Capítulo 12 - parte 2
Capítulo 12 – parte 2
Mais tarde, Defesa contra as artes das trevas
Lily Observadora: Décimo oitavo dia
Observações Totais: 123
Existem umas vantagens bem atraentes em ser uma monitora chefe escolhida erradamente. Como ganhar um esconderijo quando você mata aula. Nem tudo mundo tem um lugar assim, mas a monitora chefe, ela certamente tem.
Realmente é ótimo. Acho que é por isso que é um cargo tão desejado e invejado.
Nós saímos para o banheiro dos monitores, porque parecia ser o mais conveniente, já que nós estávamos matando aula e precisávamos de um lugar apropriado para nos enfiarmos de maneira imperceptível. A senha era protegida e o banheiro só é utilizado pelo tipo de alunos que nunca sonharia em perder – muito menos matar – aula (apesar de mim, parece. E provavelmente James também. E talvez June Mackey, se amassos estivessem envolvidos), então, era o plano ideal.
Eu e Grace pegamos um caminho diferente para chegarmos até o nosso destino, tentando evitar passar por qualquer uma das salas mais importantes. Afinal de contas, todo mundo sabe (pelo menos Grace me garantiu que todo mundo sabe. Sendo uma marinheira de primeira viagem em relação a essa coisa toda de matar aulas, eu realmente não tinha idéia das regras e regulamentos que estão envolvidos com tal situação, até hoje) que a regra número um de matar aula é, sem dúvida, evitar todas as possibilidades de ser pego – portanto, evitar todas as salas mais importantes. A última coisa de que precisávamos era sermos pegas pela McGonagall, enquanto nós estávamos perambulando pelo quinto andar, em nossa suposta caminhada até a Ala Hospitalar. De alguma forma, eu sei que ela não iria engolir a história da minha tosse, apesar de meus inacreditáveis talentos para tossir falsamente.
Nosso caminho acabou se tornando em uma tour pessoal em Hogwarts em uma tentativa desesperada de evitarmos sermos capturadas. Você nunca realmente percebe quantas maldita salas essa escola tem quando você está tentando evitá-las. Elas estão por toda parte. Sem brincadeira. Por toda a parte. E nem é uma tarefa divertida, tentando descobrir se a determinada sala está ocupada ou não e se você pode passar por lá ou não. Não é o trabalho legal e aventuroso que devia ser – vem, meio que até foi no início. Eu me diverti bastante até, mas depois da vigésima sétima sala, começou a ficar bem chato.
“Eu nunca mais vou matar aula”, eu murmurei para Grace, me escondendo atrás de outra parede, enquanto nós nos inclinávamos para checar se a sala do outro lado do corredor estava ocupada. O banheiro dos monitores era no final do corredor à esquerda, e graças a Merlin porque eu não sabia mais quantas salas eu seria capaz de me esquivar. Meu carma ainda não tinha achado apropriado eu ser pega ainda, mas ser encontrada apenas a alguns metros do nosso destino final parecia ser o tipo de coisa sádica que o meu carma ruim acharia incrivelmente hilário. Mas, ainda vem que a sala estava vazia e sem a opção do meu carma nos deixar sermos pegas bem ali, eu e Grace nos mandamos pelo corredor até o banheiro.
“Doce de manteiga”, eu disse rapidamente e coloquei a mão na maçaneta da porta, esperando que reconhecesse a senha e nos deixasse entrar. Atrás de mim, eu escutei Grace bufar.
“Senha legal”, ela disse abafando o riso. Eu lhe olhei furiosamente, enquanto a porta finalmente se abria.
“Acontece que eu gosto de doce de manteiga”, eu bufei de raiva, entrando no banheiro, enquanto eu defendia a senha que eu mesma tinha escolhido. Essa é outra vantagem em ser uma monitora-chefe escolhida por engano: você pode escolher as senhas de todas as salas trancadas pelo castelo. E, diferente de sair por aí andando furtivamente pela escola para evitar determinadas salas, eu devo dizer que isso é uma responsabilidade muito divertida. Muito mais divertida do que arruinar reuniões dos monitores, de qualquer forma ( Nota para mim mesma: O novo mês chegou. Temos que organizar outra reunião dos monitores. Discutir com James sobre isso mais tarde). Bem, pelo menos é divertido até que você utiliza todas as palavras decentes. Depois, eu acho que vou ter que começar a inventar ou algo assim. No entanto, eu sou horrível com coisas como essa. Eu não sou criativa o suficiente para coisas como essa. Eu acho que vou deixar James escolher as palavras quando eu chegar a esse ponto. Ele parecer ser o tipo de garoto que seria bom em inventar palavras.
Apesar de que, provavelmente, se eu me distraísse um segundo, todas as senhas seriam “infalível”. Garoto idiota.
“Ai, meu Merlin”, Grace tomou fôlego, deixando escapar um assobio, enquanto nós entrávamos no banheiro. “Você viu esse lugar? Aquela banheira é do tamanho de um lago!”.
Ai, ai. Amigas idiotas.
“É um banheiro, Grace”, eu disse sem rodeios.
“Um banheiro sensacional”, Grace me corrigiu, seus olhos ainda dando uma boa olhado no aposento como uma criança que tinha acabado de entrar na Dedosdemel pela primeira , Dedosdemel...quase a mesma coisa. “Nós podemos sentar nela?”.
“Sentar onde?”.
“Na banheira”.
“Por que diabos nós sentaríamos numa banheira?”.
“É um banheiro, Lily”, Grace zombou. “Onde mais nós deveríamos nos sentar?”.
“Tem um sofá ali depois dos chuveiros”, eu respondi presunçosamente, apontando para onde um grande sofá estava um pouquinho escondido atrás dos armários. “Agora, eu posso não ser a mais inteligente do grupo, mas eu tenho plena certeza de que aquele sofá não está ali para nós tomarmos banho ou nos aliviarmos”.
Grace me olhou com cara feia. “Você está tentando arruinar tudo, não é mesmo?
“Grace, é uma banheira!”.
“É uma banheira grande”, ela respondeu teimosamente, sua mente maluca, de alguma forma, transformando aquele fato como se fosse um motivo razoável se sentar nela. Eu deixei escapar um suspiro exasperado e comecei a ir em direção ao sofá. Grace caminhou, de propósito, na direção oposta, para o lado da banheira. Eu deixei escapar um gemido de frustração. “Grace, por favor!”, eu reclamei. “Eu não quero me sentar na banheira!”.
Por trás do meu ombro, eu vi Grace dar de ombros casualmente. “Ok, sente na sofá, então”. Ela já estava subindo a borda da banheira. “Mas eu espero que você esteja preparada para gritar a sua história. Será extremamente difícil te escutar de tão longe”.
Ao ouvir isso, eu a olhei de cara feia, enquanto ela desaparecia no profundo buraco. Suspirando longamente, eu considerei as minhas opções. Sentar no ótimo e confortável sofá...gritando...ou sentar na dura e desconfortável banheira...sem gritar. Essas paredes ecoam, certo? E eu não sou exatamente uma das garotas mais quietas. Qualquer tipo de gritaria acabaria provocando a nossa captura...e Grace sabia disso.
A maldita garota tinha me armado uma cilada.
Idiota.
Ela é uma maldita inútil, isso sim. Por que todos os meus amigos têm que ser completamente malucos? É uma espécie de qualificação ou algo assim? Quero dizer, uma é uma mulher completamente maluca com uma afinidade repentina com olhares furiosos, com ataques incontroláveis de choro e ciúmes sem fundamento; um tem uma obsessão não-saudável com a palavra infalível; e a outra gosta de passar o tempo em banheiras! Acho que não é mistério nenhum eu não ser uma das pessoas mais sanas – olhe para os casos pelos quais eu estou rodeada!
Eu acho que preciso de novos amigos.
O que aconteceu com aquelas pedras que eu estava considerando? Acho que vou ter que voltar para esse plano.
Pedras nunca me fariam sentar em nenhuma banheira.
“Nós vamos colocar algum Feitiço Amortecedor ridiculamente forte nessa coisa”, eu resmunguei amargamente, lançando um último olhar nostálgico para aquele sofá grande e confortável e comecei a andar na direção oposta. Tão perto, mas tão longe.
“Eu não acho que nós vamos precisar dele”, Grace respondeu enquanto eu subia a borda da banheira e me sentava ao seu lado. “Olha”, ela pulou um pouquinho. “Já é bastante confortável”.
Hum, é. Tão confortável quanto sentar em um porco-espinho.
Eu olhei para Grace profundamente e sacudi a minha varinha. “Mansuetus”.
Eu queria poder dizer que melhorou bastante, mas não é verdade. Eu estava sentada em uma banheira. Com ou sem um Feitiço Amortecedor, não tinha como se melhorar muito.
“Sabe, Senhorita Lily”, Grace começou com um sorriso, presumidamente rindo da minha expressão de mau humor, “para uma garota que, repentinamente, ganhou não um, mas dois garotos atraentes, você parece estar muito amarga comigo”.
“Eu não ganhei ninguém”, eu me agitei. “Eu e James não estamos namorando”.
”Sim, eu me lembro de uma cena bastante dramática que ocorreu menos de uma semana atrás em relação a isso”, Grace respondeu sem rodeios. “Você estava determinada a negar tudo. Então, o que ocasionou essa reviravolta? O que, por tudo o que é mágico, fez com que você mentisse para Laurie Shacklebolt e June Mackey sobre isso?”.
Eu suspirei longamente. Não o que Grace, mas quem. Quem, por tudo que é mágico, fez com que eu mentisse para Laurie Shacklebolt e June Mackey sobre eu namorar James Potter.
Você sabe que sua vida está bem patética e triste quando todas as suas decisões idiotas dependem de uma babaca como a Elisabeth Saunders.
Triste e patético. A história da minha vida.
Então, naquele momento – apesar de eu ainda estar brava com ela por causa da história toda de sentar na banheira e apesar de que eu deveria ter me recusado a dizer qualquer coisa até que ela concordasse em nos mudarmos para o sofá – eu abri a boca e comecei a explicar a história toda para Grace, em toda a sua glória humilhante e podre. Grace ouviu com atenção, sendo que suas únicas reações foram erguer a sobrancelha e sorrir de vez em quando. Pelo que eu pude perceber, ela parecia considerar a coisa toda como um programa de tv que ela podia dar uma boa olhada nos bastidores. No entanto, isso infelizmente não é um programa de tv – é minha vida. É impossível inventar uma coisa dessas. Impossível mesmo.
“Então, deixa eu entender isso melhor”, Grace disse lentamente, depois de eu finalmente ter terminado de contar a minha história, inclusive a parte sobre a minha conversa com James ontem à noite, omitindo muita coisa do que tinha sido dito e contando apenas a parte em que ele pareceu ter achado a história toda extremamente hilária, apesar de seu humor totalmente sombrio naquele mesmo dia. “Você vai para o dormitório, ouve as meninas conversando sobre você e James – completamente mal informadas, claro, porque apesar do que todo mundo acredita, você e James não estão namorando – perde o controle quando Saunder diz algumas coisas sobre você e então, com o objetivo de se vingar, você indiretamente insinua que você e James estão namorando?”.
Er...
Aham.
Eu acho que isso acabou de me tornar ainda mais patética.
”Mais ou menos”, eu respondi me encolhendo.
“E depois você foi falar com o James”, Gracie continuou, seu rosto ainda com um brilho de divertimento, “e ele gritou com você um pouco, disse que não estava tendo um bom dia, mas depois, quando ele te encontra na biblioteca, ele está bem e rindo disso tudo de novo?”.
“Er, aham...”.
“Mas agora você está em pânico porque, apesar de James achar isso tudo engraçado, você acha que não é, porque você agora tem um garoto que você não gosta como namorado, e o outro garoto que você gosta provavelmente está vendo tudo isso de fora, tentando entender o que diabos ele fez errado?”.
Ai, Merlin. É ainda pior quando se fala isso alto.
“É isso mesmo”, eu murmurei dolorosamente. Grace parecia estar absorvendo essa informação com alguns rápidos acenos de cabeça, e eu podia quase ver os mecanismos em sua cabeça rodando. Então, de repente, ela parou. E quando ela olhou pra mim de novo, ela estava sorrindo.
“Lily Evans”, ela disse, como se ela tivesse acabado de ter alguma epifania, “parece que você é uma piranha das boas!”.
Ai, droga.
“Quer saber de uma coisa, Gracie”, eu respondi com um suspiro pesado. “Você provavelmente está certa. Eu sou uma piranha das boas. Uma piranha com tendências santas”. Eu enterrei meu rosto em minhas mãos. “O que eu vou fazer?”.
“Ah, Lily, não é –“.
Grace calou sua boca, suas palavras pairaram no ar quando o som da porta se abrindo reverberou pelo banheiro. Meus olhos se viraram para Grace e os dela para mim e, instintivamente, nós nos agachamos, apesar de que seria impossível para quem é que tenha entrado nos ver, a não ser que eles olhassem diretamente para dentro da banheira. Enquanto os suaves passos ia se aproximando, eu segurei a respiração.
Eu sabia que algo assim iria acontecer. Eu sabia. Eu sabia que eu nunca poderia matar aula e sair dessa situação viva. Eu sabia que eu seria pega. Quero dizer, é da Lily Evans que nós estamos falando! Você sabe o que o carma dela faz com ela? Sabe? Eu não posso concorrer com ele!
E, então, eu fiquei sentada ali com Grace, encolhida e derrotada, rendida ao meu destino como a pior matadora de aulas da Inglaterra, esperando que o Monitor que tinha acabado de entrar achasse a sua monitora-chefe e sua amiga se escondendo dentro da banheira e que, o que tinha restado da minha horrível e estragada vida oficialmente chegasse ao fim. Estava tudo acabado. E eu aceitei isso. Eu posso ter quase chegado ao fim algumas vezes antes, mas dessa vez realmente tudo estava acabado. Eu tinha um encontro com a Torre de Astronomia que eu não iria perder.
Era o fim.
Realmente era o fim...
...ou, pelo menos, eu achava que era o fim...
...até que o intruso falou.
“Olá? Vocês estão aqui? Grace? Lily?”.
No intervalo de apenas 3,2 segundos, Grace e eu tínhamos erguido nossas cabeças. Eu acho que eu me engasguei com o meu próprio cuspe de tão surpresa que eu estava.
“Emma?”.
Lá estava ela. Emma. Minha antiga amiga e uma companheira fujona. Ela estava em pé bem longe dos chuveiros e do grande sofá vermelho, varrendo aquela área, procurando por nós (e ela teria nos achado, caso Grace não tivesse me forçado a entrar nessa banheira). Quando eu e Grace levantamos nossas cabeças, ela pareceu aliviada. Eu estava chocada. Não porque ela estava lá – porque eu estava bem aliviada por causa disso, percebendo que eu tinha acabado de me livrar da possibilidade da minha vida ter chegado ao fim e, sério, o que poderia ter me deixado mais aliviada que isso que isso? – mas porque quando eu olhei pra ela...eu não senti nada.
Bem, não nada literalmente, mas eu não sentia raiva. Ainda havia uma pequena dor (afinal de contas, não vamos exagerar. A garota realmente acreditou que eu fosse uma amiga maliciosa e fingida por um longo período de tempo), mas eu não estava com raiva. Nem um pouquinho nervosa. Sério.
Hum.
Bom saber.
“Ai, que bom que vocês estão aqui! Eu não consegui encontrá-las antes e eu...”, Emma parou, sua expressão aliviada desapareceu, em quanto seu rosto se franzia em confusão. “Er, desculpe”, ela começou, sacudindo sua cabeça, “mas tem algum motivo particular para que vocês estejam sentadas na banheira?”.
Ai, droga.
“Pergunta para essa idiota aqui”, eu murmurei, apontando meu dedo em direção a Grace. A garota em questão bufou.
“Ninguém te forçou a entrar na banheira, Lily”, ela insistiu, apesar de que obviamente aquele não era o caso. Eu fui totalmente forçada. Foi pior do que me forçar, na verdade. Eu fui chantageada. Foi uma armadilha. Eu não tive outra escolha. “É bem confortável”, Grace continuou, ignorando os olhares furiosos que eu mandava em sua direçao depois desse seu comentário mentiroso. Ela chamou Emma com sua mão. “Venha ver”.
Emma pareceu um pouco mais do que incerta nessa hora. Ela olhou para a banheira – e eu – bastante cuidadosamente, e não se mexeu. Eu sabia, então, que era a minha vez de falar. Eu tinha, afinal de contar, adicionado “pedir desculpas a Emma” na minha lista de coisas para fazer. E, claro que eu não posso dizer que eu tinha previsto nosso inevitável confronto nesse tipo de circunstâncias – no horário da aula de História da Magia, no banheiro dos monitores, sentada em uma banheira ridiculamente desconfortável – mas eu acho que você tem que aceitar o que te oferecem.
Essa coisa toda já tinha durado tempo o suficiente.
Então, apesar de que eu preferiria ter feito isso em outro lugar – por exemplo, naquele grande e confortável sofá do outro lado do banheiro, talvez? – eu lancei para Emma o meu melhor olhar oh-olha-eu-não-estou-mais-com-raiva-de-você-agora-e-vamos-ser-amigas-de-novo e também acenei pra ela. “Bem, não fique aí parada”, eu disse, talvez um pouco feliz demais, mas, vamos lá, eu estava no meio de uma missão! “Vem aqui!”.
Ao ouvir meu chamado um tanto alegre, Emma olhou para mim, seus olhos arregalados e obviamente assustados com o meu convite. Quando, mais uma vez, ela não se mexeu, eu tentei de novo com um sorriso, mas não serviu de nada. Ao invés de imediatamente ir em direção a banheira como eu havia imaginado que ela faria, Emma permaneceu plantada onde estava, me observando como uma idiota, como se eu tivesse duas cabeças.
Foi bem estranho, na verdade, agora que eu estou pensando no assunto. Não exatamente um dos momentos mais confortáveis da minha vida. Não mesmo.
Eu estava quase implorando mais um pouquinho, chamar seu nome ou algo assim, talvez para quebrar o gelo, quando, do nada, ela finalmente falou. A contração em seu rosto nem se compara com a contração em sua voz. “Você...você tem certeza?”.
Ai, que merda.
Eu acho que eu quase a fiz chorar de novo.
Que merda.
“Emmeline –“.
“Porque, se você não estiver”, ela continuou rapidamente, obviamente ignorando a minha fraca tentativa de interrompê-la, “se você só estiver falando porque você...você e...e...bem, você é você, e você é assim, eu vou embora, eu juro. Eu não estava esperando nada ao vir aqui. É que Binns perceveu que Grace não voltou para a aula e – “.
Epa.
Professor Binns? Percebeu?
O quê??
“Espera um segundo”, eu disse, dessa vez conseguindo interromper Emma. “Professor Binns percebeu que Grace não estava na aula? Desde quando aquele homem percebe alguma coisa?”.
Sério. O cara é pior do que eu na escala de observação. E como eu acho que a gente já provou isso várias vezes, isso é muito ruim. Quero dizer, se eu não tivesse tossido como uma mulher louca e praticamente caído no chão com convulsões de tosse, enquanto Grace proclamava freneticamente e bem alto que eu não estava muito bem, eu duvido que Binns teria sequer olhado para nós. Ele é assim tão distraído.
Isso cheira a carma ruim.
“Claro que não”, Emma respondeu, dispensado a idéia com um aceno de sua mão. “Mas Elisabeth Saunders percebeu e naturalmente tinha que ir lá e comentar algo sobre isso – “.
Ou, Elisabeth Saunders. Maldita garota idiota.
“ – e a aula está quase terminando, então eu resolvi vir aqui encontrá-las antes que vocês se metessem em confusão...me desculpe. Eu vou só – “.
“Dá pra parar com isso?”, eu disse com raiva, lançando para Emma um olhar irritado. Francamente, a garota estava me tirando do sério com toda essa insegurança. Quero dizer, sinceramente, se eu digo para entrar na banheira, eu quis dizer que era para entrar na banheira. Eu não teria dito se eu não quisesse! Por que ela estava transformando essa história toda de “pedir desculpas por ser uma idiota” em uma coisa tão difícil? Não é. Não precisava ser. Merlin. “Você não vai a lugar algum, Emmeline Vance. Se eu tenho que ficar aqui e sofrer por estar sentada nessa coisa horrível e desconfortável, eu não vou fazer isso sozinha! Agora, pare de me questionar, comporte-se como minha amiga e venha aqui!”.
Eu não sei se foi o fato de Emma ter finalmente voltado ao seu estado normal, ou o fato de que eu tenho uma tendência de ficar realmente assustadora quando eu estou nervosa, mas o que quer que tenha sido, Emma não desperdiçou mais nenhum momento me escutando e se apressou a caminhar até a banheira onde Grace e eu estávamos sentadas e entrou, assim como eu e Grace tínhamos feito algum tempo antes. De forma não cerimoniosa, ela se sentou ao meu lado. E se remexeu.
“Er, Grace”. Remexeu-se mais um pouquinho. “Isso não é nada confortável”.
Hunf. Bem, óbvio. Eu já não disse isso antes? Por que ninguém me escuta? Eu tenho uma tendência a acertar essas coisas, sabe.
Grace cruzou seus braços indignada e olhou furiosamente para nós, enquanto eu e Emma ríamos como loucas, mesmo que não fosse assim tão engraçado. Eu acho que era toda a tensão nervosa flutuando no ar. Tensão nervosa definitivamente tem a habilidade de fazer as coisas parecerem mais engraçadas do que elas são. Sério. Faz sim. “Eu não tenho que aceitar esse tipo de abuso”, Grace murmurou com raiva, levantando-se.
“Aonde você vai?”, eu perguntei.
“Voltar pra aula”, ela respondeu, pulando da banheira.
Voltar para aula? A idéia me fez rir de novo.
“Você não precisa fazer isso, Gracie”, Emma disse, tentando soar séria, mas falhando miseravelmente, já que ela ainda estava rindo como eu, apesar de não ser tão forte como a minha risada, já que ela não é tão louca como eu. “Sério. Nós seremos legais. Eu amo a banheira. Sério. É muito confortável. Mais até do que a minha própria cama”.
“Nós poderíamos dormir agora mesmo”, eu acrescentei, observando, enquanto Grace caminhava intencionalmente até a porta. Quando ela não se virou para voltar, acabando com a indignação de brincadeira, Emma e eu finalmente paramos de rir e trocamos um olhar confuso. “Grace?”, eu a chamei, me erguendo um pouco mais para poder vê-la. “Gracie, por favor, aonde você está indo?”.
“Eu já disse, estou voltando para aula”.
“Mas você não –“.
Ela se virou, lançando para Emma e eu um sorriso encorajador. “James vai me matar se eu pegar detenção e faltar no treino esta noite”, ela explicou rapidamente, dando de ombros. “Além disso, é melhor deixar vocês duas sozinhas por um tempo, certo? Deixar vocês se confrontarem?”. E com esse último comentário, ela sorriu de novo e saiu do banheiro. Nos deixando sozinhas. No banheiro dos monitores. Dentro de uma banheira.
Para nos confrontarmos.
O que eu acho que não significava realmente “nos confrontarmos” no sentido de brigarmos fisicamente como geralmente essa expressão deixa implícito, já que nem eu nem Emma somos do tipo violento. Ou melhor, Emma não é do tipo violento. Eu tenho que admitir, eu às vezes tenho tendências bem violentas. Mas geralmente só com James. O que é compreensível, claro. O garoto precisa de uns bons murros de vez em quando, afinal de contas.
Mas, sabe, essa não é a questão.
A questão é que esse ‘confronto’ seria verbal. O que significava que eu e Emma realmente deveríamos conversar...coisa que nós não fizemos de forma apropriada já há algum tempo. Nem preciso dizer que não seria uma das coisas mais fáceis de se fazer. Então, por vários minutos depois de Grace ter ido embora, Emma e eu simplesmente ficamos sentadas lá, na banheira, rodando nossos dedões e pegando pedaços de algodão invisíveis de nossas vestes, deixando a estranheza pairar pesadamente no ar. E então, como garotos como nós temos tendência de fazer, nós duas começamos a falar ao mesmo tempo.
“Lily—“.
“Emma—“.
“Não”, Emma me interrompeu rigorosamente, “deixa eu resolver isso. Por favor”. Ela respirou fundo, conseguindo retirar seu olhar da banheira e olhar para mim pela primeira vez em vários minutos. Ela não estava chorando como eu esperava que ela pudesse estar (e obrigada Merlin por isso!). Pelo contrário, ela tinha esse ar duro e determinado em seu rosto. Em contraste, sua voz estava levemente tremida quando ela falou. “Me desculpe, Lily”, ela disse calmamente. “Eu sinto muito. Eu sei que eu já disse isso antes, mas depois tudo...se complicou de novo. E eu não sei se você pode me perdoar. Eu sei que o que eu fiz – o que eu pensava – estava errado. Eu só estou pedindo que você não me odeie”.
Odiá-la? Era isso que ela estava pensando? Ai, que merda...
“Eu não te odeio, Em”, eu disse com um pequeno suspiro, sacudindo minha cabeça. “Eu nunca te odiei. Eu estava com raiva e eu estava...bem, eu estava – “.
“Magoada”, Emma completou, sua voz ainda mais tremida. “Eu te magoei. Eu sei. Mas eu não tive a intenção, Lil, você tem que acreditar nisso! É só que Mac disse...e aí tem você...e eu não pude evitar em pensar que...”. Seus olhos focaram o chão por um momento antes de se voltarem para mim. “Foi errado. Foi muito errado. Eu estava errada. E eu só queria que você soubesse que...bem, eu acho que o fato de eu pensar que você estava namorando o James finalmente tinha colocado algum tipo de juízo dentro de mim, mas eu sempre soube que eu estava errada. Eu estava simplesmente com raiva de tudo...”. Ela se perdeu de novo, sua emoção finalmente pegando o controle. Esquecendo o fato de que a última vez que eu tinha feito isso eu tinha ficado bastante desconfortável com toda a cachoeira, eu coloquei uma mão confortadora no ombro de Emma. Eu sabia que não era muito, mas eu acho que era o suficiente, porque seus olhos começaram a se encher de lágrimas. Quando ela finalmente se sentiu capaz de falar novamente, sua voz era quase um sussurro, e sua declaração um pouco chocante. “Eu acho que eu o amo, Lily”.
Minha cabeça se virou em choque. Ela não precisava dizer quem era, porque eu já sabia.
Mac. Ela estava falando de Mac.
Emma estava apaixonada pelo Sr. Fulton McDonough.
Mas amor? Amor? Como em Romeu e Julieta, aquele tipo de amor vamos-nos-matar-e-ficarmos-juntos-para-sempre? Como aquele amor de Casablanca? Esse tipo de amor?
“Em”, eu comecei lentamente, “Amor é uma palavra bem forte, sabe –“.
“Bem, é um sentimento bem forte”, Emma respondeu, ficando defensiva de repente. “Eu sei que parece idiota, Lil. Eu sei. Mas ele...eu só...eu não posso...ele me faz pensar de forma irracional, Lily. Eu nunca sou irracional”.
“Você é a pessoa mais racional que eu conheço”, eu concordei sinceramente, porque ela tinha sido, depois dessa pequena restrição.
“Então, você não percebe, Lil? Mas é muito mais que isso! Ele me faz sentir...eu não consigo descrever. É só que...sabe o que você sente quando você fica muito longe de casa e depois você finalmente retorna? Aquela loucura? Como se você nunca mais quisesse partir de novo? Toda vez que eu o vejo, toda vez que estou com ele...ah, é muito melhor que essa sensação, Lily! Você nem poderia imaginar! É...é...”.
Amor.
Ai meu Merlin.
Emma estava amando!
Amando!
Eu fiquei sem fala naquele momento. Quero dizer, o que eu deveria dizer depois de uma confissão como aquela? Minha melhor amiga tinha acabado de declarar seu amor eterno por um garoto que tinha – embora acidentalmente, e ele realmente voltou atrás e tentou consertar tudo – causado uma briga entre nós duas. No entanto, eu não estava sem fala pelo fato de ser Mac o garoto por quem ela está apaixonada – eu acho que eu posso quase admitir que eu não mais odeio o garoto completamente – mas pelo fato de que ela estava apaixonada. Quero dizer, eu acho que eu deveria ter percebido que era bem sério quando Emmeline escolheu não contar nem para mim, nem para Grace, mas eu nunca pensei...Eu nunca teria imaginado...
“Amor”. A palavra saiu da minha boca com um sorriso que Emma parecia ser incapaz de retribuir. E apesar do fato de Mac e eu não sermos nada além de amigos, e Emma e ele parecerem estar dando um tempo – sem mencionar o fato de que eu e Emma estavávamos meio que dando um tempo – eu comecei a rir que nem louca. “Em! Você está apaixonada! Apaixonada!”.
Mas ao invés de ficar inteiramente emocionada com essa fato como eu estava, minha exclamação só pareceu deprimir Emma ainda mais. Ela olhou para o fundo da banheira e se recusou a erguer a cabeça. Totalmente estraga-prazeres. Então, eu parei com de rir entusiasmadamente e franzi as sobrancelhas.
“Em?”.
“Eu pensei que amor deveria ser algo bom”, ela murmurou para o chão. Minhas sobrancelhas se ergueram.
“É uma coisa boa, Em! É maravilhoso!”.
Os olhos de Emma se ergueram. “Não se isso faz com que eu perca minhas melhores amigas”, ela murmurou de forma arrependida.
Com aquele olhar triste em seu rosto e aquele tom de voz desanimado, eu acho que é seguro dizer que eu derreti e desabei bem ali.
Dando um tempo? Acho que não.
O que eu poderia sentir se não remorso quando ela estava daquele jeito?
“Você não me perdeu, sua boba”, eu brinquei, me aproximando mais dela e a abraçando. “Você sabe como eu sou. Eu só estava nervosa e magoada. Principalmente magoada, eu acho. Eu só não podia acreditar que você poderia pensar aquelas coisas...você sabe que eu nunca faria uma coisa dessas, não sabe, Emma?”.
“Claro que eu sei”, ela respondeu rapidamente, assentindo com a cabeça intensamente. “Era o lado irracional saindo. Eu não conseguia mais pensar direito. Tudo o que eu via era Mac e você e...eu meio que enlouqueci, eu acho”.
“Mas era uma tração boba e insignificante, Emma! E foi há séculos atrás! Você não percebeu nada disso? Mac saiu dessa; Eu me transformei em uma forma bem menos do que atraente –“.
“Menos do que atraente?”, Emma deixou escapar uma risada sufocada. “Ah, francamente, Lily, dá onde você tira essas coisas? Por que você não consegue ver o que tudo mundo vê? Você sempre parece pensar que você não é tão bonita quanto você é e nem tão inteligente quanto você é e – “.
“É, eu sei”, eu murmurei secamente, revirando meus olhos. “O complexo de inferioridade. Eu estou trabalhando nisso”.
Pela primeira vez já há algum tempo que Emma deixou escapar uma risada. Naturalmente, tinha que ser as minhas custas. Hunf. “É um bom modo de enxergar as coisas”, ela riu.
“James Potter é um idiota”, era o que eu considerava uma resposta apropriada para aquilo.
Ao ouvir o nome de James Potter, o sorriso de Emma se alargou ainda mais, enquanto ela erguia uma sobrancelha acusadora. Eu sabia o que estava vindo, antes mesmo dela dizer algo.
“Um idiota, é?”, as sobrancelhas continuavam a implicar comigo. “Isso é algum tipo de apelido carinhoso, é?”
“Emma”, eu disse, pelo que parecia ser a milionésima vez naquele dia, apesar de ser apenas a segunda vez. “Eu e James não estamos namorando”.
“Não?”, as sobrancelhas não pararam de se menear. Ela não acreditava em mim. “Poque isso não é o que eu ando escutando. Não mesmo. Na verdade, o que eu ouvi foi que – “.
“Eu contei para Laurie Shaclebolt e Elisabeth Saunders que eu estava namorando com James?”.
Emma assentiu com a cabeça presumidamente.
Eu me segurei para não vomitar.
Cara, minha vida é um drama.
Então, parcialmente por causa do fato de que se eu não contasse a ela o que tinha realmente acontecido, aquelas porcarias de sobrancelhas expressivas não parariam de se erguer daquele jeito irritante, e parcialmente porque, se eu contasse a ela a história toda, seria mais um jeito de solidificarmos nossas amizade de novo, eu fiz mais um Feitiço Amortecedor no fundo da banheira e, pela segunda vez naquela manhã, eu compartilhei os detalhes do que realmente tinha ocorrido no dormitório feminino do sétimo ano na tarde anterior e nas horas seguintes.
Eu estou começando a ficar totalmente enjoada dessa história.
“- e ele acha que tudo isso não passa de uma boa piada”, eu terminei, depois de ter falado durante uns 20 minutos, comentando, claro, sobre o meu suposto namorado e sua extrema falta de seriedade em relação a essa história. O sinal anunciando o fim da aula de História da Magia e o início da aula de Feitiços já tinha tocado alguns minutos antes, mas nem eu, nem Emma nos importamos e eu continuei com minha história. “Quero dizer, eu expliquei tudo pra ele. Laurie Shaclebolt contou tudo pra ele. Pelo amor de Merlin, todo mundo sabe que ela não deixa nenhum detalhe de fora! E, mesmo assim, apesar de tudo, ele ainda continua rindo como se não fosse nada! Que tipo de garoto faz isso, hein? Que tipo?”.
“Talvez ele só estivesse tentando te acalmar”, Emma sugeriu logicamente. “Pensa bem, Lily. James é um cara esperto. Ele sabia que se ele também entrasse em pânico, você ficaria dez vezes mais estressada do que você já está”.
Hum. Bom motivo.
“Ou talvez não”, ela continuou, dando de ombros pensativamente. “Talvez ele esteja certo, Lil. Quando você realmente pára e pensa racionalmente, essa história toda nem é grande coisa”.
Não é grande coisa? Não é grande coisa?
POR QUE TODO MUNDO CONTINUAMENTE INSISTE EM DIZER QUE NÃO É GRANDE COISA?
“O que você quer dizer com não é grande coisa?”, eu exclamei histericamente. “Emma você percebeu que Amos Diggory – o amor da minha vida – está perambulando pelos corredores de Hogwarts, totalmente envergonhado porque eu menti para salvar a minha pele? A escola inteira vai ficar sabendo que eu sou uma grande mentirosa e idiota monitora-chefe. E você percebe que, quando Elisabeth Saunders descobrir que eu menti em relação a James e eu, que eu nunca, nunca vou sobreviver a isso? Como isso não pode ser grande coisa?!”.
Emma não pareceu nem um pouquinho perturbada com minha declaração frenética. Pelo contrário, ela sorriu para mim da mesma forma que uma mãe sorri para seu filho pequeno. “Bom, na verdade é bem simples”, foi a resposta calma dela.
“Ah é?”, eu me irritei, cruzando meus braços. “Como assim?”.
Emma sacudiu a cabeça. “Simples”, ela disse de novo. “Tudo o que você tem que fazer é dizer a todo mundo que, sim, você e James estavam considerando seriamente em se envolverem – o que você pode dizer, claro, porque você nunca chegou a dizer realmente que vocês estavam namorando, somente insinuou – mas que vocês dois decidiram que agora não era a hora certa já que você e Amos gostariam de ver onde esse relacionamento vai dar antes de você se envolver com James”.
Não é a hora certa...
Hum.
Hum. Hum.
Muito simples...simples demais...
“James nunca concordará com isso”, eu protestei. “Quero dizer, o que as pessoas pensariam dele? Todo mundo vai pensar que eu dei um fora nele para ficar com Amos. As pessoas vão rir pelas costas dele. Eu não posso fazer isso com ele”.
O que era verdade, se você fosse realmente pensar no assunto. Quero dizer, James era inocente nessa história toda. Fui eu que colocou ele nisso. Se alguém tiver que se prejudicar, esse alguém tem que ser eu. Apesar de suas sacanagens ocasionais e sua alegria em professar a palavra ‘infalível’ para escola inteira, James não merece esse tipo de abuso. Ele tem lidado tão bem com essa coisa toda. Seria uma completa maldade da minha parte prejudicá-lo desse jeito. Eu não posso fazer isso, Ele iria me odiar. Eu não posso.
Emma rejeitou o meu comentário com um estalo de sua língua e um movimento de sua mão. “Não seja ridícula”, ela zombou, me olhando. “James não se importa com o que as pessoas pensam dele. Além disso, você tem rejeitado os convites do menino desde o quinto ano. Ninguém o ridicularizava naquela época, e não vai ser agora que vão começar. E, mesmo que esse não fosse o caso, ele ainda assim aceitaria. James te adora tanto, Lily. Ele iria até a lua por você e você sabe disso”.
Er...hum...o quê?
“Er, Emma...”, eu estava ficando vermelha. Por que eu estava ficando vermelha? Eu não deveria estar ficando vermelha. “James e eu não somos assim. Nossa relação é platônica. Óbvio. Ou então essa coisa toda não seria problema nenhum”.
Nós não somos...ele não...Ele reprovou no teste. Ele reprovou no teste completamente. Ele não ficou com raiva. Quero dizer, talvez ele me adora do mesmo jeito que eu adoro Grace e Emma, mas não em...er...de uma maneira romântica. Sério. Não é piada. Ele não está apaixonado por mim.
E eu nunca o rejeitei...exatamente. Eu pensei que ele estava brincando! Não pode contar como rejeição, já que eu achava que ele estava brincando! Não que eu teria dito sim caso eu soubesse que ele estava falando sério, mas essa não é a questão.
Ele não está apaixonado.
Ao invés de perceber o seu erro imediatamente e pedir desculpas, Emma revirou os olhos e disse, “Lily eu te amo demais, mas às vezes você é cega demais”. Eu abri a minha boca para começar a argumentar de novo, para contar a ela que ele tinha reprovado no meu teste realizado não há muito tempo atrás, mas Emma me impediu, “ Eu quis dizer no sentido platônico, claro. Mas você não percebe? Não é grande coisa. Se você está preocupada com a reação de James em relação ao plano, pergunte pra ele. Eu estou te dizendo, ele vai achar genial. Eu prometo”.
Apesar de eu não estar certa sobre isso, e apesar de eu estar um pouquinho ofendida com a coisa toda de eu ser cega demais ( porque a verdade sempre acaba sendo a que machuca mais no final das contas), eu murmurei um “tudo bem, vou perguntar pra ele”, recebendo um sorriso de Emma. Eu não estava completamente certa de que o simples plano de Emma iria funcionar assim tão bem como ela previa, mas era a única opção plausível que eu conseguia enxergar. Além de me esconder por toda a eternidade em um armário, quero dizer. Essa opção sempre existe.
Com um problema resolvido, eu resolvi falar de um dilema recentemente esquecido, que veio na minha cabeça de repente, quando Emma estava sentada ali, sorrindo para mim. “Ei, Em?”, eu disse, inclinando minha cabeça levemente para o lado.
“Hum?”.
“Você e Mac já voltaram a se falar?”.
O largo sorriso que estava no rosto de Emma apenas uns segundos atrás desapareceu rapidamente e se transformou em uma carranca ao ouvir o nome do Sr. Fulton. Limpando sua garganta de forma muito esquisita, Emma voltou a encarar o fundo da banheira, enquanto ela negava com a cabeça suavemente.
“Bem, por que não?”, eu perguntei. “Quero dizer, se você acha que ama o garoto e tudo mais, você não deveria –“.
“Não é assim tão simples”, Emma me interrompeu, tentando fugir do assunto casualmente. No entanto, eu não ia deixar assim tão fácil.
“O que poderia ser ainda mais simples que isso?”, eu perguntei. “Você o ama, ele te ama – “.
A cabeça de Emma se ergueu abruptamente. “Ele não me ama”.
Ai meu Deus.
“Por favor, Emma”, eu disse. “Eu conversei com o garoto. Acredite, ele te aman muito – “.
Emma pareceu extremamente assustada com isso. Eu não a culpo, claro. Eu conversar com o Mac não é uma coisa muito normal. Sabe, já que até ontem, o garoto estava na minha lista negra e tudo mais. E provavelmente eu ainda estou na dele. “Quando você conversou com o Mac?”.
“Ontem”, eu disse. “Ele me encurralou, Em. Eu. Vamos ser sinceros aqui – provavelmente ele preferiria pular da Torre de Astronomia do que conversar comigo. Ele foi à biblioteca, me forçou a conversar com ele e defendeu o seu caso como um advogado experiente. E tudo bem que naquele momento eu acho que eu não estava mais zangada com você, mas foi ele que me fez decidir tomar uma atitude. E se isso não é amor, então, o que é?”.
Emma pareceu pensar um pouco em minhas palavras por alguns segundos, como se estivesse bem longe dali. Ela olhou na direção da porta, antes de sacudir sua cabeça e se virar para mim com suas sobrancelhas franzidas. “É mais complicado que isso”, foi tudo o que ela disse. Eu ia argumentar com ela mais um pouco, mas Emma ergueu sua mão, e olhou para mim de forma tão estranhamente séria que eu nem comecei a falar. “Vamos esquecer desse assunto por enquanto?”, ela implorou. “Eu...eu não quero falar sobre isso, Lily. Está...bem, está acabado. Já era”.
As suas palavras me deixaram perplexas como nunca antes. Acabado? Já era? Mas eu pensei que ela o amava? E o garoto estava obviamente tão apaixonado por ela. Que tipo de complicações poderiam ser maiores que emoções como essas? Que tipo de coisa poderia estar causando esses problemas? Meu nariz sentiu um comichão por causa de todo esse mistério. Tem que ter mais alguma coisa além do problema entre eu e Mac, porque nós já resolvemos isso. Quero dizer, eu fui totalmente gentil com ele ontem...no final. No início, eu fui um pouquinho grossa, mas eu não agirei mais assim. Eu juro. E eu posso ser simpática. Sério. Em alguns dias, eu conseguirei ser retirada da lista negra dele. Sério. Eu acho.
O que pode ter acontecido de errado?
Talvez se eu…falar com o Mac sobre isso? Depois que ele decidir que eu não sou mais sua inimiga, quero dizer? Emma obviamente não vai falar mais nada, mas talvez eu consiga arrancar algo do Sr. Fulton. Quero dizer, eu não posso simplesmente ficar sentada aqui, sem fazer nada. Eu simplesmente não sou assim. Eu tenho que fazer alguma coisa. Não é certo eles ficarem brigando assim, sendo que eles se amam. E eu sei que Emma disse pra deixar pra lá...mas não posso fazer isso. É do futuro deles juntos que nós estamos falando. E Merlin sabe que eu não fiz as pazes com Emma para ficá-la ouvindo se lamuriando devido ao seu coração partido. Eu preferiria desavença do que tristeza.
Ah, talvez eu não devesse me envolver. Emma disse que não. É obviamente um assunto delicado para ela. Mas a opção alternativa é não fazer nada, e eu não sei se eu posso ver a minha amiga toda tristonha, quando eu posso fazer algo para mudar isso. Eu simplesmente não sou assim. Não sou.
Hum…
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!