Capítulo 9 parte 2
Capítulo 9 - PARTE 2
Mais tarde, Biblioteca
Lily Observadora: Oitavo dia
Observações Totais: 53
Sabe, eu sempre me considerei uma pessoa muito boa em julgar o caráter dos outros. Por exemplo, geralmente eu sou muito boa em saber quem é um idiota desde o início. Na verdade, eu sempre fui muito orgulhosa de mim mesma por julgar tão bem o caráter dos outros.
Mas agora, eu não tenho mais tanta certeza.
Eu entrei na sala de Poções, minha mente, corpo e alma completamente preparados para a bronca verbal muito barulhenta e pública, por ter insultado métodos educacionais da Professora Abbot na minha carta, ou a sua bronca igualmente barulhenta e pública por eu não ter me importado em entregar A Tarefa (porque ela não sabe que os meus colegas a perderam). E apesar de eu estar preparada, e apesar de que era pra eu me sentir contente e liberal, minha cabeça e meu estômago estavam girando quando eu me sentei.
“Merlin e Agrippa, Lily!”, Grace berrou, enquanto se sentava do meu lado. “Qual é o seu problema em relação à aula de Poções? Você sempre parece que comeu algo venenoso nessa aula”.
Eu quase não registrei o comentário de Grace, já que minha cabeça continuava girando. Havia uma coisa que eu poderia usar agorinha mesmo. Veneno. Algum veneno rápido, indolor e completamente eficiente. Como o veneno que o Romeu pegou com o pobre apotecário em Romeu e Julieta. Aquele veneno era bom. Muito eficiente.
“Eu estou bem”, eu murmurei, massageando lentamente a minha têmpora. Um som de desgosto escapou da boca da Grace.
“Ah, Lily, vai te catar!”, ela me zombou, me lançando um olhar irritado. “O que está acontecendo?”.
Eu abri minha boca para responder, e então a fechei, depois de pensar um pouco. Realmente importaria se eu contasse pra ela agora? Quero dizer, iria, ao menos, fazer alguma diferença? Ela, provavelmente, iria ficar com raiva por eu não ter contado antes. Ou ofendida, por eu não ter mostrado a carta pra ela. Ou, algum sentimento igualmente estúpido por alguma razão igualmente idiota.
“Não é nada”, eu disse a ela desonestamente. “Deixa isso pra lá. Não se preocupe com isso”.
Mas ela não deixou isso pra lá. Na verdade, ela começou a me pressionar ainda mais, me bombardeando com ainda mais perguntas.
“Por que você não me conta?”, ela exigiu, seu rosto muito irritado. “O que você não está me contando? E por que você continua sem me contar? Nós nunca tivemos segredos entre nós duas antes, Lily”. Ela parecia bastante chateada. Eu não a culpava. Eu acho que eu também ficaria assim.
“Olha”, eu comecei, a dor na minha cabeça diminuindo lentamente, “é...complicado. Eu conto pra você mais tarde”.
Grace não pareceu achar isso melhor do que continuar escondendo algum segredo dela.
“Eu não sei o que está acontecendo com você, Lily Christine Evans”, ela resmungou, me olhando com raiva, “mas você está me deixando maluca”.
Eu suspirei e deixei minha cabeça cair com desânimo em cima da mesa, a frieza da mesa na minha cabeça aliviou um pouco a dor. A manhã parecia estar cada vez pior e pior...
“Tudo bem, Lily?”.
E pior.
Eu ouvi Grace se virar em sua cadeira, mas eu não me importei em me mover da minha posição – não era das mais confortáveis – que estava aliviando a minha dor.
Eu o odeio. Ele é um idiota.
“Sai daqui”, eu murmurei.
Eu ouvi uma risada, antes de eu sentir a mão de alguém, gentilmente, dar uma pancadinha nas minhas costas, de uma maneira confortadora. Eu levantei um pouco a minha cabeça da mesa. James estava sorrindo pra mim, seus olhos com aquele olhar divertido e já conhecido. Ele se abaixou um pouco, para que seu rosto ficasse perto do meu.
“Respire fundo, Escrava”, ele murmurou suavemente, sua voz tão baixa que só eu pude ouvi-lo, seu sorriso tão aberto e feliz, que eu queria bater nele.
Ao invés disso, eu peguei a coisa mais próxima – uma pena – e joguei nele.
Eu posso estar enjoada, eu posso estar ficando maluca, e eu posso estar a apenas alguns minutos de receber meu primeiro zero – sem falar na minha primeira humilhação pública – mas eu NÃO iria deixar, de FORMA nenhuma, nem de JEITO nenhum, James Potter pensar que ele tinha ganhado a aposta idiota. De jeito nenhum. Não depois disso.
“É só esperar um pouco, James Potter”, eu disse a ele de modo ameaçador. “Você não vai ganhar nada de mim”.
James apertou com força seu peito em fingido sofrimento. “Ah, Evans!”, ele exclamou com uma sinceridade falsa. “Tsk,tsk,tsk! É assim que você trata o seu – “.
Antes que ele pudesse fazer mais algum comentário sobre eu ser sua escrava, eu peguei a coisa mais próxima – outra pena – e atirei nele outra vez. James riu, mesmo quando a tinta da pena manchou sua calça. Eu resmunguei por causa de seu riso.
“Seu o quê?”.
Eu olhei para Grace e, lentamente, me sentei direito. O movimento não ajudou em nada a minha dor de cabeça. Ela estava olhando pra mim e para o James com olhos cuidadosamente cerrados. Foi aí que eu realmente me arrependi de tão ter contado pra ela sobre a estúpida aposta. Ela deve ter se sentido uma idiota naquele momento, sem entender nada, enquanto eu e James nos provocávamos.
James olhou para Grace, seus olhares raivosos e depois para mim. “Você não contou pra ela?”, ele perguntou, sua testa se enrugando. Eu sacudi minha cabeça, esperando que ele não dissesse nada. Grace continuou a me olhar furiosamente.
“Me contou o quê?”, ela exigiu rigorosamente, cruzando seus braços.
James a ignorou. Ele ainda estava olhando pra mim. “Sobre nenhuma parte?”.
Eu sacudi minha cabeça de novo. Eu não sabia porque importava tanto pra ele. Eu não ter contado nada pra Grace, quero dizer. Não é como se eu nunca tivesse escondido algo dela, porque eu já escondi...eu acho. Mas isso tudo aconteceu tão rápido, que eu realmente não tive tempo para contar pra ela sobre tudo isso. Mesmo que eu tenha tido tempo neste fim de semana...e nessa manhã...e na sexta de manhã...e na noite de terça-feira também...
Ah, dane-se.
Eu olhei para Grace com as palavras para pedir desculpas na ponta da minha língua, mas eu parei quando eu percebi o seu olhar. Ao invés de estar com raiva e irritada como eu tinha, originalmente, pensado que ela estaria, ela estava olhando severamente para o James, parecendo muito pensativa, como se ela estivesse juntando, mentalmente, as partes de um quebra-cabeça. Eu olhei pra ela e depois olhei pro James. Ele estava olhando para Grace com a mesma expressão confusa que eu tinha certeza que também estava na minha cara.
“Er, Grace? Você está bem?”, James lentamente agitou sua mão na frente de seu rosto, na tentativa de quebrar o seu transe. O olhar de Grace passou para mim, mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, a Professora Abbott entrou na sala.
“Sentados!”, ela exclamou, ela caminhou até sua mesa, com uma enorme pilha de pergaminhos em seu braço. Eu esqueci da Grace e de sua expressão esquisita quando eu vi a pilha.
Meu estômago se revirou.
Lá vem.
“Black!”, Abbott gritou secamente. “Eu disse: sentados!”.
Eu engoli em seco. Isso não era bom. Isso não era nada bom. Professora Abbott nunca grita com o Sirius. Nunca. Ela grita com o James, ela grita com o Remus e ela grita com o Peter, mas nunca grita com o Sirius. É um fato conhecido que ele é o favorito dela. A única outra vez que eu a vi gritar com Sirius foi quando ele estava no segundo ano, quando ele, de propósito, explodiu todo o seu caldeirão, e conseguiu fazer as vestes da Penny O’Jean pegar fogo durante o processo. E mesmo nessa época – quando Penny teve que ficar dois dias na Ala Hospitalar e depois confessou para as garotas da Grifinória que seus peitos nunca mais seriam os mesmos – a Professora Abbott pediu desculpas pra ele na frente da turma toda, e o ocorrido foi brevemente esquecido. Ela devia estar no pior dos humores para gritar com o Sirius desse jeito. Murmúrios invadiram a sala, enquanto um Sirius muito chocado se sentava do lado de James. Ninguém sabia o que poderia ter deixado Abbott nesse estado.
Infelizmente, eu sabia.
“Silêncio!”, Abbott aumentou o tom de voz, sua voz um pouquinho menos irritada, já que, ao poucos, a turma ia ficando calada. Ela olhou pra turma toda, lentamente, da esquerda para a direita. Eu olhei para minha mesa, sem conseguir fazer contato visual. Eu ouvi um barulho, e quando eu finalmente levantei a cabeça, Abbot estava segurando a pilha de redações pra que todo mundo pudesse ver. “Essas redações”, ela disse, observando a turma de novo, “não foram nada do que eu esperava para uma turma de Poções com nível para o N.I.E.M. Elas estavam fracas, curtas e repetitivas. Se essas baboseiras são o que vocês escolheram para escrever nas provas do N.I.E.M., então, eu tenho o prazer de informar a vocês que a maioria irá reprovar”. Gemidos e suspiros encheram a sala, enquanto Abbott abaixou o seu braço e começou a se preparar pra entregar as redações. Minha cabeça doeu tanto que eu tive que contar lentamente até dez para tentar acabar com o enjôo que eu estava sentindo.
“A minha ficou uma merda”, Grace murmurou pra mim, sua voz leve e despreocupada. Ela, claramente, tinha se esquecido da cena esquisita com o James, porque ela não parecia estar com raiva. Eu concordei com a cabeça, mas não respondi nada, porque eu tinha certeza de que, se eu abrisse minha boca naquele momento, eu vomitaria na hora, o que, sabe, eca.
Parecia que Abbott estava entregando as tarefas em slow motion, andando pela sala como uma lesma, deliberadamente me deixando louca. Eu a observei, enquanto ela preguiçosamente devolvia as tarefas para os seus respectivos donos e ouvia os gemidos periódicos de sofrimento, ou um suspiro de alívio (houve mais gemidos do que suspiros). Quando Abbott entregou a redação de Grace (cheia de marcas vermelhas, uma nota horrível, claro, mas Grace não se importou), ela não percebeu a minha presença. Nem com um olhar furioso, nem com um insulto...nada. Isso me deixou mais preocupada do que se ela tivesse feito alguma coisa.
Parecia que tinha passado a eternidade, quando a pilha começou a diminuir e Abbott finalmente olhou pra mim e, lentamente, saiu do lado oposto da sala (onde ela tinha acabado de entregar para um Jervis Rennet angustiado a sua redação), e se moveu em minha direção. Meu coração congelou no meu peito e minha respiração acelerou involuntariamente, mas eu não consegui deixar de olhá-la. A cada segundo Abbott chegava mais perto, e eu me aproximava mais do meu zero. Ela ainda não estava me olhando furiosamente, e ela não parecia nervosa, mas isso não era consolação nenhuma pra mim. Eu prendi a respiração quando ela alcançou minha mesa e ficou parada na minha frente em silêncio e, lentamente, pegou o pergaminho – meu pergaminho – da pilha dela. Eu, finalmente, consegui parar de olhar pra ela e, imediatamente, olhei para minha mesa, dizendo pra mim mesma que não adiantaria nada chorar agora, na frente de todo mundo, quando tudo já tinha sido dito e feito.
Em um segundo eu estava olhando pra minha mesa, e no outro eu não estava.
Ao invés disso, eu estava olhando para a minha carta.
Minha carta, que não tinha nenhuma marca vermelha – nem mesmo no topo da página indicando que eu tinha tirado zero – mas que tinhaalgo mais.
Outra carta, logo depois da minha. Uma escrita pela letra precisa e vermelha de Abbott.
Eu, imediatamente, olhei para Abbott, que ainda estava parada na minha frente, e quase tive um ataque do coração. Ela não estava furiosa e não estava trincando seus dentes – na verdade, para a minha completa e total surpresa, ela não estava com raiva.
Ela estava sorrindo.
SORRINDO.
E esse não era um daqueles sorrisos maldosos que você espera de uma Professora como a Abbott, que fica alegre quando seus alunos tiram nota baixa. Era um daqueles sorrisos que você vê no rosto do Professor Flitwick quando os primeiranistas conseguem executar um feitiço direito, ou um daqueles sorrisos do Professor Lundi, quando eu não grito com ele por ele ter me chamado de Mily-va-Lily, ou um dos meus sorrisos quando eu vejo que tem cinco tipos de arroz na mesa da Grifinória no jantar. Na verdade, ela estava com um sorriso tão aberto no rosto, que eu acho que, talvez, com um pouquinho mais de encorajamento, ela poderia estar rindo.
E eu nunca – em todos esses anos em Hogwarts e todas as minhas aulas com a Professora Abbott – nunca a vi rir. Mas eu acho que, naquele momento, ela estava a ponto de rir.
“Gárgolas galopantes, Lily!”, Grace ficou boquiaberta, completamente apavorada, olhando para Abbott, enquanto ela saia de perto da gente. “O que você escreveu nessa coisa?”.
Mas eu não estava prestando atenção nenhuma em Grace. Eu estava envolvida demais lendo a carta da Professora Abbott:
Querida Senhorita Evans, ela escreveu.
Tenho certeza que você estava completamente ciente da tarefa, e eu tenho certeza que – eu não tenho nenhuma intenção de fazer isso – se eu fosse dar uma olhada no seu malão no seu dormitório, eu realmente iria encontrar a redação metade-completa que você diz ter escrito.
Você estava certa em sua suposição de que existem poucos, apesar de que muito vitais, efeitos da Poção Grentlis, e que a maioria das redações de seus colegas estavam horríveis e repetitivas. A sua, muito surpreendentemente, foi como uma varinha entre os pedaços de madeira. E apesar de eu ter certeza de que se você perguntasse a uma pobre mulher que está sofrendo da Febre de Benedict – uma doença mágica que faz com que seu corpo comece a fazer greve e seu sistema imunológico não consiga fazer nada – se ela acha a Poção Grentlis – a única cura conhecida para a Febre de Benedict – ‘inútil’, ela ia lhe assegurar que a poção está longe disso. No entanto, considerando o fato de que só houve dois casos conhecidos da Febre de Benedict nos últimos cem anos, eu percebo aonde suas opiniões chegam nesse caso.
Percebendo tudo isso, eu não vou lhe dar um zero na sua tarefa, como você já pode, ou não, ter percebido. Ao invés disso, eu vou lhe passar outra redação de 600 palavras para ser entregue amanhã, sobre as vantagens e perigos da Poção Polissuco, pois eu tenho certeza que você vai se deparar com ela quando você se tornar uma Auror.
Mas eu lhe informo, Senhoria Evans, de que se essa redação não for rapidamente entregue até amanhã, você não vai me achar tão clemente assim.
Para terminar, eu estou feliz de que você tenha, finalmente, mostrado a sua determinação que nós duas sabemos que você tem. Eu estava esperando para vê-la já há muito tempo. Mulheres não deveriam se acorvadar e aceitar insultos e um comportamento injusto de ninguém, mesmo de seus professores de Poções. Não tenha medo de contra atacar, Lily.
Agora, eu devo avisar o Sr. Potter sobre sua vitória, ou você preferia informá-lo?
Atenciosamente,
Professora Whitney M. Abbott.
Mestre de Poções, Escola de Bruxaria e Feitiçaria de Howgarts.
Puta. Merda.
“Lily? Qual é o problema? O que está escrito aí?”.
Antes mesmo que eu pudesse pensar no que eu estava fazendo, eu rapidamente peguei um pedaço de pergaminho e copiei a carta da Abbott, assim como eu tinha feito com A Tarefa na sexta-feira, e o mais silenciosamente possível, eu comecei a amassá-lo. Com uma mira de um jogador profissional de quadribol, eu rapidamente me virei, mirei, joguei e acertei bem na cara de James (que estava conversando com o Sirius no momento). Ele pulou, seu olhar indo do pergaminho, e imediatamente, como se fosse tão óbvio quem tinha jogado (o que eu acho que era, considerando que eu sou a única que joga pergaminhos em sua cara), para mim. Eu murmurei “Leia!”, antes de me virar de novo.
Alguns minutos depois, James teve um ataque de riso e Abbott disse para ele ficar quieto.
O resto da aula passou como uma névoa. Eu não anotei nada e nem escutei nada do que a professora disse. Tudo que eu podia pensar era na carta e como eu estava errada sobre a Professora Whitney M. Abbott.
Eu ainda não podia acreditar. Abbott não tinha me dado um zero. Eu não tinha feito a tarefa, eu tinha insultado sua escolha de tema – ou seja, tinha insultado ela – e mesmo assim ela não tinha me dado um zero. Ninguém poderia tê-la culpado se ela tivesse – quero dizer, teria sido completamente aceitável e necessário – mas ela não me deu um zero.
Eu pensava que ela me odiava. Eu pensava que ela era malvada e podre, quando, na verdade, ela simplesmente estava esperando que eu mostrasse um pouquinho de determinação. Ela tinha me insultado, me olhado furiosamente, gritado comigo, não porque eu estava fazendo alguma coisa errada, mas porque ela estava esperando que eu contra atacasse.
E ELA SABIA SOBRE A APOSTA!! Ela sabia!! E ela nem me deu um zero por causa disso! Ou nem me deu uma detenção por apostar sem ainda ter idade suficiente! Mas como ela poderia saber? Quero dizer, eu nem contei pra Grace sobre a aposta, como a Professora Abbott poderia saber? James não contaria...contaria? Não...Eu não acho que ele contaria...
E ELA ME CHAMOU DE LILY!!
Sempre foi “Evans isso” e “Evans aquilo”. Eu acho que eu nunca a ouvi me chamar de Lily. É quase tão estranho quanto James...ah, espera. Ele me chama de Lily agora também. Mas mesmo assim.
Eu não acredito que todo esse tempo eu estive errada sobre a Professora Abbott. Totalmente e completamente enganada. Isso até me faz pensar, sabe? Quero dizer, se eu não sou, obviamente, tão talentosa em jogar o caráter das pessoas como eu tinha pensado antes, quem mais eu julguei errado? Elisabeth Saunders? June Mackey? Possivelmente até mesmo o meu precioso Amos?
Eu simplesmente não sei mais.
Agora, se vocês me dão licença, eu tenho uma redação de 600 palavras para escrever sobre as vantagens e perigos da Poção Polissuco.
Eu não acredito que ela me chamou de Lily...
Observação #53) Eu penso bem demais de mim mesma. Eu sou uma péssima julgadora de caráter. Provavelmente, eu posso jogar a culpa disso tudo no meu carma.
Mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano
Lily Observadora: Oitavo dia
Observações Totais: 53
“Eu não acredito nisso! Eu não acredito nisso!”.
Eu parei de olhar pra minha redação quase completa e, com um sorriso, observei James andar até a minha mesa na biblioteca, seus livros em uma das mãos e um pedaço amassado de um pergaminho familiar na outra. Com um olhar de completa descrença em seu rosto, ele se sentou na cadeira ao meu lado, colocando o pergaminho na mesa na frente dele.
“Você percebeu”, ele começou, seus olhos se estreitaram, mas com humor, não com raiva, “que se qualquer outra pessoa – exceto, talvez, o Sirius – tivesse feito o que você fez, ela não só teria tirado um zero, como também teria, muito provavelmente, sido mandada até Dumbledore tão rapidamente que sua cabeça estaria girando?”.
Eu ri e concordei com a cabeça, sem saber o que dizer, porque eu estive pensando exatamente na mesma coisa essa manhã. James sacudiu sua cabeça com arrependimento.
“Eu não deveria ter feito nenhuma aposta com você”, ele disse com um suspiro. “Os favoritos dos professores sempre se safam das coisas”.
Eu olhei pra ele e bati em seu braço. “Favorito do professor?”, eu exclamei indignada. “Até hoje, eu estava completamente certa de que Abbott me odiava!”.
James sorriu de forma torta. “Eu também”, ele me disse sem rodeios. “Foi por isso que eu fiz a aposta, em primeiro lugar”. Ele riu então, um sorriso travesso em seus lábios.
“Bom, bem feito pra você, então!”, eu zombei dele com um sorriso convencido. Ele riu de novo e quando eu ia voltar a escrever minha redação, eu parei e olhei pra ele de novo. “Eu ainda me pergunto como que ela sabia”, eu pensei alto. “Sobre a aposta, quero dizer”.
Os olhos de James faiscaram de um jeito travesso. “Eu também me perguntava”.
Minha boca caiu de surpresa.
“Perguntava?”, eu gaguejei. “O que você quer dizer com ‘perguntava’?”.
James virou sua cabeça para olhar pra mim, com um sorriso bem aberto. “Ué? Você não esperava que eu simplesmente ficasse sem saber, esperava?”.
Eu olhei pra ele com descrença e boquiaberta. “Você quer dizer que você perguntou pra ela?”.
James concordou com cabeça, seu sorriso sem desaparecer.
Caraca. Eu realmente achei alguém mais louco que eu?
Depois de James sorrir e concordar com a cabeça por algum tempo, mas sem dizer nada, eu deixei sair uma exclamação de frustração.
“Então?”, eu exclamei. “O que ela disse?”.
James sorriu presumidamente, se recostou em sua cadeira e cruzou seus braços arrogantemente. “Ela disse: ‘A biblioteca é um lugar público, Potter, e você e a Evans estavam sentados perto da seção de Poções’”.
Eu fiquei boquiaberta de novo. “Ela estava...ela estava espionando a gente?!”.
“Claro que não!”, James exclamou com uma voz zombeteira de horror. “Aparentemente, nós não parecemos perceber ‘o tanto que nossas vozes se propagam’”.
Eu revirei os meus olhos, mas o total absurdo da coisa toda me fez rir de novo. Eu não acredito que ela estava nos espionando! ESPIONANDO!
“Eu não acredito!”, eu murmurei com humor, sacudindo minha cabeça com total descrença.
“E eu que sempre achei a Abbott uma pessoa bastante conservadora também”, James acrescentou com um sorriso.
Eu sacudi minha cabeça de novo, tentando esvaziá-la até que eu me lembrei de uma coisa. Eu olhei de novo pro James, imitando sua posição relaxada e confiante, enquanto eu me recostava na minha cadeira e cruzava os meus próprios braços. “Então”, eu disse lentamente, lhe lançando um sorriso, “quando que eu vou receber os meus dez galeões?”.
James se levantou de sua cadeira, lentamente pegou seus livros antes de arquear suas sobrancelhas com ar zombeteiro. “Eu sou seu escravo pessoal, madame”, ele disse. “Faça o que quiser comigo”.
Eu bati com meu livro de Poções em sua cabeça e depois ele saiu rindo, me deixando sozinha para terminar minha redação.
Ainda mais tarde, Dormitório feminino do sétimo ano
Lily Observadora: Oitavo dia
Observações Totais: 53
Grace está agindo de uma forma muito estranha. Mais estranha que o normal, quero dizer.
Eu pensei que ela ficaria chateada ou com raiva de mim por eu não ter contado pra ela sobre a aposta (o que eu ainda não fiz, a propósito, mas ela parece ter esquecido esse assunto), mas ao invés disso, ela está bem alegre e legal. Não que ela não seja alegre e legal normalmente, ela é...na maioria das vezes...mas, agora, ela está sendo legal demais e alegre demais. Excessivamente bem humorada e legal. E não de um jeito muito bom.
“Quer meu arroz, Lily?”, ela me ofereceu no jantar. Duas vezes.
“Mais suco de abóbora?”, ela perguntou dois minutos depois.
“Você precisa de ajuda com isso, Lily?”, ela me perguntou algum tempo atrás, porque ela acha que eu estou fazendo a minha tarefa de Transfiguração, apesar de eu estar escrevendo aqui sobre sua possível instabilidade mental.
Ela está me deixando maluca. Sério, ela está. E quando eu perguntei o que estava acontecendo, ela disse que não estava acontecendo nada, exceto que ela estava muito, muito orgulhosa de mim. Eu pensei por um segundo que ela estava falando da aposta, mas aí eu me lembrei que eu ainda tinha que contar pra ela sobre isso, então não pode ser isso. Então, eu olhei pra ela com raiva e perguntei porque ela estava orgulhosa de mim.
“Você é sensacional, Lily”, ela me disse, ao invés de me responder. “Eu tenho certeza que você deixou certas...pessoas...muito, muito felizes recentemente”.
Eu joguei meu travesseiro nela.
Eu acho que minha loucura pode estar desaparecendo.
Quarta-feira, 24 de setembro, Café-da-manhã no Salão Principal
Lily Observadora: Nono dia
Observações Totais: 54
Apesar de eu estar fazendo isso já há alguns dias, e apesar de eu nunca ter tido problemas com isso antes, meu corpo, aparentemente, acabou de decidir que ele ainda não se acostumou com a mudança no meu horário, e resolveu se opor a acordar cedo esta manhã. Isso, talvez, seja porque eu fui dormir muito tarde ontem, já que Grace ficou falando o quão “orgulhosa” ela estava de mim (o que, por sinal, ela não quis me explicar o motivo), ou talvez seja por causa da grande quantidade de peru que eu comi no jantar ontem, o que, todo mundo sabe, te deixa com muito sono. De qualquer jeito, eu tive que me esforçar para levantar. E mesmo quando eu estava saindo do dormitório dez minutos depois, meus olhos continuavam tentando se fechar involuntariamente. Isso, eu sabia, não era seguro e levaria alguém (muito provavelmente eu) a quebrar algo (muito provavelmente as partes do meu corpo), mas mesmo assim eu continuei andando.
Infelizmente, essa teoria quase se provou verdadeira já que, quando eu estava descendo, muito cansada, as escadas para o Salão Principal, eu desajeitadamente tropecei e quase saí rolando as escadas. Por sorte, quando eu estava quase caindo para morrer, eu atingi algo muito duro e senti dois braços fortes me segurarem, impedindo minha queda.
“Opa! Você está bem, Lily?”.
Minha cabeça se levantou e meu corpo estava tremendo por causa da experiência de quase-morte. Olhando pra mim, cheio de curiosidade e um pouquinho preocupado, estava um par de brilhantes olhos azuis.
Brilhantes olhos azuis muito legais.
Me derreti.
“Amos!”, eu exclamei rouca, me desvencilhando, totalmente vermelha, de seu abraço reconfortante (apesar de muito relutantemente, eu posso lhe garantir). “Me desculpe...eu...é...”, eu suspirei, sacudindo minha cabeça para poder pensar de novo. “Cedo”, eu terminei cansada. “É muito, muito, muito cedo”.
Ah, Merlin. Que articulada você é, Evans. Vamos fasciná-lo com os seus charmes, certo?
Estúpida boca idiota.
Eu fiquei ainda mais vermelha quando Amos concordou com a minha desculpa idiota. Ele me lançou um daqueles seus sorrisos lindos. “Não é uma pessoa da manhã, então?”.
Eu sacudi minha cabeça e gaguejei mais uma vez, “Bem,é...er...é novidade pra mim”.
“Você vai se acostumar”, Amos riu, enquanto ele se virava e começava a andar em direção ao Salão Principal. Eu fiquei olhando pra ele, sem saber se era para eu segui-lo ou não, e depois decidi ficar parada por um momento, mesmo que meu corpo inteiro estivesse quase morrendo para segui-lo. Alguns segundos depois, ele olhou pra trás, com um sorriso em seu lindo rosto. “Você está indo tomar café?”.
Eu, estupidamente, concordei com a cabeça. Ele moveu sua cabeça em direção ao Salão.
“Bem, vamos, então”, ele disse, e depois começou a andar de novo.
Inútil dizer que ele não precisou me chamar de novo.
“Na verdade”, ele começou quando eu estava andando do lado dele algum tempo depois, “Eu estou feliz que eu tenha esbarrado em você”. Ele parou, depois olhou para mim com um pequeno sorriso que fez meu estômago se revirar. “Quer dizer, eu estou feliz que você tenha caído em cima de mim”.
Eu tentei esconder a vermelhidão do mesmo rosto quando eu murmurei mais uma desculpa idiota. Ele simplesmente deu de ombros e sorriu de novo. Ele ainda podia ser melhor que isso?
“Não precisa se desculpar”, ele implicou comigo, balançando sua cabeça levemente, deixando algumas mechas de seu cabelo cair em seu rosto. Eu me esforcei para não tirá-las do seu rosto. Esse garoto estava me deixando maluca. “Eu te disse, foi uma coisa boa”.
“Por quê?”, eu perguntei, esperando que ele me dissesse que era porque ele estava tão desesperadamente apaixonado por mim que qualquer chance que ele tivesse de me ver ou falar comigo – mesmo sendo quando eu estava caindo em seus braços – é como se ele estivesse no céu.
“Porque nós precisamos marcar um horário para fazermos aquele projeto de Runas Antigas”, ele me disse.
Totalmente sem clima de romance nenhum.
“Ah”, eu respondi sem rodeios, tentando não parecer tão desapontada. “Certo. Claro. Eu tinha me esquecido disso”.
O que, mesmo sendo muito estranho, era a verdade. Definitivamente é de se fazer qualquer um pensar porque uma garota está tão ocupada com outras coisas que se esquece de que ela tem uma boa desculpa para sentar e conversar com o amor de sua vida por horas e horas. Eu, obviamente, estou estressada demais.
“Bem, que tal hoje à noite?”, Amos perguntou, me tirando dos meus pensamentos.
“Hoje à noite?”, eu repeti estupidamente. Amos sorriu, depois acenou com a cabeça.
“Por volta das oito, que tal?”.
Quarta-feira. Oito horas. Aula particular. Merda.
“Er, que tal às sete horas?”, eu sugeri, rezando que ele aceitasse e não perguntasse o porquê de não poder ser as oito horas.
Meu coração parou quando ele sorriu e, de forma intrigante, perguntou, “Por quê? Já tem um encontro marcado?”.
“Bem longe disso”, eu respondi hesitante, procurando alguma desculpa na minha cabeça para não ter que contar a verdade. “Aula particular”, eu me ouvi dizer.
Maldita e estúpida boca traidora. Nem consegue mais mentir direito.
Amos levantou uma sobrancelha. “Aula particular?”, ele perguntou sem acreditar. “Você?”.
Eu dei de ombros sem ter alternativa, esperando que Amos fosse nessa direção. Como a coisa de não-ser-perfeita-em-todas-as-aulas, quero dizer. “Transfiguração parece sempre brigar comigo”, eu respondi hesitante, o vermelho no meu rosto aumentando ainda mais. “Eu sou horrível”.
Ele finalmente se lembrou de uma coisa, e aí concordou com a cabeça e disse, “Ah, é. Ouvi falar de uma galinha enlouquecida”.
Eu congelei.
Que bosta!
Ele sabe disso? Quem contou pra ele?
Meu rosto estava tão corado, que eu tenho certeza que ele estava quase da cor do meu cabelo. Eu concordei com a cabeça estupidamente. “Er...Eu...uh...é...é, foi isso mesmo”.
Ai, Merlin. Que fracasso que eu sou!
Eu não posso nem descrever como eu fiquei aliviada quando nós chegamos no Salão Principal alguns segundos depois. Estava óbvio que eu não podia confiar na minha boca traidora em situações como essa. Amos estava, provavelmente, dando gargalhadas em sua cabeça, pensando o quão idiota e estúpida Lily Evans é.
“Então, às sete?”, ele perguntou quando estávamos prestes a nos separar.
“Sete”, eu repeti com um aceno de cabeça.
E com um último sorriso, Amos me deixou e foi, confiantemente, para a mesa da Lufa-Lufa. Eu, miseravelmente, me arrastei até a mesa da Grifinória, sem quase perceber Marley e James, que estavam olhando para mim curiosamente. De fato, eu estava tendo uma manhã muito amarga.
Observação #54) É cedo demais para minha vida já estar fracassando. Por que eu sou tão azarada?
Mais tarde, Runas Antigas
Lily Observadora: Nono dia
Observações Totais: 54
Penny O’Jene e a Hiena Humana terminaram o namoro ontem, depois de uma briga relacionada com as masmorras de Poções, uma cesta de frutas e a calcinha rosa de alguém. Então, nem preciso dizer que Penny voltou pro seu lugar e eu pro meu. Isso significa: mais nada de Amos. Apesar de não ser permanente. Eu descobri quando Penny e Timmy foram perguntar ao Lundi se eles podiam trocar de parceiros. Lundi disse que os nossos grupos continuariam os mesmos, apesar deles dois terem brigado. Isso, claro, é uma coisa boa, porque apesar de eu ter sido uma completa idiota hoje na frente do Amos, seria horrível não ter a chance de compensar por isso hoje á noite. Eu juro que eu vou me esforçar para ser um exemplo de graça, serenidade e perfeição hoje à noite. Amos com certeza vai perceber que ele me ama depois disso.
Além disso, agora eu posso parar de tentar escrever com a mão esquerda, já que Amos não está mais ao meu lado para eu ‘acidentalmente’ esbarrar meu braço no dele. Eu sei que eu tinha uma ambição de ser ambidestra, mas às vezes uma garota tem que saber quando ceder. Eu não sou canhota. Nunca serei.
Será que o meu dia está, finalmente, melhorando?
Eu não vou prender a minha respiração.
Mais tarde, Transfiguração
Lily Observadora: Nono dia
Observações Totais: 58
Observação #55) Aparentemente, quando alguém está “muito orgulhosa de você”, mesmo por razões que você nem saiba, elas tendem a fazer coisas pra você, como transfigurar uma minhoca em uma cafeteira quando McGonagall não está olhando.
Observação #56) Quando McGonagall finalmente olha para o seu trabalho e acena sua cabeça em aprovação, você começa a sentir uma coisa muito estranha no seu estômago, que se parece muito com culpa.
Observação #57) Quando você insiste para uma certa pessoa transformar sua minhoca em uma minhoca de novo, para que, assim, você possa se livrar do sentimento de culpa no seu estômago e realmente fazer o trabalho você mesma, ela faz isso e ainda acrescenta que ela está muito orgulhosa de você.
Observação #58) Mesmo quando você cria a primeira minhoqueira ao invés de uma cafeteira, uma certa pessoa ainda insisti que ela está orgulhosa de você.
Ainda mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano
Lily Observadora: Nono dia
Observações Totais: 58
Dez minutos para me encontrar com Amos. Eu não deveria estar nervosa, certo? Quero dizer, tudo o que eu tenho que fazer é agir perfeita e maravilhosamente e tudo vai dar certo. Eu vou ficar bem.
Ai, Merlin. Acho que eu vou vomitar.
Ainda mais tarde, Biblioteca
Lily Observadora: Nono dia
Observações Totais: 58
Eu não deveria estar nervosa! Vai dar tudo certo. Eu vou ser legal, gentil e controlada. Do jeitinho que eu sou quando eu estou com qualquer outra pessoa. Eu vou fingir que ele é a Grace...só, sabe, mais bonito e, sim, um homem.
Um homem perfeito.
Um homem perfeito, inteligente e bonito.
Ai, Merlin. Minhas mãos estão suando. Isso é tão nojento. Amos vai olhar pra minha mão nojenta e suada, se virar e ir embora. Ele vai pensar que eu tenho algum problema de higiene. Ele vai me odiar. Ele vai se recusar a trabalhar comigo, eu sei que vai. E aí, não só eu vou ficar sem meu futuro marido, como também vou reprovar em Runas Antigas.
Ugh.
Ok. Eu tenho que ficar calma. Calma, Lily, calma. Respira. Inspira, expira. Inspira, expira.
Ah, mas por que ele está atrasado? Quero dizer, ele disse às sete horas, certo? E agora já são...sete e dez. Dez minutos. Ele, definitivamente, não está vindo. Ou então, ele veio, me viu aqui com os meus problemas de suor e foi embora. È isso. É isso definitivamente –
Ai, droga. Lá vem ele.
Ainda mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano
Lily Observadora: Nono dia
Observações Totais: 58
“Oi”.
Ai, Merlin. Lá estava ele. Eu pensei, seriamente, que eu iria derreter.
“Er...oi”, eu respondi meio sem jeito, um sorriso nervoso no meu rosto. Amos sorriu em resposta, sem parecer nem um pouquinho nervoso. Eu, envergonhadamente, escondi minhas mãos debaixo da mesa. Até aquele momento, eu tinha praticamente transpirado um rio inteiro, o que era a última coisa que eu queria que Amos percebesse. Ele se sentou na minha frente e suas mãos não-suadas calmamente colocaram os livros em cima da mesa.
“Está esperando há muito tempo?”, ele perguntou simplesmente.
Er, apenas quatro anos, amor.
“Não”, eu respondi. “Não muito”.
Ele sorriu pra mim de novo. Meu estômago se revirou.
“Que bom”. Ele abriu seu livro, suas mãos ainda sem suarem. “O treino de quadribol demorou um pouco mais e eu fiquei com medo de que você esperasse muito tempo”.
Ah. Ele não é fofo?
“Não se preocupe”, eu disse sorrindo, tentando não soar nem parecer muito paqueradora, enquanto eu, ao mesmo tempo, tentava enxugar a ridícula quantidade de umidade das minhas mãos debaixo da mesa. Eu, cuidadosamente, levantei minhas mãos e abri meu próprio livro nas páginas finais, onde tinha um monte de textos complicados. “Então”, eu comecei devagar e olhei pra cima. “Você tem alguma idéia do que você quer traduzir?”.
Amos começou, cuidadosamente, a passar as páginas e eu o segui no gesto, lentamente dando uma olhada nos diferentes textos, procurando por algum que eu gostasse. O quinto era o mais fácil, o décimo sétimo era o mais difícil, e eu pensei que a gente podia fazer o décimo primeiro, já que ele estava bem no meio. Sim, o décimo primeiro seria ótimo.
“Bem”, Amos disse lentamente alguns segundos depois, “Que tão o quinto? Parece que é o mais fácil”.
Ou, sabe, o quinto. Esse também vai ser ótimo.
“Claro”, eu concordei prontamente, apesar de não ter conseguido evitar ficar um pouquinho desapontada. Eu gostaria de tentar algo um pouquinho mais difícil. Ah, bem. Eu acho que é como minha tia Mae sempre diz – você ganha o que você ganha, e não fica triste.
E, francamente, quem poderia ficar triste com Amos Diggory?
“Então, tudo bem”, Amos disse sorrindo. “Vamos começar, então?”.
Eu concordei com a cabeça, e depois coloquei minhas mãos debaixo da mesa de novo. Só por precaução.
Estudar com o Amos não foi como eu pensava que seria, mas tudo que eu esperava que fosse. Ele era engraçado e ele era gentil e, o melhor de tudo, eu nem tive que tentar muito para ser perfeita para que ele se comportasse daquele jeito. Quero dizer, mesmo quando eu dizia ou fazia algo idiota (o que, já que era eu, era impossível de ser evitado), ele simplesmente ria e sorria pra mim como se ele pensasse que ser idiota era como se fosse ser adorável ou algo assim. E você sabe o que mais? Eu acho que talvez, só talvez, ele pode ter tentado me paquerar um pouquinho! Quero dizer, eu estava, descaradamente, paquerando ele o tempo todo, mas em algum momento dos quarenta minutos que nós ficamos sentados lá, ele começou a responder. Foi como se o Natal tivesse chegado mais cedo, bem ali na biblioteca, na mesa perto da seção de Poções. Era felicidade. Era o paraíso.
Era o Amos.
Quando nosso trabalhou chegou ao fim e quando o relógio marcava quase oito horas, Amos e eu começamos, cuidadosamente, a arrumar a mesa e colocar nosso trabalho no lugar apropriado. Nós, na verdade, fizemos uma boa parte do trabalho. Mas, considerando que o texto era fácil e que nós trabalhamos maravilhosamente bem juntos (!), não era muito difícil descobrir o porque disso.
“Eu acho que se nós nos reunirmos mais uma vez, nós conseguimos terminar o trabalho, né?”, Amos me perguntou, enquanto ele se levantava e arrumava suas coisas. Eu concordei com a cabeça.
“Acho que sim”, eu sorri, extremamente feliz com essa noite. Eu estava quase perguntando ao Amos quando ele queria se reunir de novo, quando me chamaram bem alto e rápido e eu tive que virar em direção à entrada da biblioteca.
“Lily Evans!”.
Ali, caminhando propositalmente em direção à mesa em que eu e Amos estávamos sentados, parecendo extremamente irritado, estava James Potter
(Seguido, com atenção, por Madame Pince, que estava gritando e tentando silenciar James em francês e que parecia tão irritada quanto ele. James, claro, a ignorou).
“O que você fez?”, Amos murmurou para mim, observando James chegar cada vez mais perto da nossa mesa. Á medida que ele ia se aproximando, percebia a sua óbvia raiva ainda mais. Eu dei de ombros sem saber o que responder. O que eu tinha feito? Eu nem mesmo sabia!
Quando James, finalmente, chegou até a nossa mesa, ele estava respirando com dificuldade e estava apontando o seu dedo para mim. “Você...eu...você”, ele gaguejou, olhando furiosamente para mim e ainda apontando o dedo na minha direção, com um ar acusador. “Você me serviu para os lobos, Evans!”.
Eu o olhei inexpressivamente, sem saber exatamente como responder a uma acusação dessas. Do que ele estava falando? Eu o servi para os lobos? Eu pareço com alguém que conhece algum lobo, por acaso?
“O que você está aprontando dessa vez, Potter?”, Amos perguntou, seu tom curioso e levemente acusador. James o ignorou completamente e continuou a olhar pra mim.
“Você me serviu para os lobos!”, ele repetiu usando o mesmo tom alto e exasperado. Madame Pince mandou ele calar a boca de novo e murmurou alguma coisa em francês. James a olhou por cima de seu ombro, e depois virou de novo para mim, se inclinando, de modo ameaçador, na mesa e abaixando seu tom de voz para um murmúrio curto e grosso. “Você me serviu para eles e depois os observou rasgarem minha carne e meus ossos, pedacinho por pedacinho!”.
Eu o olhei com desgosto.
Hum, eca. Não, eu não fiz isso.
“Eu não tenho a mínima idéia do que você está falando, James”, eu respondi com raiva, também me inclinando na mesa, “mas eu lhe asseguro que eu, de forma alguma, lhe servi para os lobos!”.
James me olhou com raiva e eu também lhe olhei com raiva.
“Ah, é?”, ele reagiu, ainda me olhando furiosamente enquanto ele começava a remexer em suas coisas. Ele retirou um pedaço de pergaminho da sua mochila e jogou bem na minha frente em cima da mesa. “Explique isso, então!”.
Com um último olhar furioso para James, eu peguei o pergaminho e comecei a lê-lo.
Era o calendário das rondas dos monitores.
Ah, sim. Lobos.
Eu estava quase dizendo a James que ele era um babaca completo, quando algo no final do pergaminho me chamou a atenção. Eu aproximei mais o papel e meus olhos ficaram arregalados quando eu percebi o que ele estava me mostrando. Ali, no finalzinho da folha, em uma letra bonita e curva, meu nome tinha sido, cuidadosamente, rabiscado e tinha sido substituído pelo de June. E, logo em baixo, estava o nome da outra pessoa designada a fazer as rondas naquela noite, e a nova presa de June...
James Potter.
Ai, droga.
“Explique isso!”, ele disse com raiva de novo.
Ai, merda. Ai, droga. Ai, Merlin.
Era James! O garoto que June queria seduzir era James! Claro! Como eu pude ser tão estúpida? Mas, aparentemente – eu recuei – ele não estava tão ansioso para ser seduzido como ela tinha me dito. Eu o estava servindo para os lobos – não, June era pior que os lobos. Ela é como...qualquer coisa que é pior que os lobos!
“Ah, James, me desculpe”, eu disse, me encolhendo. “Eu...bem, ela me pediu para trocar e eu – eu...ela me disse que o garoto também queria, então eu...”, eu suspirei em derrota, lhe lançando um olhar suplicante, enquanto eu acrescentava, “Eu não sabia que era você”.
Ele parecia tão irritado, tão angustiado, que a culpa começou a se espalhar pelo meu corpo com força total e eu tive que olhar pra baixo. Eu sabia que quando June me perguntou eu deveria ter dito não. Eu sabia que era um plano idiota e que eu não tinha nenhum direito de fazer assim com algum pobre e inocente garoto. Mas, o que eu poderia fazer? Ela me encurralou! Ela me subornou! Eu não podia... quero dizer, não tinha jeito...eu nem mesmo tive a chance de...
Ai, droga.
“Eu realmente sinto muito”, eu supliquei de novo, olhando de novo para o pergaminho. “Talvez nós possamos te trocar com alguém, ou você poderia fingir estar doente ou algo assim...”.
James não disse nada e eu estava envergonhada demais para olhar pra ele. Por quê, por que eu tive que concordar com o plano idiota da June Mackey? Eu sou tão idiota!
“Espera um segundo”.
O comentário de Amos fez com que eu saísse da festa da culpa. Eu quase esqueci que ele estava ali.
“Olha”, ele apontou para o lugar em que estavam os nomes das rondas de amanhã, onde o nome de June estava rabiscado e o meu tinha sido posto no lugar. O nome dele estava em baixo do meu.
“O quê?”, eu perguntei.
“Bem, Potter poderia trocar comigo, não poderia?”.
Meu coração parou.
“É”, eu murmurei, olhando para o Amos, e depois para o James, os dois olhando para mim. “Isso pode – vai funcionar”.
“Espera um segundo”, James interferiu quando Amos estava quase mudando os nomes no pergaminho. Eu rezei para que ele arranjasse uma desculpa. Eu realmente queria fazer essas rondas com o Amos. “E você?”, ele perguntou. “June não é idiota. Se a gente trocasse, ela iria simplesmente te atacar”.
Ah, claro. Foi muita consideração do James pensar nisso. Afinal de contas, a última coisa que eu precisava era de um futuro-marido assediado sexualmente. Principalmente, tendo eu, indiretamente, causado o assédio. Só Deus sabe a quantidade de terapia seria necessária para se curar isso. Provavelmente, mais do que eu poderia pagar. Aurores iniciantes não ganham assim tanto dinheiro.
“Ela não vai fazer isso”, Amos respondeu sem rodeios. “Nós somos primos”.
“Sinto muito”, eu murmurei sem pensar. Quando eu percebi que eu tinha dito isso alto, eu quis me bater. Ah, claro. Agora eu insultei os parentes dele. Mas, ao invés de se sentir incrivelmente ofendido, Amos simplesmente sorriu.
“Tem suas vantagens”, ele respondeu dando de ombros, e depois continuou a trocar os nomes no pergaminho. Nenhum de nós falou nada, enquanto Amos e eu terminávamos de juntas nossos papéis. Alguns minutos depois, tudo estava arrumado e Amos estava pronto para partir.
“Obrigada por trocar”, eu disse a ele com gratidão, tentando esconder o grande desapontamento que tinha se instalado em mim. Tão perto. Tão, tão perto. Amos sorriu.
“De nada”, ele disse. Depois, ele levantou uma sobrancelha e disse, “Mas eu sinto muito não poder fazer as rondas com você. Estou um pouco desapontado, na verdade”.
!!
“Ah”, eu disse, completamente chocada. “É...é, eu também”.
ELE ESTAVA DESAPONTADO!!
EBA!!
“Melhor eu ir embora, então”, Amos disse com um último sorriso. “Você vem, Potter? Lily tem aula particular”.
Com seu rosto sem expressão, James lentamente levantou sua mão. “Professor particular”, ele disse a Amos sem rodeios.
Amos não pareceu muito feliz com essa revelação. Provavelmente porque James é bonito e tudo mais, e Amos se sente ameaçado por ele. Ele, obviamente, não quer me perder.
Ou, sabe, ele não quer ser culpado pelo meu assassinato por me deixar sozinha com um homicida maníaco que eu quase, acidentalmente, servi aos lobos.
Eu acho que a primeira é mais provável.
Apesar de sua relutância (obviamente causada por ciúmes), Amos concordou com a cabeça e aceitou que eu tinha aula particular. Ele olhou mais uma vez para James (provavelmente lhe lançando aquele olhar ‘Ela é minha. Não toque nela’ que os homens sempre fazem, mas que as mulheres nunca conseguem perceber. Mas, só porque eu não percebi, não significa que esse olhar não tenha acontecido), antes de me lançar um último sorriso e depois se virar e ir embora. Eu deixei escapar um longo suspiro e observei James, sem expressão nenhuma, pegar o lugar que Amos tinha deixado vago.
“Bem”, eu comecei de modo incerto, sem saber dizer se James ainda estava irritado ou não. “Ainda bem que Amos estava aqui para ajudar com toda aquela confusão, não é mesmo?”. James ainda ficou calado, me olhando cuidadosamente, seu rosto ainda sem expressão, como seu ainda não tivesse dito nada. Hesitantemente, eu tentei de novo, coloquei um novo sorriso na cara e sacudi minha cabeça com tristeza. “Nossa! Quem poderia imaginar que os dois são primos? Pobre Amos! Quero dizer, imagine ter que ver June Mackey em todas as reuniões familiares – “.
“Agora você tem um obstáculo para entrar na família, não é mesmo?”.
Família?
Eu congelei, chocada. Meu sorriso rapidamente desapareceu e eu franzi as sobrancelhas, enquanto eu observava James com curiosidade.
“Do que você – “, eu comecei, e o observei cautelosamente. “Quero dizer, eu não sei – “.
“Do que eu estou falando?”, James terminou amargamente, me olhando furiosamente. Era bem fácil perceber agora o que ele estava sentindo. Sua óbvia irritação e grosseira frustração estavam estampadas em seu rosto. “Você não sabe, Lily?”.
Eu sacudi minha cabeça lentamente, sem saber aonde ele queria chegar. Ele não sabia...sobre Amos? Quero dizer, sobre Amos e eu...sobre meus sentimentos em relação ao Amos. Ele não podia. Ele simplesmente não podia.
Podia?
“Eu não sei aonde você está querendo chegar, James. Mas, vamos mudar de assunto e – “.
“Ah, por favor, Lily!”, James interrompeu com um resmungo. “Você sabe exatamente do que eu estou falando! Você simplesmente se jogou pra cima do maldito garoto!”.
“Maldito garoto?”, eu exclamei, meu horror, choque e pura vergonha por saber que ele realmente sabia do meu segredoforam deixados de lado por causa da minha frustração. “Esse maldito garoto acabou de te tirar de uma fria, se você quer saber!”.
“Só porque ele queria te impressionar!”, James respondeu furiosamente, batendo suas mãos na mesa e se inclinando de modo ameaçador em minha direção. “Ele só fez isso pra bancar o seuherói em uma armadura brilhante!”.
“Meu herói numa armadura brilhante?”, eu olhei furiosa para ele. “Por me deixar fazer as rondas com você? Um idiota estúpido, irritante e presunçoso? Ah, sim! Ele realmente conseguiu ser meu herói e me salvar!”.
Assim que eu disse aquilo, eu desejei não ter dito. Eu queria apenas poder enfiar de novo todas as palavras na minha boca e engoli-las. Eu deixei a minha boca me controlar de novo. Eu deixei meu temperamento me controlar de novo. Eu não queria dizer aquilo, mas eu estava tão frustrada que simplesmente deixei aquelas palavras saírem da minha boca. A verdade é que James não é irritante e nem presunçoso – um idiota ele é sim, às vezes, mas todos os garotos são – e só o comparando com Amos que ele perde. Eu gostava de passar tempo com ele, eu acho.
Mas por causa daquelas palavras idiotas e cheias de amargura, eu acho que isso não importa mais.
James deixou sair um longo e esquisito barulho antes de, furiosamente, começar a recolher seus livros e se levantar do seu lugar com tanta pressa, que a cadeira caiu pra trás, fazendo um enorme barulho.
“Aonde você está indo?”, eu perguntei a ele.
“Estou indo embora”, ele respondeu de forma grosseira, já começando a andar.
“Mas, e as – “.
“Estude sozinha, Lily!”, ele trovejou, e continuou a caminhar, parando somente para acrescentar em um tom amargo, “Assim, você não vai ter que me agüentar pela próxima hora!”.
E com esse último comentário destruidor, ele furiosamente saiu da biblioteca, me deixando sozinha com uma Madame Pince igualmente furiosa, que não parecia se importar nem um pouquinho que eu não soubesse nenhuma palavra em Francês.
Muito tarde, dormitório feminino do sétimo ano
Lily Observadora: Nono Dia
Observações Totais: 59
Eu acho que talvez o tenha magoado.
Quero dizer, eu provavelmente também estaria magoada se ele tivesse me falado que alguém tinha me jogado pra cima dele e que eu era uma idiota irritante e presunçosa. Mas ele que começou! Quero dizer, o que foi aquilo com o Amos? E o que ele tem haver se eu me jogo pra cima do Amos ou não? Não é da conta dele!!
E eu não consigo acreditar que ele sabia. Sobre como eu estava me jogando pra cima do Amos, quero dizer. Eu não contei pra ninguém além de Grace e Emma sobre minha paixão cega e, agora, do nada, todas essas pessoas – June, James – parecem saber exatamente como eu me sinto. Eu sou assim tão óbvia? E se eu sou, isso significa – ah, Merlin – que Amos também sabe?
Ai, eu simplesmente não consigo mais pensar nisso agora. Está fazendo minha cabeça doer como louca e eu tenho que ir dormir. Tudo vai ficar melhor de manhã. Eu vou simplesmente falar com James amanhã e nós vamos restabelecer o nosso status ‘amigável’.
Assim. Simples. Eu vou dormir agora.
Observação #59) Eu acho que vou ter que me desculpar com alguém amanhã.
Terça-feira, 25 de setembro, café-da-manhã no Salão Comunal
Lily Observadora: Décimo dia
Observações Totais: 60
Sabe, é muito difícil restabelecer um status ‘amigável’ com alguém quando esse alguém se recusa a falar com você.
Ou olhar pra você.
Ou, simplesmente perceber a sua presença.
Por que ele continua olhando pro maldito prato dele? O que podeia ser assim tão interessante para ele se recusar a olhar pra cima? É um circo de ovos? Um jogo de quadribol de bacons? Ou é possível que as panquecas e os waffles estejam duelando?
Bem, eu não me importo – mesmo que as panquecas e os waffles dele estejam realmente duelando!
Planeta terra para James Potter! Olá, James Potter! EU NÃO POSSO PEDIR DESCULPAS SE VOCÊ NÃO OLHAR PRA MIM!!
Marley tentou conversar com ele várias vezes também, mas ele simplesmente dava respostas monossilábicas e afirmações monótonas.
E quer saber de uma coisa? Ele não parece estar com tanta raiva quanto ele estava na noite passada. Ele simplesmente parece meio...blah. Como se nada importasse mais. Eu nunca vi James Potter parecer blah antes. Quero dizer, meu simples comentário não pode tê-lo magoado tanto assim. Eu já o chamei de coisas bem piores antes, e ele nunca agiu assim. Então, meu insulto não pode ser o motivo dele estar assim.
Certo?
Mais tarde, Feitiços
Lily Observadora: Décimo Dia
Observações Totais: 61
Por que ele está sendo tão idiota?Quero dizer, ele está tentando me fazer sentir realmente horrível? Porque, se ele está, parabéns! Ele conseguiu! Francamente, ele precisa continuar me ignorando desse jeito? Eu estava com raiva e aflita quando eu disse todas aquelas coisas na noite passada! Ele não podia estar esfregando isso na minha cara!
Idiota maldito. Ele vai falar comigo. Eu vou fazer com que ele fale comigo.
Um pouco mais tarde, ainda em Feitiços
Observadora Lily: Décimo Dia
Observações Totais: 63
Por que você não olha pra mim? – LE
Eu pedi desculpas sobre o negócio da June ontem à noite.
E eu sinto muito pelo que eu disse depois. Por te chamar daqueles nomes e falar que fazer as rondas com você seria horrível, quero dizer.
Por favor, fale comigo.
Eu não gosto quando as pessoas estão com raiva de mim, se lembra?
E daí? – JP
Ah!! FINALMENTE ELE RESPONDEU!!
Da última vez que você estava com raiva de mim foi motivo suficiente para você me perdoar.
Eu não estou com raiva de você.
Há. Garoto bobo. Ele realmente acha que eu sou assim tão idiota?
Sim, você está. Mas, tudo bem – eu também estaria com raiva se eu fosse você. Então, seria uma hipocrisia se eu não entendesse que você está com raiva, não é mesmo?
Acho que sim.
E, me desculpe. Eu estava...com vergonha, e aí fiquei com raiva e descontei em você.
Eu percebi.
Então. Eu sinto muito. Muito mesmo.
Você já disse isso.
Eu sei, mas você evita dar uma resposta.
Responder o que? O que você quer que eu diga?
Que você me perdoa.
Por quê? Eu já te disse: eu não estou com raiva.
Então, por que você não olha pra mim? E por que você não falou comigo hoje de manhã?
E por que você se importa?
Eu...não sei.
Então quando você descobrir, você me conta.
Mais tarde, ainda em Feitiços
Lili Observadora: Décimo dia
Observações Totais: 64
Eu me importo porque eu não consigo aprender Transfiguração direito sem ele.
Eu me importo porque eu não gosto quando as pessoas estão com raiva de mim.
Eu me importo porque era pra nós sermos ‘amigáveis’.
Eu me importo porque eu gosto mais de quando ele é gentil e gosta de mim, do que quando ele está com raiva e não gosta.
Eu me importo porque eu estou começando a perceber que, talvez, ser amiga de James Potter não é a pior coisa que poderia acontecer comigo.
Ainda mais tarde, ainda em Feitiços
Lily Observadora: Décimo dia
Observações Totais: 64
Os prós e contras de ser amiga do James Potter
Contra #1) É inteiramente possível que James não seja gentil comigo pra sempre.
Pró#1) É inteiramente possível que James continue sendo gentil comigo, como ele vem sendo, pra sempre.
Contra #2) Apesar de parecer q ele se livrou dele, é uma possibilidade forte que seu totalmente inflado volte.
Pró #2) Pessoas que, sozinhas, conseguem acabar com seu ego de tamanho gigante deve ter um potencial muito grande.
Contra #3) Qualquer um que namora, por vontade própria, a Elisabeth Saunders pode ter um pouquinho de insanidade na família.
Pró #3) Qualquer um que termina com a Elisabeth Saunders tem cérebro.
Contra #4) Brincadeiras de mau gosto. Totalmente imaturo e ocasionalmente perigoso.
Pró #4) Ser amiga dos marotos automaticamente significa que não vão fazer brincadeiras de maus gosto com você. Ou, se fizerem, você pode azará-los e depois rir sobre isso sem se preocupar com o risco de vingança.
Contra #5) Pode não ser possível duas pessoas com um histórico tão ruim serem amigas. Confiança é fundamental.
Pró #5) James tem 3 amigos que confiam nele completamente e um monte de outros amigos que confiam nele. Eu também posso aprender a confiar nele.
Contra #6) Nós brigamos feito cão e gato.
Pró #6) Quando nós não estamos brigando, eu gosto de conversar com ele. É divertido.
Pró #7) Eu terei um professor particular de Transfiguração permanente.
Pró #8) Os tarefas de monitores serão bem mais fáceis.
Pró #9) Eu acho que talvez eu queira ser amiga dele.
Ainda mais tarde, ainda na aula de Feitiços
Lily Observadora: Décimo Dia
Observações Totais: 65
Ser amiga do James Potter.
Um ano atrás, um mês atrás, até mesmo uma semana atrás, tal coisa teria parecido uma piada. Mas não é. Uma piada, quero dizer. Porque eu acho que, pelo mesmo motivo que eu estou tão incomodada por James estar bravo comigo, é o mesmo motivo porque eu fico tão incomodada quando Grace e Emma estão com raiva de mim.
E eu gosto de conversar com ele. Ele é, na verdade, um cara muito engraçado. Eu aprendi isso na noite em que ele me ajudou com a minha tarefa e eu o mantive acordado, mais conversando do que fazendo o dever. Talvez, ele tenha sido sempre assim – uma pessoa engraçada e com quem é fácil de se conversar, quero dizer. Talvez seja por isso que Grace e Emma sempre foram amigas dele. Mas eu nunca vi esse lado dele até esse ano. Pra mim, ele sempre foi aquele cara idiota e convencido, que sempre me pedia pra sair por considerar isso uma piada, já que ninguém mais iria me convidar (e adorava esfregar isso na minha cara). Eu realmente não ia gostar de ser amiga de um cara assim. Mas ele está diferente agora – mais maduro, eu acho. Quero dizer, eu nem mesmo o vi azarar o Snape esse ano, e isso com certeza significa alguma coisa.
E eu me divirto com ele. Aquela coisa da aposta foi, definitivamente, uma das coisas mais brilhantes que eu já fiz (apesar de ter sido também uma das coisas mais rebeldes que eu já fiz, o que eu acho que já é bom para uma idiota como eu). E quer saber de uma coisa? Eu acho que se tivesse sido outra pessoa quem tivesse me desafiado, eu não teria feito aquilo. Ele simplesmente...sabe como me incentivar. Mas não de uma maneira ruim, na verdade, mas...eu não sei. Isso costumava me deixar completamente maluca antes – e eu acho que ainda me deixa às vezes – mas agora ele não está fazendo isso de uma forma maliciosa. Agora, ele simplesmente faz isso e começa a rir e, de alguma forma, eu começo a rir também.
Amiga do James Potter.
Há. Merlin sabe que isso ocasionaria a população inteira de Hogawarts a ter ataques cardíacos. Eu ouvi falar que as nossas brigas brilhantes são ótimas de se ver. Hogwarts vai ter que arrumar outra forma de divertimento, eu acho. Talvez um periquito e alguns ursos dançarinos. Agora, isso sim é diversão.
Amiga do James Potter.
É. Acho que vai dar certo.
Agora, tudo o que eu tenho que fazer é convencê-lo disso.
Ainda mais tarde, Poções
Lily Observadora: Décimo Dia
Observações Totais: 66
Posso ver o que você escreveu? – GR
O que eu escrevi? Abbot disse que a gente não precisava anotar nada. Ela só está explicando – LE
Não, não é da matéria que eu estou falando, sua boba. Quero saber dos bilhetinhos que você trocou com o James essa manhã.
O quê? Não!
Por quê não?
Porque eles não são seus, oras.
E daí? Você sempre me deixa ler o que você escreve.
Mas esses não. Me deixe em paz e preste atenção na aula, Grace.
Tudo bem. Mas eu vou continuar te enchendo o saco até você me contar. Você vai dormir hoje à noite com a minha voz te importunando.
Eu não vou estar no dormitório essa noite mesmo...
O quê? Aonde você vai?
É minha noite de rondas.
Ronda? Eu pensei que você fosse fazer no final do mês, pra você poder sair mais cedo.
Foi...mas...ficou...complicado. Eu tive que mudar.
E você vai fazer as rondas com quem?
James.
Ah. Entendi agora.
Entendeu o que?
Nada. Divirta-se na sua ronda.
Grace? Grace? O quê? O que você entende?
Me deixe em paz e preste atenção na aula, Lily.
Ainda mais tarde, Adivinhação
Lily Observadora: Décimo Dia
Observações Totais: 67
Eu vou fazer isso hoje à noite. Convencer o James que nós deveríamos ser amigos, quero dizer. Mas primeiro eu tenho que ver se ele ainda está com raiva de mim. Talvez eu consiga suborná-lo com chocolate ou algo assim. Ninguém resiste a um bom pedaço de chocolate. Eu acho que eu ainda tenho uns bombons que minha mãe me mandou...
Quer saber de uma coisa? Eu acho que a coisa de ‘mudar’ acabou sendo melhor pra mim. Eu vou ter que agradecer à Piranha e seus métodos ‘piranhísticos’ quando eu encontrá-la.
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