Capítulo 11 - parte 4

Capítulo 11 - parte 4



apítulo 11 – parte 4


Ainda mais tarde, arquibancada do campo de Quadribol


Lily Observadora: Décimo sétimo dia


Observações Totais: 118


Observação #118) Coisas só podem ir bem por tanto tempo, antes que alguma coisa dê errado.


Eu estou começando a pensar que isso se tornou o lema da minha vida ou algo assim. É quase completamente idiota como a minha vida parece girar em torno disso. Quero dizer, lá estava eu, felizmente alegre e perfeitamente contente – sem estar indo mal em transfiguração, sem novos amigos apaixonados por mim, meu potencial marido potencialmente apaixonado por mim – e aí, alguma coisa tinha que dar errado. Naturalmente.


E eu acho que eu não deveria ter esperado por isso. Sério. Quero dizer, as coisas só vão assim tão facilmente por tanto tempo, quando você já viveu seus preceitos de forma ruim. É assim que minha funciona. E quando as coisas parecem que, finalmente, estão voltando ao curso normal, alguma coisa tem que aparecer e estragar tudo.


Eu tinha que aparecer e estragar tudo.


O destino tinha que aparecer e estragar tudo.


Eles tinham tudo preparado para mim. Todos. Tudo. Até as forças da natureza querem me pegar. Agora eu percebi que eu devo ter sido alguém extremamente horrível nas minhas vidas passadas, para receber o que eu estou recebendo agora. Quero dizer, quantos doces você tem que roubar de criancinhas para merecer uma sorte como a minha? Quantos bancos você tem que roubar? Quantas pessoas você tem que matar? Quantas noites você tem que passar escondida para depois assassinar idosas em becos escuros? QUANTAS?


Talvez eu tenha sido o Grindewald em alguma vida passada. Ou talvez, eu tenha sido Hitler. Ou aquele cara que foi um carrasco durante a Revolução Francesa e mandava os outros à guilhotina – Robes-alguma coisa ou um outro qualquer – talvez eu tenha sido ele. Eu tinha que ser um deles. Ou talvez eu tenha sido os três. Com certeza, isso esclareceria as coisas.


Por hoje, o meu carma horrível tinha, mais uma vez, obtido sucesso em arruinar a minha vida – essa vez, com uma ajudinha super útil da minha boca traidora.


Quando a sua má sorte começa a associar-se com as partes rebeldes de seu corpo, esse é o momento em que você tem que simplesmente jogar a toalha. O mundo está oficialmente trabalhando contra você. A melhor coisa para você fazer é deixar isso pra lá e aceitar a situação. Você pode se mudar para Guam, talvez ajude, mas a não ser que você seja boa com cocos, você provavelmente não vai ter uma vida melhor lá do que a que você tinha na Inglaterra. Você simplesmente tem que aceitar o seu destino, eu acho. Sua vida aqui na terra vai ser um inferno. Aprenda a amá-la assim mesmo.


Ugh.


Como Sirius tinha previsto, James não foi a nenhuma das aulas que restavam naquele dia. Eu tentei ignorar a sensação de derrota que estava queimando no meu estômago toda vez que eu pensava como James tinha parecido extremamente zangado quando ele tinha saído do Salão Principal na hora do almoço. Eu honestamente tinha pensado que nossa conversa tinha feito com que ele se sentisse melhor, mesmo que tivesse sido só um pouquinho. Quero dizer, ele riu – riu! Pessoas zangadas não riem! Principalmente não na altura em que James estava rindo na aula de Feitiços. Quero dizer, eu tive que mandá-lo parar de tão alto que ele estava rindo! Ele tinha que estar se sentindo melhor. Tinha sim.


Mas aonde tudo aquilo tinha ido? O que poderia tê-lo deixado assim tão chateado de novo? Eu não sabia. Mas me deixou rigorosamente nervosa com ele. Eu disse para Remus de novo que alguém tinha que ir atrás dele quando James não apareceu para a segunda aula da tarde, mas como Sirius, Remus disse que James precisava descarregar a raiva dele sozinho. Eu não consegui achar um sentido nisso tudo, mas me aceitei o conselho de Grace de que os Marotos obviamente conheciam James melhor do que eu. Então, eu não tinha outra escolha a não ser escutar o que os três estavam me falando, apesar de eu não concordar.


As aulas passaram inacreditavelmente lentas depois disso, e eu realmente não estava prestando nenhuma atenção em nenhuma delas. Ao invés disso, eu simplesmente fiquei quieta, me preocupando com o James e seu mau humor, Emma e sua saída da Ala Hospitalar, e Amos e seu desejo (sem fundamente) de sair comigo. Em um dia que minha mente só deveria estar cheia de sonhos de Amos e eu nos agarrando, e do nosso futuro encontro, minha mente estava cheia dessa desconfortável sensação de constante medo. Era um sentimento bastante estranho, sério, e eu não gostava disso nem um pouquinho.


Quando o sinal finalmente tocou, indicando o fim das aulas do dia, tudo o que eu podia pensar era em sair correndo diretamente para o meu dormitório e me deitar. A turbulência de pensamentos cheios de preocupações já era demais. Elas estavam começando a me consumir.


“Está tudo bem com você?”, Grace me perguntou, cutucando o meu ombro quando nós nos encontramos fora da sala de Poções. “Você quase perdeu a sua animação com o Amos, sabe”.


Eu dei de ombros, cansada. “Foi um longo dia”, eu respondi.


Grace não respondeu, e quando eu me virei para olhá-la, eu vi que ela estava mordendo seu lábio desconfortavelmente e desviando o seu olhar do meu. Eu estreitei os olhos com suspeita. “O quê?”.


“Er, olha, Lil”, ela começou lentamente, olhando para mim, hesitante, “Eu não sei se você se lembra, mas, er...Emma...ela...”.


“Sai da Ala Hospitalar hoje”, eu terminei, me lembrando do fato perfeitamente bem. “É, eu sei”.


“Ah. Certo”, Grace concordou com a cabeça, e passou sua mão pelo cabelo nervosamente. Pelo jeito que ela ainda estava inquieta, eu sabia que aquilo não era tudo o que ela tinha a dizer, mas ela parecia estar hesitante em continuar. Eu a encarei com expectativa, esperando pelo desconhecido, sabendo que ela ia dizer alguma coisa em algum momento. “E, bem”, ela finalmente continuou algum tempo depois, seu sorriso tremendo levemente, “Eu meio que prometi que eu iria me encontrar com ela quando ela saísse...er, agora. Agora mesmo. Na verdade, eu estou um pouco atrasada”.


Eu não sei porque eu fiquei surpresa em ouvir isso, mas eu fiquei. Claro que Grace iria buscá-la. Não era ela que não estava falando com a Emma, eu é que estava. É natural que ela queira buscá-la. Na verdade, seria muito estranho se ela não fosse.


Suspirando levemente, eu olhei para o meu relógio, e vi que já eram 4:009. Nove minutos já haviam passado, desde que Emma tinha sido liberada. Grace estava nove minutos atrasada.


“Então, eu acho que você deveria estar se mexendo, não?”, eu perguntei, concedendo a Grace a permissão de que ela poderia partir. Grace acenou com a cabeça imediatamente, mas hesitou antes que ela pegasse o caminho oposto em direção à Ala Hospitalar.


“E, você tem certeza que você está bem?”, ela perguntou de novo, ainda me olhando de forma preocupada. “Você não parece nada bem, Lil”.


Eu mandei pra longe suas preocupações com um leve aceno da minha mão, “Sim, estou bem”, eu lhe assegurei mais uma vez. “Eu só vou voltar para o dormitório e dormir. Acho que é tudo o que eu preciso – um bom descanso”.


“Certo, ok”, Grace concordou, apesar de saber que ela não estava muito feliz em me deixar sozinha quando eu estava parecendo tão mal. “ Leia um dos meus livros inúteis, Eles com certeza vão melhorar o seu humor, eu prometo”.


Eu bufei e sacudi minha cabeça. “Eu não iria sobreviver a nem uma página daquela porcaria”, eu impliquei com ela, sorrindo fracamente. Grace também sorriu, mas ainda estava relutante em partir. Reprimindo mais uma risada, eu mandei ela ir embora com mais um aceno da minha mãe. “Vá”, eu ri, sacudindo o meu pulso. “Emma está te esperando!”.


Grace concordou com a cabeça e lentamente se virou. Ela sorriu uma última vez por seu ombro, antes de sair correndo pelo corredor em direção à Ala Hospitalar. Quando ela desapareceu, eu deixei escapar um pequeno e triste suspiro.


Eu não estava com raiva dela por ir lá buscar Emma. Apesar de ter parecido que eu estava, eu não estava. Pra falar a verdade, eu sabia, bem lá no fundo, que deveria ter sido eu. Eu deveria ter ido lá buscá-la nessa tarde, Eu deveria ter acabado com as coisas há séculos, ao invés de ter ficado com tanta raiva. Quero dizer, sim, Emma tinha estragado tudo. Ela que pensou coisas erradas e fez a coisa errada, isso não vai mudar. Mas faz parte da vida, não é mesmo? Os amigos não devem se perdoar? Os amigos não devem ficar um do lado do outro apesar de tudo? E ela tinha tentado se desculpar, mesmo que do seu jeito meio irracional e esquisito. Agora, eu acho que é a minha vez. Ela tomou o primeiro passo da última vez, agora era minha vez.


E eu odeio ter que admitir isso, mas tudo isso é por causa de Mac.


Eu sei, eu sei, eu sou uma mentirosa completa. Eu sei que eu disse que a sua interferência planejada não tinha me afetado de forma alguma, mas eu acho que é bem óbvio que sim. Eu tentei não me importar, tentei ignorar o que ele estava dizendo e a forma com a qual ele estava me olhando – tão determinado, e ao mesmo tempo tão perdido – mas não adiantou. O desgraçado era inteligente e sabia exatamente como me manipular – infelizmente, eu sou manipulada facilmente. E ele acertou na mosca.


Ele era bom. Muito bom.


Mas eu acho que ele não é um cara assim tão ruim, o Mac. Mesmo que ele tenha um talento irritante de manipulação. E ele não é exatamente um dos caras mais legais quando ele fica te olhando feio no Salão Principal. Mas obviamente, ele se importa bastante com a Emma para poder vir e falar com alguém que ele supostamente odeia, e isso tem que ser considerado, certo? E ele é inteligente, e é monitor. Essas são qualidades bem atrativas. Ele não pode perder pontos por isso. E, tudo bem, ele não come pão. Eu posso superar isso. Sério, eu posso. Quero dizer, é uma prerrogativa dele colocar o que quiser dentro da boca, certo? Não é da minha conta. É como James e seus ovos nojentos – James gosta deles, eu os desprezo. Eu gosto de pão, Mac o despreza. Nós temos nossos próprios gostos. Só que o de Mac é um pouquinho esquisito.


Eu não estou dizendo que eu gosto dele ou algo assim. Mac, quero dizer. Eu não gosto. Foi ele que causou tudo isso, em primeiro lugar. Mas eu acho que eu não o odeio mais. Pelo bem de Emma, eu não posso. E talvez pelo bem de Mac também, considerando o fato de que ele e Emma não estão mais se falando. Eu só posso imaginar que a rotina no relacionamento deles deve ter alguma coisa a ver com isso. Mas como eu disse ao Mac, eu sei que vai dar tudo certo. Emma gosta dele demais para deixar tudo acabar só por causa de uma briga boba e insignificante com uma amiga. Ela não teria guardado segredo por tanto tempo, se o relacionamento deles não fosse sério. Emma é assim.


Pensar sobre Emma e toda aquela situação complicada só me fez ficar com uma dor de cabeça ainda maior do que a que eu já tinha. Eu sabia o que eu tinha que fazer, mas isso não significava que eu estava ansiosa para fazê-lo. Eu descobri que eu podia segurar um pouquinho as minhas desculpas para mais tarde, depois que Emma tivesse a chance de melhorar e me mau humor desaparecer. Eu só podia imaginar o tipo de desculpar que eu iria semear com o meu estado atual. Eu acho que ia ficar ainda pior que as desculpas da Emma.


Ao caminhar com muita preguiça para a Torre da Grifinória, eu tentei ignorar a dor repentina da minha cabeça e meu desejo de me jogar no chão e dormir bem ali, no meio do corredor. Eu estou tendo problemas com o fuso horário ultimamente. Será que é porque e estou acordando mais cedo? Mas não é como se eu fosse dormir super tarde – não normalmente, de qualquer forma- então, isso não deveria balancear a coisa toda? Eu acho que estou doente. Eu devo ter algum tipo de doença que te deixa com surtos de letargia. Uma doença muito rara e ridiculamente irritante. Provavelmente, coisa do meu carma. As coisas ruins são sempre armação dele mesmo.


Querendo subir a escada correndo, mas sem tem a energia necessária para fazê-lo, eu fui subindo degrau por degrau lentamente até que eu alcançasse a entrada para o dormitório feminino do sétimo ano.


“Lily Evans? Definitivamente não!”


Eu parei, congelada na soleira da porta do dormitório. Minhas orelhas ficaram alertas ao ouvir o meu nome e a voz muito familiar que o tinha pronunciado.


De repente, sem ser nenhuma surpresa, eu não estava assim tão cansada.


“O que você quer dizer com ‘definitivamente não’? Você viu os dois recentemente?”.


“Você o viu essa tarde?”.


A porta estava quase fechada, mas, obviamente, uma fenda tinha sido deixada aberta acidentalmente, por onde os sons saíam. Pela pequena fenda, eu podia ver o dormitório. Me inclinando silenciosamente, segurando a minha respiração para não fazer nenhum barulho, eu espiei pelo pequeno buraco, nem um pouco surpresa com o que eu achei.


Eu tinha acabado de me deparar com uma Reunião oficial das Patricinhas.


Eu estou me referindo às patricinhas sociais: Elisabeth Saunders e suas várias amigas, clones e colegas de várias turmas diferentes. Patricinhas: pessoas que eu me esforço para não me encontrar diariamente, a qualquer custo.


No entanto, elas estavam bem ali, no meu dormitório, esparramadas pelo quarto, bebendo cerveja amanteigada e falando de mim.


A vida realmente é muito engraçada, não é mesmo?


Eu não deveria ter ouvido. Eu sabia que eu não devia. Nada do que elas dissessem seria algo que eu gostaria de ouvir. Eu simplesmente deveria ter ido embora, abandonado as minhas esperanças de dormir e simplesmente ter me jogado no sofá do Salão Comunal. Mas eu não fiz isso. Foi quase como se eu não pudesse. Foi como se eu fosse a mosca atraída por uma chama. Foi como agitar uma tigela de arroz na minha cara e depois pedir que eu andasse na direção contrária. Apesar de eu saber que não devia, eu me aproximei mais da porta, tendo o cuidado de não abri-la mais do que já estava, e dei mais uma olhada.


O grupo consistia de quatro garotas: Saunders, Carrie Lloyd, June Mackey e Laurie Shaclebolt, uma fofoqueira do sexto ano que se dá muito bem com as outras três. Era difícil imaginar como tanta energia ruim poderia caber em um quarto assim tão pequeno, mas lá estava ela. E, do que elas estavam falando, de qualquer modo? De quem? Quem elas tinham visto esta tarde? E o que tudo isso tinha a ver comigo?


“É só um boato”, Saunders zombou, chamando minha atenção para o dormitório novamente. Ela estava sentada em sua cama, com Carrie Lloyd deitada do seu lado, o olhar em seu rosto indicando que ela não estava nem um pouco satisfeita. “Ele mesmo me disse que era só um boato”.


“Então, ele estava mentindo”, June insistiu, mexendo em uma mexa de seu longo cabelo. “Todo mundo sabe que é verdade. É tão óbvio. Eles nem mesmo se importam em esconder”.


Saunders olhou furiosa para June. “Ele não estava mentindo”, ela respondeu com raiva, seu rosto ficando vermelho. “Ele não mente para mim, ok? Vocês estão loucas”.


“Tanto faz, Liz”, Carrie suspirou, mostrando que ela obviamente achava a negação de Elisabeth idiota. “Mas eles tomam o café da manhã juntos bem cedinho. Você francamente acha que tudo o que eles fazem é comer?”.


As palavras de Carrie me congelaram e meu coração, de repente, começou a bater forte em meu peito. Café da manhã...boatos...eu e...


Elas não podiam...


“Pela última vez, James Potter não está namorando Lily Evans!”.


Ai, merda.


Ai, droga.


Elas podiam.


Minha forte dor de cabeça de alguns minutos antes aumentou dez vezes mais quando finalmente caiu a ficha sobre o que o grupo estava falando.


Elas pensavam que eu e James estávamos namorando. Assim com Grace e Sirius haviam pensado. Assim como, aparentemente, todo mundo estava pensando. Mas nós não estávamos. Nós estávamos tão longe disso que chegava até a ser engraçado! Por que será que todo mundo entendia errado? O que é que há entre mim e James que, de repente, faz com que todo mundo grite, “Ei! Olha! Casalzinho passando!’ para todos que nos viam?


ONDE ESSES IMBECIS ESTÃO CONSEGUINDO ESSAS IDÉIAS IDIOTAS?!


“Talvez Liz esteja certa”, Laurie Shaclebolt disse, chamando a minha atenção para ela e para a cena que estava acontecendo lá dentro. “E Hogsmeade?”.


Hogsmeade? Espera um segundo...


“Isso mesmo!”, Saunders gritou de forma triunfante, olhando de forma convencida tanto para June, quanto para Carrie. “Expliquem Hogsmeade, então! Evans vai com Amos Diggory! Por que ela iria com ele, se ela estivesse namorando James?”.


Eu tive que conter as minhas exclamações de concordância, enquanto todas ponderavam a pergunta de Saunders, metade delas ainda tentando criar uma desculpa que a contrariasse.


É claro que eu vou com Amos! Por que elas não conseguem compreender isso? Por que eu iria sair com Amos se eu estivesse namorando James? Elisabeth Saunders pode ser uma das pessoas mais idiotas e irritantes que eu já conheci, mas as células de seu cérebro estavam obviamente funcionando bem melhor do que as células do seu grupinho.


“Obviamente, ela quer deixá-lo com ciúmes”, June explicou, sem ter a mínima idéia do que ela estava falando. “Talvez eles estivessem brigados quando o meu primo idiota convidou a Evans na noite passada. Do jeito que James está irritadíssimo o dia todo, eu imagino que eles ainda tenham que discutir o assunto”.


Eu segurei um grande gemido de frustração. Não, não, não! Elas entenderam tudo errado! O mau humor de James não tem nada a ver comigo. É só um dia ruim! Todo mundo tem dias ruins! Ele está bem com o fato de eu sair com Amos. Ele está feliz por mim. É isso o que os amigos fazem – eles apóiam uns aos outros nos seus casos românticos. E eu não estava tentando deixar ninguém com ciúme. Eu quero sair com o Amos. Eu sempre quis sair com Amos. Eu pensei que June, dentre todas as pessoas, saberia disso, já que foi ela quem me subornou o usando.


QUAL O PROBLEMA DESSAS GAROTAS?


Ai, como eu me coloquei em uma situação dessas? Por que Hogwarts tem que ter essas fofocas que viajam com a velocidade da luz? Que direito essas pessoas têm de fazerem suposições sobre James e meu relacionamento? Que direito elas tem de saber sobre eu e Amos – como elas sabem sobre eu e Amos? Aquela lufa-lufa maldita deve ter contado pra cada pessoa que ela conhecia ou que passasse pela sua frente!


Malditos boatos...


“Eles ficaram trocando bilhetinhos durante a aula de Feitiços inteirinha”, Elisabeth reagiu, olhando para June de forma penetrante. “É óbvio que eles se falaram. James tem coisa melhor pra fazer, ao invés de ficar com raiva da maldita Lily por causa dos gracejos dela com o seu primo, June”.


Eu não sabia se eu ficava muito satisfeita ou muito ofendida com a reposta de Elisabeth.


E eu e Amos não gracejamos...


“Então, talvez eles esclareceram as coisas, mas Evans se recusa a cancelar o seu encontro com o Diggory”, Carrie sugeriu, também completamente errada. “ Isso deixaria qualquer garoto irritado, não é mesmo?”.


Não, nós não esclarecemos as coisas! Não, não é por isso que ele está irritado!


JAMES POTTER NÃO GOSTA DE MIM!! NÓS NÃO ESTAMOS NAMORANDO!! ELAS ENTENDERAM TUDO ERRADO!!


Não foi isso que aconteceu”, Saunders atacou, olhando furiosamente para Carrie agora. Era óbvio que ela estava tremendamente exasperada com o fato de que seus clones e colegas não estavam, pela primeira vez, concordando com suas palavras e caprichos.


“Eu também não gosto nada disso, Liz”, June disse, tomando um gole de cerveja amanteigada. “Mas fatos são fatos. Quero dizer, a garota desfez a nosstra troca para que ela pudesse ir com o James, ao invés do Amos. Obviamente, ela não está tão interessada no meu primo como ela deixa transparecer”.


Bem, agora espera um pouquinho aí! Eu não fiz isso. Amos e James que desfizeram a troca. Eu só concordei. Não foi eu! Eu não tive nada a ver com isso! A maldita garota só estava ressentida porque James não conseguiria suportar estar perto dela nem por algumas horas!


“ Não dá pra perceber isso pelo jeito que ela fala”, Carrie acrescentou, revirando os olhos. “Eu pensei que ela estava caidinha pelo garota, já que ela está sempre comentando sobre ele com Reynolds e Vance”.


Eu estou caidinha por ele! Eu vou casar com ele, NÃO COM JAMES!!


Quando eu descobri que eu estava espumando e as minhas negações prestes a saírem, eu tive que manter os meus lábios comprimidos para mantê-las dentro de mim. E aí, eu percebi que eu tinha que sair dali. Eu estava cansada de todas aquelas suposições idiotas e aquelas malditos boatos e mentiras. Se eu ouvisse mais alguma coisa, eu ia acabar não tendo outra escolha e entrar lá e fazê-las ouvir. Como elas se atrevem a sentar lá e compartilhar mentiras sobre mim e quem eu estou namorando? Eu não quero ser um de seus assuntos de fofoca!


No entanto, quando eu estava me virando para ir embora, eu descobri que eu obviamente não tinha sido a única a ter chegado em um limite. Com um barulho de molas da cama, eu ouvi, pela fenda da porta, Elisabeth Saunders gritar bem alto e claro. Na verdade, eu tenho certeza que as garotas lá no Salão Comunal da Sonserina também ouviram de tão alto que ela estava falando.


“Vocês estão malucas!”, ela exclamou com tanto veneno, que eu parei no meio do caminho. “Não importa se Evans gosta ou não de Diggory! James não gosta dela! Ela é uma piranha idiota, desprezível, asquerosa e egoísta e James está tão acima dela que chega a ser cômico! Eu não ficaria surpresa se ele estivesse andando com ela só por pena!”.


Minha boca abriu de tanto desgosto. Desprezível? Asquerosa? Idiota e egoísta? Uma piranha?


PENA?


Antes que eu percebesse o que estava acontecendo, meus pés começaram a andar na direção da porta.


“Mas ele gostava dela demais no quinto e sexto anos”, Carrie arugumentou, enquanto eu alcançava o limiar da porta mais uma vez. A voz de Elisabeth ressoou de novo, e eu mal a registrei de tão consumida pela raiva.


“E daí? Isso é bobagem agora. Ele não gosta mais dela. Ele me disse que não gostava. Ele – “.


“ – ele pode decidir sozinho quem ele namora ou não, com ou sem seu consentimento e aprovação, não é mesmo?”.


Todos os olhos voaram para a porta, enquanto eu entrava no quarto, abrindo a porta com um pequeno e elegante sorriso. Eu me forcei a aparentar que eu estava calma e controlada, sem mostrar nem um pouquinho da raiva e desgosto que eu estava sentindo por dentro. Eu escondi o meu prazer ao ver a expressão de choque na Saunders, o espanto de Carrie, e a boca escancarada de June Mackey. Laurie Shacklebolt se engasgou com sua cerveja amanteigada quando ouviu minhas palavras. Ninguém falou nada. Todos se encaravam.


Recuperando-se do choque com uma tosse desconfortável, os olhos esbugalhados de Elisabeth passaram a conter um olhar furioso. “Escutando atrás da porta, Evans?”.


Eu dei de ombros casualmente, dando mais passos para dentro do dormitório e depois coloquei minha mochila em cima da minha cama, ignorando os olhares que seguiam cada um dos meus movimentos. Eu podia sentir a elegância (que,periodicamente, dava o ar da graça), voltar mais uma vez, enquanto eu me virava para encarar o quarteto desorientado e assustado.


“A mãe de vocês nunca lhe ensinaram a não falar por trás dos outros pelas costas?”, eu disse, erguendo minha sobrancelha. Quando ninguém disse nada, eu deixei escapar uma risada suave e inteligente, fazendo um barulho desaprovador com a minha língua. “Vocês pegam toda a informação errada desse jeito, sabe”.


“Informação errada?”, Laurie Shacklebolt repetiu, sua orelha especialista em ouvir fofocas animando-se imediatamente ao ouvir meu tom satírico. “Que tipo de informação errada nós temos, Lily? Importa-se em compartilhar conosco?”.


Foi aí que eu percebi que eu não estava mais no controle da minha boca. Minha elegância combinada com a minha boca idiota, mentirosa e traidora tinha tomado o comando, e estava jorrando coisas que eu sabia que, de alguma forma, me colocariam em alguma encrenca. No entanto, eu já tinha ido longe demais para poder sair dessa, e eu estaria mentindo se eu dissesse que eu não tinha apreciado as reações daquelas fúteis covardes (que eu teria matado alegremente alguns minutos atrás) ao ouvirem meus comentários muito-elegantes-para-ser-verdade.


“O que vocês querem saber?”, eu respondi evasivamente, sabendo que Laurie não encobriria nada.


Assim como eu esperava, Laurie bateu palmas animadamente, florescendo com a minha resposta. “Você e James Potter estão realmente namorando?”, foi a primeira coisa que ela perguntou. “E Amos Diggory? Não me diga que você está ficando com os dois ao mesmo tempo! Eu nunca achei que você tinha isso dentro de você!”.


Eu deixei escapar mais uma pequena risada, e dei de ombros. “Ah, Amos é uma gracinha”, eu respondi verdadeiramente, olhando de esguelha para June Mackey. Ela se mexeu desconfortável ao olhar pra mim. “Eu vou para Hogsmeade com ele semana que vem”.


“E James?”, Laurie perguntou, não perdendo nada. Eu sorri de novo.


“James”, eu repeti, um pequeno sorriso em meus lábios. “Bem, o que tem pra se dizer dele, hm? Ele é inteligente e engraçado e – bem, tenho certeza que eu não sou a primeira a dizer que ele faz o meu coração acelerar, certo?”, Laurie concordou com a cabeça agressivamente, antecipando que mais fofoca boa estava para vir. Ela nem tinha idéia de que não era eu que estava falando, mas sim minha boca, que tem uma mente própria e adorava mentir para as pessoas por motivo nenhum. Eu sacudi a minha cabeça lamentavelmente, me orgulhando ao ver a expressão impressionada de Elisabeth, e continuei, “Eu não sei porque eu demorei tanto tempo para descobrir isso – Merlin sabe que ele foi desesperado para me namorar há alguns anos atrás. No entanto – por sorte – agora ele – “.


“Não desperdiçaria seu tempo com uma piranha idiota como você, nem mesmo se você o pagasse”, Elisabeth me interrompeu fatalmente, seus olhos estreitados virados para mim, sua expressão impressionada tinha sido substituída por uma de puro ódio. Seu comentário me feriu, como sempre, mas dessa vez eu não me deixei intimidar. Com um estouro de raiva dentro de mim, eu a olhei furiosamente, deixando meu mau humor que estava adormecido dentro de mim escapar pela primeira vez na conversa. “Não estou certa, Evans?”, ela continuou suavemente, sua voz contendo um óbvio tom de complacência, pensando que ela tinha me pegado nas minhas mentiras. Ela se virou para encarar suas amigas, rindo casualmente, como se a minha presença e minhas palavras não tivessem a desconcertado minutos antes. “A sangue-ruim idiota não conseguiria manter a atenção de ninguém – muito menos de James Potter – por um segundo”. Ela me encarou mais uma vez, seu olhar mostrando uma superioridade que ela obviamente sentia. “Ele pode ter gostado de você uma vez, Evans”, ela murmurou maldosamente, me olhando ainda mais furiosa, “mas agora está tudo acabo, não é mesmo?”.


Minha cabeça estava dizendo sim, gritando que ela estava certa. James pode ter gostado de mim antes, mas ele não gostava mais. Eu sabia que não. Ele tinha reprovado no teste. Eu queria que ele tivesse reprovado no teste. No entanto, ao encarar Saunders, observando seus lábios se curvarem naquele sorriso satisfeito dela, as palavras que saíram depois não deveriam ter sido aquelas.


“Eu não estaria tão certa se fosse você”, eu respondi com tanta força que a convicção de Saunders recuou por um instante. “Você sabe o que dizem, não sabe?”, eu continuei, minha voz contendo o tom superior que ela tinha usado alguns minutos antes. Eu parei, meu olhar perfurando os seus olhos, enquanto eu, calmamente, enfatizava cada uma das próximas palavras, “Velhos hábitos são difíceis de se acabar”.


A boca de Elisabeth se escancarou.


“Ou, nesse caso”, eu disse, incapaz de me segurar, “Eu diria que velhos amores são difíceis de se acabar, não é mesmo?”.


Minha última provocação ganhou um grito da louca-por-fofoca Laurie Shacklebolt, enquanto que Elisabeth continuou a me olhar, sua confiança e superioridade vacilando a cada segundo. Demorou um tempo para que eu percebesse o que eu mesma tinha acabado de falar. Velhos hábitos são difíceis de se acabar? Velhos amores são difíceis de se acabar? Eu, por acaso, acabei de falar que...


Ai, meu Deus.


Ai, merda, eu falei.


Ou, pra ser mais exata, a minha boca traidora falou.


Mas, sério, de qualquer jeito que você observasse, eu tinha acabado de anunciar publicamente o que estive lutando para “desanunciar” pela última semana e meia.


Eu tinha acabado de contar para a Elisabeth Saunders que eu estava namorando James Potter.


“Você está mentindo”, Saunders respondeu com raiva, sua voz baixa e fatal. “Ele disse que vocês não estavam namorando. Você está com o Diggory. Ele não está – “.


“Tem certeza disso?”, eu disse, mesmo que tivesse começado a entrar em pânico internamente com as coisas que a minha boca, por alguma razão, estava tentando impondo na cabeça dessas meninas. Elisabeth Saunders não me responder, mas seus olhares furiosos tornaram-se tão ameaçadores que ela não precisava dizer nada. Eu podia dizer simplesmente pela expressão dela que ela estava engolindo cada uma das minhas mentiras.


Eu não sabia se ficava feliz ou apavorada com isso.


“Então, vocês estão?”, Laurie, por trás de Saunder, perguntou animadamente, agitando-se esporadicamente com o estimulo disso tudo. “Você e James Potter estão namorando?”.


Se eu tivesse deixado a minha maldita e podre boca ter falado o que desse na telha, o que teria saído dela provavelmente seria algo como “Mas claro”, ou “Você pensou o contrário?”, ou talvez, uma resposta até mais hostil “Pode estar certa, caralho!”. Todas essas respostas teriam sido mentiras completas, mas todas, de alguma forma, seriam aceitáveis, segundo minha boca mentirosa, traidora e que-fala-sozinha-sem-nem-pensar-na-real-validade-de-suas-palavras.


Então, exercendo a única parcela de poder que ainda restava contra a minha boca independente, eu me forcei a dar de ombros. “Eu acho que você pode tirar as suas próprias conclusões, não é mesmo, Laurie?”.


Laurie parecia tão desapontada quanto a minha boca por causa da minha resposta sem compromisso. Um pouco contrariada por não ter recebido uma confissão direta, mas não inteiramente desencorajada, Laurie sorriu abertamente, olhando na direção de Carrie e June em busca de alguma confirmação para o que ela tinha acabado de ouvir. Carrie estava me encarando, seus olhos super esbugalhados, enquanto que June estava olhando para todos os lugares, bebendo sua cerveja amanteigada como se fosse uma distração. O consentimento inexistente delas parecia ser suficiente para Laurie, e seu sorriso cresceu ainda mais.


“Interessante”, ela disse com um sorriso, suas sobrancelhas se agitaram.


Obviamente tendo agüentado o bastante, Elisabeth bateu na cabeça de Laurie por trás, seu olhar furioso alternando-se entre mim e Laurie. “Ela está mentindo, sua idiota!”, Saunders exclamou, com seus braços cruzados. “Você não acredita em todas essas mentiras, acredita?”. Ela virou a sua atenção para mim, o ódio ardendo dentro de mim, enquanto ela olhava com raiva. “Você é uma maldita mentirosa. É melhor você parar de se transformar em uma coisa que você não é, sua sangue-ruim, porque qualquer um com metade de um cérebro pode ver através de sua fachada”. Seus pés se moveram a cada palavra que ela dizia, se aproximando cada vez mais de onde eu estava. Ela parou apenas quando ela estava exatamente na minha frente. Ela abaixou o tom de sua voz perigosamente. “Você não tem a mínima idéia do que você está enfrentando, Evans”.


O quê? Uma bêbada mal-amada e egocêntrica?


As palavras estavam ali, na ponta da minha língua, morrendo para sair, mas foram compelidas para dentro, antes que elas tivessem uma chance de aparecer. Nem mesmo a minha boca traidora tinha a coragem ou sangue-frio para pronunciá-las. Por mais que eu estivesse morrendo de raiva da Elisabeth e sua pessoa idiota e pretensiosa, existem coisas que você simplesmente não diz no calor do momento – principalmente na frente de outras pessoas. Não que o suposto problema de bebedeira da Saunders fosse segredo para suas amigas – James parecia saber uma horrível parte dessa história, de qualquer forma – mas era mais o princípio da coisa. Eu não podia – não iria – me rebaixar a tanto. Eu, não só, teria que lidar com a fúria de Saunders, como eu não acho que James iria gostar disso também, e considerando o fato de que eu tinha acabado de declarar, hipocritamente, que ele era meu namorado, eu não acho que seria inteligente brincar com mais um pouco da pequenina paciência de meu novo amigo. Então, enquanto que minha boca geralmente nem se importava em dizer que coisas que ela não devia, esse parecia ser um caso excepcional. Minha boca permaneceu fechadinha, as palavras morreram nos meus lábios.


Ás vezes eu odeio ter uma consciência.


“Acredite no que quiser, Saunders”, eu disse um tempo depois, minha voz contendo aquele tom de desafio que eu sabia que a deixaria maluca. Eu comecei a me aproximar da porta, com meus olhos nunca deixando os de Elisabeth, mas com meu coração batendo freneticamente dentro do meu peito. Quando eu finalmente tirei o meu olhar do fitar cheio de ódio de Elisabeth, eu não olhei para nenhuma das outras garotas que estavam no quarto, enquanto eu me virava para ir embora. Eu não falei de novo, enquanto eu abria a porta do dormitório e silenciosamente saía do quarto e fechava a porta atrás de mim.


Uma vez fora do quarto, minha mão soltou-se da maçaneta lentamente. Eu fiquei parada nas sombras da escada das meninas. Gradualmente, a compreensão do que eu tinha acabado de fazer – o que eu tinha acabado de declarar – me atingiu mais forte do que quando tinha saído da minha boca.


Eu, repentinamente, me senti muito mal.


E quase logo depois da minha aflição repentina ter me atingido, eu sabia mais do que qualquer outra coisa, que eu precisava sair dali.


Eu precisava encontrar o James.


Eu precisava encontrar o James e eu tinha que contar a ele que eu tinha acabado de informar a sua ex-namorada e suas amigas que nós estávamos namorando.


Com um tanto de pânico me propelindo adiante, eu comecei a descer as escadas correndo...


...e quase esbarrei em alguém que estava vindo, quase as derrubando e quase as matando com a minha saída apressada.


Tudo o que eu precisava naquele momento.


“Ah! Desculpe! Eu estou – “.


“Lily?”.


Meu olhar se levantou para a pessoa que eu tinha acabado de esbarrar alguns minutos antes, meu coração batendo ainda mais forte do que antes, quando eu percebi quem que eu quase tinha matado.


Emmeline.


Eu contive um gemido.


Ah, claro. Isso era realmente o que eu precisava.


Emma estava piscando seriamente para mim, seus olhos cheios de choque e seu rosto um pouquinho pálido, apesar de não saber se era por causa da sua doença recente, ou pelo fato de que eu quase a tinha matado.


“Lily?”, ela repetiu, sua voz estranhamente áspera. “Está tudo bem? Qual é o problema?”.


Eu quase ri ao ouvir a pergunta. Qual era o problema? Qual era o problema? Qual não era o problema? Eu tinha acabado de contar a minha arquiinimiga e a suas amigas que eu estava namorando o meu novo e atualmente extremamente irritado amigo, e eu tinha quase empurrado minha ex melhor amiga pela escada.


Mas tudo estava vem. Tudo estava maravilhoso.


Eu nunca quis tanto me matar como eu queria naquele momento.


“Lily?”, Emma perguntou de novo, subindo mais alguns degraus, quando eu ainda assim não respondi, e simplesmente a encarei. “Lily, qual é o problema? É – “.


Eu comecei a sacudir minha cabeça freneticamente, já recomeçando a descer as escadas, passando por Emma na minha pressa de sair dali. Eu simplesmente não podia lidar com aquilo tudo bem ali. Eu só podia lidar com um problema dramático e modificador-de-vidas de cada vez. Emma teria que esperar na fila. Eu a chamaria quando acabasse de lidar com James.


“Eu tenho...eu tenho que ir”, eu murmurei, enquanto eu continuava a descer as escadas, tentando ignorar a expressão magoada no rosto de Emma, enquanto eu passava por ela. “Me...me desculpe”.


“Lily, espera – “.


No entanto, eu ignorei os pedidos de Emma e apenas continuei a descer a escada, minhas pernas movendo-se mais rápido do que costumava. Quando eu alcancei o final da escadaria, eu tive que conter mais um gemido, quando eu me deparei com mais um adversário incômodo.


Eu precisava encontrar o James.


Mas, onde James estava?


Eu não o tinha visto desde quando ele tinha feito sua saída triunfal e irritada na hora do almoço, mas só Merlin sabia onde o garoto estava agora. Ele podia estar em qualquer lugar. Ele podia estar na metade do caminho para Guam agora. E se ele estivesse, ele foi muito imprudente em não me levar junto com ele.


Eu comecei a examinar o Salão Comunal, sem saber exatamente o que eu estava procurando. Sem ter nenhuma pista do que fazer, eu comecei a procurar por algum tipo de idéia, inclinação ou epifania...


E, então, eu encontrei.


“Sirius! Sirius Black!”.


Escondido em um canto, sentado em uma das muitas mesas do Salão Comunal, Sirius estava junto com Remus e Peter, que pareciam estar envolvidos em uma partida de xadrez bastante intensa. Sirius parecia estar tentando pressioná-los psicologicamente toda vez que um dos dois se preparava para mover uma peça.


“Eu sei o que você está pensando, Moony”, Sirius disse ao Remus, enquanto eu corri para onde o grupo estava sentado. “E, confie em mim, não faça isso. Não é uma boa jogada. Você vai se arrepender”.


Cala a boca, Padfoot”.


“Mas ele está certo”, Peter insistiu, inclinando-se em sua cadeira, enquanto ele sorria de forma convencida para Remus. “Você não pode me vencer, Moony. Apenas jogue a toalha. Nem se incomode. Eu sou imbatível”,


“Er, eu não estaria assim tão certo se fosse você, Pete”, Sirius informou Peter lentamente, agora adotando outra estratégia. “Eu acabei de ver o que Remus está pensando agora e, vou te contar, é muito bom – “.


“Sirius, cadê o James?”.


O garoto parou um momento de encher o saco dos outros dois e se virou para me encarar com um olhar de surpresa.


“Oi, Lily”, Peter me cumprimentou, acenando de onde ele estava.


“Oi”, eu disse rapidamente, lançando um pequeno sorriso para Peter. “Algum de vocês sabe onde ele está?”.


“Tem alguma coisa errada?”, Remus pergundou, me olhando de forma estranha. Eu devia estar mais em pânico do que eu pensava.


“”Er, ainda não”, eu respondi com um pequeno tremor, sem ter disposição para mentir mais. Os três marotos trocaram olhares entre si curiosos.


Sirius me olhou, sua expressão difícil de ler. “Olha, Evans”, ele disse lentamente, um pequeno suspiro escapando de seus lábios. “Eu sei que vocês, garotas, adoram uma besteira do tipo “vamos conversar para que ele se sinta melhor”, mas isso não funciona com nós, garotos”.


“Eu não estou tentando – “.


“Apenas deixe-o esfriar a cabeça, ok? Se isso te faz sentir melhor, eu fui dar uma olhada nele agora a pouco”.


“E?”.


“E ele jogou um balaço na minha cabeça”, ele respondeu secamente.


Eu contraí os músculos involuntariamente. “Er, e quando exatamente foi isso?”.


“Há uns vinte minutos atrás”.


Eu suspirei longamente, esfregando os meus olhos de maneira cansada. Eu considerei por um momento adiar a coisa toda. Quero dizer, isso poderia esperar até amanhã, certo? James não estava em condições de ouvir o que eu tinha pra dizer hoje à noite. Ele não estava em condições de fazer nada, na verdade. Eu poderia adira a minha confissão constrangedora por mais um dia. Nada iria acontecer num período curto de algumas horas. Eu simplesmente falaria com James amanhã, quando ele estivesse se sentindo melhor e quando fosse menos provável que ele me mataria com sua vassoura ou com um balaço ou algo assim.


Eu tinha acabado de me decidir, quando eu ouvi uma risada repentina e familiar bem atrás de mim. Eu virei a minha cabeça na direção da escada das meninas.


Descendo as escadas, rindo intensamente, enquanto murmurava rapidamente por trás de suas mãos para outra garota, estava Laurie Shaclebolt. Quando ela percebeu que a estava olhando, ela sorriu abertamente e depois começou a cochichar ainda mais rápido para sua colega.


Foi aí que eu percebi que não tinha jeito de adiar o que eu tinha que fazer.


Eu me virei novamente para Sirius, a dor de cabeça que tinha sido esquecida voltou de novo com força total. “O campo de quadribol, então?”, eu perguntei a ele rapidamente.


Sirius concordou com a cabeça. “Mas Evans – Evans!”.


Eu ignorei os chamados de Sirius que estava vindo atrás de mim, pensando apenas em chegar até James antes que alguém o fizesse primeiro. Eu passei pelo buraco do retrato, quase derrubando um primeiranista na minha pressa de sair. Eu gritei uma rápida desculpa por sobre o meu ombro, mas não parei – eu não podia parar. A imagem de Laurie Shacklebolt cochichando e rindo, enquanto ela e sua amiga olhavam para mim fez com que um gemido não característico escapasse dos meus lábios. A última coisa de que eu precisava era de uma ampla parte da fábrica de fofocas de Hogwarts deixando que o James ainda nervoso soubesse que eu tinha, acidentalmente, informado a sua ex-namorada e suas amigas fofoqueiras que nós estávamos namorando. Eu só podia imaginar o que iria acabar acontecendo. Se você achou que James estava de mau humor antes...


Sirius tinha recebido um balaço. Eu provavelmente iria receber uma facada.


Ou talvez, não uma facada. Talvez James ache que seja muito esforço ter que conjurar alguma coisa. Talvez, ele simplesmente pule de sua vassoura, caia bem em cima de mim e comece a me estrangular até que eu esteja morta.


É, acho que isso.


E, quer saber de uma coisa? Eu não o culpo.


Enquanto eu corria pelos corredores, ignorando os olhares estranhos que eu estava recebendo e os chamados da Professora McGonagall para que eu fosse mais devagar, a imagem de James me estrangulando no meio do campo de Quadribol passavam na minha mente.


Não era exatamente uma das imagens mais bonitas para se ter constantemente rodando na sua cabeça.


Eu tentei não recuar, enquanto eu abria as portas da frente do castelo, o ar frio passando por mim e me fazendo perceber que eu não tinha trazido minha capa. Minhas vestes, apesar de serem úteis dentro do castelo, não tinha a mínima chance lá fora, com esse frio severo. Por que eu tinha que precisar ir lá fora justo em um dia tão anormalmente congelante?


Maldito carma...me coloca nessas confusões idiotas...


Quando eu cheguei no campo de Quadribol, eu estava morrendo de frio, totalmente em pânico e completamente sem fôlego. Eu me encostei em uma das arquibancadas, fechando meus olhos e respirando profundamente, me contentando com o fato de que eu contaria tudo, antes que qualquer outra pessoa o fizesse. Parando por um momento, esperando as batidas do meu coração voltarem a seu estado normal, eu, de modo cansado, me afastei da arquibancada, minhas pernas parecendo uma geléia. Dando uma volta na arquibancada, me segurando com uma mão para me apoiar, eu olhei para o céu, observando um pequeno borrão no céu voar pra lá e pra cá.


Na verdade, ele estava mais era, de forma graciosa e maluca, caindo, ao invés de voar.


Qualquer um que tenha dito, alguma vez, que James Potter não tinha talento para voar, obviamente é maluco.


Enquanto eu observava lá em cima, eu tive que segurar um grito, quando eu vi o que ele estava fazendo. Quero dizer, eu sei que ele está nervoso e tudo mais, e que aqueles truques que ele estava fazendo era, provavelmente como tirar doce de criança pra ele mas, francamente, ele estava tentando se matar? Quem, por vontade própria, voaria daquele jeito? Quem? Ele é louco? Ele deve ser. Ele tem que ser. Qualquer um pensaria isso. Quero dizer, quando você vê alguém mergulhando na direção do chão e depois se levantando um pouquinho antes de chocar-se e ser transformado em pedacinhos, você não consideraria essa pessoa meio anormal? Principalmente quando, logo depois dessa pessoa ter conseguido escapar da morte, ela vai lá e voa e faz tudo isso de novo? Isso é mesmo necessário? Ele estava querendo que eu tivesse um ataque cardíaco? Ele estava querendo ter um ataque cardíaco?


Isso só prova ainda mais o meu ponto de que Quadribol e voar estragam o sua cérebro permanentemente.


Sério. Você fica sem pensar logicamente e de forma segura. É uma droga disfarçada de esporte, e todo mundo é pressionado a praticá-lo. É daqueles tipos de coisa como “Ah, vamos lá, Lily, vamos jogar Quadribol. Todo mundo joga”, e que você simplesmente tem que recuar e dizer, “Não, obrigada. Eu prefiro viver para ver o amanhâ”.


Porque, deixa eu te dizer uma coisa: Quadribol mata.


E quando James chocar-se contra o chão e bater com a cabeça e abri-la, ele vai perceber isso. Mas, até lá, eu receio que será tarde demais.


Essas são as provações e tribulações de um viciado.


Então, enquanto eu fiquei lá, o observando, me encolhendo toda vez que ele se aproximava demais do chão pro meu gosto, eu considerei gritar para que ele pudesse perceber que eu estava lá. Mas quando James moveu-se rapidamente em direção ao chão, pela sexta ou quinta vez e eu vi a tensão em sua mandíbula e aquela expressão vazia em seu rosto, eu pensei que talvez fosse mais inteligente esperar até que ele tivesse mais algumas experiências de quase morte para acalmá-lo.


Talvez, se ele valorizasse a sua vida o suficiente, ele não seria tão rápido em tirar a minha.


Então, aqui estou eu, sentada na arquibancada da Grifinória, observando James tentando se matar (agora ele está fazendo essas voltas e giros enquanto ele vai em direção ao chão. Maldito idiota...), esperando que ele fique de saco cheio. Eu acho que não importa se eu não contar pra ele agorinha mesmo, contanto que ele fique no meu campo de visão. Assim, eu poderia assegurar que nenhuma idiota fofoqueira não conte o que eu fiz antes de mim. Eu acho que se eu simplesmente deixá-lo esfriar a cabeça, talvez essa história toda se torne uma daquelas coisas que a gente pode olhar pra trás e rir, sabe? Sem ressentimentos, sem raiva, sem assassinato –


Espera, o que ele está fazendo?


Ele está...


Ele não pode já ter acabado! Ele não pode ir embora.


ESPERA, SEU IDIOTA!!




Ainda mais tarde, Ainda na arquibancada do campo de Quadribol


Lily Observadora: Décimo sétimo dia


Observações Totais: 118


“James! James Potter!”.


Eu estava gritando o seu nome com toda a força que meus pulmões possuíam, correndo com toda a energia que ainda me restava para tentar alcançá-lo antes que ele entrasse no vestuário, onde eu não seria mais capaz de ficar de olho nele. Mas, mesmo assim, demorou séculos para ele perceber que eu estava ali. Ele simplesmente continuou andando muito nervoso na direção do vestiário, mais ou menos do mesmo jeito que ele andou durante a hora do almoço hoje, ignorando completamente os meus gritos urgentes e meus acenos frenéticos com a mão.


Ele era surdo?”.


“JAMES POTTER! FAZ O FAVOR DE ESPERAR PELO MENOS UM MINUTO, DROGA!”.


Meu último chamado parecia ser suficiente para acordar até mesmo um morto-vivo – ou, nesse caso, James – e ele, finalmente, se virou, bem na frente do vestiário.


Eu rapidamente o alcancei. Tossindo e ofegando, eu parei na sua frente: ele estava completamente exausto e mais do que um pouquinho irritado.


“Você...está...tentando...me...matar?”, eu disse, segurando seus ombros em busca de apoio, enquanto eu me inclinava e continuava a arquejar. “Você...é...completamente surdo...ou algo assim?”.


“O que você está fazendo aqui, Lily?”, James perguntou sem rodeios, escolhendo ignorar completamente as minhas acusações ofegantes. Eu me ergui lentamente da minha posição curvada e o olhei furiosamente, enquanto eu continuava a respirar com dificuldade.


“Eu preciso falar com você”, eu disse pra ele de modo irritante, nem um pouquinho a fim de ouvir as suas tolices, quando eu tinha acabado de correr a toda velocidade o campo de quadribol inteiro, gritando e berrando como uma maldita maníaca, sendo completamente ignorado por ele. Ele queria ser grosseiro? Poxa, eu tinha uma dor imensa e uma câimbra irritante por causa dele! Eu também posso ficar nervosa, sabe! “Só...me de um segundo, certo? Eu tenho que ter certeza que eu posso...me recuperar de forma apropriada de toda essa longa corrida”.


James revirou os olhos e começou a dar alguns passos na direção do vestiário. “Olha, Lily, eu não estou com humor pra isso agora. Você pode esperar – “.


“Não, não posso!”, eu respondi com raiva, tentando impedi-lo de sair e também tentando impedir o ataque cardíaco iminente que eu podia sentir que estava prestes a ocorrer dentro do meu peito. Eu, definitivamente, precisava começar a me exercitar um pouquinho mais.


“Então?”, James exigiu com seus olhos estreitados. “Diga o que você tem pra me dizer e pronto, ok? Eu preciso tomar banho”.


Eu o olhei com raiva mais uma vez, sem querer argumentar. Ele estava todo desarrumado por causa do vôo, seu cabelo todo bagunçado, seu rosto e mãos cobertos por manchas sujas. Havia até um pequeno corte em sua testa, provavelmente conseqüência de umas das várias vezes que ele não conseguiu subir rápido o suficiente de seus mergulhos. Além disso, ele fedia.


No entanto, quando eu ia abrir a minha boca, pronta para falar uma boas e poucas pra ele, nem mesmo me importando se ele ia ficar ainda mais nervoso comigo, ou se ele ia tentar me matar ou algo assim, eu percebi que nada saía. Não porque eu não queria que nada saísse, mas porque eu não sabia o que dizer.


Como você diz pra uma pessoa que você tinha acabado de anunciar publicamente que vocês estavam namorando?


De repente, eu percebi que minha raiva estava se esvaindo e eu estava começando a entrar em pânico de novo. James continuou a me olhar furiosamente, sem saber da grande mudança de sentimentos que tinha acabado de ocorrer dentro de mim.


Então?”.


“Eu...é...”, eu lutava com as palavras, tentando forçá-las a sair, sabendo que eu tinha que fazer isso, mesmo sem realmente querer.


Eu cometi um erro.


Eu menti de forma desprezível.


Elisabeth Saunders acha que nós estamos namorando.


Eu podia ter dito qualquer coisa, podia tê-lo feito sentar e ter explicado tudinho pra ele, calmamente e racionalmente. Eu podia ter feito isso, mas eu não fiz. Eu era covarde demais para dizer tudo isso sem rodeios. Apesar de querer muito contar pra ele, minha boca parecia pensar diferente e, ao invés de eu falar diretamente o que tinha ocorrido, o que saiu foi, “Você sabe quando você diz algo, e às vezes acaba soando de um jeito que você não queria?”.


Ou, no meu caso, exatamente do jeito que você queria, mas que agora não quer mais?


James me encarou diretamente. “O quê?”.


“Quando você diz algo, mas acaba soando errado”, eu disse pra ele de novo, sem fazer mais sentido do que da primeira vez. “Mas, então, você diz, e as pessoas escutam e, às vezes, elas fazem certas suposições que realmente não são verdade – e você sabe que elas não são verdadeiras e você não quer que elas sejam verdadeiras, realmente não quer – mas que elas fazem assim mesmo, e então – “.


“Lily”, James levantou sua mão para que eu parasse com a minha tagarelice. “Do que diabos você está falando?”.


Eu suspirei, pensando exatamente a mesma coisa.


“Olha”, eu disse, sacudindo a minha cabeça e tentando me livrar de toda a minha insanidade só por um momento para que eu pudesse fazer sentido. “Eu...quando você voltar lá pra dentro, talvez você possa ouvir...er...uma coisa”.


“Uma coisa?”, James perguntou.


“È, uma coisa. Mas, não acredite nela – quero dizer, você não iria acreditar de qualquer jeito, já que isso tudo é tão bobo e tudo mais, mas você sabe como esses boatos começam e as coisas saem um pouquinho fora do controle – e, sério, a coisa toda foi levada em consideração completamente fora do contexto, então...”.


Eu me cansei e dei uma boa olhada na expressão confusa de James e parei quando eu ainda estava com o controle da situação. Eu sou péssima com as palavras.


Eu suspirei, massageei a minha têmpora e olhei para James de forma desesperada. “Apenas...ignore qualquer coisa que você ouvir, ok?”.


James ficou quieto, depois concordou. “Está tudo bem?”, ele perguntou.


Eu tive que refletir o porquê de todo mundo parecer estar me perguntando isso. Alguma coisa sempre estava bem? Claro que não. Nada nunca está. E, com a minha sorte, nada nunca estará.


“Er...sim, tudo está bem”, eu menti, coçando a parte de trás da minha cabeça e desviando o olhar, sem ser capaz de mentir mais pra ninguém.


James não pareceu convencido e, pela primeira vez em toda a tarde, ele também não estava me olhando de cara feia. “Tem certeza?”, ele perguntou de novo.


Eu concordei. “Sim. Tudo bem. Fabuloso. Apenas...lembre-se de ignorar qualquer coisa que você possa ouvir, tudo bem? Porque não é verdade”.


James concordou. “Certo. Não é verdade. Entendi”.


“E, mesmo que alguém diga a você que eu disse que era verdade – “.


“Você não disse”, James terminou por mim.


Eu desviei o olhar de novo. “Er, bem, na verdade, eu meio que disse. Mas foi só...”.


“Levado em consideração fora do contexto?”, James tentou de novo. Eu dei um pequeno sorriso e concordei.


“Isso. Contexto”.


Nós permanecemos lá, em silêncio, por algum tempo.


“Lily?”.


”Hum?”.


“Eu não estou inteiramente certo do que você acabou de me dizer, mas eu posso ir tomar banho agora? Meu próprio fedor está começando a me incomodar”.


Voltando à vida, eu ri levemente, concordando com a cabeça e acenando na direção da porta do vestiário. “É, claro. Você realmente está fedendo”.


“Obrigado”, ele respondeu sem rodeios.


Eu sorri pra ele, enquanto ele começava a se virar. “Te vejo mais tarde, então”, eu disse, lhe lançando o que eu esperava que fosse um sorriso confortador. “E não se esqueça de – “.


“Ignorar o que eu ouvir. É, eu sei”.


Então, ele desapareceu pela porta.




Mais tarde, Biblioteca


Lily Observadora: Décimo sétimo dia


Observações Totais: 118


Eu sei que para um observador normal, provavelmente parece que eu moro aqui ou algo assim, considerando que eu quase nunca saio daqui, mas se eles simplesmente parassem para escutar a verdade, eles perceberiam que eu tenho boas razões para ficar aqui tanto tempo. Não é que eu ame Madame Pince (ela adora gritar comigo em francês. Eu falo francês, Madame Pince? Não, eu não falo. Eu não entendo o que você está dizendo, então, por favor, pare de falar comigo), e eu também não adoro os livros (1001 maneiras de cultivar uma Planta Frutis, de Timothy Rightly...exatamente o que eu procuro em livros de qualidade), e também não é porque eu adoro fazer as minhas tarefas. O motivo, na verdade, é bastante simples: não há mais nenhum lugar em Hogwarts onde as pessoas são obrigadas a ficarem quietas.


É, é isso mesmo. Isso é tudo o que eu preciso agora mesmo: silêncio.


Porque, na biblioteca, apesar das pessoas poderem cochichar besteiras sobre você – e, pode acreditar, elas estão cochichando – eu não consigo ouvi-las. E se eu não posso ouvi-las, eu posso fingir que elas não estão cochichando coisas sobre mim. Além disso, se eu posso fingir que eles não estão falando de mim, eu posso quase fingir que eu não disse, hoje à tarde, à Elisabeth Saunders e suas amigas idiotas que eu estava namorando James Potter. Eu posso até começar a fingir que eu não sei que Emma está, agora mesmo, esperando em nosso dormitório, merecendo totalmente uma boa desculpa por eu ter sido tão idiota, mas sem receber nenhuma, já que eu a estou evitando. E todo esse fingimento só pode ser feito aqui na biblioteca.


Então, aqui estou eu.


E eu não pretendo sair daqui tão cedo.


Então, se eu alguém sente a necessidade de simplesmente armar uma cama aqui pra mim, tudo o que eu tenho a dizer é: melhor pra eles. Vão em frente. Eu não faria nenhuma objeção. A sessão ali à esquerda parece ser um bom lugar – muito espaçoso e bem no meio da seção de Feitiços. Eu adoro Feitiços. E eu adoro camas. Por que não colocá-los juntos, não é mesmo?


É, isso não seria nada mal...

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