu tornozelo está bem melhor.


Eu provavelmente vou continuar perto de James. Ele é bem útil.




Terça-feira, 7 de outubro, café da manhã no Salão Principal


Lily Observadora: Vigésimo segundo dia


Observações totais: 144


Observação #144) Para maníacos e fanáticos de verdade, aparentemente nunca é cedo demais para se conversar sobre Quadribol.


É muito cedo pra isso.


Muito, muito cedo.


“Não é com o ataque deles que nós temos que tomar cuidado, é com a defesa!”, Marley murmurou rigorosamente (porque, como eu fui informada há algum tempo atrás quando eu perguntei porque todo mundo estava murmurando, parece que nunca dá pra saber quando espiões estão por perto. É. Espiões. Quadribol tem espiões), mordendo sua torrada. “Eles podem não ter experiência, mas aqueles batedores sabem como mirar”.


“Besteira”, James zombou, parecendo bastante enojado com o simples pensamento de tal coisa. “Lufa-Lufa tem um bom ataque. Sempre tiveram. E pelo que eu ouço dos primeiranistas, Diggory mandou Carlyle pro ataque, e ela é melhor atacante do que apanhadora”.


Essa é outra coisa. Aqueles espiões? Os de quadribol? Eles são primeiranistas. É. Pequenos inocentes de onze anos de idade que maníacos e tiranos do Quadribol como James e Marley escolhem e treinam para obter informações sobre os times oponentes. E nenhum deles – nem os capitães, nem os jogadores, nem os primeiranistas ou nem mesmo os diretores das Casas, que eu ouvi falar que até mesmo recrutam espiões juntamente com o resto – acham que isso é algum tipo de trapaça cruel e desumana. A não ser, claro, se eles pegarem alguém espiando o seu próprio time. Aí, sai da frente.


Merlin, que babacas.


“Talvez vocês devessem tomar cuidado com os dois”, eu acrescentei, achando que estava contribuindo com a conversa. “O ataque e a defesa, quero dizer”.


Mas ao invés de falar, “Bem, é uma ótima idéia, Lily. Obrigado pela ótima dica”, James simplesmente sacudiu sua cabeça e disse, “Silêncio, Infalível. Coma seus waffles”. Depois, voltou a brigar com Marley de novo.


Claro.


Ok.


Eu sei quando não me querem. Eu consigo perceber.


Sabe, eu meio que já senti a falta deles antes, mas agora eu preferiria que eles estivessem no treino de Quadribol. Eu não sei mais quanto dessas coisas de Quadribol eu posso agüentar. E o abuso. Coma seus waffles. Hunf.


Ai, minhas orelhas.




Mais tarde, Defesa Contra as Artes das Trevas


Lily Observadora: Vigésimo segundo dia


Observações Totais: 144


Eu já mencionei como eu realmente, realmente adoro ser monitora-chefe?


Quero dizer, sim, eu admito, eu fiquei bastante intimidada com esse cargo quando eu descobri, mas quem não ficaria? É muita responsabilidade para apenas uma garota. Muita responsabilidade. E, bem, eu sendo eu e tudo mais, quem saberia que eu poderia dar conta de uma coisa dessas? Quem saberia se ou quando os professores iriam finalmente perceber o erro que eles cometeram e me dizer que eles tinham escolhido outra pessoa? Mas isso não significava que eu não estava enpolgada com isso mesmo assim. Provavelmente foi difícil perceber isso com todas as minhas reclamações e tudo mais.


Mas sim. Eu adoro. Eu realmente, realmente adoro.


E não simplesmente pelo fato de eu ter um excelente banheiro onde matar aulas, ou pelo fato de que eu posso conhecer todas as senhas da escola, ou por eu poder tirar pontos, ou por eu ter controle dos outros monitores. Quero dizer, tudo isso é bom demais, mas isso não é o que eu realmente gosto. É o resto. As coisas importantes.


Como o que aconteceu agora, por exemplo, porque nós estávamos um pouquinho atrasadas porque James tinha que começar uma conversa de umas 30 horas com a Grace sobre ter outro treino hoje depois das aulas (apesar de não saber porque demorou tanto para simplesmente dizerem um “Ei! Grace! Treino hoje! E “Ah, ótimo, James. Obrigada por me avisar”), e Emma, Grace e eu saímos correndo pelos corredores, tentando chegar na aula de Defesa Contra as Artes das Trevas a tempo, quando nós nos deparamos como uma cena no primeiro andar.


Uma garota da Lufa-Lufa – ela deveria estar no segundo ano, talvez primeiro – estava se arrastando no chão no meio do corredor, livros e pergaminhos esparramados por todo o lado, parecendo prestes a chorar, enquanto ela rapidamente pegava tudo o que ela podia. O resto dos estudantes atrasados passavam por ela com olhares de pena, ou não se importando o suficiente para pararem e ajudarem, ou sabendo que suas cabeças rolariam se ajudassem. Nosso trio se aproximou da cena e hesitamos por apenas um momento.


“Droga”, Grace disse, dando uma boa olhada na bagunça, depois olhando pelo corredor na direção onde Professor Crandy já estava provavelmente percebendo que nós não estávamos nos nossos lugares.


“Nós estamos tão atrasadas”, Emma murmurou, seus olhos soltando chamas.


“Vão”, eu disse rapidamente, já indo na direção da garota. “Digam a Crandy que eu estou cumprindo tarefas de monitora-chefe. Vão! Antes que vocês cheguem ainda mais atrasadas!”.


“Lily-“.


Vão!”.


As duas se mandaram por causa de minha insistência, assim que eu alcancei a garota, me ajoelhando assim como ela.


“Não entre em pânico”, eu disse, lhe entregando alguns livros. “Qual é a sua próxima aula?”.


“Feitiços”, ela respondeu, pegando os livros.


“Excelente”, eu disse com um sorriso. “Não se preocupe, eu vou escrever um bilhete para o Flitwick. Eu sou monitora-chefe e sua aluna preferida. Ele não vai se importar. Você já pegou tudo? Ah, espera, aqui, outro livro”. Eu lhe entreguei o livro com outro sorriso confortador. Ela fungou um pouquinho, enquanto nós duas nos levantávamos. Pegando um pedaço de pergaminho da minha própria mochila, eu rapidamente escrevi um bilhete pra garota. “Qual o seu nome?”, eu lhe perguntei.


“Leslie Miller”.


“Bem, aqui está seu bilhete, Leslie”, eu lhe entreguei o pergaminho. “Não se preocupe com nada. Se Flitwick te importunar eu falo com ele mais tarde. Ok?”.


Leslie assentiu com a cabeça, e depois olhou para mim com um tipo de assombro em seus olhos. E, apesar de eu achar que era idiota, apesar de eu saber que eu não tinha feito nada, mas simplesmente pego alguns livros e usado minha influência no meu adorável e favorito professor de Feitiços a fim de resolver aquele contratempo, ainda sim parecia bastante esplêndido...bem, bastante esplêndido ser olhada daquela forma.


Ás vezes eu fico me perguntando se eu realmente não mereço ser monitora-chefe.


Mas só às vezes.




Mais tarde, Feitiços


Lily Observadora: Vigésimo segundo dia


Observações Totais: 144


Do alto para baixo. Olha só o que acabou de chegar por meio de um primeiranista durante a minha própria aula de Feitiços:


Prezada Senhorita Evans,


Por favor, esteja no meu escritório logo antes da sua próxima aula. Desculpas para atrasos deverão ser fornecidas, caso necessárias.


M. McGonagall

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