Capítulo 9 parte 3

Capítulo 9 parte 3



Capítulo 9 Parte 3


Ainda mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Décimo Dia


Observações Totais: 67


Eu estava terminando o meu dever de Adivinhação depois das aulas no dormitório, quando Grace e Emma entraram conversando baixinho. Assim que ela me viu sentada na minha cama, Grace virou-se para Emma e perguntou bem alto, “Ei, Em! Você sabe o que a Lily vai fazer hoje à noite?”.


Ah, droga. Essa coisa de ‘entender’ de novo não.


Emma arregalou seus olhos (surpreendentemente, ela não estava furiosa), enquanto ela olhava de Grace para mim.


“O quê?”, ela perguntou.


“Ela vai fazer a ronda”, Grace respondeu, enfatizando a última palavra.


Hum, e daí? O que ela está aprontando dessa vez?


“Ronda?”, Emma perguntou, sua voz nem fria e/ou hostil pela primeira vez em um bom tempo. “Mas eu pensei que você iria fazê-la na semana que vem. Você disse antes que...”.


Eu sacudi minha cabeça e ia começar a explicar, quando Grace me interrompeu e sorrindo explicitamente para Emma disse: “Ela teve que trocar. Agora, ela vai fazer a ronda com o James”.


Eu revirei os olhos para a ênfase de Grace de novo. O que, exatamente, ela estava fazendo? E qual era o problema de eu trocar o dia da minha ronda? E o que isso tem haver com o James? Será que elas sabem do meu plano de convencê-lo a ser meu amigo? Eu não to entendendo nada.


“Ela...”, Emmeline murmurou, seu olhar arregalado caiu para o chão. Então, de repente, sem nenhum aviso, ela pegou o braço de Grace e, rigorosamente, a empurrou para fora do quarto. “Eu preciso falar com você”, foi tudo o que ela disse, enquanto elas saíam.


Eu as observei sair e, involuntariamente, me encolhi quando Grace bateu a porta quando elas estavam indo embora.


Essas daí ficam mais malucas a cada dia que passa.


Você vai fazer a ronda com o James Potter hoje à noite?”.


Eu pulei e me virei em direção à cama do outro lado do quarto. Elisabeth tinha acabado de abrir as cortinas e estava me observando com olhos estreitados. Eu nem sabia que ela estava ali.


“Er...é”, eu respondi hesitantemente, observando seus olhos estreitados com cuidado.


Elisabeth congelou e ficou de boca aberta, antes de ela exclamar, “Ah...Merlin!”.


Então, ela pegou suas vestes, as vestiu e saiu do quarto assim como Grace e Emma.


É óbvio que minha maluquice é contagiosa. O dormitório inteiro foi contaminado. Agora eu sei porque trancam as mulheres loucas. Nós somos muito perigosas.




Ainda mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Décimo Dia


Observações Totais: 67


Daqui a pouco eu vou sair para me encontrar com o James para fazermos a ronda. Ele não estava no jantar, então eu não pude medir a sua raiva. Vou ter que fazer isso agora. No entanto, eu estou completamente armada com tortas de frutas, balinhas e com os bombons que a minha mãe fez, pra ver se eu consigo fazer ele mudar de idéia caso ele ainda esteja zangado comigo. E se isso não funcionar, então eu vou ter que ir pro plano B e trancá-lo no armário de vassouras até que ele não esteja mais com raiva de mim. A ronda é bem longa. Eu posso deixá-lo trancado lá por pelo menos algumas horas.


“Pra que é tudo isso?”, Grace acabou de me perguntar, apontando para minha mochila que eu enchi com minha munição (tortas, balinhas e bombons).


“Eu preciso disso para fazer minha ronda”, eu disse simplesmente.


“Pra quê?”, ela perguntou. “Por acaso você está planejando colocar as pessoas que quebram as regras aí dentro? Tenho certeza que se você deixá-los inconscientes eles vão aprender muito mais”.


Psh. Hum, não, Grace. Isso é para fisgar o meu parceiro...se for necessário, claro.


“Definitivamente”. Eu disse a ela.


Ela pigarreia. Eu também.


“Hey”, ela acabou de dizer. “Você pode mentir a vontade. Você vai me contar algum dia, eu acho”.


Contar pra ela? O quê?


“Contar o quê pra você?”, eu perguntei.


Grace sorriu e despenteou meu cabelo. “Eu estou tão orgulhosa de você, Lily”.


Ai, droga. Isso de novo não.




Muito, muito tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Décimo Dia (Talvez décimo primeiro?)


Observações Totais: 69


Definitivamente, eu sou a melhor e a garota mais misericordiosa que já habitou o planeta. Estou falando sério. Nem todas as garotas iriam fazer o que eu acabei de fazer sem pedir algo em troca. Na verdade, algumas garotas provavelmente nem fariam isso, mesmo recebendo algo em troca. Pra você ver como eu sou boazinha. Extremamente boazinha, na verdade.


Ai, Merlin. Eu estou exausta.


E eu estou fedendo tanto.


Eu acho que eu devia começar pelo começo, certo?


Exatamente as nove horas (ou por aí.Eu queria descer as nove em ponto, mas depois eu vi uma mancha na minha saia que não queria sair de jeito nenhum, aí eu tive que trocá-la), eu fui para o Salão Comunal – armada com a minha mochila de suborno, claro – e comecei a procurar por James para que a gente pudesse começar a nossa ronda. Assim que eu cheguei lá, eu percebi que ele estava sentando numa mesa perto da lareira junto com os outros marotos. Remus e Peter estavam jogando xadrez, enquanto James e Sirius estavam olhando para um livro, e anotando alguma coisa em um pergaminho.


“De acordo com isso”, Siriu anunciou bem alto para todo o grupo, enquanto eu me aproximava da mesa, “Eu vou ter uma semana muito boa”.


“De novo?”, Peter perguntou sem rodeios, movendo seu bispo no tabuleiro.


“Semana passada foi sorte”, Sirius explicou, olhando para o jogador de xadrez atrás dele. “Essa semana eu, aparentemente, peguei a letra ‘E’, o que significa um monte de calcinhas e Rill Caridade no meu futuro”.


Rill Caridade?”, Remus ergueu uma sobrancelha. Você quer dizer o Rill Caridade que joga como apanhador para os Harpies?”.


Sirius concordou com a cabeça, um sorriso convencido em seu rosto. “Esse mesmo, cara”.


Remus olhou para James, depois para Peter. Os três se olharam descrentes. Depois, Remus pegou o livro de Adivinhação, e começou a folhear as páginas. “Onde você leu toda essa baboseira?”, ele perguntou.


Sirius apontou para algo no livro. Os outros três marotos se aproximaram para ler.


O rio da caridade irá fluir por suas veias?”, James leu e depois bufou. “Você leu isso e chegou até Rill Caridade calcinhas?”.


Sirius se apoiou em sua cadeira e cruzou seus braços audaciosamente. “Vocês estão com ciúme porque vocês não são tão criativos como eu sou”.


“Ou tão loucos quanto você”, James murmurou, sacudindo sua cabeça. Todos começaram a rir, menos Sirius, que arrancou o livro das mãos do Remo e bateu na cabeça de James. Então, Sirius começou a rir também.


“Oh!”, Peter disse alguns segundos depois. “Oi, Lily!”.


Eu sorri levemente, e depois me aproximei mais da mesa. “Oi”, eu cumprimentei amigavelmente.


“Precisa de alguma coisa, então?”, Sirius perguntou, seus olhos cintilando de forma travessa. “Talvez alguma ajuda com o dever de casa, ou algum livro emprestado, ou possivelmente um amasso bem gostoso do sinceramente seu?”.


Eu revirei os olhos e sacudi a minha cabeça. “James, na verdade”, eu disse a ele.


Os olhos de Sirius se arregalaram. “Você quer um amasso bem gostoso do Prongs?”.


“Não”, eu o corrigi com severidade e o olhei com raiva.


“Uma transa bem gostosa, então?”.


Eu bati nele.


“Ai!”, ele exclamou, esfregando sua cabeça. “Eu gostava mais de você quando você não era uma santinha!”.


“Eu não sou...”, eu comecei e depois parei e revirei os meus olhos de novo, e lhe olhei furiosamente. “Ah, vai se foder, Black”, eu disse, propositalmente usando um palavrão. Sirius sorriu.


“Essa é minha garota!”, ele exclamou alegremente, batendo no meu ombro de forma aprovadora. Eu saí de perto dele e me virei para falar com James.


“Pronto?”, eu perguntei.


“Pronto para uma tr – “, Sirius começou, mas James o cortou com um severo, “Cala a boca, Padfoot”. Sirius pareceu surpreso com o tom grosseiro de James, mas depois pareceu não se importar mais com isso rapidamente.


“Nós temos ronda”, eu expliquei, me movendo de forma desconfortável. Ai, Merlin, eu realmente sou uma santa.


“Tem um monte de armário de vassouras nessas rondas...”, Peter comentou de forma atrevida, cutucando Sirius em suas costelas. Os dois começaram a rir. Eu os ignorei. James se virou e olhou os dois com muita raiva, mas Remus estava olhando pra mim, apesar de parecer que ele estava falando com James.


“Ronda?”, Remus questionou, também ignorando as risadas dos dois babacas perto dele. “Eu pensei que você tinha ronda na semana que vem, Prongs?”.


James sacudiu a cabeça, mas não disse nada. Ele apenas se levantou e começou a juntar os papéis que ele estava escrevendo. Remus olhou pra mim de novo.


“É...er...complicado”, eu disse lentamente, lhe dando a mesma desculpa que eu já tinha usado antes. Remus ergueu uma sobrancelha, mas não disse mais nada e voltou para seu jogo de xadrez. Ainda bem que ele deixou o assunto morrer.


Eu estava morrendo de vontade de sair do Salão Comunal, mas James parecia estar se movendo feito uma lesma, sem perceber que eu queria ir logo embora dali.


“O que tem na mochila, então?”, Peter perguntou, movendo sua cabeça na direção da Mochila de Surborno, depois que ele e Sirius finalmente se acalmaram.


Eu deixei escapar um suspiro de frustração e o olhei furiosamente. “É para bater nas pessoas que, por acaso, estejam quebrando as regras”, eu disse a ele rapidamente, repetindo a piada de Grace. Eu me virei para o James, que ainda estava mexendo em seus papéis. “Vamos”, eu ordenei, não deixando nenhum espaço para discussões. Então, eu me virei e saí do Salão Comunal, esperando que James me seguisse.


Eu só arrisquei olhar pra trás quando eu estava fora do Salão Comunal e no meio do corredor. Como eu esperava, James estava me seguindo silenciosamente, suas mãos no bolso, olhando pra frente, mas sem prestar muita atenção. Eu parei e esperei que ele me alcançasse.


“Desculpe”, eu disse rapidamente, quando ele finalmente me alcançou. “Eu só queria sair de lá”.


Ele deu de ombros e depois desviou o olhar. Eu suspirei. Ele, claramente, ainda estava com raiva de mim.


Nós andamos pelo castelo por uns quarenta minutos. Encontramos alguns histéricos da Corvinal perto do Salão Principal, mas como não estava tão tarde ainda, nós não podíamos fazer nada. Como essa manhã, eu tentei conversar com James, falando de tudo e de qualquer coisa que vinha na cabeça, mas ele ou respondia monossilabicamente ou ele nem se importava em responder. Quando deu uma hora que nós estávamos fazendo a ronda, o silêncio de James começou a me incomodar. Eu olhei para a Mochila de Suborno e decidi que era hora de atacar.


“Quer um bombom?”, eu ofereci com um sorriso. James olhou pra mim pela primeira vez em dez minutos.


“O quê?”, ele perguntou confuso.


“Bombom”, eu repeti, pegando minha mochila e tirando a caixa de bombons. Eu sacudi a caixa na sua frente com o objetivo de atraí-lo, os bombons se remexendo dentro da caixa.


“Então é isso que estava dentro da mochila?”, ele perguntou sem rodeios, ignorando completamente a minha caixa. Foi a maior seqüência de palavras que ele me disse a noite toda.


“E outras coisas também, eu disse a ele, e então resolvi sacudir a caixa na sua cara, decidida a receber alguma resposta dele. “Esse bombom é realmente muito bom”, eu continuei. “Pode perguntar pra qualquer um”.


Ele ignorou o meu comentário de novo. “O que mais?”, ele perguntou.


“O que mais, o quê?”.


“O que mais tem na mochila”.


“Ah. Isso”, eu peguei a mochila e comecei a mexer nos vários itens de suborno que tinha lá dentro, um pouquinho encorajada já que ele estava, pelo menos, falando um pouquinho. “Bem”, eu comecei, “tem alguns doces e...algumas tortinhas e...”.


Um barulho repentino e estrangulado me fez virar em direção ao James. Quando eu me virei, eu quase me encolhi em alívio.


Ele estava rindo.


Realmente e verdadeiramente rindo.


Obrigada, Merlin!


“Vo-você estava...você estava tentando me subornar com comida para – para que eu não ficasse mais com raiva de você?”, ele disse no meio de suas gargalhadas, sacudindo sua cabeça sem acreditar. Eu mordi os meus lábios, hesitei, e depois concordei com a cabeça. James caiu na gargalhada de novo, batendo com as mãos na parede de tanto rir.


“Você é muito estranha, Lily Evans”, ele me disse entre risadas, enxugando as lágrimas de felicidade de seu rosto. “Esperta, mas estranha”.


“Er, obrigada. Eu acho”, eu olhei pro chão. Eu não sabia exatamente o que responder, e também não sabia o que fazer agora que ele não parecia mais tão bravo assim comigo. Apesar de que você nunca pode ter certeza em se tratando de James. Ele parecia ter a estabilidade emocional de uma ervilha.


Um momento de silêncio se passou antes de James falar de novo. “Então?”.


Eu olhei pra ele de novo. “Então, o quê?”.


Lentamente, um sorriso torto apareceu no rosto de James, e seus olhos cintilaram alegremente. Suas expressões faciais estavam tão diferentes de antes que ele quase me assustou. “Bem, pode ir entregando os bombons, garota!”, ele ordenou com um sorriso. “Vamos ver se é tão gostoso como você diz!”.


Com um sorriso no rosto, eu fiz como ele mandou.


E a partir daí, tudo ficou em paz.


Não demorou muito para James livrar-se de sua raiva, e antes que eu percebesse, nós estávamos conversando e rindo como na noite antes de tudo ter acontecido. Eu disse a ele que minha mãe que fez os bombons e que ela era conhecida lá em Surrey por causa disso. Ele disse que a mãe dele não conseguia nem achar as colheres na cozinha, quanto mais usá-las para fazer alguma coisa. Ele me perguntou sobre as minhas férias, e eu disse que eu só tinha passeado lá perto de casa. Ele tinha ido pra França com sua família. Sirius foi com ele. E, depois, parece que ele também ficou passeando quando voltou. Primeiro, foi um alívio que ele tivesse voltado a falar comigo, mas quando nós começamos a mudar rapidamente de um assunto para o outro e o tempo começou a passar depressa demais, o fato de eu não ter tocado no assunto de ‘sermos amigos’ estava começando a se transformar num problema. Mas como eu deveria tocar num assunto como esse? Quando nós estávamos falando sobre feitiços (Eu ia adorar pegar aquelas anotações de Feitiços de novo. Sabe mais o que eu ia adorar? Que nós fôssemos amigos.)? Quando nós estávamos falando sobre Quadribol (Eu odeio Quadribol. Eu odeio isso também. Sendo que ‘isso’ é nós não sermos amigos, quero dizer)? Parecia não haver um maneira possível de tocar no assunto.


E o fato de eu ter acabado de dar pra ele todos os bombons da minha mãe parecia não ter feito com que ele percebesse o que eu queria dizer.


Já era quase meia-noite e nós resolvemos voltar para a Torre da Grifinória. A noite passou sem muitos problemas (Penny O’Jene e Timmy Ricks que, aparentemente, estão juntos de novo, estavam se agarrando no corredor do quinto andar). Eu ainda não sabia como tocar no assunto de sermos amigos.


“...e eu disse pra ele não fazer isso, mas você conhece o Sirius”, James continuou, completamente sem saber da minha batalha interna. “Ele simplesmente entrou e jogou, e antes que percebêssemos, nós estávamos na sala da McGonagall, levando outra bronca”.


Eu ri artificialmente enquanto ele concluía a história, minhas preocupações não deixando eu me concentrar no que ele estava dizendo. Talvez, eu podia falar com ele sobre isso amanhã. Quero dizer, o que é um dia, não é mesmo? E por que isso importava tanto? Eu realmente tinha que colocar um rótulo na estabilidade que a gente consegue quando estamos juntos? Qual era a diferença entre deixar do jeito como estava e nos chamarmos de amigos? Eu estava transformando algo simples em algo difícil?


Perdida nos meus pensamentos, eu não percebi que a gente tinha praticamente chegado na torre da Grifinória até que eu esbarrei nas costas do James. Ele tinha parado e estava olhando pra algo que estava na frente do buraco do retrato.


“James, o quê – “ eu comecei. E aí, eu consegui ver o que ele estava encarando. Meus olhos se arregalaram. “Ai meu...”.


Ali, com sua roupa amarrotada, seu cabelo uma bagunça e o forte cheiro de álcool no ar, jazia Elisabeth Saunders, enrolada como uma bola em frente ao buraco do retrato.


Ela não estava se mexendo, mas eu podia ver seu peito descendo e subindo, então eu sabia que, pelo menos, ela não estava morta. Eu fiquei parada, congelada, logo atrás de James, observando Elisabeth por trás de seus ombros. Por alguns segundos, James parecia abalado demais para se mexer também. E então, eu o ouvi suspirar profundamente e caminhar até a forma caída. Sem saber o que mais fazer, eu o segui.


“Que merda, Lizzie”, James estava murmurando, enquanto lentamente eu me aproximava, tirando algumas mexas loiras de seu rosto.


Lizzie?


Eu nunca vi ninguém chamá-la daquele jeito antes – nem mesmo Carrie. Mas também, não é como seu eu passasse muito tempo com ela. Mas era um nome não infantil e inocente...tão não Elisabeth Saunders. Pelo menos, não a Elisabeth Saunders que eu conhecia. James namorou com ela, então eu acho que isso era um apelido.


Mas mesmo assim...Lizzie?


“Ela está...”, eu comecei, finalmente encontrando minha voz, enquanto gentilmente James tentava acordá-la. “Você acha que ela está bem?”.


Por um momento, James não respondeu; ele simplesmente continuou a sacudir Elisabeth gentilmente, suavemente dizendo “Lizzie”, pra ver se ela acordava. “Acho que ela só desmaiou”, ele murmurou alguns segundos depois. Eu concordei com a cabeça, tentando não vomitar com o cheiro forte que entrava pelo meu nariz. Estava me deixando enjoada. Mas, rapidamente eu me lembrei da minha varinha, e fiz feitiço, Depois, suspirei com alívio, quando eu o cheiro finalmente começou a desaparecer.


“Boa idéia”, James disse, obviamente pensando que eu fiz isso pela Elisabeth. E então, eu percebi – nós encontramos uma garota, que estava desmaiada e obviamente bêbada, fora do salão comunal depois do toque de recolher. Ou seja, ela quebrou milhões de regras. E McGonagall é extremamente severa em se tratando de bebida. Quando eu estava no quinto ano, teve uma festa pra comemorar a vitória da Grifinória sobre a Sonserina no Quadribol e alguém, de alguma forma, contrabandeou oito galões de Firewhisky e de uma cerveja forte. No final da noite, todo mundo, desde de terceiranistas até experientes . Quando McGonagall entrou no salão comunal naquela noite, ela encontrou um grupo de quartanistas brincando de um jogo que eles chamavam de “Abaixe a cabeça e beba”, todos muito bêbados. Eu nunca vi McGonagall tão brava assim em toda a minha vida. Desde então, qualquer quem quisesse beber na Torre da Grifinória tinha que ser mantido em segredo. No ano passado, quando um setimanista encheu a cara depois de ter tido uma briga freia com a sua namorada, McGonagall pegou ele e ele foi mandando pra casa e levou suspensão de uma semana.


Se McGonagall soubesse do que estava acontecendo agora, eu não tinha dúvidas de que o mesmo, ou se não pior, aconteceria com Elisabeth.


A pergunta era: o que eu iria fazer?


James parecia estar pensando o mesmo que eu, porque quando eu olhei de novo pra ele e Elisabeth, ele estava olhando diretamente pra mim, seu rosto apático. Ele lentamente se levantou, mas não parou de me olhar.


“Eu...eu sei que você não se dá bem com Elizabeth”, ele começou, sua voz insegura. “Mas...McGonagall vai ficar maluca, Lily. Ela vai ficar maluca”. Ele parou de falar e olhou para Elizabeth. “Ela...Elizabeth já foi alertada sobre esse tipo de coisa antes. Muitas vezes, na verdade”. Ele voltou a olhar pra mim. “Eles vão expulsá-la, Lily”, ele me disse suavemente. “Eles não vão simplesmente suspendê-la como fizeram com o Tony no ano passado. Vão expulsá-la”.


Eu não sabia o que fazer. Dizer que eu Elizabeth não nos dávamos vem era como dizer que Voldemort era um cara que só tinha saído um pouquinho do caminho. Ela me odiava. Ela fazia a minha vida ser tão horrível. E eu me esforçava ao máximo para retribuir o favor. Quando eu tentei imaginar o que Elisabeth faria se ela estivesse no meu lugar, eu só consegui ver ela rindo alegremente e correndo para contar para McGonagall. Eu poderia fazer isso? Eu sabia que eu queria fazer isso, mas...


Eu sacudi minha cabeça solenemente, sabendo que eu não podia considerar o que eu queria fazer. Mas eu sabia o que eu tinha que fazer.


“Ela não vai ser expulsa”, eu suspirei, derrotada, esfregando as minhas mãos no rosto de forma cansada. “Pelo menos, não dessa vez”.


James parecia tão agradecido, que eu pensei que ele ia me abraçar, mas um gemido repentino o interrompeu e ele olhou para Elisabeth. Eu me ajoelhei ao seu lado, irritada.


“Lizzie?”, ele chamou gentilmente, colocando uma mão confortadora no ombro de Elisabeth. “Vamos lá, Lizzie, acorde”.


Alguns segundos depois, muito lentamente, Elisabeth abriu os olhos.


“James”, ela perguntou de forma instável, se movendo suavemente.


“Shhh”, James disse, observando enquanto ela se levantava meio torta. Sem esforço, James deslizou seu braço ao redor da cintura de Elisabeth e ajudou a garota tonta a se levantar. Ela se inclinou fracamente em sua direção, piscando rapidamente e olhando para James com os olhos meio desfocados. Ela parecia não ter percebido que eu estava ali. Enquanto Elisabeth, lentamente, voltava a si, eu dei uma olhada em James e fiquei surpresa ao notar que seu rosto tinha mudado completamente. Ele estava com raiva. Com muita, muita raiva.


“James, eu – “, Elisabeth começou sem saber o que fazer. Também percebendo a irritação em seu rosto, ela engoliu em seco. James a interrompeu, seu tom suave, mas grosso.


“Você ficou maluca, Elisabeth?”, ele respondeu suavemente, mas com raiva, a olhando furiosamente. “Puta merda!”. Elisabeth tento falar de novo, mas James a interrompeu mais uma vez. “Você sabe o que o Dumbledore disse, Lizzie! Você sabe o que ele disse que ocorreria se isso acontecesse de novo! Você quer ser expulsa de Hogwarts? Quer?”.


Não!”, Elisabeth exclamou, sacudindo sua cabeça, e depois gemeu por causa de dor. James a silenciou de novo.


“Eu não tive a intenção de fazer isso”, Elisabeth se defendeu baixinho, olhando com delicadeza para James.


“E você acha que isso importa?”, ele reagiu furiosamente, a raiva ainda evidente em sua voz. “E se outra pessoa tivesse te achado, Elisabeth? E se tivesse sido outra pessoa? Você acha que eles teriam se importado se você teve intenção ou não?”.


“Mas não foi outra – “, ela parou. Lentamente, seu rosto se virou. Seu olhar finalmente me alcançou.


“Ai meu Deus”, ela exclamou arrasada, e ficou boquiaberta. De repente, seus olhos que estavam desfocados apenas alguns minutos atrás, estavam cheios de ódio, que eu até dei um passo para trás. “O que você dois estão fazendo aqui fora?”, ela espumou, me olhando com uma raiva grosseira, totalmente diferente de como James a estava olhando alguns segundos atrás.


“Isso não importa”, James respondeu de forma grosseira. Elisabeth o ignorou e continuou a olhar furiosamente para mim, com ainda mais intensidade. “Pare com isso”, ele ordenou calorosamente, fazendo com que Elisabeth parasse de olhar para mim e voltasse a olhar para ele. “Ela poderia muito bem ter causado a sua expulsão! Mas eu pedi a ela que não fizesse isso, e ela não vai fazer isso, então eu estaria me humilhando e a agradecendo, ao invés de olha-lá com raiva, se eu fosse você!”.


Ao invés de acalmá-la (como eu James obviamente tínhamos pensado), o comentário de James pareceu tê-la enraivecido ainda mais, e sem nenhum tipo de aviso, Elisabeth deu um ataque.


Em mim.


Eu caí no chão duro de uma vez só, e o ar saiu imediatamente do meu peito, enquanto Elisabeth caia em cima de mim. Eu respirei fundo, ignorando a dor aguda nas minhas costas e no meu tornozelo que já tinha sido machucado antes. James estava retendo Elisabeth bem forte em seus braços, enquanto ela empurrava e chutava o ar.


“Você nem mesmo gosta dele!”, Elisabeth gritou histericamente, se debatendo loucamente nos braços de James. “Eu te odeio! Sua sangue-ruim idiota! Você nem mesmo – “.


Estupefaça!”.


A voz de James encheu o ar, seguida rapidamente de uma luz vermelha, enquanto Elisabeth caia desacordada em seus braç não tinha percebido que eu tinha parado de respirar até eu soltar um longo e sofrido suspiro.


“Você está bem?”, James perguntou rapidamente, colocando Elisabeth no chão e correndo em minha direção. Eu concordei com a cabeça, tremendo, e pensando porque ele estava me olhando de forma tão esquisita.


Até eu sentir que minhas bochechas estavam molhadas.


Eu estava chorando.


“Eu estou bem”, eu murmurei, secando violentamente os meus olhos. Eu estava realmente chorando. Quero dizer, eu tinha me machucado, e eu estava surpresa, e meu tornozelo idiota estava doendo muito mais do que deveria, mas...


“Você não está bem”, James insistiu rigorosamente, acenando em direção as minhas bochechas molhadas.


Eu deixei escapar um pequeno sorriso, enquanto eu acabava de enxugar os meus olhos. “Eu só estou um pouquinho...chocada”, eu expliquei baixinho, dando de ombros. James hesitou, e depois concordou com a cabeça, estendo sua mão para que eu pudesse me levantar. Meu tornozelo queimou de dor, enquanto James me levantava, mas eu não disse nada.


“É melhor nós entrarmos”, James disse alguns segundos depois, ainda me observando cuidadosamente. “Só Merlin sabe o que vai acontecer, se Filch ouviu toda essa gritaria”. Eu concordei com a cabeça, e depois olhei para Elisabeth. Com um rude suspiro, James se ajoelhou e pegou Elisabeth em seus braços.


“Vamos”, ele murmurou. Nós olhamos para a Mulher Gorda, que estava nos observando com uma cara muito decepcionada. “Lócus Loft”.


O salão comunal estava vazia, exceto por algumas corujas perdidas. A lareira ainda estava acesa, mas com certeza um elfo doméstico voltaria para acendê-la de novo. Eu segui James silenciosamente até a escada das meninas.


“Eu vou ter que levitá-la”, eu murmurei cansada, tirando a varinha de dentro da minha mochila. “Os alarmes vão tocar se você tentar subir”.


“Er, é mesmo”, James respondeu em um tom suave. Gentilmente, ele colocou Elisabeth no chão.


Eu apontei minha varinha para Elisabeth. “Wingardium Leviosa”.


Lentamente, o corpo dela se levantou do chão e flutuou alguns centímetros acima do chão. Silenciosamente, ela se moveu em direção a escada, e foi subindo. Eu suspirei cansada, e depois me virei em direção ao James.


“Você acha que eu deveria ‘ennervate’ ela?”, eu perguntei pra ela.


James sacudiu a cabeça. “Não se incomode”, ele disse. “Ela vai continuar dormindo. Eu acho que ela vai ter dor de cabeça por causa disso, mas ela já teria uma de qualquer jeito”.


Eu concordei com a cabeça, e depois olhei para Elisabeth. Seu corpo ainda estava flutuando, ainda no mesmo lugar.


“Ela pode me matar enquanto eu estiver dormindo”, eu murmurei sem rodeios, com um pequeno sorriso no meu rosto. Quando James não disse nada, eu me virei para olhar pra ele. Ele estava me olhando de um jeito muito estranho, seus olhos brilhando por trás dos óculos, a luz da fogueira refletindo em seu rosto e seu cabelo. Ele realmente é muito bonito. Eu acho que quando a gente é quase-amigos e não inimigos é mais fácil de perceber coisas assim.


“Você é demais”, ele sussurrou de mansinho, sua voz estranhamente pesada. “Você sabe disso, não sabe?”.


Eu o encarei inexpressivamente, sem saber o que dizer. “Eu...quero dizer, eu não sou...”


“Você é”, ele insistiu vigorosamente. Por alguns segundos ele não fez nada, e depois, hesitantemente, como se ele não tivesse certeza do que ele estava fazendo, ele se inclinou e beijou minha bochecha.


Talvez tenha sido todos os acontecimentos malucos de hoje à noite, ou então pode ter sido porque eu estava muito cansada, ou talvez porque eu tinha recentemente decido que ele realmente é bonito como todo mundo diz, mas seja lá qual tenha sido o motivo, eu comecei a ficar muito vermelha.


“Eu...er, hum – obrigada, então”, eu gaguejei, ficando ainda mais vermelha. “Er, boa noite, James”.


“Boa noite, Lily”.


Então eu me virei, ainda vermelha, e subi as escadas, enquanto eu continuava a levitar Elisabeth na minha frente.


E, agora, aqui estou eu, a única acordada, fedendo a álcool, sem nenhum bombom, sem nenhuma tortinha de frutas e sem nenhum James como amigo – ou, pelo menos, não um amigo oficial, de qualquer forma. E se isso não é compaixão, se isso não é dar sem receber, eu simplesmente não sei o que é.


Madre Teresa não é nada comparada com Lily Evans.


Bem, pelo menos por hoje à noite, de qualquer forma.




Sexta-feira, 26 de setembro, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Décimo primeiro Dia


Observações Totais: 70


Essa é a última vez que eu vou ter compaixão. Sério. A última vez mesmo. Meu coração não será mais bondoso. A partir de agora, eu vou ser uma maldita Egoísta, se isso for necessário para eu me sentir uma pessoa normal de novo.


Eu estou exausta.


Eu estou fedida.


Eu estou mau-humorada.


Eu estou com fome.


E meu tornozelo? Parece que ele vai quebrar de novo. Isso significa que hoje, em alguma hora, eu vou ter que ir visitar Madame Pomfrey, e ela vai gritar comigo por eu não me cuidar direito. Apesar de que eu gostaria de ver como ela ia ficar depois de uma garota alta e bêbada tivesse a atacado.


Não muito bem, eu acho.


Madre Teresa pode ter o seu título de volta. Ter compaixão é para idiotas cansados, fedorentos e mau-humorados.


Hunf




Mais tarde, café-da-manhã no Salão Principal


Lily Observardora: Décimo Primeiro Dia


Observações Totais: 71


Observação #71) Não importa quantas vezes você tome banhe, ou quantas vezes você esfregue, o fedor de álcool nunca parece ir embora. Mesmo que você não tenha sido a pessoa que estava bebendo.


Eu não posso agüentar mais isso. Eu estou ficando enjoada. E eu estou cansada...muito cansada.


Talvez eu devesse voltar pra cama. James ainda está na cama. Ele não está aqui no café da manhã. O que é comida, quando se está fedida, mau-humorada e cansada?


“Tudo bem com você, Lily?”, Marley me perguntou quando eu me sentei (ou caí) na cadeira. Eu concordei com a cabeça, mas não respondi, porque eu descobri que eu só conseguiria dizer coisas grosseiras essa manhã, e Marley não merece a minha grosseria. Não é culpa dela que Elisabeth Saunders seja uma bêbada e eu seja idiota o suficiente para ajudá-la.


Ugh, cansada.




Ainda mais tarde, Defesa contra as Artes das Trevas


Lily Observadora: Décimo primeiro dia


Observações Totais: 71


James e Elisabeth estão trocando bilhetinhos.


Eles estão fazendo isso há dez minutos.


Isso me incomoda. Eu estou cansada demais para pensar no porquê disso.




Ainda mais tarde, ainda em Defesa contra as Artes das Trevas


Lily Obsevadora: Décimo primeiro dia


Observações Totais: 71


Do que você acha que eles estão falando? – GR


O quê? Quem? – LE


Saunder e James. Você tem olhado furiosa naquela direção pelos últimos 20 minutos, pra falar a verdade.


Sério?


Sim.


Hum.


Hum, o quê?


Hum, nada. Preste atenção.


Você está bem? Você parece arrasada.


Eu estou.


Por quê? Que horas você e o James voltaram ontem à noite?


Tarde. Muito, muito tarde.


Acho que vocês se divertiram, então.


Hum. Diversão.


Sabe, se você não parar de olhar com raiva para Elisabeth desse jeito, você vai acabar fazendo um buraco na cabeça dela – não que eu esteja reclamando ou qualquer coisa assim, mas é só um aviso.


Ele chama ela de Lizzie.


Quem?


James.


Eu sei. Ele costumava chamá-la assim quando eles namoravam. Você não se lembra?


Não.


Isso te incomoda?


Sim.


Sério?


Eu acabei de dizer que me incomoda, não disse?


Eu sei. É só que eu não consegui acreditar que você admitiu.


Me deixa em paz, Grace. Eu estou exausta.




Ainda mais tarde, Feitiços


Lily Observadora: Décimo primeiro dia


Observações Totais: 71


Eles ainda estão fazendo aquilo.


Qual o problema deles? Eles não conseguem perceber que Flitwick está tentando nos ensinar um feitiço super difícil? Eles não podem estar fazendo anotações e trocando bilhetinhos ao mesmo tempo. Tem que ser ou um, ou outro. E, sinceramente, eu acho que todos nós sabemos qual que é mais importante.


E, de qualquer forma, do quê que eles estão falando? Quero dizer, se é sobre ontem à noite, eles não acham que eu também deveria estar incluída na conversa? Eu estava lá, afinal de contas. Eu salvei a pele de Elisabeth, lembra? Eu tenho um tornozelo todo ferrado como prova.


Idiotas.




Ainda mais tarde, Poções


Lily Observadora: Décimo primeiro dia


Observações Totais: 71


“Lily?”.


Eu não dormi direito essa noite. Talvez seja uma miragem.


Uh, não. É a Emma mesmo.


“Hum?” eu resmunguei, deitando minha cabeça na carteira da sala de Poções. Eu não estava com humor para receber sermões.


“Eu quero falar com você”, Emma disse, com uma voz bastante controladora. “Você pode, pelo menos, levantar sua cabeça?”.


Eu fiz o que ela me pediu, mas não tinha a intenção de ouvi-la.


“Olha, Em”, eu disse, antes que ela pudesse começar a falar. “Eu estou muito, muito cansada, e nem um pouquinho a fim de discutir com você agora, então, por favor, será que você não pode deixar isso pra mais tarde?”.


Primeiro, ela pareceu chocada, e depois um pouquinho desapontada. Ela devia estar realmente muito ansiosa para discutir comigo. Com um rápido aceno de cabeça, ela se virou e foi se sentar com o Mac.




Ainda mais tarde, Biblioteca


Lily Observadora: Décimo Primeiro Dia


Observações Totais: 73


Eu passei pela Elisabeth e pelo James quando eu estava indo pra biblioteca, e nenhum dos dois pareceu notar a minha presença. Sério. E, sim, e daí que eles estavam em algum tipo de conversa séria? Eles se esqueceram do que eu fiz ontem à noite? A minha compaixão desapareceu completamente de suas mentes? James parece ter esquecido que ele disse que eu sou demais ontem à noite. Ou talvez, ele pense que Elisabeth é ainda melhor. Melhor do que eu, quero dizer. Ou, Lizzie, sei lá.


Eu nem mesmo mereço um obrigado? É assim que Madre Teresa trabalha? Só se doando, sem nem receber um obrigado? Talvez Madre Teresa consiga viver desse jeito, mas Lily Evans não. Pelo menos, perceber que eu existo. É tudo que eu estou pedindo. É tão difícil assim?


Não, eu não acho que seja.




Ainda mais tarde, Biblioteca


Lily Observadora: Décimo Primeiro Dia


Observações Totais: 74


Quando eu estava tentando fazer a minha tarefa de Poções, eu acabei pegando no sono. Um Corvinal com cara de decepcionado me acordou, insistindo que ele não conseguia mais se concentrar em sua tarefa porque – numa tentativa mal sucedida de tentar me acordar – Madame Pince estava praticamente pulando entre as fileiras de estantes, fazendo barulho com os seus pés e batendo nas prateleiras.


Eu pedi desculpas ao garoto e disse a ele que eu estava tendo um dia muito estressante. Ele disse que ele não se importava; que ele só queria que eu saísse de lá pra ele poder terminar sua tarefa de História da Magia, sem ter que ouvir Madame Pince pular e xingar em francês. Eu perguntei se pelo menos ele tinha aprendido alguns novos palavrões em francês e ele disse que sim, mas que ninguém o entenderia se ele os usasse. Eu pedi desculpas por isso também, e perguntei a ele que horas eram. Ele disse que já era quase a hora de voltarmos para os salões comunais. Eu o agradeci, e depois ele saiu.


Ai, droga. Um pouco antes do toque de recolher. Agora, eu vou ter que sair correndo até a Torre da Grfinória antes que alguém me pegue.


Ugh.




Ainda muito mais tarde, em algum lugar perto da Torre Norte


Lily Observadora: Décimo primeiro dia


Observações Totais: 74


Quando eu entrei no dormitório, muito, muito cansada e irritada e me sentindo um pouquinho inconveniente (afinal de contas, eu acabei de levar o maior fora de um terceiranista baixinho), eu sabia que a única coisa que ajudaria a Lily Evans pós-compaixão seria uma boa e longa dormida. Então, o que eu planejava era – parar de me preocupar com coisas idiotas como a Elisabeth Saunders e James Potter e corvinais do terceiro ano muito baixinhos, que têm coragem de repreender uma monitora chefe muito cansada e estressada – e dormir um bom tempo.


Pelo menos, era o que eu tinha planejado antes de eu entrar no dormitório e ver Grace e Emma sentadas na minha cama ( sim, na cama na qual eu pretendia me deitar), envolvidas no que parecia ser uma conversa muito séria. De fato, quando eu olhei melhor, eu podia ver que os olhos de Emma estavam vermelhos e úmidos, e que Grace estava muito séria – um sinal de que alguma coisa estava errada. Eu dei alguns passos antes de arar e observá-las cuidadosamente. Eu não tinha certeza se eu seria ou não aceita na conversa.


Apesar de, sabe, elas estarem sentadas na minha cama e tudo mais.


“Eu posso...er...sair, se vocês quiserem”. Eu apontei para a porta e andei alguns passos para trás. Ao ouvirem minha sugestão, os olhos de Emmeline se arregalaram e Grace começou a sacudir a cabeça.


“Senta aqui, Lil”, Grace disse dando um tapinha no espaço vazio entre ela e Emma. Eu olhei para Emmeline, pedindo uma aprovação, percebendo que do jeito que ela está ultimamente, a última coisa que ela iria querer é que conversasse com ela. Quando Emma não respondeu à minha pergunta silenciosa, eu, de forma incerta, caminhei até a minha cama e me sentei entre as duas.


“Está tudo...bem?”, eu perguntei devagar, meu olhar se desviando de Grace para Emma de forma nervosa. O que estava acontecendo? O que era tudo isso? Eu não estava gostando do fato de que Grace não estava sorrindo como sempre. Além disso, preferia que Emma estivesse me olhando furiosamente do que esse olhar vermelho e úmido. Eu não podia nem me lembrar da última vez que eu vi a calma e tranqüila Emma chorar.


“Então?”, eu perguntei, minha voz um pouquinho nervosa – provavelmente por causa do meu stress e do meu cansaço. “Ninguém vai me contar o que está acontecendo aqui?”.


Grace olhou para Emma que olhou de volta para Grace. Depois, as duas olharam pra mim. Grace deu a Emma um aceno de cabeça encorajador e os olhos de Emma se arregalaram um pouquinho. Silenciosamente, eu estava rezando para que ela não me atacasse como a Elisabeth Saunders fez.


Mas, para minha surpresa, Emma se jogou em cima de mim e começou a chorar.


“Ai, Lily”, ela exclamou, chorando em meu ombro. Ela murmurou mais algumas coisas, mas eu não consegui entender nada porque ela estava chorando muito e porque sua cara estava enfiada no meu ombro. De repente, eu esqueci completamente o fato de que ele me ignorou o dia inteiro – provavelmente pela primeira vez – e comecei a sentir muito, muito mal por James Potter. Será que foi assim com ele também, quando eu o ataquei na sala de Transfiguração com as minhas lágrimas? Será que ele se sentiu assim tão desconfortável quando minha boca traidora se descontrolou e saiu contando a minha vida inteira pra ele? E, ontem, quando eu comecei a chorar? Ele também se sentiu assim naquela hora?


Ai, coitado.


Ele realmente merecia todos aqueles bombons. E ainda mais. Eu, definitivamente, vou pedir pra mamãe fazer mais pra ele.


“Shhhh”, eu murmurei suavemente, dando uns tapinhas em suas costas, enquanto ela continuava a chorar na minha blusa. Eu tinha esperanças de que, pelo seu próprio bem, a minha camisa fosse tão confortável quanto à de James. Era o mínimo que eu podia fazer por ela.


“Me desculpe”, Emma disse entre as lágrimas, sua fala finalmente ficando coerente. “Eu sinto muito, Lily! Eu fui horrível com você! Totalmente horrível! E sem motivo nenhum! Eu – “.


E então, sua voz ficou incoerente de novo.


“Tudo bem”, eu disse a ela, ainda dando uns tapinhas em suas costas, enquanto suas lágrimas começavam a diminuir lentamente. Se eu não estivesse tão cansada – e a cachoeira de lágrimas da Emma não tivesse me abalado tanto – esse simples pedido de desculpas não teria sido suficiente para a Lily Evans anti-compaixão, já que Emmeline tinha me tratado tão mal na última semana. No entanto, sabe, já que eu estava cansada, e ela estava chorando, esse pedido de desculpas ia ter que servir.


“Mas não está tudo bem”, Emma insistiu, finalmente levantando sua cabeça do meu ombro. “Eu não tive motivo nenhum...fui tão idiota e eu...eu...”.


Ela colocou sua cabeça em meu ombro e começou a chorar de novo.


Ai que saco.


“Em”, eu comecei, minha voz um pouquinho desesperada. “Apenas...pare. Pare de se preocupar com isso. Já acabou, ok? Apenas pare – “.


“Mas não teria acabado!”, Emma respondeu calorosamente, me olhando de forma suplicante. “Se você e...não tivessem começado...”.


E lá vem ela de novo.


Eu olhei para Grace sem saber o que fazer. Assim como eu, Grace começou a dar tapinhas nas costas de Emma, tentando acalmá-la.


“Respire fundo”, Grace a orientou, ainda dando tapinhas em suas costas. “Você não está fazendo sentindo nenhum, tagarelando desse jeito. Apenas diga a Lily exatamente o que você me disse, ok?”.


Depois de alguns segundos, Emma finalmente tirou sua cabeça de meu ombro, com seus olhos e bochechas vermelhas, mas com determinação em seu rosto.


Levou mais alguns segundos até que ela se compusesse e começasse a falar de novo. “Bem”, ela começou, com uma risada nasal muito estranha. “Eu acho que você quer saber porque eu estive agindo de forma tão idiota todo esse tempo, certo?”.


Er, não. Na verdade, eu só queria ir dormir.


“Acho que sim”, eu respondi de forma inquieta. “Quero dizer, só se você realmente quiser, porque eu, francamente, entenderei se você quiser deixar isso pra amanhã...”.


Por favor, por favor diga sim. Por favor, deixe eu ir dormir.


Emma sacudiu a cabeça de forma desafiadora. “Não”, ela respondeu. “Eu já deixei isso ir longe demais. Eu não farei você esperar mais”.


Droga.


Mil vezes droga.


Emma respirou fundo. Seus olhos estavam começando a secar e a cor estava voltando a seu rosto, mas a sua determinação continuava ali.


“Você se lembra”, ela começou, sua voz meio rouca já que ela tinha dificuldade em achar as palavras. “Você se lembra...bem...”.


Ai, Merlin. Desse jeito eu só vou conseguir dormir amanhã à noite.


“Me lembro do quê?”, eu disse, tentando parecer interessada, ao mesmo tempo que eu bocejava. Emma respirou fundo de novo.


“Você se lembra”, ela repetiu, parando um pouquinho antes de continuar, “quando você se tornou monitora?”.


Monitora? Eu virei monitora há três anos atrás.


Ah, sim. Eu realmente vou ficar aqui a noite inteira.


“Eu – sim”, eu respondi, confusa. “Mas o que isso tem haver com tudo? Isso foi há três anos atrás, Em”.


“Eu sei”, Emma respondeu. “Mas você se lembra como nós – como eu – reagi quando você contou pra gente?”.


Ela não pareceu perceber que ela tinha muita sorte de eu me lembrar do meu próprio nome de tão cansada que eu estava, quando mais de uma coisa tão trivial que aconteceu três anos atrás.


“Na verdade, não”, eu respondi sinceramente, esfregando os meus olhos intensamente. Emma abaixou a cabeça. Ela estava, obviamente, desapontada com o fato de eu não ter lembrado.


“Bem, Grace ficou empolgada”, Emma começou a explicar, apontando para a Grace silenciosa que estava do seu lado. “E eu...eu disse que isso era genial e que eu estava muito feliz por você”.


Eu consenti com a cabeça, apesar de suas descrições não terem feito me lembrar de nada. No entanto, eu acreditei em suas palavras.


Depois de respirar fundo mais uma vez, Emma se virou e disse sem rodeios, “Eu menti”.


Ah.


Mentiu.


Er, tudo bem, então.


“Eu...não sei o que dizer”, eu respondi sinceramente, um pouquinho abalada. Lentamente, Emma continuou.


“Eu fiquei com raiva de você mais tarde, naquele mesmo dia”, ela me disse com um sorriso meio triste. “Você pensou que era porque você tinha implicado comigo por causa do xale cor de esmeralda de novo”. Eu olhei pra ela inexpressivamente. Emma suspirou. “Mas não era por causa disso que eu estava com raiva”.


Quando Emma parou de falar, eu tentei entender o que ela estava tentando me dizer. Ela tinha ficado com raiva. Eu até me lembro disso, na verdade, porque Emma não é de ficar brava facilmente, então, eu pensei que eu realmente tinha causado aquilo com a minha brincadeira. Mas, aparentemente, ela não estava com raiva pelo motivo que eu achava.


Então, o quê?


“Eu não entendo”, eu respondi tranqüilamente. “O que...por que você estava com raiva, então?”.


“Eu estava com ciúmes, Lily”, ela me disse sem rodeios. “Completa e totalmente enciumada”.


Eu congelei, impressionada, meus olhos se arregalaram pela primeira vez hoje. Pensando que eu tinha entendido errado, eu pedi que ela repetisse...e ela disse de novo. Ciúme. Ciúme. Isso parecia tão inconcebível, tanta loucura...que nem parecia possível.


“E, então, esse ano”, Emma continuou, sua voz falhando e seus olhos voltando a ficar cheios de lágrimas, “Eu sabia que você ia ser monitora-chefe – eu sabia – mas aí, James virou monitor-chefe e ele nunca tinha sido monitor antes...bem, eu comecei a ter esperanças de que talvez...mas foi idiota! E eu sabia que era idiota porque você merecia o cargo! Mas eu não pude evitar ter esperanças. E aí, quando você contou pra gente...”.


“Mas você só ficou brava comigo depois de algumas semanas que o ano letivo tinha começado!”, eu protestei vigorosamente, ainda tentando entender que Emma – a Emmeline Vance perfeita – estava, de alguma forma, com ciúmes de mim. “Foi durante o verão que eu te contei que eu tinha sido nomeada monitora-chefe. Por que você não ficou com raiva naquela época?”.


“Calma, eu to chegando lá”, Emma continuou, esfregando seus olhos um tanto umedecidos. “Foi só mais tarde, quando eu estava conversando com o Mac – “.


Assim que ela disse ‘Mac’, meu alarme soou. Eu soube assim que eu o conheci, que tinha alguma coisa errada com aquele idiota. Parece que ele tem algum nojo de mim, e eu nem tinha conhecido o cara até esse ano. Será que foi ele que colocou Emma no caminho para o ódio a minha pessoa? De alguma forma, eu não duvidava nada.


“- antes disso tudo acontecer, eu acho”.


Eu olhei para Emma com suspeita, não gostando nadinha dessa história de ter sido o Mac que começou tudo isso. É só um garoto aparecer que tudo vira uma bagunça! “Sobre o que exatamente que você e Mac conversaram que - fez com que tudo isso acontecesse?”, eu perguntei lentamente, sem saber se eu estava preparada para ouvir a resposta depois do Grande Choque de Ciúme de alguns instantes atrás.


Emma ficou me olhando calada por alguns segundos, antes de finalmente suspirar suavemente e me falar. “Você...você não se lembra do Mac quando vocês eram monitores, se lembra?”.


Eu neguei com a cabeça. “Eu acho que a gente nunca nem se cruzou por aí”, eu disse a ela sinceramente.


Emma deu um pequeno sorriso antes de dizer baixinho, “Sim, vocês já se cruzaram por aí”.


Eu olhei pra ela inexpressivamente. “Er, o quê?”.


“Vocês se cruzaram sim”, Emma repetiu de novo. “Na verdade, vocês se cruzaram muito – pelo menos foi o bastante para Mac começar a gostar de você”.


GOSTAR?


O quê?”, eu engasguei; “Isso é – Em, ele me odeia! Naquele dia que você o apresentou, ele praticamente gritou que me odiava com aqueles olhares que ele me dava! Como...eu...”.


Eu fiquei sem palavras. Isso não podia estar acontecendo. Deve ser um sonho. O terceiranista não deve ter me acordado na biblioteca. Eu ainda estou dormindo em cima da mesa. Eu me belisquei.


Ai, Merlin. Eu não estava dormindo.


Mas isso não fazia sentido nenhum. Eu nem tinha ouvido falar dele até esse ano! E se ele tivesse gostado de mim como Emma diz, por que ele nem mesmo tentou conversar comigo? E eu pensaria que um garoto que gostasse de mim seria um pouquinho mais educado! E, por tudo que é mágico, alguém gostaria de mim? Principalmente naquela época! Eu nem era interessante! Eu era raivosa e estudiosa e uma nerd total! Ninguém me chamava pra sair (bem, só o James, mas não era sério). Ninguém gostava de mim. Isso não era possível. Emma deve ter entendido alguma coisa errada.


“Ele gostava”, Emma insistiu calmamente. “Durante o quinto ano inteiro. E aí, quando ele me disse isso depois que eu o apresentei...bem, eu acho que era demais pro meu lado ciumento agüentar. Eu simplesmente... enlouqueci.


“Mas isso não é culpa minha!”, eu disse indignada. “Eu não pedi pro Mac gostar de mim! Eu não pedi pra ser monitora-chefe!”.


“Eu sei disso”, Emma respondeu simplesmente. “E eu sabia disso também naquela hora”.


“Então, O QUE você tem feito todo esse maldito tempo?”,eu disse com raiva, todo o stress do dia, meu cansaço e essa conversa completamente inacreditável finalmente me tiraram do sério. “Testando o meu índice de raiva? Tentando ver até quando eu ia agüentar até que eu começasse a me humilhar pra que você me perdoasse?”.


“Não!”, Emma respondeu rapidamente, sacudindo sua cabeça freneticamente. “Também não é assim! Eu não teria deixado isso chegar muito longe se eu não tivesse visto você passando por nós assim que eu e Mac tínhamos acabado de conversar! E, então, no dia seguinte, você fez exatamente a mesma coisa que ele disse que você não era – “.


“Do que você está falando?”, eu exclamei furiosa, olhando pra Emma. “Eu não ouvi nadinha da conversa de vocês! E o que você quer dizer com ‘exatamente o que ele disse que eu não era’? O que exatamente você e Mac estavam falando de mim, Emmeline?”.


“Tudo o que ele disse foi que você não tinha mudado!”, Emma me contou, começando a entrar em pânico, já que ela tinha percebido que eu estava começando a ficar com raiva. “Tudo o que ele disse foi que você ainda era a mesm garota conservadora, e um pouquinho estranha da qual ele gostava no quinto ano! E ele disse que era justamente por causa disso que ele não gostava mais de você!”.


“E ele percebeu isso com apenas uma conversa?”, eu reagi com um pigarreio. Emma negou com a cabeça e começou a defendê-lo de novo, mas eu a cortei no meio. “E eu ‘fazendo exatamente o que ele disse’?”, eu perguntei. “O que exatamente eu fiz?”.


“Eu acordei na manhã seguinte e você estava de maquiagem, com os seus cabelos soltos, com a saia mais curta...o que eu deveria pensar, Lily? Eu pensei que você estivesse tentando mostrar pra ele que ele estava errado! Eu pensei que você estava tentando mostrar que ele ainda podia gostar de você!”.


Eu fiquei boquiaberta e olhei pra Emmeline com descrença. “Você – você o quê?”.


“Porque você podia ter feito isso, Lily!”, Emma gritou, sua voz tremendo por causa de sua própria raiva. “Eu pensei que durante o processo de você mostrar pra ele que ele estava errado, você iria roubar o Mac de mim! E teria dado certo, Lily – principalmente do jeito que você estava naquele dia – toda enfeitada e parecendo uma piranha pronta pra atacar!”.


Assim que as palavras saíram de sua boca, Emma parou e imediatamente colocou as mãos em cima da boca. Eu também congelei e meu coração parou de bater dentro do meu peito. Foi isso...quero dizer, esse tinha sido exatamente o motivo de toda aquela coisa de des-santificação – para provar que eu não era uma santinha conservadora – mas não por causa do Mac. Não por causa do namorado da minha melhor amiga. Emma realmente – ou será que todo mundo? – pensava assim tão mal de mim? Ela realmente pensou que eu era assim tão horrível a ponto de roubar seu namorado? Era esse o tipo de amiga que Emmeline pensava que eu era?


Algum tempo depois, Emma tirou as mãos de sua boca, com lágrimas rolando por seu rosto. “Eu...eu sinto muito, Lily”, ela engasgou. “Eu – “.


“Eu não consigo acreditar!”, eu rosnei furiosa, sem nem mesmo querer que ela continuasse. “Eu não posso – você realmente pensou que eu seria capaz de fazer uma coisas dessas, Emmeline? Você realmente pensou que depois de sete anos, eu iria me rebaixar tanto assim e roubar o seu maldito namorado? É realmente isso que você pensa de mim, Em? Como uma piranha comum? Eu..eu...”.


Eu não consegui mais continuar, as minhas lágrimas também estavam me atrapalhando. Eu simplesmente não conseguia acreditar. Emma – a minha melhor amiga – pensava que eu era alguma piranha horrível, idiota e egoísta. E não uma piranha normal...uma que realmente ROUBARIA o seu namorado, só pelo prazer. Meu coração estava batendo forte dentro do meu peito, eu estava com uma sensação horrível no meu estômago e eu comecei a me sentir enjoada. Eu estava sentindo como se eu fosse vomitar tudo que eu tinha comido. Eu enxugava meus olhos com força, mas eu não conseguia parar de chorar.


Por favor, Lily”, Emma implorou. “Por favor. Eu fui uma idiota. Eu sabia que estava agindo como uma idiota. Eu não tive a intenção. Eu sabia que você nunca iria fazer algo assim – que essa nunca foi a sua intenção. Principalmente agora – “.


“O que você quer dizer com ‘principalmente agora’?”, eu grasnei, a olhando furiosamente. “O que faz essa semana diferente da outra? Eu não me pareço mais com uma prostituta ladra de namorados? “.


Não!”, Emma exclamou. “Eu só quis dizer que, com você e – “.


Emma!”.


O grito de Grace escoou pelo ar, cortando no meio a explicação de Emmeline. Até agora, eu até tinha esquecido que Grace ainda estava lá.


“Não, Emma”, Grace a encarou, tentando transmitir alguma coisa pra Emma sem, de fato, dizê-la.


Ou seja, sem dizer na minha frente.


“Não!”, eu respondi com raiva, me virando para Grace. “O que está acontecendo? O que você ia dizer, Emmeline? É melhor alguém me contar!”. Quando tudo o que elas fizeram foi olhar uma pra outra, eu comecei a ficar histérica. “Me digam!”, eu gritei.


Alguns segundos depois, Grace suspirou pesadamente, sacudindo sua cabeça. “Nós...sabemos que você não queria que a gente soubesse”, foi tudo o que ela disse.


Eu olhei pra ela, confusa. “O que eu não queria que vocês soubessem?”, eu perguntei, minha voz tremendo com emoções reprimidas. Minha cabeça estava explodindo e meu estômago estava rodando. Alguma coisa estava errada, e eu ia descobrir exatamente o que era. A única questão era: será que eu ainda queria saber?


“Eu estava conversando com o Sirius e nós descobrimos”, Grace continuou calmamente, sem exatamente dizer o que era. “Primeiro eu pensei que era só coisa da minha cabeça – que eu estava imaginando tudo – mas, então, a gente conversou com o Remus, com o Peter, com a McKinnon- “.


“Com quem?”.


“McKinnon”, Grace repetiu. “Marlene McKinnon”.


Por causa do meu olhar confuso, Grace revirou os olhos. “Uma corajosa grifinória do sexto ano? Atacante do time de Quadribol? Você toma café da manhã com ela toda manhã – “.


Meus olhos se arregalaram. “Você quer dizer Marley?”.


Grace concordou com a cabeça. Eu continue lhe olhando com um olhar confuso. O que diabos tinha Marley a ver com tudo isso? E eu nem sabia que ela era do time de Quadribol! Na verdade, eu nem mesmo sabia o seu sobrenome – ou seu primeiro nome completo – mas mesmo assim. Como ela está envolvida nisso tudo?


“E aí nós falamos com Emma ontem”, Grace continuou. “Tudo pareceu se encaixar, eu acho”.


“Eu não sei do que você estão falando”, eu murmurei, sacudindo minha cabeça, confusa. Eu as observei cuidadosamente – bem, na verdade eu as observei me olhando cuidadosamente. Qualquer que tenha sido a conclusão delas, era uma coisa pra se pensar.


“Nós sabemos”, Emma começou, mordendo seus lábios antes de continuar, “sobre você e James”.


Eu e...James?


O quê?


“Vocês sabem o quê?”, eu perguntei, pensando em inúmeras possibilidades. O que elas poderiam saber? Será que elas sabia sobre a aposta? Será que elas sabiam da briga? Será que elas sabia que eu queria ser amiga dele? Será que elas sabia que eu ajudei a Elisabeth na noite passada? Será que elas sabiam que ele me achava demais – ou, pelo menos, boa o suficiente para merecer um beijo?


Pelo que eu saiba, elas não sabem de nada disso.


Aparentemente, elas sabia era disso aqui:


“Nós sabemos que você e James estão namorando”.


!!


“O QUÊ?”.


“Nós sabemos que você estão namorando”, Grace repetiu como se não fosse nada demais, sacudindo sua cabeça. “Tudo fez sentido depois que a gente descobriu. Quero dizer, naquele dia você deixou o seu livro com ele e não queria ir lá pegar de novo – você disse que algo tinha acontecido, que era complicado, e que você não podia ir lá buscar – ele tinha te beijado, né? Depois, vocês começaram a ficar trocando sorrisos e bilhetinhos – Sirius disse que você até deu uma carta de amor pro James um dia depois da aula de Poções! Depois, Marley nos contou como vocês ficam implicando um com o outro no café da manhã e como o James fez você comer ovos. Ontem à noite? Deve ter sido o primeiro encontro, já que Merlin sabe que rondas não duram até duas horas da manhâ – o que, de acordo com Remus, foi a mesma hora que James voltou pro dormitório na noite passada, e também o que explica porque você estava tão cansada o dia inteiro. E, então, essa manhã, você olhando furiosa pra Elisabeth – uma ex- namorada dele – quando eles estavam trocando bilhetinhos”. Ela parou esperando por algo. “Eu sei que você não queria contar pra gente ainda, mas eu acho que está tudo bem agora que a gente sabe, certo?”.


Eu não conseguia responder. Eu fiquei sem palavras. Totalmente sem palavras.


Ai. Meu. Deus.


Ai, Meu Deus!


ELAS PENSAVAM QUE EU ESTAVA NAMORANDO O JAMES POTTER!


PARECIA que eu estava namorando o James Potter!!


AI MEU DEUS!!


“Eu não acredito nisso!”, eu exclamei, finalmente encontrando minha voz alguns segundos depois. “Isso é...é..ai, Merlin!


“Está tudo bem, Lil”, Emma insistiu. “Nós não estamos com raiva de você por não ter contado pra gente – bem, na verdade, Sirius está com um pouquinho de raiva, mas eu acho que ele supera”.


“É”, Grace concordou, sacudindo sua cabeça. “Quero dizer, a gente teria gostado de saber, claro, mas se você e James queriam manter segredo, a gente entende”.


“Afinal de contas”, Emma continuou. “Eu demorei a contar pra vocês sobre o Mac”.


Eu estava tão perdida nos meus próprios pensamentos, que eu mal escutei o resto da conversa. Eu não conseguia acreditar. Eu não tinha a mínima idéia do que falar. James Potter – JAMES POTTER – meu namorado? Elas estavam malucas? Elas pegaram um monte de acontecimentos e os transformaram em uma história romântica. Só que elas entenderam tudo errado. Elas entenderam tudo tão errado, que quase parecia uma piada. No dia que eu deixei o meu livro na biblioteca, elas pensavam que ele tinha me beijado, quando, na verdade, tudo que aconteceu foi eu insistir que ele pertencia a alguma sociedade obsessada em me odiar. Agora, os sorrisos e a troca de bilhetinhos – bem, foi por causa da suposta “carta de amor” que eu dei pra ele depois da aula de Poções, e não porque nós estávamos loucos para escrever bilhetinhos fofinhos um pro outro. E o café da manhã? Será que Marley é cega? Ele tinha ameaçado enfiar os ovos na minha garganta! O que eu deveria fazer – deixá-lo fazer isso? E em relação ao nosso “primeiro encontro” – eu não sei o que James ficou fazendo até duas da manhã, mas eu fui pra cama no máximo as uma. E quanto eu olhar furiosamente para a ex-namorada...bem, eu estava cansada, e é a Elisabeth Saunders. Eu estou sempre a olhando furiosamente. Desde quando eu preciso de permissão?


Eu nem mesmo sabia como me defender de todas essas acusações.


Quero dizer, francamente! Tentar explicar tudo o que realmente aconteceu ia demorar muito tempo e, provavelmente, ia soar tão ridículo que elas ia pensar que eu estava inventando tudo. Porque, sério, realmente parecia que eu estava namorando. E, sabe o que mais? Meu horripilante carma ruim veio e atacou de novo, porque eu nem posso usar a desculpa universal que qualquer garota usaria quando a acusam de estar namorando ou agarrando alguém que ela não está.


A desculpa de “nós somos só amigos”.


Porque eu e James não somos.


Amigos, quero dizer. Pelo menos, não oficialmente.


Então, o que eu deveria fazer? Eu não podia explicar, não podia mentir, não podia nem usar a maldita desculpa universal. O que eu deveria fazer a não ser sentar e chorar (o que eu já estava fazendo, de qualquer forma)?


Então, eu sentei lá, chorei e pensei, e fiquei calada (exceto pelos gemidos que eu deixava escapar), ignorei tudo que Grace e Emma estavam conversando, quando, de repente, uma coisa me fez parar. Me fez parar, congelar e pensar...mas não sobre me defender. Ao invés disso, eu estava pensando sobre algo que Emmeline tinha dito antes. Algo que não fazia sentido antes, mas que agora...fazia e muito.


Mas não teria acabado!Se você e...não tivessem começado...”.


Ainda congelada, eu olhei para Emma totalmente chocada.


“Meu Merlin”, eu murmurei, meus olhos se arregalando. Emma olhou pra mim toda confusa.


“O quê?”, ela perguntou com sua voz preocupada. “O que é, Lily?”.


Eu continuei olhando pra ela com olhos arregalados e, de repente, uma onda selvagem passou por mim, meus olhos se estreitaram e a raiva voltou a correr pelas minhas veias.


“Meu Merlin!”, eu repeti, dessa vez furiosa. Eu me levantei, olhando furiosamente para Emma. “Você – você não teria pedido desculpas!”, eu exclamei histericamente. “Se você não tivesse pensado que eu estou namorando James, você continuaria pensando que eu estou tentando roubar Mac de você, não pensaria?”.


Imediatamente, os olhos de Emma se arregalaram. Ela não tinha tempo de mentir. A verdade estava nos olhos delas.


“Eu não posso”, eu engasguei, sacudindo minha cabeça em descrença.


“Não é isso, Lily!”, Emma protestou, apesar de nós duas sabermos que era exatamente isso. “Eu...por favor, Lily! Já acabou! Isso ainda importa?”.


“É claro que importa!”, eu respondi com raiva, a olhando furiosamente. “Se você não tivesse pensado que eu estou namorando com ele, você ia continuar pensando que eu sou algum tipo de ladra de namorados! Alguma prostituta egoísta e idiota!”.


“Mas eu não iria – “.


“Espere um minuto!”, Grace interrompeu, sua voz abalada. “Pensado?”. A palavra parou no ar. “Se nós não tivessemos pensado que você está namorando James? Você não...você não está?”.


Eu olhei pra Grace agora, mas minha raiva já estava insaciável. Tomando uma rápida decisão, sem nem mesmo refletir sobre ela antes, eu caminhei rapidamente até a porta do dormitório, e só me virei para dizer friamente, “Por que você não pergunta pro meu namorado?”.


Então, eu abri a porta e saí do quarto, sem olhar pra trás.


E foi assim que eu vim parar aqui, presa em uma escada fria e estreita perto da Torre Norte, depois de sair correndo cegamente pelos corredores de Hogwarts, depois do toque de recolher, chorando histericamente e sem me preocupar com porcaria nenhuma. Eu nem mesmo me importo se eu for pega. Na verdade, eu posso até ir procurar Filch daqui a pouco se eu ficar com vontade. Mas, por agora, eu estou simplesmente...com muita raiva.


E muito nervosa.


E com frio.


E tão inacreditavelmente magoada, que eu estou ficando enjoada.


Ela nem teria começado essa conversa, se ela não tivesse pensando que eu estou namorando o James. Ela ia ficar com raiva de mim pra sempre – e ela nem mesmo tinha direito de estar com raiva.


E eu não consigo acreditar que ela pensou que eu era capaz de fazer uma coisa dessas. Roubar o Mac dela, quero dizer. Mesmo que eu estivesse tentando provar algo, eu nunca faria algo tão cruel. Eu não sou idiota. Eu sei que não é assim que as coisas devem ser feitas. Eu não acredito que ela pensa que eu sou alguma prostituta idiota e boba que anda por aí tentando roubar o namorados alheios. Eu não acredito –


Passos.


Eu acho que alguém está vindo -

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.